– Entrem! – gritou Any enquanto me olhava apavorada e se debatia tentando se soltar.

Kevin, Richard e Kamila entraram rosnando e mostrando os dentes.

– Eu acho que não. – disse o vampiro levantando uma mão na direção deles. Os três pararam no mesmo instante e começaram a encher de murros a parede invisível que apareceu na frente deles, eles tentaram contornar, mas acabaram descobrindo que estavam presos em uma espécie de caixa.

Estávamos perdidos, o vampiro iria me matar, depois mataria meus amigos e depois meu namorado. Eu tinha que fazer alguma coisa, mas o que? A cada segundo que se passava eu sentia uma dor cada vez maior se apoderar de mim e a dor do seu aperto em meu pescoço era agoniante.

– E agora humana? O que vai fazer? – sua voz repugnante soou perto demais do meu ouvido e eu prendi a respiração para não sentir seu cheiro enjoativo.

Foi ai que me dei conta de uma coisa. Eu não precisava necessariamente respirar, quando cortei o fluxo de ar dos meus pulmões eu pude pensar com clareza. Ele não sabia que eu era quase uma vampira, isso me dava uma vantagem, e eu já era muito mais forte e mais rápida do que um humano.

– Não há mais nada que possa fazer agora. – disse ele sorrindo e me fazendo encher de fúria.

– Está enganado. – minha voz saiu firme e eu deixei a raiva me tomar fazendo meu rosto se transformar novamente. Ele arfou quando me viu mudar e eu rosnei alto em sua direção, numa velocidade incrível sai do seu aperto e me inclinei em sua direção mordendo seu pescoço. Ele gritou em dor e deu um jeito de me fazer soltar me jogando novamente contra a parede, mas desta vez ele se manteve distante enquanto levantava a mão em minha direção sorrindo.

Ele iria me prender numa caixa como fez com os meus vampiros. Mas eu não podia deixar isso acontecer, avancei em sua direção sem me importar com mais nada. Eu esperava trombar com alguma coisa invisível no caminho, mas isso não aconteceu e eu sabia que não aconteceria quando vi o olhar assustado do vampiro. Eu era imune ao seu dom.

Avancei deixando meus instintos tomarem conta do meu corpo, junto com a raiva, a fúria e o ódio. Esse vampiro ousou machucar meus amigos! Ele queria me matar! Ele tinha que morrer!

Quando percebeu que não tinha como me impedir ele correu em minha direção também rosnando. Nós chocamos com força um no outro, senti um pouco de dor, pois eu ainda era um pouco humana. Ele percebeu isso e sorriu me dando um soco na barriga, arfei em dor e cai no chão quando recebi um soco na boca.

– Stella! – gritou Richard esmurrando mais a caixa. Olhei para o lado e vi seu rosto agoniado e cheio de lagrimas, meu coração se apertou em meu peito me fazendo chorar também. Eu não ia conseguir. Eu ainda era fraca demais.

– Você não se transformou totalmente não é? – falou o vampiro debochadamente andando em volta de mim.

Eu tinha que tentar, mas eu já não tinha mais forças, eu não era uma vampira completa.  Meu corpo doía e senti minha boca sangrando.

– Olha quem está mais assustada que você. – disse ele segurando meu cabelo, gritei em dor quando ele puxou com força me fazendo ajoelhar no chão. Ele pegou minhas mãos e as prendeu em minhas costas.

Fechei os olhos em dor e agonia quando ele cravou suas unhas em meus pulsos e enrolava algum tipo de corda me prendendo.

– Abra os olhos! – ele mandou dando mais um tranco em meu cabelo. Abri os olhos e vi o que eu realmente não queria ver.

Any estava na minha frente me olhando com terror, nojo e medo enquando lagrimas escorriam dos seus olhos. Eu sabia o que ela estava vendo, um monstro de olhos vermelhos e dentes afiados. Meu coração se apertou mais, minha melhor amiga tinha medo de mim, chorei mais fechando os olhos não querendo ver mais o seu olhar.

– Veja que menina má você é, magoou sua melhor amiga e fez ela te odiar. E agora será responsável pela morte de todos. – disse ele em meu ouvido. Solucei enquanto tentava apagar o olhar de Any da minha memória. O vampiro começou a me arrastar para longe dela.

– Stella! – gritou Any me chamando desesperada, abri os olhos temerosos olhando em sua direção mais uma vez. – Eu não tenho medo de você! Você é minha melhor amiga e sempre será! Seu corpo pode ter mudado, mas por dentro você ainda é a Stell! Você mesma disse isso, você me prometeu! Você é minha amiga e isso nunca vai mudar, mesmo que você vire uma vampira! – gritou ela pra mim sorrindo em meio as lagrimas, sorri também em meio a dor e a agonia.

– Cala a boca! – gritou o vampiro atrás de mim.

Ela me aceitava como eu era! Ou o que eu estava me tornando! Ela ainda me considerava sua amiga! Ela me amava.

A dor, o ódio e a raiva foram transformados em alegria. Senti algo mais se formar em meu peito, era a aceitação e a compreensão de alguém que eu amava. Senti aquele calor tomar conta do meu peito novamente se espalhando pelo meu corpo.

E eu sabia: minha transformação estava completa.

– Não! – gritou o vampiro quando percebeu isso.

Não foi nem um pouco difícil me soltar das cordas que estavam em meus pulsos, eu me virei e avancei para cima do vampiro novamente. Dessa vez eu o arremessei longe, fazendo bater com uma força avassaladora na parede, mantive uma mão em seu pescoço apertando com força      enquanto sons bestiais fluíam pela minha garganta, ele arfou tentando se soltar. Os prazeres da caça e da morte se apoderaram de mim e eu sorri dando um forte soco em sua boca o fazendo cair no chão. Ele tentou se levantar, mas eu dei um chute na lateral do seu corpo o fazendo cair no chão de barriga pra cima.

– Você não vai se safar dessa! – gritou ele em meio à dor. Com uma mão cravei minhas unhas em seu ombro e puxei fazendo-o se ajoelhar a minha frente, segurei seus cabelos pretos com a outra mão e também puxei com força para faze-lo olhar para mim, sorri calorosamente pra ele enquanto me inclinava para mais perto.

– Eu já me safei dessa. – respondi perto do seu ouvido. Minha voz estava diferente, mais suave, sedutora e com certeza de certo modo mortal. Em seguida cravei meus dentes em seu pescoço e o mordi com vontade. Ele gritou mais uma vez e eu segurei seu cabeça virando de uma vez para o lado e quebrando seu pescoço.

Seu corpo caiu sem vida aos meus pés, joguei minha cabeça pra trás e deixei um rugido de vitória sair pela minha boca. Eu tinha acabado de matar um vampiro! A adrenalina ainda corria em minhas veias me fazendo sorrir quando olhei para os meus vampiros, os três sorriam pra mim livres da caixa.

Virei meu rosto e procurei pelos olhos da minha amiga. Seu rosto estava inexpressivo e seus olhos cheios de lágrimas o que fez minha alegria sumir e meu rosto voltar ao normal. Eu me aproximei mais do que lentamente dela esperando que ela me mandasse embora ou algo assim, mas ela apenas ficou olhando em meus olhos enquanto eu me ajoelhava a sua frente outra vez.

– Me solte. – pediu ela com a voz estranha que fez meu coração se contrair novamente. Mas eu fiz o que ela me pediu, dei a volta nela e com um simples puxão fiz a corda arrebentar. Eu não sabia o que a Any faria a seguir, mas com certeza eu não estava preparada para a sua reação.

Ela se virou rapidamente e acabou nos jogando no chão quando ela pulou em cima de mim me abraçando forte.

– Você está bem? Seu pescoço tá doendo? As suas costas como tá? Aquele idiota não te machucou não néh? – ela perguntou ainda abraçada a mim, sorri. Ela estava preocupada comigo! Mesmo depois de eu ter matado um vampiro na sua frente ela ainda me amava e se preocupava comigo!

– Eu estou bem Any, não precisa se... – perdi a fala quando tremores violentos tomaram conta do meu corpo. Senti lágrimas escorrerem pelo meu rosto e uma dor me corroer de dentro pra fora enquanto eu fechava os olhos e segurava gritos de agonia.

– O que esta acontecendo? O que ouve com ela? – Any perguntou ainda presa a mim.

– Ela não foi convidada a entrar! – disse Richard atordoado a centímetros de mim.

– Você pode entrar Stella! Você pode entrar! – repetiu Any inúmeras vezes. Assim que ela disse aquilo meu corpo parou repentinamente de tremer e a dor se foi. Abri os olhos e encontrei todos me encarando.

– Eu estou bem. – respondi sorrindo me sentando com Any ainda abraçada a mim.

– Você sempre será bem vinda aqui Stella! Nunca se esqueça disso. – disse ela ainda presa em mim.

– Any? – eu a chamei, ela olhou pra mim com o rosto em lagrimas. – Eu te amo. – falei simplesmente. Eu amava como a minha melhor amiga, como minha irmã.

– Eu também te amo Stell. Você é a minha irmã. – disse ela.

– E sempre serei. – respondi beijando seus cabelos. Richard sorriu e logo se juntou ao abraço com o rosto molhados de lagrimas.

– Me desculpe Richard. – falei apertando meu braço a sua volta.

– Pelo o que? – perguntou ele, não vi seu rosto, mas eu sabia que ele sorria.

– Por ter te preocupado tanto. – falei me referindo a tudo que aconteceu antes, a dor de quando eu fui Escolhida, a dor da transformação, a dor da sede, a dor de quando o vampiro me machucou e agora. Sei que todas as vezes que eu senti dor, ele também sentiu.

– Tudo bem Stella, só não faça isso de novo. – disse ele colando seus lábios nos meus.

– Oie! O que esta acontecendo aqui? O que vocês cinco estão fazendo aqui? Cadê aquele cara que parecia ter saído do inferno? – era com certeza a voz do Dany. Sorri e olhei em sua direção, ele ainda estava caído no chão, mas olhava diretamente para nós com curiosidade. Sorri e respirei fundo antes de lhes contar toda a história.