Eu juro que, se um dia eu pudesse matar alguém, a Margareth seria a primeira da lista. Ela é insuportável!

 Na aula de Ed. Física, na hora em que entramos na quadra, Margareth estava toda sorridente, com um garoto baixinho e gordinho ao lado.

 - O que é isso? – Perguntei, olhando para vários pompons espalhados pelo chão.

 - É muito bom te ver também, Jennifer. – A megera me olhou com os olhos cheios de nojo. Dei de ombros, estava tão acostumada que, sinceramente, aquilo já virou um elogio.

 - Professora? – Ouvi uma aluna loira chamar. Ah, sim. Ela era Kiara. Uma garota totalmente idiota que eu odeio desde que ela roubou a minha boneca e a jogou na lama. No primário. Ela é como uma velha inimiga, que nós nunca vamos perdoar. E vice e versa.

 - Sim, Kiara? – Margareth olhou para ela maternalmente. Esse era o problema das duas, eu as odiava, e elas me ignoravam, parecia até que tinham feito um complô contra a minha pessoa.

 - Isso tem alguma coisa a ver com os testes das líderes de torcida, que estão abertos? – Ela sorriu e, nos olhos da Margareth, pude ver uma compaixão tão grande para com a aluna desprezível, que cheguei a ter ânsia de vômito. Sabia que a au au (sempre achei que Kiara era nome de cachorro.) era tudo o que a megera queria como filha. Ela era extremamente o oposto de mim. Coisa que eu achava muito bom. Era o “clone” de Katherine. A idiota da minha meia-irmã.

 - Na verdade, sim. – Margareth sorriu para Kiara e depois se dirigiu à turma. – Ano passado, como vocês devem saber, as líderes de torcida perderam duas preciosas integrantes. – Ela continuou sorrindo. Parecia que seu rosto havia sido paralisado em um sorriso totalmente idiota. – E, como vocês também devem saber, a treinadora teve que se retirar da escola, por problemas pessoais. – Ouvi um murmúrio de concordância pairar sobre as alunas. Observei até a minha, argh, mãe, continuar a explicar: - Assim sendo, eu mesma me voluntariei para ser a mais nova técnica da equipe desse ano.

 Várias garotas ao meu lado pularam de alegria. Já falei que eu sou a única, da qual a Margareth não gosta? Pois é.

 - E como todas devem ter percebido, - Ela sorriu, ao continuar. – as vagas estão abertas. Temos lugar para duas lindas cheerleaders em nossa equipe. Vamos começar a fazer os testes hoje.

 - Espera aí. – Franzi o cenho e interrompi, enquanto várias garotas gritavam de felicidade. – Os testes não deveriam ser abertos para todos os anos, desde o primeiro colegial?

 Senti a sala inteira me olhar de cara feia, incluindo a professora/treinadora.

 - Não discuta, Connor. – Kiara ralhou comigo. – Nossa querida professora está dando preferência para as alunas com mais experiências.

 - Ah sim, experiências? – Sorri e cruzei os braços. – No seu caso, a prostituição, não é?

 Algumas garotas que não gostavam muito de Kiara riram. Outras, porém, me encararam com olhares mortais.

 - Ignorem-na, meninas. – Margareth me fuzilou com os olhos, para logo em seguida, se dirigir à alunas e sorrir ternamente.

 Dei de ombros.

 - Então, quem quer começar? – Ela perguntou.

 - Que tal eu? – Todas nós ouvimos uma voz lá da porta do ginásio. Gemi e me senti horrível naquele momento. Nadia estava encostada na parede, sorrindo e nos olhando com os olhos azuis faiscando.

 - E quem é você, minha querida? – Margareth olhou-a confusa.

 - Ah, desculpe minha falta de educação. – A garota sorriu, mostrando suas covinhas e fazendo inveja em muitas alunas. Foi até a professora e lhe deu um beijo na bochecha. – Sou Nadia Steller. Uma aluna nova.

 Era impossível não olhá-la. Ela era alta e radiante. Quase me fazia sentir inveja. Quase. E faria, se eu não soubesse o que ela fez com o meu namorado.

 - Seja muito bem vinda. – A professora sorriu e estendeu a mão, dando a entender que ela era uma filha que estava voltando para casa. – Bom, ouviu tudo o que eu disse?

 - Sim. – Ela continuou sorrindo docemente. Era tão doce, que me fazia enjoar.

 - Tudo bem. Então, pode começar. – E dizendo isso, Margareth se retirou e sentou ao lado da au au.

 Nadia foi até um aparelho de som que tinha ali, ligou-o e na mesma hora, uma música das Pussycat Dolls começou a tocar. Não tive muito tempo para descobrir o que ela estava fazendo. Em um minuto, a morena estava parada, no outro ela dava estrelinhas, piruetas e mortais por toda a quadra. Deixando, tanto eu e as meninas, como a professora e seu ajudante, boquiabertos.

 Fiquei olhando-a, pensando se a história que o Nicholas havia me contado, era verdade ou mentira. Uma garota que já era mãe, não estaria pulando de um lado para o outro daquele jeito. Não é mesmo?

 Mas então, quando ela estava de cabeça para baixo sustentando-se com os braços, a camiseta esportiva da escola subiu um pouco e mostrou para mim, a prova de que o Nick não havia mentido, e que ela era uma vagabunda.

 Na barriga de Nadia, um pouco abaixo do umbigo, havia uma cicatriz que ia de uma ponta à outra.

Aquela marca me mostrou que, aquela garota, era realmente uma mãe.

 Cinco minutos depois, quando a música havia acabado, Nadia terminou sua apresentação, e a sala inteira rompeu em aplausos.

 - Acho que você já tem uma boa posição, garantida. – Margareth a encarou com os olhos brilhando de excitação.

 - Muito obrigada. – Ela sorriu e foi se sentar na arquibancada. Sendo parabenizada por muitas garotas.

 - Muito bem. – A professora megera se levantou e nos encarou. – Quem quer ser a próxima?

 Kiara levantou a mão e foi se apresentar. Não prestei atenção no que ela fazia. Muito menos nas pessoas ao meu redor. Só me focalizava em Nadia. Como ela pôde? Como ela conseguiu trair o Nick? Como ela teve a coragem de assumir um filho, que não era dele?

*

 Já estávamos no fim da aula. O sinal estava para bater, faltavam uns cinco minutos apenas. Eu bocejava. A sala inteira, pelo visto, já tinha ido se apresentar.

 - Jennifer Connor! – Ouvi me chamarem, enquanto eu saía de meus devaneios.

 - Sim? – Perguntei, ainda meio distante.

 - É sua vez de se apresentar. – Kiara disse, com um olhar do tipo “Vá lá, palhaça. Faça-me rir.”

 Irritei-me e saí da arquibancada pisando duro. Elas iam ver. Ninguém ali sabia que eu tinha feito balé (por mais que eu não goste) e ginástica. Muito menos a minha mãe.

 Coloquei um dos CDs que estavam perto do rádio e escolhi uma música qualquer.

 Não me lembro muito do que fiz a seguir. Só me recordo que a adrenalina se juntou com a irritação e... Eu fiz uma apresentação de três minutos (tempo da música) que me deixou totalmente sem fôlego. Dei piruetas, dei estrelinhas, mortais, pontes... Tudo o que era humanamente possível, acho que fiz.

 Depois que terminei a apresentação, observei todas as garotas, incluindo Margareth, me encarando boquiabertas. Menos Nadia, que sorria e aplaudia sorridente.

 O sinal bateu e todas foram forçadas a sair.

 - Você foi ótima! – Nadia chegou perto de mim e bateu palmas.

 - Obrigada. – Respondi mais seca do que pretendia.

 - Provavelmente, você também já tem uma boa posição garantida. – Ela sorriu, mostrando a linha de dentes extremamente brancos e suas covinhas.

 - Obrigada. – Repeti e, sem mesmo me trocar, fui direto para a saída do colégio.