Reila escrita por Leh-chan


Capítulo 2
Conte-me seus sonhos...




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:: CAPÍTULO 02 - Conte-me seus sonhos ::


           
  “Oitavo dia...” – Essa foi a primeira coisa que Ruki pensou ao acordar. Nem se deu ao trabalho de abrir os olhos.

            Um novo dia se iniciava. Será que aguentaria? Mais um dia... Igual a tantos outros... Tão monótono quanto os dias anteriores... Nada de singular deveria acontecer.

            Levou alguns minutos até que criasse forças para abrir os olhinhos castanhos, tão preguiçosos. Ao finalmente completar o ato, pôde enxergar algumas linhas abstratas de seu quarto em meio à penumbra. Demorou um pouco até sua visão se ajustar à iluminação, quando então pôde ver as coisas ao seu redor com mais exatidão.

            “Nossa... Rei-chan fez um bom trabalho aqui. Quando cheguei ontem, nem olhei direito... Passei o dia devaneando, e ao entrar no quarto, simplesmente desmaiei. Acho que fiquei um pouco perturbado... Estou devendo uma ao Aki, pra variar.”

            No cômodo, havia duas camas. Entre elas, um grande tapete felpudo preto e branco. Sobre este, uma cômoda no meio do quarto, recostada na mesma parede que as cabeceiras das camas. Ao lado de cada uma destas, uma mesinha quadrada, de madeira polida. Defronte para o leito de Ruki, um grande armário, e ao lado, a janela coberta por uma fina cortina branca. Na frente do de Reita ficava a porta. Na parede ao lado, havia vários pôsteres dos Sex Pistols, sua banda favorita.

            Mais uma onda de coragem foi necessária para que o loirinho se levantasse do leito. Pôs-se em pé lentamente e olhou o ambiente a sua volta, assim notando que o baixista não estava presente. Provavelmente estava tomando café ou algo do tipo.

            O aposento ainda não possuía relógio, portanto Takanori não fazia nem ideia de que horas eram. Dirigiu-se à cômoda e trocou seu pijama por vestes simples, mas que não rareavam sua beleza. Arrumou os cabelos lisos com as próprias mãos e caminhou até sua cama, onde começou a esticar os lençóis, e por cima, o edredom.

            Ao terminar a tarefa, olhou para a cama na outra extremidade do quarto. Estava completamente bagunçada, e resolveu ir repetir o processo de arrumação nesta. Ia começar a esticar o lençol quando a porta abriu devagar, revelando do outro lado uma figura alta contrastando com a luz. Era Reita, que vinha carregando uma bandeja nas mãos. Ao entrar, fechou a porta.

            – Bom dia, dorminhoco! – Disse sorrindo para o menor, na esperança de que tivesse acordado com humor melhor. Para sua surpresa, Takanori sorriu também. Um minúsculo e quase imperceptível sorriso, que o mais velho adorou ver depois de tanto tempo. Era como um dia calmo depois de semanas de tempestade em alto-mar. Resolveu colocar a bandeja na cômoda e caminhou a passos largos até o amigo.

            – Parece que aquele “arzinho” lhe fez bem, afinal. Claro que demorou para fazer efeito, uma vez que ontem você parecia um morto-vivo sentado na varanda.

            – Me desculpa por isso... E por fazer vocês arrumarem toda a casa, também...

            – Ei, não pense que escapou. As caixas com a maioria dos utensílios da cozinha ainda não foram arrumadas, e nem pense que essa sua desculpinha de “corno renegado” colou, viu? Apenas demos uma folguinha... – E dizendo isso, o maior soltou uma gargalhada doce e agradável aos ouvidos. O vocalista olhou-o nos olhos. Akira assustou-se um pouco e cessou os risos, dirigindo-se a ele novamente:

           – Eis seu café... Kai quem preparou desta vez. Parecia animado hoje.

            – Que bom! – Articulou o outro, esticando as cobertas do baixista na cama. Este, por sua vez, segurou as mãos do menor, impedindo-o de concluir a tarefa.

            – Pode deixar que eu faço isso... Afinal, a cama é minha.

            O menor corou violentamente ao sentir o toque, e agradeceu a todas as entidades santas conhecidas pelo fato de estar escuro o suficiente para esconder seu rubor na penumbra. Tratou logo de responder, o mais natural possível:

            – Não... Você arrumou todo o quarto ontem. E tem sido tão bondoso... É o mínimo que eu poderia fazer. – Reita soltou-o.

            – Você tem razão... Como eu sou bonzinho com você, pequeno mortal...! – O mais novo fez cara de indignação ao ouvir está última frase, saltou sobre as costas e agarrou o pescoço do maior, que por sua vez, tropeçou por um momento, mas já estava em pé e firme no outro, segurando o amigo inabalavelmente pelas pernas.

            Matsumoto mexeu nos cabelos do mais velho suavemente, bagunçando-lhes. Simultaneamente, deu um sorriso um pouco mais aberto. Akira sorriu também, involuntariamente.

            Assim, uns segundos depois, despendurou-se do colega e foi terminar de ajeitar sua cama. Acabou rapidamente, e ao fazê-lo, sentou em sua própria para apreciar o desjejum feito por Yutaka, composto de torradas e suco de maçã.

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           “O que houve com ele? O que será que aconteceu durante o tempo que esteve fora de casa?

            Acho que não adianta eu ficar tentando adivinhar... Afinal, ele teria me contado se acontecesse algo. E só de ver este sorriso, as coisas já melhoram consideravelmente. Além disso, é bom mesmo que esteja feliz, uma vez que tudo que estamos fazendo é por ele. Agora tudo que tenho que fazer é manter o chibi dentro do quarto por algumas horas e...”
 

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            Seus devaneios foram interrompidos pela voz suave do vocalista.

            – Hmm, aliás... Que horas são, Akira?

            – Já passam das 11... – Disse ele, consultando o relógio de seu celular prateado.

            – Mas já?! – Respondeu o chibi, alarmado, enquanto enfiava um grande pedaço de torrada na boca – Eu preciso... Sair..

            – Vai encontrá-la? – Brincou, sem saber que, de fato, havia uma “ela”.

            – Como...? – E ficou visivelmente inquieto e pasmo. Porém, Reita estava bem mais pasmado que ele, só que conseguiu não demonstrar. Procurou continuar o joguinho para ver o quanto podia descobrir.

            – Qual é o nome dela?

            – Yamaguro... Reila.

           – Reila-chan. – Falou para provocá-lo, mas não obteve o resultado. – E o que houve?

           – Na verdade... Não houve nada. Eu provavelmente nem iria encontrá-la novamente... Mas queria visitar o lugar que a vi. Nunca se sabe, não é mesmo?

            – O que exatamente aconteceu? – Perguntou, meio enciumado agora. Achou que estava se sentindo assim porque Matsumoto não o contou antes o ocorrido. Afinal, Ruki sempre lhe contava tudo...

            – Encontrei-a chorando numa praça ontem. Parecia tão frágil... Fui falar com ela, e bem, nosso monólogo não durou muito tempo. Mas... Quando ela finalmente sorriu, eu não consegui deixar de retribuir o sorriso. Além disso, pareceu que tínhamos alguma ligação... Não sei explicar. – Contou ele, preferindo guardar a parte assombrosa para si, uma vez que sabia ser apenas um delírio completamente sem sentido. Ou não...

            – Bem. – Concluiu Reita – De toda forma... Fique em casa hoje. Faz um tempo que nós não passamos o dia juntos. A garota não vai estar lá.

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           Pois bem, então falem mais baixo. – Falava Uruha – Desse jeito ele vai acordar.

            Todos os presentes abaixaram o tom. Kai e Aoi trocaram olhares, e Reita verificou as horas em seu celular prateado. Eram 10 horas da manhã.

            – Ruki precisa se alegrar, de verdade...
Concluiu Yuu, quando Kouyou o cortou:

            – Eu cuidarei disso. Por hora, você e Yutaka vão atrás de comida, então eu arrumarei a casa para que tudo esteja pronto na hora certa.


             Akira levantou a mão, e todos olharam para ele.

            – Claro que eu não me esqueci de você, amorzinho. – Disse o guitarrista loiro, que parecia “comandar” a operação secreta. – Você fica com a parte mais importante e divertida...


             – Qual seria?
Indagou, sem muita convicção.

            – Manter Takanori no quarto... O dia todo. Na hora que ele puder sair, eu ligo no seu celular. Quanto às refeições, eu mesmo levo. Faça qualquer coisa pra deixá-lo lá, só não amordace nosso menininho.

            – Mas.... – Ia contestar, mas quando viu, estava falando sozinho. Os dois morenos saíam da casa enquanto Takashima estava a caminho da cozinha.


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            – AKIRAAA! – Gritava Ruki para o amigo, que estava lembrando-se do ocorrido naquela manhã e nem o ouvira nos últimos segundos.

            – Desculpa, Taka-chan. Estava só pensando... – Fez uma pausa. Precisava inventar algo para contar ao menor. –... Já tem um bom tempo que nos conhecemos, não é mesmo? – Mentiu ele. Essa foi apenas a primeira coisa que lhe passou pela cabeça depois dos fatos daquele dia.

           – Bem... É verdade que eu te conheço desde que tinha 6 anos, já que nossas famílias moravam próximas... Mas você só foi virar meu amigo mesmo depois que meu pai morreu. Você era um grande antipático.

            Reita temia a aparição deste assunto. Takanori sempre ficava deprimido ao falar de seu pai, mas dessa vez, pareceu estar bem calmo e falava naturalmente. Resolveu arriscar:

           – Sim... Você ficou muito triste; parecia um maníaco depressivo.

            – Então é assim que você me enxergava; seu pequeno Galo de Briga?! – Amarrou a cara em um biquinho que fez o maior sorrir.

            – Pequeno Galo de Briga? Que eu saiba, o único pequeno aqui é você...

            – Não diga isso, seu bando de banha ambulante... Só por que é um tiquinho mais alto, fica se achando!

            – Se 10 centímetros adicionais para você são um tiquinho...

           
– Claro que são. Até mesmo porque, deve ser o tamanho daquilo que você tem no meio das pernas. – Zombou o mais novo.

            – Se você diz... Sinal que já viu... Andou mexendo em mim enquanto eu dormia, Senhor Matsumoto? – Ruki olhou bem em seus olhos... E os dois desataram a rir num sincronismo assustador. Suzuki jogou-se na cama do outro, e continuaram a rir, demasiadamente alto.

            Neste momento, Uruha abriu a porta, adentrando o quarto. Segurava um prato cheio de bolinhos de arroz; bolinhos estes que não pareciam círculos ou algo oval. Parecia mais... Um monte de arroz empilhado. Parou ao ver a cena amável dos dois loiros, rindo feito crianças. Ficou extremamente alegre com isso. Aliás, alegre talvez não fosse o adjetivo mais propício. Ficara aliviado.

            – Perdi alguma coisa, meus amores? – Falou, com um sorriso malicioso no canto dos lábios. Sorriso notável... Porém algo chamou ainda mais a atenção do baixista: ele estava vestido com shorts roxos, que eram bastante curtos. Usava botas com os saltos altos e um par de meias arrastão. Não estava com essa roupa de manhã... Estava estranhamente... Estranho.

           “Não que isso me importe – Pensava Reita –, mas não é propício deixar que ‘os outros’ o vejam desta forma...”

          Kouyou caminhou como uma modelo faria até a cômoda do quarto dos garotos, retirando a bandeja do café da manhã de Ruki e deixando o novo prato. Então, chegou perto do menor e abaixou-se em sua frente, passando levemente a mão pelo contorno de seu amável semblante.

           – Fiz especialmente para você.

            – Vocês andam muito gentis... Obrigado. – Então, virou-se para os ditos bolinhos, e pensou se o agradecimento que fizera realmente seria recompensado. Não pareciam nem ao menos comestíveis.

           – Bem, Kouyou, acho que temos um problema aqui. – Começou Akira. – Estamos mimando demais este baixinho. Se continuar assim, daqui dois dias, você estará amarrando lacinhos cor-de-rosa nos chifrinhos dele, então procure não exagerar, ok?

            – Eu JAMAIS amarraria lacinhos rosas no meu Rukizinho... – Naquela hora, com sua mão livre, colocou a cabeça do menor junto a seu peito, continuando o discurso. – Só colocaria laços roxos com glitter, mon amour. – E então, sorrindo de maneira provocante, ele beijou levemente a cabeça do loiro que mantinha próximo de si. Por fim, acariciou levemente seus cabelos e soltou-o, caminhando de volta à porta. Reita ficou perturbado com a cena.

            – E, aliás... – Concluiu Uruha antes de sair. – Não pega bem dois garotões ficarem em um quarto escuro todo esse tempo. Abram a janela, assim pelo menos poderei espiar vocês de vez em quando. – E dando uma piscadela, abandonou o quarto, fechando a porta atrás de si.


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            Depois daquilo, Reita abriu a janela rapidamente. Ambos ficaram sentados na cama do chibi, e é claro que nenhum dos dois teve coragem de comer aqueles pseudo-bolinhos de Kouyou: além da péssima aparência, talvez estivessem com alguma poção do amor ou um laxante, nunca se sabe o que esperar dele.

           Os minutos iam se arrastando, e nenhum dos dois fazia o uso da palavra. O baixista estava ficando com medo de que Ruki se entediasse e resolvesse sair, e procurava por um assunto desesperadamente em sua cabeça quando olhou seus pôsteres na parede e arriscou:

            – Sabe, Ru-chan... Dia 24 de abril vai haver um show dos Sex Pistols aqui no Japão.

            – Sério?! – Todos sabiam como o loiro maior os admirava. – Você certamente irá... Não é?

           – Bem... – Ele levantou-se e foi até a cômoda, abrindo a última de suas gavetas, e tirando do fundo dela um envelope. Após fechar a gaveta novamente, tornou a sentar na cama e continuou. – Eu tenho aqui comigo dois ingressos. – Dizendo isso, tirou um deles e colocou sobre a cama, deixando o outro dentro do envelope. – Gostaria de ir comigo?


          – Mas... Que honra! É claro que gostaria... Adoraria! – O maior então lhe entregou o envelope que continha o segundo convite.

            – Considere esse seu presente, então.

            – Presente? Você não acabou de dizer que não era para me mimar? – E sorriu, inocente.

           “Ele realmente não se lembra que dia é hoje...” – Pensou Akira. Em resposta ao pequeno, afagou seus cabelos loiros e respondeu-lhe em tom sutil:

            – Uruha não pode te mimar... Eu posso. Mas não pense que vou lhe amarrar lacinhos!

           – Ah.... Meu sonho era ter lacinhos cor-de-rosa na cabeça...

            – Jura? Pensava que sonhava com algo mais audacioso, do tipo “sair na rua com as roupas do Kou”.

            – Não, este deveria ser o seu sonho, baby. – Respondeu, com um olhar de quem queria saber algo.

            – Hey! – E para sua felicidade, ele iria dizer. Aliás, repetir. – Você sabe... Meu sonho é ser um grande músico. O melhor de todos... E com as minhas roupas.

            – Sonho curioso... Preferiria se você desejasse estar sem elas.

            – Sem graça.

            – Besta. – E dizendo isso, mostrou-lhe a língua, numa careta adorável.

           A animada discussão foi interrompida pelo barulho de passos. Vinham do lado de fora da casa, e pareciam ser de mais de uma pessoa. Suzuki presumira que só teria que esperar alguns momentos... Estava tudo perfeito, até que Matsumoto levantou-se e disse:

            – Desde a hora que acordei não saí daqui. Preciso ir ao banheiro, afinal.

            O loiro maior tentou parecer natural, mas estava nervoso. E agora? Bolou um plano rápido... E esperou que funcionasse.

            – Claro, Ruki-san... Bom passeio. – E, quando ia supostamente se levantar, fingiu uma tontura e jogou-se no chão, deixando o celular que estava em seu bolso cair sem querer. Marcava 14h56min, fato que o menor nem notou. Saíra correndo para socorrer o amigo desfalecido. Acolheu-o nos braços e aproximou-o de si.

           Inocentemente, Takanori pensou que ele estivesse com febre, e aproximou sua bochecha da testa do outro. De fato, sua face estava quente, e ele podia sentir isso. Mas era outro tipo de calor... E continuou a encenar, na esperança de atrasar o vocalista preocupado a qualquer custo:

            – Taka... Que indelicadeza a minha... Eu me esqueci de perguntar... Qual é o seu sonho? – Essa cena pareceu demasiadamente dramática para Akira, e ele odiava aquilo: teve uma profunda vontade de vomitar. Ao mesmo tempo, amava o contato que estavam tendo... Apenas não percebera naquele momento.

           O menor estava prestes a abrir a boca para dizer algo, porém...

           O celular que estava no chão começou a tocar e vibrar loucamente, com uma musiquinha estridente e irritante. Não tocou mais do que três segundos, e Ruki nem o deu a devida atenção. Reita entendeu o sinal, então se levantou levemente, fazendo Takanori afastar-se de si.

            – Você... Pode me ajudar a ir até o banheiro, por favor?

            – Claro... – E ajudando aquele ótimo ator a levantar-se, caminhou lentamente até a porta, apoiando-o sobre seu corpo para que não caísse, uma vez que ele simulava estar completamente tonto. Colocou então a mão sobre a maçaneta. Jamais pudera imaginar o que o esperava do outro lado.


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Notas finais do capítulo

N/A: Gente, se o Reita não quiser mais trabalhar pra mim, ele pode ir trabalhar na nova novela mexicana, né?

Sem muitas coisas pra declarar sobre esse capítulo. Ainda é só o segundo...

O que será que tem do outro lado da porta? :o