A sessão teve reinício.

Novella estava no mesmo lugar, mas entre dois guardas, porém, seu semblante estava calmo e ela olhava para frente.

Quando o Juiz Keller entrou, todos se levantaram, e então Novella se deu conta de que havia recebido a visita do homem mais poderoso de Fraterna, e entendeu por que ele disse que se alguém soubesse que ele esteve em sua cela seriam sentenciados à morte. Mas agora ela se sentia orgulhosa, pois em sua mente ele era seu protetor secreto.

_ A sessão esta aberta. – disse o Juiz – Promotor, onde está o senhor Thompson? – ele sabia que Thompson se atrasou por estar buscando provas.

_ Disse que estará aqui em breve, Meritíssimo.

_ Vamos iniciar sem ele. Senhor Romer, há algo que queira apresentar a este tribunal?

_ Sim, Meritíssimo.

_ Aproxime-se da bancada. – ele se aproximou e sorriu para o juiz. Achava que Keller já estava a ponto e absolver Ramona, e que estava do lado dos Ernie, mas estava enganado. Keller olhou e disse severamente – Se provocar novamente aquele espetáculo de horrores, eu juro que sua carreira termina aqui, advogado.

_ Mas, Meritíssimo, eu só a interroguei!

_ Abusou de sua posição. E isso eu não permitirei de novo. Volte para seu posto e anuncie sua “próxima atração”. – disse com ironia – Mas só vai interrogar a moça se o advogado dela estiver presente.

Ele se afastou visivelmente decepcionado.

_ Meritíssimo, Quero chamar para depor novamente a senhora Ramona.

Ela se sentou no banco de testemunhas, com o mesmo ar de superioridade.

O Juiz olhou em volta, e Thompson ainda não estava lá.

_ Senhora Ramona, diga-nos como era a convivência com sua criada Novella.

_ Era conturbadora. Novella estava sempre indisposta a ajudar sua mãe. Tinha problemas de comportamento. E Marylin a repreendia constantemente. – Novella ouvia indignada – Um dia Novella chegou a agredi-la...

Novella não suportou a infâmia e começou a gritar, ao mesmo tempo em que Mira chegou, sendo conduzida por Thompson.

_ Mentirosa! Mentirosa!

O Juiz esperou que Thompson se aproximasse dela para fazê-la ficar quieta, e disse:

_Silêncio! Não pode se pronunciar, senhorita! Senhor Thompson, quantas advertências mais deseja receber para se portar neste tribunal? Está sendo novamente advertido por se atrasar e deixar sua cliente a ermo.

_ Me perdoe, Meritíssimo, mas eu estava buscando provas para inocentar minha cliente.

Keller sabia, já que ele mesmo o orientou, mas não podia simplesmente dizer que compreendia. Além disso, temia que Novella cometesse mais erros com sua ingenuidade.

_ Continue senhor Romer, mas que fique claro aos jurados que tudo que ocorria entre as paredes da casa só será válido como prova se houver confissão da acusada.

Romer se deu por vencido, pois havia instruído Ramona a mentir sobre o comportamento de Novella a ponto de fazer com que a vissem tal qual um monstro. Keller imaginava sua estratégia.

_ Então não tenho mais perguntas, Meritíssimo.

_ Como não? – exclamou Ramona – Que espécie de advogado é você? Incompetente!

O Juiz ficou nervoso.

_ Senhora Ramona, respeite esse tribunal! Se desrespeitar seu advogado novamente, ficará sem ele. Senhor Romer, tire sua cliente daí antes que eu a prenda por desacato.

Quando Ramona saiu, Thompson pediu para interrogar Novella. Mais cedo havia visitado a moça para instruí-la a se retratar diante do tribunal. Novella havia sido subestimada por ele antes. Mas agora Thompson a conhecia melhor, que por trás daquele jeito ingênuo existia uma mulher forte e com uma sabedoria incomum para sua posição, só precisava da orientação certa.

_ Senhorita Novella, responda a este tribunal por que ontem disse que mataria sua tutora se pudesse.

O Juiz achou estranho que Thompson a fizesse falar sobre aquilo, mas tinha conhecimento de que ele havia visitado Novella e que podia ser mais uma estratégia. Não se atreveu a olhar para ela. Mas ouviu sua voz calma e serena.

_ Eu estava fora de mim. Pensar na morte de minha mãe me deixou com raiva. E meu irmão era tudo pra mim. Fiquei descontrolada.

_ Sobre sua declaração...?

_ Eu aprendi que ninguém tem o direito de tirar a vida de um ser humano, por que Deus colocou no mundo. É o maior pecado que alguém poderia cometer. E eu não pecaria assim.

_ Então não teria coragem de matar sua tutora?

Novella olhou diretamente para Ramona, que também a encarou, apreensiva.

_ Nem que ela fosse culpada. Deus ortogou poder a alguns homens sob o céu que julgam em nome Dele. A eles cabe fazer a justiça, não a mim.

O auditório e os jurados ficaram passados. Falar daquele jeito era natural apenas para pessoas estudadas, o que não se aplicava a mulheres no geral. Ainda mais Novella, uma filha de serviçal que nunca foi à escola.

O Juiz também ficou impressionado, e lisonjeado.

Até mesmo Romer percebeu o quão perdida estava sua causa agora, pois Novella o cativou também.

_ Se arrepende do que disse?

_ Sim, eu peço desculpas a todos.

_ Obrigado, Novella. Meritíssimo, eu terminei as perguntas com ela. Se meu colega desejar...

Virou-se para Romer que fitava Novella.

_ Sem perguntas, Meritíssimo.

Ramona o chamou de inútil em voz baixa, ficou inconformada por ele não querer interrogar Novella com disse que faria para desorienta-la novamente. Suas estratégias baixas foram vetadas pelo Juiz e ele não podia mais confrontá-la sem argumento.

Restava a Thompson continuar.

_Meritíssimo, gostaria de chamar para depor a favor de Novella a minha serviçal Mira.

Mira foi colocada pelos meirinhos na bancada de testemunhas.

Alguns murmúrios a respeito da mulher começaram, atitude esperada pelo Juiz. E ele disse:

_ Considerando que pessoas de posições sociais semelhantes podem se defender uns aos outros, o testemunho dessa senhora será aceito, em respeito à constituição. E vou pedir mais uma vez que façam silêncio!

Como Mira gostaria de gritar aos quatro ventos que era sua irmã! Limitou-se a responder as perguntas de Thompson.

_ Senhora Mira, há quanto tempo conhece Novella?

_ Desde que ela nasceu.

_ Conhecia sua mãe?

_ Sim.

Novella ficou surpresa. Teria Thompson quebrado seus princípios e a ordenado a mentir? Mas no decorrer do depoimento ela viu que Mira falava a verdade.

_ Fale de Merylin.

_ Era uma moça adorável, cuidou de Novella com muito amor e disciplina. Não faltava a nenhum dos cultos e Novella estava sempre comportada. Merylin costumava dizer a todas nós que sua menina seria a rainha de nosso país, pois era muito esperta. E Novella tinha um carinho muito grande pela mãe. Das crianças, ela costumava ser a única que acompanhava as atividades de nosso grupo. E Merylin não impunha, só a deixava escolher. E ela escolhia estar com sua mãe. Sempre.

Novella tentou, mas não pôde segurar suas lágrimas, novamente chorou.

_ Sabemos que Merylin estava doente quando teve Andy, e continuou doente depois. O que presenciou?

_ Eu nunca mais a vi depois que ficou doente. Mas via Novella constantemente no parque com seu irmão, especialmente depois que a mãe se foi.

Mira contou sobre o dia que ela salvou Andy do cão raivoso. Era o bastante.

Thompson não tinha mais perguntas. E Romer pediu para interroga-la. Porém, não tinha o que perguntar. Olhou para ela, procurava algo para dizer.

_ O que houve com você? Quero dizer, como perdeu os movimentos?

_ Meningite. – ela disse sem tirar os olhos dele.

Ele desistiu.

Quando voltou ao seu lugar, sua cliente o encarou e ele disse baixo.

_ Assim que me der a chance de falar com o júri, acabarei com ela.

O Juiz chamou os advogados e avisou que deviam preparar seus discursos para dali a 15 minutos.

_ Amanhã será a última chance de vocês provarem a inocência de suas clientes.

Thompson levou Novella e Mira para uma sala. Quando a porta se fechou Novella abraçou Mira emocionada.

_ Obrigada Mira. Minha mãe teria ficado orgulhosa da senhora.

_ E de você também minha querida! Onde aprendeu falar daquele jeito?

_ A senhora sabe! Onde as mulheres estudam...

_ Então é isso! És uma moça muito inteligente, Novella!

Viraram-se para Thompson quando ele disse.

_ As duas são!