No terceiro dia, seria o dia que iríamos ter a nossa seção particular com os Montadores.Era o último dia antes dos Jogos.Como sempre,(N/A:ISSO ESTÁ FICANDO REPETITIVO) tomei banho e me vesti para o café.No fundo,eu sabia que,enquanto eu mantivesse o plano original dos mentores ,eu estaria coberta de patrocinadores.Mas o problema,era que no fundo,eu não queria ser mais uma peça para a diversão das pessoas da Capital.Não queria ter que fingir nada.Eu gostaria de poder morrer com dignidade.

Mas eu apenas gostaria,não poderia.Assim que abri a porta para sair,me lembrei que havia esquecido a minha faca ainda embaixo do meu travesseiro.Me arrastei até a minha cama,desejando continuar lá.Minha mão passou vagarosamente por baixo da superfície entre o travesseiro e o colchão.Ela não estava lá.

Tomada pelo desespero, corri rumo à porta que eu sabia ser do quarto de Cato. Sem bater,entrei.Ele estava lá,deitado,já pronto para o café com a cabeça apoiada nos braços musculosos.

Ele ficou me encarando por um longo tempo, ainda na cama enquanto a consciência de meus atos me acertava.Eu havia entrado no quarto do garoto sem bater, tomada pelo pânico de perder minha nova melhor amiga.Quando ele viu a minha expressão de terror ele foi lentamente,se dirigindo à mim.

-Clove...-Ele estava passando as costas de suas mãos em meu rosto,como minha mãe costumava fazer quando estávamos com febre e tendo pesadelos.Para medir a temperatura e acalmar ao mesmo tempo.-O que houve?Você está gelada... –Ele estava agora sussurrando.

-Sai! –eu gritei ,abaixando lentamente rumo ao chão. –Você não pode,não deve,encostar em mim! Minha faca!–Eu tentei fugir de volta para a porta,perturbada,louca.Eu estava com os dependentes de morfina do 2.Pedindo,enlouquecendo por uma faca.Como eles pediam,enlouqueciam por morfina.Eu queria,fugir de volta para casa,onde mãos confiáveis acariciariam meu rosto.Mas em uma de minhas tentativas,vi que Cato prendia meus ombros na porta,me impedindo de qualquer movimento real.

-Clove ,se acalma! –ele estava elevando a sua voz sobre a minha,que berrava loucamente por minha faca. –Você perdeu sua faca ,certo? –Ao olhar por cima do ombro dele ,vi um espelho.Meu rosto estava manchado de lágrimas e meus olhos arregalados com os de uma louca. Quando ele viu que eu assentia,trêmula,ele continuou.-Nós vamos achar.Calma.

Lentamente ,eu fui me recobrando e ele me soltando.Eu despenquei de vez no chão,meu corpo já livre de qualquer contato com Cato.

-Você já foi ao telhado daqui?Justin me mostrou.

-Não.E eu não devo.O treinamento vai começar.

-Ainda há tempo.Ainda são nove e dez e ainda temos os do 1.

-Eu quero a minha faca.Não me obrigue a gritar.

-Eu te prometo, se você for ao telhado comigo ,eu te ajudo a achar sua faca.

Então ele me ajudou a levantar e eu o segui por um lance de escadaria com uma placa TELHADO .Há um pequeno cômodo em forma de cúpula com uma porta para fora. Quando pisamos dentro do ar da noite fresco e ventoso, eu segurei meu fôlego pela vista. A Capital cintilava como um vasto campo de vaga-lumes que rodeavam as pedras no 2. A eletricidade no Distrito 2 vinha e ia.Embora raramente as noites são passadas à luz de velas. Mas lá não existia carência. Nunca. Cato e eu andamos para o parapeito nos limites do telhado. Eu olhei para baixo ao lado do edifício para a rua, que estava zunindo de gente. Você podia ouvir seus carros, um berro ocasional, e um estranho toque metálico.Depois de um longo tempo olhando para baixo eu resolvi falar.

-Eles não se preocupam que algum tributo possa fugir?Digo ,se matar?

Ele me encarou por um tempo antes de responder.

-Não vejo por que alguém iria querer fugir da diversão. –disse ele com um sorriso. –Mas não dá.Há um campo elétrico que te puxa de volta .

-Você acha mesmo que os Jogos Vorazes são uma diversão?

Eu perguntei meio brusca.

-Clove, eu fui treinado para isso e...

-Eu também.Mas você acha mesmo legal ver um tanto de crianças se matando?Crianças que não tiveram treinamento ,que não foram alimentadas decentemente nem para dobrar uma coberta antes de se levantar?

Ele silenciou.

-Acha ,Cato ? –Eu insisti.

-Talvez ,Clove.

-Talvez...Interessante.

Então nós nos voltamos novamente para baixo.

-Você não gosta dos Jogos,não é? –ele me perguntou.Pela primeira vez me ocorreu que eles poderiam nos ouvir.Mas o vento era forte demais.Barulhento demais.

–Não,eu não gosto.

–Você é uma Carreirista mesmo ,Clove?

-Claro que eu sou.Todos do 2 são,Cato.

-Você não parece ser muito violenta com os outros.Apenas comigo.

Eu não desejava encará-lo.Falei olhando para baixo.

-E eu realmente não sou.Não com quem não me fez nada.

-Os outros tributos podem te matar...

-Você acha mesmo que alguém tão fraco com aquela garotinha do 11 pode me matar?Porque nós temos que temer à nós mesmos.Os Carreiristas.Que sabem milhões de formas de matar você com uma pedra.Os outros não.Talvez os do 12 mereçam atenção.-acrescentei, pensando em como o resto dos Carreiristas tentavam aparecer e eles provavelmente escondiam seus pontos fortes.Deduzindo ,pensei que eles eram melhores em arco e flecha e combate corpo-a-corpo.

-Hum... –ele resmungou pensativo.

-Acho que já vou.Já deve estar na hora.

-É eu também já vou.

Então nós descemos a escadaria.Cato ainda estava com o semblante pensativo,quando eu o parei.

-A minha faca!

-A sua faca...é mesmo.Clove,nós vamos nos atrasar para o treinamento.Nós podemos perguntar para Layran ou Justin...

Eu não tinha dado muito atenção para o que ele estava me falando.Layran havia roubado a minha faca.Era o único pensamento que me atingia.Depois do treinamento eu iria me entender com ela.

Justin já nos esperava no elevador.

-Achei que não viriam.Hoje é o dia da entrevista e o último dia antes dos Jogos começarem.Impressionem os Montadores. –ele dizia enquanto o elevador nos levava ao ginásio. –Ganhem ótimas notas.Patrocinadores escolhem hoje seus patrocinados.Vocês terão 4 horas comigo e com minha mãe.E outras 4 com suas equipes de preparação.

Pensei porque Clairan não estava aqui como a nossa

Quando chegamos,Glimmer estava sentada ,esperando sua vez.Todos já haviam chegado.Exceto 12.Quando chegaram,eram só risinhos e conversinhas,com sempre.Eu pensei que eles achavam que estavam indo para um parque de diversão ao invés dos Jogos.O que era supostamente para ser um pensamento de Carreirista.Quando Glimmer foi chamada,eu olhei para os tributos.

Eles estavam ansiosos.Alguns batiam os dedos pelas cadeiras e outro batiam os pés no chão.O garoto do 10,o inválido de uma perna,estava calmo.Parecia já ter aceitado a sua morte.Isso parecia ridículo mas era verdade:Provavelmente Glimmer seria a que pegaria mais patrocinadores.Os tributos mais bonitos tinham essa vantagem.Pensei que ninguém iria ter interesse em pegar alguém inválido.Ninguém voltava quando já havia passado pelos Montadores ,percebi isso quando Cato foi chamado sem vermos Glimmer voltar. Meus pés rodavam entre os pés da cadeira.Eu não fazia a mínima idéia do que fazer a não ser lançar facas.Talvez pegar um boneco e torturá-lo ou algo assim poderia impressionar alguém que emprestava seu talento a algo tão cruel como os Jogos.

Então uma voz fria me chamou.

Os montadores estavam em volta de uma mesa de banquete eterno.Eu basicamente fui para o boneco de prática de arremesso de facas.Um alvo havia sido posto em deu coração .Na mesa de armas peguei todo um conjunto de facas.Vi que os Montadores prestavam atenção em mim. É claro.Meu pai já havia sido um vitoriosa e havia tramas para mandar filhos de vitoriosos para a arena.Eu não havia pensado nisso.Mas então ela veio.A minha participação nos Jogos Vorazes já havia sido determinada.

Com um último olhar mordaz ,eu atirei a faca.Ela acertou exatamente o alvo.Alguns olharam para mim com olhares de admiração ,outros apenas sorriram.Outros também, uma parte mínima,já estavam bêbados.Me perguntei quantos deles ficariam sóbrios para ver os tributos dos distritos finais.Então resolvi impressioná-los mais.Andei lentamente até o boneco de arremesso e o derrubei no chão.Peguei uma das facas e fui contornando o rosto do boneco.Parte por parte.Até deformá-lo completamente.

Quando olhei para eles ,vi espanto em seus rostos.Não sei o que esperavam de mim.Talvez mais meiguice ou menos loucura.Mas eu estava fazendo o que meus mentores haviam falado.Eu estava sendo selvagem.Porque eu não poderia ser uma doce entre tantos amargos.

-Tudo bem,Distrito 2.Pode ir.

Eu fui até a saída que me era indicada.Quando olhei para trás ,vi que alguns ainda me olhavam com cara de espanto.Dei uma piscadela arrogante para eles e sai.A porta não levava para o ginásio.Acho que nós não poderíamos voltar para a sala de jantar que nós ficamos até sermos convocados.

Tomei o elevador até o meu distrito. A porta foi aberta e eu fui para o meu quarto.A porta bateu e eu fui abri-la.

-O que é Cato ?

-Os estilistas estão te chamando.Eu vou falar com os mentores primeiro.

-Tudo bem.

Nós ficamos nos encarando por um tempo.Eu não tinha muito idéia do que estava acontecendo entre nós.Em um dia ele entra no meu quarto e me beija e no outro nós estávamos discutindo piedade em um telhado.

-E então, você não tinha estar com os mentores? –Eu me aventurei.

-Ah ,sim.E você?Não tinha que estar com os estilistas?

-Sim.Eu tinha.

Quando ele ia saindo eu segurei seu braço.Acho que foi por impulso.

-O que foi?

-Você sabe por que Clairan não está nos acompanhando? Effie Trinked lê os nomes no 12 e passa a acompanhar os tributos de lá.

-Não faço a menor idéia.

-Cato ,e a minha faca?Você não disse que iria me ajudar a procurá-la?

-Sabe ,Clove ,eu vou.Mas só por que você quer.Porque eu não gosto dela.Você sempre me ameaça com ela.

Eu esbocei um sorriso.

-Tudo bem.Obrigada,eu acho.

Ele me deu um sorrisinho que eu pensei ser sincero e saiu de volta para o corredor.Eu não tinha nada além de fingimento com Cato,mas a idéia de matá-lo não agradava.Não era para nos passarmos de amantes ainda.Apenas darmos pistas para o divertimento da Capital e para a nossa sobrevivência.

Eu fui para o hall e os estilistas estavam lá.Sem as equipes de preparação o que era estranho.

–Olá ,Clove.Vamos para a sala.

-Vamos.

A sala estava deserta.Eu realmente não fazia idéia de para onde Cato e os mentores haviam ido conversar ou o que aquelas pessoas tolas da Capital teriam para falar comigo em quatro horas.

-Tudo bem.Agora vista estas roupas.Eram um vestido longo e saltos gigantes.Não os que eu vestiria na real entrevista.Quando eu os vesti,quase caí.O salto era muito maior do que aqueles que minha mãe ,minhas irmãs e eu usávamos em cerimônias chiques no 2.

-Ah!Ao menos tem mais postura e conduta do que a garota do ano passado.Ela parecia um gorila.Tinha quase dez quilos de músculo.

Eu me lembrava da garota do ano passado.Eu já havia visto ela algumas vezes na Estação do 2.Ela realmente parecia um gorila.Quando havia sobrado apenas ela e um garoto do 4,ela foi morta em uma rede de armadilha.Ela era apenas forte,não inteligente.

–Concordo.

O resto do tempo,foi gastado em várias falsas entrevistas.Nós não sabíamos qual seria o ângulo do qual eu iria jogar.Consideraram apenas sexy, misteriosa,metida ou arrogante.Em todas eu me saí bem.Logo a sexy foi eliminada quando eu comentei que provavelmente a garota do 1 tentaria essa. A minha postura foi explorada junto com a forma de sentar e falar.

-Então, Clove?-Perguntou Justin em nossa seção. –Qual você acha que seria o seu melhor ângulo?

-Não faço idéia.

-Não Justin. –disse Lyran –Nós vamos escolher.Vamos tentar...-ela pegou uma folha com os possíveis ângulos que os estilistas haviam feito.-Vamos tentar...metida.

Foi perfeito. Eu respondi a tudo com muita convicção de que iria ganhar.Dei muitos sorrisinhos superiores e meu perfil estava pronto.Então eu fui para o camarim do meu quarto com Alexander e a equipe para me arrumar para a entrevista.Eu fui lavada com muitos cremes e loções.Minhas unhas foram pintadas com pedras com as de meus distrito.Em meu cabelos foi feito um penteado no qual um coque no centro da minha cabeça balançava,centralizando uma parte solta de meus cabelos.A minha camada de maquiagem se baseou em uma camada de correção,iluminador e batom que servia para “Destacar seus lábios avermelhados naturais”.Eu fui coberta por mais uma camada de perfume e minha pele brilhava.Meu vestido era coral com algumas plumas perto do enorme decote.Os sapatos eram da mesma cor.

Perto da hora,eu fui para a sala, não agüentando mais ficar na prisão sem grades que era o meu quarto.Em poucas horas eu iria ser jogada na arena.Sobre a minha faca eu achava que Cato a havia pego para tentar amenizar meu comportamento voraz.Ou talvez para me manter vulnerável.

-Clove?- Eu me virei e vi Cato andando em minha direção. Ele estava usando um terno azul e sapatos lustrosos pretos.

-Olá. – Eu disse me sentando no sofá.

-Você parece deslumbrante.

-Pareço?Isso era pra ser um elogio?

Ele deu um sorriso e se sentou do meu lado.

-Tudo bem então...- ele fez uma cara pensativa –Que tal...Você parece mais deslumbrante que o normal?

–Melhorou.

Eu não sei o que se passava na minha cabeça para brincar assim com o garoto que na arena seria meu inimigo fatal.Mas nós seriamos aliados até todos serem exterminados e as chances de outro Carreirista matar ele seriam maior do que as minhas chances de matá-lo.Naquele momento parecíamos amigos que estavam prestes a ter algo a mais.O que era mentira.Então nós ficamos próximos um do outro, nos encarando mutuamente.E sorrindo.O que era pior.

-Ah...já estamos prontos. –disse Alexander acompanhado de todo o pessoal do 2. –Vocês estão tão lindos...Fizemos um ótimo trabalho.

De tanto medo que eu estava pareceu um sonho.Quando dei por mim,César Flickerman estava me chamando.

Eu apertei a mão de César e me sentei.Me lembrei do quão provocante parecia Glimmer,porém com uma postura exuberante,e tenteu imitá-la quando à postura.

-E então, Clove, você acha que pode ganhar os Jogos?

Eu hesitei,nervosa.Eu estava definitivamente soando como uma fonte.

–Ah,César.Tenho quase certeza.

César levou as mãos á boca e a multidão urrou.Eu dei um sorrisinho de triunfo.

–Ó Clove,quanta convicção.Quem você acha que é o oponente mais forte?

–Eu acho que...O meus parceiro de distrito ,Cato.

-Clove...E porque você acha isso?

-Ah porque ele é muito forte ,óbvio,e porque ele é habilidoso com muitas coisas.

-Hum...E você tinha algum namorado no seu distrito?

Eu pensei o que alguém metida diria.

-Olha César,pretendentes não faltam...Apenas são pouco demais para mim.

A multidão gargalhou e eu ergui as sobrancelhas marotamente para ela.

-Então,Clove, boa sorte.

E eu sai do palco e me sentei de novo exatamente quando Cato foi chamado.

Ele respondeu as perguntas como a máquina de matar que deveria.Disse que mataria qualquer um e que era bom com tudo e tal.Então todos jogaram de um ângulo.Me lembro de Marvel engraçado e Glimmer provocante.De Rue humilde,do 10 quieto a garota do 5 ,dissimulada.Então chegou a vez de Katniss.

Quando eu vi ela rodopiando e dando risadinhas naquele vestido me deu vontade de vomitar.Ela se sentou,feliz ,e foi a vez do garoto ir.Aquilo me matou.Ele disse que era apaixonado por Katniss.Esse era o nosso ângulo. O de Cato e eu.Ódio era pouco para descrever o que eu sentia.Desejo de que a morte deles fosse a pior que a de qualquer tributo.Até mesmo do que as das vitimas de Esnobaria.

Então nós voltamos para o Centro.Eu tomei um banho,pensando que no outro dia eu seria uma assassina.Me lembro de colocar uma roupa qualquer e trancar a porta.Jantei na quase lanchonete que era o meu quarto e dormi.Tive os pesadelos de sempre.Só que no meio da noite, Cato apareceu.