- Aai... Aaaai... – Era só o que a Carly gemia, a manhã inteira, com a mão na cabeça e uma cara de dor. – Maldita ressaca, nunca mais faço o que a gente fez ontem...

- É o que todos dizem durante a ressaca, mas na primeira oportunidade já entornam o caneco de novo. – Sam abraçava a amiga pelos ombros, dando um apoio. Os três amigos se encontravam no corredor da escola, indo para a sala de aula.

- Nem sei como vou fazer para entender a aula hoje, parece que minha cabeça vai rachar no meio.

- Eu tenho uns comprimidos pra dor de cabeça no meu armário, quer que eu pegue um pra você? – Freddie oferecia.

- AI, SIM, POR FAVOR!

- Ok então, me encontrem em frente do bebedouro. – Ele voltou em direção ao seu armário.

- Cara, eu não lembro de nada do que aconteceu ontem à noite... – A morena continuou seus lamentos.

- Nada? Quero dizer, você não lembra de nadinha mesmo?

- Ah, tenho uma ideia geral do que aconteceu... Eu nem sei como fui parar na cama!

- Bom, nós estávamos jogando o jogo da verdade...

- AH SIM, agora lembrei! Daí eu pedi pro Freddie se era verdade que ele já tinha beijado nós duas, mas daí eu não lembro de mais nada... – Ela fez uma careta tentando lembrar. – O que aconteceu depois disso?

- Ah, nada de mais... Você só apagou, e o Freddie te levou pra cama, só isso.

- E o que ele respondeu?

- Fala sério Carls, como se você já não soubesse a resposta!

- Sim, mas ele falou algo depois disso?

- Bom, ele... – Sam ficou um pouco tensa.

- Ei meninas, aqui está o comprimido! – Freddie chegava entregando a cartela de remédio para Carly. Salva pelo gongo! Ou melhor, pelo nerd...

- Valeu! – A morena pegou logo o remédio e foi em direção ao bebedouro, não tocando mais no assunto o resto da manhã.

No final da aula, os três amigos se dirigiam às portas para irem embora, mas foram parados por uma colega deles.

- Ei, gente, espera! – A coitada corria atrás deles, e os três se viraram para ver quem era e o que queria.

- Oi Harper, o que houve? – Carly perguntava.

- Bom, eu não sei se vocês sabem, mas domingo é meu aniversário.

 - Sim, e o quê que tem? – Sam pediu, mal-humorada.

- Bom, é que eu vou dar uma festa, só os jovens, meus pais vão liberar a casa, e eu queria muito que vocês fossem, sabe, o pessoal do iCarly e tudo o mais. – Ela esperava a resposta deles com um olhar esperançoso. Os três se olharam com uma expressão “E por que não?” e Carly respondeu:

- Claro, adoraríamos ir. Que horas?

- A festa vai começar às 19h, e eu mando o endereço certinho por mensagem, ok? – Ela parecia muito feliz por eles terem aceitado. – Até lá então!

- Então fazer parte do iCarly ainda nos traz benefícios. – Uma satisfeita Sam dizia enquanto eles saíam pelas portas da escola.

- Só espero que não tenha bebida por lá... – Carly suspirou, arrancando risos dos outros dois.

 - Bom, minha mãe ta me esperando logo ali – A loira apontou para o carro da sua mãe estacionado do outro lado da rua, com a roda da frente inteira em cima da calçada. – Ei nerd, não se esquece que hoje tem aula de dança!

- Pff, acho que de nós dois, quem tem mais probabilidade de esquecer os compromissos é você. – A garota fez uma careta pra ele e foi pro carro da mãe.

- Não Freddie, não é assim!

Sam e Freddie já se encontravam na aula de dança, uma aula particularmente difícil, pois estavam aprendendo a coreografia que teriam que dançar no dia do concurso, e eles não estavam achando muito fácil.

- Como é, então?

- Primeiro o básico frontal, depois o lateral, depois o frontal de novo, um meio lateral e um giro antes do primeiro verso da música!

 - Você sabe que isso tudo que você falou agora foi pior que mandarim pra mim, né? – Ele fazia uma cara de desentendimento cético.

- Mas você sabia fazer tudo certo até a professora dar nomes pros passos, o que diabos aconteceu?

- Nada, nada, vamos tentar de novo...

Pelo menos eles não eram os únicos a ter dificuldades, todos os outros casais estavam meio empacados, e a professora tentava dar atenção em igual para todos:

- Não minha querida, vocês estão girando para o lado errado... Levante um pouco mais os braços, Sr Fawcett... Srtª Scarlet, você não está mantendo os olhos fixos, vai acabar entontecendo... – Mais para o final da aula, até a professora estava ofegante. – Bom gente, acho que já chega, não? Penso que já os torturei o suficiente nessas três horas de aula. Vejo vocês na próxima!

Sam e Freddie foram seguindo de a pé para o Bushwell Plaza, pois tinham combinado mais cedo com a Carly que fariam um ensaio para o iCarly depois da aula de dança.

- Eu realmente não sei o que houve com você. – Sam reclamava enquanto os dois andavam lado a lado pela calçada. – Não é a coisa mais difícil do mundo, nerd...

- Ah, qual é, eu melhorei bastante mais pro final da aula.

- Sim, parou de pisar no meu pé. Grande avanço. Pensei que já tínhamos superado essa parte... – Os dois olharam para o céu ao ouvir um trovão. – Como é que esse tempo de Seattle pode mudar tão rápido? Hoje de manhã tinha o maior sol e agora ta nesse cinza escuro deprimente. Imagina se a gente pega uma chuva no caminho?

- Relaxa, é só andar mais rápido, nem é tão longe assim o Bushwell.

- Andar mais rápido? Depois de passar três horas dançando sem parar e com meus pés latejando desse jeito, você acha que é fácil andar rápido? – Sam estava muito azeda. – Não entendo porque sua mãe não poderia vir buscar a gente.

- Mas será possível que você nunca escuta o que eu digo? Eu já expliquei que ela foi visitar uma amiga que está doente e que só volta de noite.

Ploc. Uma gota caiu na testa do garoto.

- Ai meu Deus. É melhor andarmos mais rápido mesmo. – Sam falou assustada.

Ploc, ploc, ploc. As gotas começaram a cair mais frequência.

- CORRE! – Freddie gritou, mas já era tarde demais. Ao passo que os dois começaram a correr, a chuva já era grossa.

- POR QUE DIABOS VOCÊS TINHAM QUE MORAR TÃO LONGE DO COLÉGIO? –Sam gritava enquanto saia desembestada correndo pela rua.

- NÃO RECLAMA, SÓ CORRE!

E então a Lei de Murphy fez sua parte. Assim que os dois entraram completamente ofegantes no lobby do prédio, parou de chover.

- Eu... Não... Acredito... Nisso! – Sam dizia quase sem conseguir respirar, olhando incredulamente para fora.

- O QUE VOCÊS DOIS PENSAM QUE ESTÃO FAZENDO ENCHARCADOS ASSIM NO MEU LOBBY?! – Lewbert começou a correr em direção aos dois com um espanador na mão e eles gastaram seus últimos suspiros para entrar correndo no elevador. O caminho todo até o oitavo andar serviu para os dois recuperarem o fôlego. Ao chegarem à frente do apartamento da amiga, o encontraram trancado. Os dois se olharam com olhares de interrogação.

- Ué? Onde será que ela pode ter ido? – Freddie checava para ver se a chave estava no meio das plantas.

- Não sei... – Sam mexia em cima da porta, mas nada de chave por ali também. – Eu vou matar a Carly se ela tiver esquecido! – Agora ela remexia em baixo do tapete. Também não tinha nada lá. Sam estava decidida a arrombar a porta quando seu celular toca. Era uma mensagem da amiga.

- “Me desculpem, mas é que com essa chuva eu e o Spencer ficamos presos no tráfego. Daqui a meia hora eu chego, no mínimo. Carly” – Sam leu a mensagem em voz alta. Até Freddie ficou com medo da cara que ela fez. – EU VOU MATAR A CARLOTTA SHAY! – A loira começou a soquear a porta.

- Calma, Sam! – O garoto segurou os pulsos dela para ela parar de espernear.

- EU NÃO VOU ME ACALMAR! COMO ELA SE ATREVE A SE ATRASAR?!

- Não fui culpa dela, calma! – Após os dois ficarem uns 10 segundos em uma luta silenciosa, Sam finalmente parou de socar tudo o que via pela frente.

- E como é que eu vou tomar banho agora? Estou toda molhada e suada e nojenta.

- Bom... Você pode tomar banho na minha casa, se quiser.

- Claro nerd, porque eu tenho um monte de roupa minha na sua casa mesmo.

- Você pode usar uma da minha mãe. – Ele arriscou, mas mudou de ideia ao ver o olhar mortal que a loira lançou pra ele. – Ok então, sem roupas da minha mãe na história... Usa uma minha mesmo. – Ele arriscou de novo.

- Eu? Usando uma roupa sua?

- É, o que é que tem? Só até a Carly chegar. Ou prefere ficar toda molhada e suada e nojenta?

Sam pareceu relutante por um minuto. Cruzou os braços e ficou emburrada, pensando na ideia.

- Sabe, nós estamos formando um lago aqui no corredor, então é melhor você se decidir logo e...

- Ok, que seja, abre logo essa porta.

Freddie abriu um sorrisinho e abriu a porta para a imaculada residência dos Bensons. Tudo limpinho e com cheirinho de lavanda.

- Sua mãe não vai pirar quando chegar em casa e ver essas pegadas de barro em todo canto?

- Eu limpo antes que ela chegue. – A garota foi seguindo-o até seu quarto. – Você pode tomar banho aqui no meu banheiro, eu uso o da minha mãe. – Ele abriu seu guarda roupa, ofereceu uma toalha limpa para ela, entrou no banheiro e pegou sua própria toalha, todo esse tempo sendo observado por uma Sam atônita. – O que foi? – Ele pediu desconfiado ao dirigir-se novamente ao guarda roupa para pegar uma muda de roupa para a loira.

- Nada, nada... – Ela fingiu desinteresse e comodidade, mas a verdade é que ela não estava muito confortável com aquela situação.

- Uhm, ok então, aqui está uma roupa que você pode usar. – Ele entregou nas mãos dela as peças. – Tudo o que você precisa já tem no banheiro. To indo pro banheiro da minha mãe... – E assim ele deixou o quarto, batendo a porta atrás de si.

A verdade é que a Sam ainda não sabia ao certo o que fazer. Ela não tinha entrado muitas vezes no quarto do garoto, muito menos no banheiro dele. Esse era um daqueles raros momentos no qual ela ficou sem reação.

Por fim, ela foi se dirigindo lentamente para o banheiro. Ele tinha ladrilhos marrons, toda a mobília branca e era bem limpinho. Ela foi tirando a roupa e entrando no box, que era transparente, a cada minuto se sentindo mais desconfortável com a situação. Afinal, aquele era o banheiro do Freddie. Ali era onde ele tomava banho. Ela estava nua no mesmo lugar em que ele geralmente ficava nu. Argh. Era simplesmente muito estranho.

Ela pegou o xampu e derramou uma boa quantia na mão. O xampu do Freddie. Então ela sentiu o mesmo cheiro que ela sempre sentia quando dava um tapa na cabeça dele ou despenteava o seu cabelo. E a verdade era que... Ela adorava aquele cheiro. Pegou o sabonete, muito relutante, pois aquele era o sabonete que ele passava no corpo também. Aquilo era tortura.

Já debaixo do chuveiro da Srª Benson estava Freddie, ainda sem acreditar no que estava acontecendo. Sam estava tomando banho em seu banheiro. Quão estranho era isso? O mais estranho ainda era que ele sabia que não deveria estar se sentindo estranho. E talvez não estaria sentindo-se assim há um tempo, mas agora ele sabia que tinha algo diferente. Afinal, eles eram amigos de longa data, aquilo não deveria estar deixando ele com um frio na barriga. Mas o fato é que estava. Ao terminar o banho, ele notou que tinha esquecido de trazer uma roupa para ele. Merda!

No quarto do garoto, Sam já penteava os cabelos loiros sentada de borboletinha na cama. Freddie tinha emprestado a ela uma calça de moletom cinza e uma camiseta preta qualquer. Ela estava se sentindo estranhamente confortável naquela roupa. Ela então ouviu uma batida na porta.

- Sam? Posso entrar?

- Claro... – A garota respondeu, sentindo o ar fugindo dos pulmões por algum motivo que ela não conseguiu explicar. Quando o garoto abriu a porta... Bam. Lá estavam eles.

Aqueles seis gominhos de músculos no abdômen definido do garoto estavam encarando-a, com alguns pingos d’água ainda escorrendo indecentemente até a toalha que ele trazia amarrada à cintura. Bem que ele disse que estava fazendo academia há um bom tempo, mas Sam jamais imaginaria que ele já estaria nesse nível. Quer dizer, ela dançava com ele e tudo o mais, mas ela só pegava nos braços. Aquilo sim foi um choque.

- Eu esqueci de pegar uma roupa pra mim. – O garoto pareceu não notar o olhar que a loira lançava pra ele, muito menos imaginava o que tinha se passado na cabeça dela naquele intervalo de meio segundo em que a Sam teve todos aqueles pensamentos. – Pode colocar suas roupas molhadas lá na máquina, eu já coloco pra lavar. - E saiu do quarto tão rápido quanto entrou, deixando uma Sam ofegante para trás.

A verdade era que ele também teve seus pensamentos ao vê-la usando sua roupa. Aquilo tinha deixado-o feliz. Vê-la vestindo suas roupas tinha lhe proporcionado um prazer que ele também não sabia explicar. E todas aquelas coisas que ele não sabia explicar estavam começando a aborrecê-lo. Vestiu-se e foi direto para a lavanderia, constatando que as roupas da loira já estavam lá. Ele colocou as suas junto e pôs tudo para lavar, e pegou um pano para limpar os rastros de sujeira pela casa. Ao terminar, voltou para o quarto. Nem se deu o trabalho de bater na porta e já foi entrando. Estava ansioso para vê-la novamente. Sam estava mexendo em seu computador.

- Como é que você descobriu minha senha?!

- Fala sério nerd, colocar a senha como “galaxy wars” é pedir para que descubram.

Ele fez uma cara feia e deitou-se na sua cama.

- E agora, o que fazemos até a Carly voltar? – Ele pediu, encarando o teto.

- Eu to com fome.

- É, eu já deveria ter imaginado...

- Agora seja um bom anfitrião e traz algo pra gente comer.

Ele fez outra cara feia, mas levantou sem reclamar. Ele também estava com fome, afinal. Chegou na cozinha, não tinha muita coisa para comer na hora. Ele pegou dois pacotes de pipoca, colocou no microondas e enquanto ele esperava estourar, fez um chocolate quente. Pipocas prontas, marshmallows nas canecas de chocolate, ele voltou para o quarto. Sam estava empenhada em um jogo no computador.

- Aqui está... – Ele deixou uma caneca ali do lado dela, mas levou a pipoca consigo e sentou na cama.

- Espera... eu vou só... ganhar dele aqui... MORRE, DESGRAÇADO! – Sam estava encontrando dificuldade no jogo. Freddie riu.

- É só clicar naquele balão verde, depois atirar na testa dele então correr e entrar no carro.

Sam fez isso e conseguiu passar de fase. Então deu um pause e levantou-se.

- Eu poderia ter descoberto sozinha.

- Claro que poderia... – Freddie disse com um tom irônico.

- Poderia sim! – Ela reclamou enquanto sentava na cama e pegava um monte de pipoca. – Esqueceu que eu sou muito melhor em videogames do que você?

- Você é melhor no videogame, eu sou melhor no computador.

- Affew, que seja... – Pausa para os dois mastigarem.

- Será que a Carly vai demorar muito? – Freddie quebrou o silêncio.

- Não sei, espero que não. – Sam tomou um gole do chocolate e fez uma cara pensativa. – Sabe, acho que a gente deveria fazer alguma coisa com o seu problema com os nomes dos passos de dança.

Freddie revirou os olhos.

- Sério mesmo que você quer falar disso?

- Claro, oras, esqueceu que nós temos que ganhar esse concurso?

- E você esqueceu que eu não dou a mínina se a gente ganhar ou não?

- Ah, não dá a mínima? Sério mesmo?

- Sério.

- Então o que são todos aqueles sites de dança no seu histórico? – Sam pediu, como uma cobra que dá o bote. Freddie arregalou os olhos.

- Quem te deu o direito de fuçar no meu histórico? – ele parecia zangado.

- Sou bisbilhoteira ué, você já deveria ter esperado por isso no momento em que sentei na frente do seu computador. – Ela erguia uma sobrancelha, esperando uma resposta. – Então? Vai me explicar? – Freddie continuou emburrado, mas respondeu:

- Eu não gosto de não saber uma coisa. Qualquer coisa. Me deixou frustrado não saber dançar, então corri atrás de saber como era. Feliz agora?

- Você quer mesmo que eu acredite nisso?

- Essa é a verdade, se não quiser acreditar o problema é seu.

- Sei... – Sam não tinha acreditado naquilo.

Os dois continuaram a comer em silêncio. Freddie ainda estava emburrado e Sam continuava pensativa. Até que um barulho vindo de cima da mesa do computador chamou a atenção dos dois. Sam levantou-se e foi ver o que era. Mensagem da Carly.

- Carly já chegou em casa. Vamos para lá?

- Claro, claro...

Os dois se dirigiram para a casa da amiga. Nem se precisa comentar o escândalo que a morena fez ao ver Sam vestindo uma roupa do Freddie. “Mais uma coisa pra ela me encher o saco”, Sam pensou com amargura. Até ela entender o que realmente aconteceu...