O Estranho no Sótão escrita por Karina Ferreira


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

nos vemos lá em baixo ok



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Bella tomou coragem e finalmente entrou, do lado de dentro encontrou a mesma cena de dias atrás quando estivera ali, muita bagunça e poeira. Como seria possível alguém viver em um lugar assim?

Para sua surpresa o lugar estava vazio, ela entrou com a bandeja e a depositou sobre uma mesinha que havia ali. Notou que em cima da mesma havia alguns papeis amassados, livros, a tão conhecida poeira e um porta-retrato

Pegou-o limpando a poeira com a mão, na imagem estava Alice e Edward, ambos bem mais novos. Alice estava montada nas costas do irmão com os braços abertos, ambos sorriam

Bella demorou mais do que deveria olhando o rosto do garoto. Ele estava feliz, cm um enorme sorriso, coisa que ela nunca o vira fazer

Escutou um barulho vindo de trás dela, sentiu ate o cabelo da sua alma arrepiar-se, não precisava olhar para saber quem estava ali.

Calmamente colocou o porta-retrato no lugar e virou-se bem devagar para encará-lo

Quando o viu ele estava encostado em uma porta que ela julgou ser o banheiro, já e estava com o cabelo molhado, não sabia o que dizer, ele a olhava muito intensamente, a deixando desorientada

— É oi, eu vim trazer um lanche para você – disse meio constrangida com a forma que ele olhava para ela. Parecia estar com raiva

E estava. Pela segunda vez a surpreendera bisbilhotando suas coisas. E em ambas às vezes bisbilhotando seu passado

Olhou a bandeja com ar de pouco caso, depois novamente para Bella. Percebendo que o garoto não ia falar se sentiu mais constrangida ainda, e ao mesmo tempo frustrada, será que ela nunca ia saber se a voz dele era tão linda quanto ele?

— Me desculpe pelo outro dia, é que eu não sabia que o senhor Cullen tinha outro filho – Edward revirou o olho visualmente incomodado com a presença da garota

Deu três longos passos ate a porta e a abriu, depois a indicou para a garota com a cabeça. Ele não precisava falar para ela saber o que ele estava dizendo

Bella abriu a boca e fez um barulho de indignação com a garganta. Não acreditava no que estava vendo, ela se arriscara indo ate ali preocupada que ele estivesse com fome e era assim que ela era tratada?

Mais é muita falta de gratidão mesmo

— Você poderia dizer pelo menos um obrigada sabia? – disse enquanto ia ate a porta, quando a atravessou virou-se para ele, que apenas virou os olhos e bateu com a porta na cara dela

— Educação realmente é o seu ponto forte – falou em um tom que sabia que ele ia ouvir do outro lado. Quando escutou o cricrilar dos grilos como resposta se irritou – Grosso! – gritou em seguida saiu batendo os pés

Dentro do quarto se Edward risse, estaria em gargalhadas à garota realmente é doida. Aproximou-se da bandeja olhando o que ela havia trazido, normalmente quando a baixinha saia quem trazia comida para ele era Ângela

O que será que aconteceu que foi a pirralha quem veio dessa vez? Seria isso coisa de Alice? Só pode. Já achava ruim quando a outra entrava como se fosse dona do lugar e deixava a bandeja

Agora se parasse para analisar, preferia Ângela, ela ao menos entrava e saia sem falar ou mexer em nada

Pegou o mesmo porta-retrato que há minutos estava na mão da pentelha, sentia falta daquela época, quem batera a foto foi sua mãe. A tão conhecida dor no peito lhe veio novamente

Seus olhos se inundaram com lagrimas que jamais descansavam, queria gritar, queria implorar para quem quer que seja lhe trouxesse sua mãe de volta, implorar para que tirassem aquela dor de dentro dele

Em um impulso jogou o porta retrato na parede, passou as mãos no rosto com força, arranhando a pele com as unhas crescidas, queria se mutilar, tentar encontrar uma dor que o distraísse da que estava no seu peito

Sem conseguir conter o choro, seu soluço era audível, não importava o que ele fizesse, poderia se arranhar, socar a parede ate que seu pulso rachasse se cortar com uma faca, nada, nenhuma dor era maior do que aquela que habitava dentro dele

Nada poderia superar a agonia de uma dor que não passava o desespero da busca por um alivio que não lhe vinha à vontade de se ver livre de uma dor que insistia em ficar ali, grudada a ele, sempre o lembrando de sua vida miserável, sempre o lembrando que deixara a mãe morrer, que não fez nada para impedir sua partida

Encostou-se à parede, batendo com a cabeça nela, tentando alcançar a inconsciência, sabia que quando essas crises de choro lhe vinham eram longas e ele não dormiria tão cedo, dormir era a única forma de esquecer --mesmo que momentaneamente- a dor

Mas nada, sua punição era ficar acordado, sentindo a dor rasgar-lhe o peito, dando-se por vencido deixou-se escorregar ate o chão, abraçou-se em posição fetal e desfrutou da companhia da dor, sua única amiga já há quase seis anos

— Você mora com os Cullen? – Rosalie quase caiu da cadeira com o grito do irmão. Estavam no refeitório da escola, olhou em volta para certificar-se de que ninguém estava olhando o escândalo do irmão

— Jasper pelo amor de Deus fala baixo. Agora desembucha Bella, você mora ou não mora com os Cullen?

Bella ainda estava estática com a surpresa que o casal de amigos demonstrara com o que acabara de contar

— Bom, sim e não. Minha mãe é funcionaria na casa deles, e por isso, e só por isso, eu moro lá. Mas não é como se eu fosse parte da família, e muito menos posso agir como se a casa fosse minha

— Mas mesmo assim, nossa você tem o Emmett andando o dia todo na sua frente, e fala sério aquele homem é tipo, nossa – se abanou com a mão rindo abobada

Bella riu de leve para a amiga e levou uma barrinha de cereal a boca, em seguida varreu o lugar com os olhos, rapidamente encontrou os irmão Cullen. Não era difícil de achá-los. Alice e Emmett eram só olhar nas duas mesas mais cheias daquele lugar, e Edward, bom, Edward era só olhar na única mesa que tinha apenas uma pessoa, no caso ele, sempre de cabeça baixa e alheio a tudo o que estava acontecendo a sua volta

Bella se perguntou como uma pessoa consegue viver dessa forma

— É verdade que ele vive no sótão? – Rosalie acompanhou o olhar da amiga, e vendo para onde ela olhava aproveitou para tirar a duvida que não era só sua, mais de toda a escola

— Quem foi que te disse isso? – Bella questionou casualmente, mordendo mais um pedaço de sua barrinha

— Bom Lauren. Ela disse pra todo mundo, uma vez, após a família dela ter sido convidada para um jantar na casa da família Cullen, no outro dia chegou aqui e espalhou por toda a escola que Edward vivia trancafiado no sótão

— Você tinha que ter visto a escola toda comentou, muitos ate falaram que ele ficava lá com o fantasma da mãe. No fim da aula Alice deu uma surra nela e disse que qualquer um que falasse mais uma palavra sobre isso teria o mesmo destino

Bella ficou analisando o que a amiga disse e parando para pensar, fazia sentido, Edward vivia naquele sótão com o fantasma da mãe, só que este fantasma vivia unicamente dentro dele

— Ei Bella

— Oi – estava tão perdida em pensamentos que nem escutou Jasper falando

— E então? É verdade ou não?

— Bom, mais ou menos, sim o quarto dele é no sótão, mais porque dá uma boa vista para as estrelas, e ele gosta de admirá-las. Sei lá ele é meio estranho. Quis converter o sótão em quarto, e tenho que admitir que ate que ficou legal, tem ate um piano de cauda lindo lá dentro

Bella tinha que enfeitar um pouco a verdade, o que ia dizer? Que ele vivia em um sótão sujo e mal iluminado com um quadro gigante da mãe morta? Não sabia o porquê, mais queria proteger Edward

Mais semanas se passaram, Bella só vira Edward na escola, ou em poucas ocasiões em que ia levar algo para ele comer, sempre tentava puxar assunto mais nunca obtinha êxito. Agora ela pegava carona todos os dias com os gêmeos, que sentiam muito prazer em ir buscar e levar a amiga em casa, já que sempre encontravam com os irmãos Cullen no percurso

Naquele sábado Bella foi ate a casa dos Halle, fazer, segundo Rosalie, um programa de pessoas sem vida social. Já segundo Jasper, uma sessão pipoca

Entrou em seu quarto bem de vagar, não queria acordar a mãe, já passara das 03h00min e dona Esme com toda a certeza do mundo teria um sermão reservado para ela

Colocou uma camisola bem leve, levando em consideração o calor que estava fazendo. Sentiu seu estomago reclamar pelo jantar pulado e resolveu assaltar a geladeira

Quando chegou a porta do quarto se perguntou se Edward teria comido, era sábado, e com toda a certeza os irmãos Cullen saíram

Resolveu por fim que não era problema dela, chegando ao corredor percebeu que a luz da cozinha estava acesa, ou alguém se esqueceu de apagar – o que era improvável – ou alguém estava lá

Quando terminou o percurso do corredor parou na porta decidindo se entrava ou se voltava para trás. Edward estava lá, de costas para ela procurando alguma coisa dentro da geladeira

Bom, ela já havia chegado até ali, e a cozinha não era proibida a ela, resolveu que não devia nada a ninguém e iria entrar

— Boa noite, esta procurando alguma coisa em especifico? Talvez eu possa te ajudar – Edward parou sua busca por cinco segundos, em seguida recomeçou como se ninguém estivesse ali

Bella se irritou por ser ignorada, mais depois deixou quieto, já estava na hora dela se acostumar com isso. Caminhou ate a geladeira e esperou que o garoto saísse de lá, o que não aconteceu. Começou a bater o pé impaciente

Edward riu por dentro, por algum motivo gostava de ver como ela torcia a boca e apertava os olhos quando estava irritada

Todas as vezes que Alice saia, a garota abria a porta do sótão e entrava com um lanche, sempre falava alguma coisa e quando ele nada a respondia ficava com raiva e saia batendo o pé, sempre murmurando coisas como: grosso, mal educado, estúpido. Por algum motivo Edward via grassa nisso

Todos os fins de tarde também, Edward da janela de seu quarto a observava ir ate o jardim de sua mãe sentar-se no banco e ficar observando o sol se por

Na escola também, sempre a observava com os amigos sempre rindo e brincando, mas Edward por algum motivo via uma tristeza escondida atrás do sorriso e isso é o que intrigava nela. Queria saber o porquê disso

Naquele dia, por ser sábado não iria à escola, já estava acostumado às rotinas de olhares, sempre tentando desvendar a tristeza por trás do sorriso, e sentiu falta disso.

Quando Alice avisou-lhe que iria a uma festa sentiu-se ansioso para que a noite chegasse. Tinha certeza de que ela viria lhe trazer o lanche, ai ele poderia a ver corando quando a pegasse mexendo em alguma coisa e depois se irritar por ele a ignorar

Mas antes disso ainda tinha o pôr-do-sol, sentou na janela e esperou, mais nada, ela não apareceu. E durante a noite, também nada, a princípio imaginou que Victoria estivesse acordada, mas já eram 03h00min e nada. Qual é? Será que ela cansou de ser ignorada por ele ai resolveu deixá-lo morrer de fome?

Será que aconteceu alguma coisa? Será que ela estava doente? Pegou-se fazendo essas perguntas enquanto descia as escadas. Quando viu já estava no corredor que dava acesso ao quarto dos funcionários, haviam duas portas pelo que se lembrava, sendo uma para o quarto dos homens e outra para o das mulheres

Abriu a porta que costumava ser o das mulheres vagarosamente, colocou a cabeça lá dentro e acertara, a primeira que viu foi Ângela dormindo, olhou para outra cama e tinha uma mulher que ele nunca nem se quer viu, provavelmente a mãe da pentelha, finalmente olhou a terceira cama, e vazia, perfeitamente arrumada

Fechou a porta e marchou para a cozinha. Enquanto ele morria de fome no sótão ela estava por ai na gandaia, provavelmente chamando outro de grosso mal-educado

Irritou-se com os próprios pensamentos, o que ele tinha haver se ela estava por ai?

— Você esta monopolizando a geladeira – Ficou tão absorto em pensamentos que se esqueceu da pentelha parada a seu lado

Pegou uma maçã e deu espaço para ela pegar o que quisesse, quando se afastou olhou para ela e se arrependeu em seguida

Ela estava usando uma camisola cor de rosa bem simples ao mesmo tempo em que sexy, desceu seu olhar pelos longos cabelos mogno que se espalhavam pelas costas da garota, a bunda redonda, onde demorou mais o seu olhar, e por fim as pernas bem torneadas, coxas grossas e panturrilhas definidas. A muito não via pernas assim

Eram pernas de bailarina, podia jurar. Mas não tinha certeza. Havia pelo menos seis anos que ele não via uma bailarina. Foi tirado de sua questão particular quando a garota curvou-se para pegar algo na prateleira de baixo

O pedaço de maçã que acabara de morder fugiu de dentro de sua boca, arregalou os olhos levando a mão ate sua genitália, apertando incrédulo

“Esta vivo?” apertou mais uma vez “Esta vivo!” gritou internamente não acreditando na veracidade dos próprios pensamentos. Há muito tempo Junior não dava sinal de vida, provavelmente cansado de erguer-se em vão, primeiro porque nenhuma garota tinha coragem de se aproximar dele, aliás, ninguém tinha. Segundo porque nas raras ocasiões que isso ocorrera, ele não tinha a menor vontade de se aliviar

Edward estava tão perdido na surpresa que seu corpo lhe deu, que nem percebera que aquela foi a primeira vez que reparar em algo que faz associação direta com a mãe e a dor não lhe esmagara o peito

— Vou fazer um sanduíche. Quer um também? – virou as costas e saiu praticamente correndo da cozinha, antes que mais alguém tomasse nota de que acontecera uma ressurreição naquela noite

— Idiota – resmungou Bella sem interromper o processo de feitura de seu lanche

— Muito bem classe, eu quero que vocês dividam-se me grupos de quatro para um trabalho que vamos realizar em sala de aula mesmo, com o tema reprodução humana

O professor mal fechou a boca e a sala virou um barulho infernal de cadeiras sendo arrastadas. Jasper e Rosalie grudaram suas cadeiras a de Bella, mais isso já era de se imaginar. Bella olhou para o fundo da sala onde Edward continuava sozinho sem ao menos se mexer

— Gente, o professor disse quatro e não três

— Mais nós somos o tril parada dura, somos imbatíveis, inseparáveis, não se preocupe Bellinha, vamos ser um tril, e fazer o trabalho de quatro, a Rosalie pode trabalhar dobrado – a loira parou de lixar a unha e olhou feio para o irmão – e outra, a sala toda já esta em um grupo, só sobrou agente mesmo

— Nem todo mundo – disse Bella olhando para o fundo da sala – os irmãos olharam espantados para ela entendendo onde ela queria chegar

— Não!

— Você pirou? Esta com febre? Quantos dedos tem aqui? – Jasper falava colocando três dedos na frente dos olhos da amiga

— Ele não morde não gente

— Isso é o que você diz, eu não estou certo disso

— Sem contar que ele não vai vir pra cá nem que agente implore – completou Rosalie

— Bom isso se resolve muito fácil, nós vamos ate ele

— Você enlouqueceu – Rosalie disse cruzando os braços diante do peito

— A gente qual é? O garoto é um excluído, ninguém se aproxima dele custa fazer isso?

— Aloôu terra chamando Bella, terra chamando Bella. Ele não é um excluído, ele se exclui. É ele que não deixa ninguém se aproximar

— Como vai a senhora Halle Rose?

— Bem obrigada – respondeu com um enorme sorriso

— Que ótimo. Agora se imagine enterrando ela, você sairia distribuindo sorrisos a torto e a direita? Tentem entender o lado dele também poxa, ele só esta passando por um momento difícil

— Bem, se o excluído não vem a nós, vamos ate ele. Afinal somos todos excluídos mesmo – disse Jasper se levantando e já pegando sua mesa

— Eu não sou excluída porcaria nenhuma seu anormal, eu apenas sou boa de mais para o resto do mundo – Rosalie seguiu o irmão e Bella riu vitoriosa

No momento que os outros alunos notaram o que o tril fazia um silencio absurdo tomou conta do lugar e todos pararam para observá-los

— Que mico agora sim é que eu estou com um letreiro dizendo olhem para mim – se encolheu Rosalie

CONTINUA...


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Notas finais do capítulo

oi meus amores, e ai como foram de carnaval? sambaram muito? beijaram muito na boca? rsrs
espero que tenham gostado do cap
bjus