Desejos Inconsequentes escrita por Bruno Silfer
O estranho homem continuava a aproximar-se e Ino, a cada passo que ele dava, recuava um passo até encostar-se na parede onde não poderia mais fugir. Nisso ele chegou onde ela estava e disse em seu ouvido:
- Eu vou deixar você falar, mas você não vai gritar. Não vou te fazer mal nenhum e nem te tocar, só quero conversar. Tudo bem?
Ela assentiu com a cabeça e ele voltou a sentar-se na poltrona. Então ele abaixou o dedo e os lábios da garota voltaram a se mover. Ele continuava tranquilo. Ela continuava com medo, mas também estava curiosa e tinha muito o que perguntar.
- Quem é você?
- Para esclarecer logo. Não sou um fora da lei.
- Ah não? Então por que invadiu o meu quarto?
- Eu não invadi. Só entrei. E pela porta da frente.
Será que ele era algum funcionário novo ou conhecido da família? Passar pelos seguranças e por dentro da casa seria impossível para um desconhecido. Ino ficou mais calma e sentou-se na cama.
- O que você quer? Me sequestrar?
- Já disse que não sou bandido.
- Então?
- Vim lhe fazer uma proposta.
O clima de dúvida instalou-se. Se ele teve o trabalho de “invadir” a sua casa para falar com ela, pelo menos, pensou ela, ouviria o que ele tinha a dizer.
- Que tipo de proposta?
- Primeiramente: não estranhou o fato de que eu tenha entrado aqui sem ninguém ter me visto?
- Você deve ter sido contratado enquanto eu estive fora.
- Contratado? Você acha que sou um empregado novo? – ironizou.
- E não é?
- Olha... Eu consegui entrar sem ser visto porque eu não posso ser visto.
- Não pode ser visto... – repetiu a loira com desconfiança – Então você é invisível.
- É isso aí.
- Então como eu estou te vendo?
- Aí é que entra a parte legal.
- Quer saber? – levantou-se Ino já nervosa – Vou chamar os seguranças.
Enquanto ela os chamava ele permaneceu parado onde estava. Seria uma ótima demonstração da veracidade das suas palavras. Dois homens de terno preto chegaram ao quarto e ela disse:
- Ponham aquele ali para fora.
Diferente do que ela esperava os dois homens continuavam parados e olhando para o quarto. Ela disparou:
- O que estão esperando?
- Colocar quem para fora?
- Aquele ali ora! – apontou para a poltrona.
- Mas não tem ninguém ali.
- Como não tem ninguém?
Ela olhou para a poltrona e viu que o “desconhecido” estava na mesma posição de antes e tinha um semblante de quem estava se divertindo. Desconfortável, ela dispensou os seguranças, que foram embora sem nada entender, se aproximou dele e disse:
- Só pode ser truque. Você é mágico, é isso.
- Não sou mágico nenhum. Se quiser posso dar mais uma demonstração.
- Como assim?
- Você adora esse seu cabelo assim loirinho não é?
- Muito. É minha marca registrada.
- O que faria se ele ficasse preto de repente?
- O que eu faria era... Ei! Não me diga que...
- Melhor dar uma olhada.
Ela correu para o espelho e ficou abismada com o que viu. Seu cabelo estava totalmente preto sem um único fio que sequer lembrasse que ele já foi loiro um dia. Se sentindo vencida ela voltou a sentar na cama e disse chorosa:
- Tudo bem, tudo bem eu acredito em você. Devolve meu cabelo...
- Você manda.
Ele estalou os dedos e os cabelos da garota voltaram ao normal com um brilho dourado ainda maior. Depois de verificar se seu cabelo voltara mesmo ao normal, ainda sentada na cama, ela disse:
- Você disse que tinha uma proposta para mim.
- Exatamente.
- Que tipo de proposta?
Ele respirou fundo e começou:
- Eu estou disposto a te realizar três desejos.
Ino não esperava aquele tipo de proposta, tanto que perdeu a voz por alguns segundos.
- Como assim?
- Três desejos. Você pede e eu realizo.
- Então você é um tipo de gênio?
- Errado. O termo mais adequado seria semideus.
- Semideus... Três desejos... Uma proposta dessas assim de repente...
- Acho melhor explicar direitinho as regras.
- Regras?
- É. Regras. Eu explico e quando terminar você diz se aceita ou não.
Ela acenou que sim com a cabeça e ele começou:
- Em princípio esqueça aquelas historinhas de gênio da lâmpada que realiza três desejos e tal. Comigo as coisas são diferentes. Por exemplo: você não precisa fazer os três pedidos imediatamente.
- Então eu posso pedir quando eu quiser?
- Correto. Só que tem uma coisa: enquanto você não fizer todos os pedidos eu terei que acompanha-la onde quer que você vá.
- Em todos os lugares?
- Fora o banheiro e os lugares em que você esteja trocando de roupa. Mas não se preocupe, afinal só você pode me ver.
De fato não seria nada agradável ter alguém na sua cola vinte e quatro horas por dia, mas como ninguém mais iria vê-lo pensou que poderia suportar ter uma “sombra” a mais por algum tempo.
- Acho que dá para aguentar. Por mim tudo bem.
- Outra coisa: os pedidos não são de graça.
- Então você quer dinheiro não é?
- Errado de novo. Dinheiro não tem valor nenhum para mim.
- Então?
- Ninguém consegue nada de graça na vida. Sendo assim cada pedido terá um preço, que não é em dinheiro, que eu costumo chamar de “consequência”.
- Qual o preço de cada pedido?
- Depende de você. Eu posso realizar qualquer pedido que você fizer, mas quanto mais difícil for realiza-lo mais pesada será a consequência para você.
Ino teria de pensar sobre essa regra. Para isso tinha que sanar algumas dúvidas.
- Mas como vou saber se eu aguento pagar o custo?
- Muito simples. Quando você fizer um pedido eu lhe contarei a consequência logo em seguida. Caso você aceite, eu o realizarei.
A loira ficou mais aliviada com essa explicação. Ficou mais segura e também concordou com essa regra.
- Mais uma coisa. Uma vez que você aceite você terá que fazer os três pedidos sem exceção.
- Pode ter certeza que eu farei. – disse Ino e sorriu pela primeira vez naquela conversa.
- Por fim existe uma coisa que eu só posso falar quando você fizer o primeiro pedido e outra quando você fizer o segundo pedido.
Ele terminou de ditar as regras e esperou uma resposta. Ino levantou e ficou a andar pelo quarto enquanto pensava. Ela ainda queria saber duas coisas antes de responder.
- Então. – disse a garota parando em frente ao “gênio” postando as mãos na cintura – Antes de dar a minha resposta eu quero perguntar mais duas coisas.
- Pode perguntar.
- Qual o seu nome?
- Bom... Pode me chamar de Gaara.
- Pois bem Gaara. O que acontece se eu recusar a sua oferta?
- Eu desapareço da sua frente, apago a nossa conversa da sua memória e nunca mais você terá outra experiência com um de nós.
Ela pensou muito ao ouvir essa última frase. Como dinheiro não era problema para sua família, não sabia o que poderia pedir de diferente, mas pela chance única que tinha e pela aventura que aquele semideus poderia lhe proporcionar, soltou:
- Muito bem semideus Gaara. Eu aceito a sua proposta.
- Excelente. – disse Gaara levantando da poltrona e ficando de frente para Ino – Agora se iniciará uma nova fase da nossa vida.
- Isso parece frase de filme.
- Verdade. Mas caiu muito bem nesse momento.
Ela riu da frase, mas ele continuou com a mesma cara séria. A partir daquele dia Ino seria literalmente vigiada a todo momento não importando aonde fosse ou o que dissesse. Ela queria alguma coisa nova na vida há muito tempo, mas nunca imaginaria que a utopia de ter alguém a lhe realizar três desejos poderia se tornar realidade. Deixaria tudo rolar naturalmente, não importando o que iria acontecer a partir daquele dia.
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