Snowflake escrita por PSaiko


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Mais uma fanfic pra vocês!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/194727/chapter/1

Snowflake

Kaline Bogard

Capítulo 01


O calor era escaldante.  Durante o dia alcançava, facilmente, perto dos trinta e cinco graus.  Nada que atrapalhasse a colheita do milho geneticamente modificado.  Porém incomodava um bocado os dois moradores daquela fazenda afastada da civilização.

– Precisamos juntar as folhas secas – Izumi Hayato, um rapaz de estatura mediana, cabelos negros com uma mecha vermelha e olhos incrivelmente gentis, suspirou ao observar a área a frente da casa.  O chão de terra batida estava coberto pelas folhas que secavam anunciando a chegada do outono e conseqüentemente do inverno.

Clima frio nunca era bem vindo.  Aquelas criaturas eram adaptadas para sobreviver a temperaturas incrivelmente baixas.  Por isso Hayato e seu namorado buscaram refúgio em um lugar tão quente.  Parecia a única forma de alcançar a almejada paz.

– Hn.  Podemos começar depois do almoço – Shiroyama Takeo concordou.  O rapaz era mais alto, tingira os fios de um tom de ruivo incomum que lhe davam certo charme.  Trazia várias sacolas na mão, assim como o moreninho.  Ambos chegavam das compras.

– Acho que semana que vem poderemos começar a colheita do milho.  Não é bom que fique frio demais.

Takeo sorriu.  Nunca se imaginara levando tal vida: um fazendeiro que comprara um pedaço do paraíso isolado do mundo.  Um local onde podia plantar e arrancar o sustento da terra, e ainda tinha tempo de continuar compondo.  Não abandonara seus contatos da capital, por isso sempre conseguia vender as músicas que criava.

A situação de Hayato era similar.  O rapaz era um escritor.  Tinha dois romances de sucesso no topo dos mais vendidos e já trabalhava em mais um.  Não necessitavam da renda alternativa, só faziam aquilo para matar o tempo.

Diferente da vida na capital ali não havia muitas opções de diversão.  O vilarejo mais próximo ficava a quase oito quilômetros e precisavam fazer o percurso com a caminhonete que ficava estacionada na frente da fazenda, ao lado do canil desativado.  O antigo dono da construção fizera um canil resistente e de bom tamanho para acomodar seus mastins, cães de pedigree que comercializava.  Como Takeo não gostava de cães acabaram se desfazendo dos animais e abandonando o canil.

Não tinham vizinhos num raio de pelo menos seis quilômetros.  Era um isolamento que poderia ser assustador a outros.  Pra ambos era mais que bem vindo.

– Amanhã é um bom dia pra colhermos.

– Como sabe?! – Hayato riu.

– Ah, já estou no clima de fazendeiro.  Só quero comprar um macacão pra ficar bem a caráter.

– Bobo!  Acho que vou tomar um banho.  Estou grudando de suor.

– Ótima idéia – a voz de Takeo soou maliciosa.

Terminavam de transpor o terreno antes de alcançar os três degraus que davam acesso à casa.  Ali o vento não cobrira com folhas secas e o chão de terra clara era bem visível.  Foi apenas por isso que os olhos de Shiroyama captaram algo que não deveria estar ali.

– Hayato.  Olhe... – enquanto dizia isso se abaixou colocando as sacolas no chão.

– O que...? – o moreninho mirou com mais atenção.  Seus olhos se arregalaram de espanto – Sangue?!

Takeo ergueu-se e olhou ao redor.  Não tinham animais em casa.  Poderia ser um bicho de além da cerca.  Ou podia ser algo pior...

– Você acha que eles chegaram aqui? – Izumi engoliu em seco – Mas aqui é quente, Takeo!  Eles não viriam pra cá...

– Calma... não vamos nos precipitar – os olhos já buscavam mais respingos de sangue.  Foi impossível conter o arrepio gelado que percorreu suas costas quando percebeu mais algumas gotas pingando do ar.

Entre todas as coisas incríveis que os temidos inimigos podiam fazer, ficar invisível era sem dúvida uma das mais impressionantes.

Takeo ouvira histórias.  Muitas delas.  Sabia que estava frente a frente com uma criatura terrível e que, apesar de ferida, poderia destroçar facilmente a si e ao seu namorado.  Além disso  existia um fator que intensificava o medo contra os inimigos.  Aquelas feras eram carnívoras.

Por puro instinto o ruivo usou uma das pesadas sacolas como arma, arremessando-a contra o ar na direção de onde pingaram as últimas gotas que vira.  Os rapazes arregalaram os olhos ao ver as compras chorarem-se contra algo invisível antes de caírem no chão.  Takeo acertara em cheio!

Sem perder mais tempo e sem pensar na temeridade do que fazia, Shiroyama investiu contra o inimigo antes que a criatura invisível escapasse daquele lugar e os atacasse.  Engalfinhou-se numa luta de vida ou morte contra algo que seus olhos não podiam ver.  Por isso atacava a esmo, desferindo golpes e agradecendo internamente quando sentia que os acertava.

Hayato engoliu em seco.  Não podia acreditar!  Aqueles seres eram sabidamente criaturas de climas frios, por isso as Terras Ermas eram seu lar, com aqueles desertos de gelo a se perder por quilômetros.

Brigavam com os humanos pelo controle de cidades mais frias, certamente.  Uma guerra que fizera muitas perdas no lado dos homens e perdas quase inexistentes no lado deles.  Por que eram cruéis e impiedosos.

Hayato e Takeo desejavam fugir de tantas mortes e tantas lutas, partiram da cidade onde moravam e que não era segura.  Pensavam encontrar a paz indo morar em uma localidade quente, abafada.  A desejada proteção para que criassem um pequeno paraíso particular.

Mas um dos inimigos, de alguma forma, chegara até ali.  Estava atacando o homem que amava.

Nada podia medir a sensação de ver seu namorado lutando contra o “nada”, contra algo invisível, porém mortal.  Algo poderoso e quase invencível.

– Takeo... – Hayato sussurrou largando as bolsas no chão.  Seus olhos percorreram o terreno da fazenda em busca de algo que pudesse usar como arma.  Exclamou feliz ao encontrar uma pedra de bom tamanho quase escondida pelas folhas secas, próxima às raízes de uma macieira.

Com urgência a pegou.  Era pesada, aquilo faria um bom estrago na criatura.  Rapidamente voltou para perto da luta.  Takeo ainda rolava, parecendo agora estar por baixo e esforçando-se para reverter a situação.  Suas roupas estavam manchadas de sangue, porém Hayato não soube dizer se era do namorado ou do inimigo invisível.

O moreninho ofegou ao ver os braços de Takeo caírem por terra.  Provavelmente o ser contra o qual se defendia o forçava contra o solo!  Quando o ruivo respirou ar com um chiado Hayato venceu o choque e, reunindo forças que nem sabia ter, levantou a pedra acima da cabeça, pronto para acertar a temida criatura.

oOo

A noite estava mais fria do que esperava.  Elevou as mãos pequenas e observou as luvas pretas que seguravam um ticket de passagem marítima.

O navio partiria em pouco mais de meia hora.   As pessoas espalhadas pelo porto se movimentavam apressadamente procurando a embarcação que as levaria para longe daquela cidade, para longe dos problemas.

E assim seria para ele também.  Só precisava embarcar e partir.

Sozinho.

Um vento frio agitou os longos cabelos negros.

E levou o ticket embora da mão entreaberta.

Ele estava chorando em silêncio.  Sofria em silêncio.

Pessoas passavam para lá e para cá, algumas esbarravam nele e lançavam olhares hostis.  Por que aquele moreno baixinho não saia do caminho?

Estava tão perto de conseguir.  Mas dar aquele passo já era impossível.  Tinha sido impossível desde o começo.  Apenas fingira não ver.

Não podia ir embora.

Pelo menos não sozinho...

oOo

– Mas que... merda!

Depois de praguejar o rapaz acertou um tapa no aparelho GPS.  Isso pareceu resolver a situação, pois a tela brilhou e um pontinho minúsculo foi exibido no canto “norte”.  Uma luz tão fraquinha e minúscula.  Pelos dados exibidos ainda era impossível deduzir a localização exata.

– Hum _ o cigarro dançou no canto dos lábios fartos.

Aparentemente era apenas um, se dirigindo para a parte mais quente do país.  Que diferença fazia ir atrás dele?

Nenhuma.

Provavelmente não chegaria a tempo.

– Porcaria.

Yuura Terushido arrumou os fios de cabelo muito negro.  Respirou fundo, ligou o carro e deu meia volta seguindo as orientações do GPS.

Ele não era homem de se basear em “provavelmente”.  Se a tela captara um deles, tinha que ir verificar.

Continua


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

História nova no pedaço!!
.
A Jokerangel esteve em casa esse final de semana e a gente debateu bastante sobre um plot que ela desenvolveu e é universo alternativo. Acabou que me encheu de idéias e resolvi escrever essa daqui! Enjoy!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Snowflake" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.