“Ali diante de meus olhos, pálido e tremendo,
meio desmaiado e tateando diante de si como um homem resgatado da morte, pôs-se
de pé...”

O Médico e o Monstro -
Pág. 86

Kaoru POV

Fiquei o resto da
semana enfurnado no laboratório fazendo os preparos, cada um com uma dose a
mais de um elemento nela utilizado. Cada uma com cores diferentes, verde água e
amarelo.

E se isso matasse Kyo? Mas eu precisava testar... Eu
precisava ver o que ocorreria.

– Kaoru-san, o que está fazendo? – perguntou Shinya, meu
colega de trabalho, ele percebeu que eu não sai do laboratório um minuto sequer
nessa semana.

– Estou fazendo uns testes, Shinya-san – respondi, vendo ele
erguer uma sobrancelha, em duvida.

– Ah, sim... Eu já estou indo, vai querer carona? –
perguntou mostrando as chaves do carro.

– Não. Eu ainda não terminei aqui . – disse mostrando para
ele o caderno que eu anotava sobre a experiência.

– Espero que não esteja fazendo nada ilegal, Kaoru-san. –
disse ele sorrindo e saindo do laboratório.

Depois de terminar as misturas, fui até a janela e vi Kyo
sentado no mesmo lugar. Sai do prédio e fui chamá-lo.

– Kyo-san... – disse sem atravessar a rua. Ele se levantou e
veio ao meu encontro.

– Já? – perguntou ele

–Sim... Agora são mais alguns frascos... – disse esperando
que ele reagisse.

Mas ele apenas me encarou, acho que ele não é tão ruim como
pensei...

– Então me dará mais dinheiro, suponho.... – disse parando
de andar

– Claro... – disse.

Ainda não acredito que ele entrou nessa só pelo dinheiro...

Subimos ao laboratório. Novamente ele sentou em minha
cadeira

Eu fui até o armário e peguei as duas novas formulas.

– Você não me falou o porquê de querer mudar a personalidade
das pessoas... – questionou.

Eu já esperava que ele me perguntasse pelo menos isso.

– Há pessoas que se acham boas demais e outras que se acham
ruins demais, eu só daria a chance para essas pessoas conhecerem o bem e o mal,
e escolherem um deles...

– Você acha que vai conseguir mudar a personalidade das
pessoas? – riu

– Verei se será possível... – disse entregando um dos
frascos

– Vai falir desse jeito... – disse bebendo o liquido
rapidamente. Ele fez uma careta. – Isso é muito horrível... – ele colocou o
frasco na mesa, e voltou a me encarar

– Sente algo? – perguntei pegando o frasco.

– Não... Dessa vez nada. – disse

Eu anotei o que ele disse...

– Vamos esperar mais alguns minutos. – disse

Ficamos uns minutos em silencio, mas Kyo-san não apresentou
nenhuma mudança.

– Já estou cansado de esperar... – disse ele colocando os
pés sobre minha mesa.

– Tudo bem... – disse entregando o segundo frasco.

Ele bebeu novamente bem rápido.

Dessa vez os olhos mudaram de cor e o cabelo rente á cabeça
clareou um pouco mais. Um resultado um tanto curioso.

– Meu rosto está formigando... – disse

– Sim, logo passa... Tenho certeza que esse frasco é o
começo do que quero fazer... – disse anotando no meu caderno um pouco afobado.

– Como sabe que isso despertará um lado bom em mim... – riu

Ele era esperto, muito esperto.

– Isso é uma mistura que tem alguns elementos contidos no corpo
humano e mais alguns considerados alucinógenos. – respondi terminando de anotar
o ocorrido

– Mas, poderei voltar a ser eu mesmo, certo? – ele perguntou
se levantando, já voltando ao normal.

– Sim, é só beber o liquido novamente.

Pelo menos é isso que presumo, já que cada vez que ele
beber, despertará uma das ‘almas’.

– Devia por um nome nesse treco... – disse

– Estou pensando em um, e Kyo-san... Tenho uma curiosidade...

– Fale logo... – disse da maneira seca que sempre me tratava

– Se conseguir despertar sua outra personalidade, que nome
terá?

– Tooru... Meu antigo eu... – riu

– Certo... – eu peguei o dinheiro do meu bolso e entreguei a
ele, na certeza de que ele gastaria com drogas.

Ele saiu da sala bem rápido. Eu ainda fiquei lá, por que
agora já sabia que elemento despertava aquelas reações.

Virei a madrugada no laboratório fazendo mais do preparo que
ainda não tinha o nome definido.

Acabei fazendo mais três preparos, cada um com o dobro do
elemento que fez as reações do Kyo-san.

Já havia amanhecido e eu ainda estava lá anotando tudo e
etiquetando os frascos.

– Kaoru-san, você ficou aqui a noite inteira? – perguntou
Shinya ao entrar no laboratório e me vendo lá.

– Sim, Shinya-san, eu fiquei tão entretido aqui, que nem vi
as horas passando – ri

– Você não vai trabalhar ainda, certo? – disse ele colocando
a bolsa na mesa.

– Consigo ainda, Shinya, não estou cansado... – disse indo
guardar os frascos no armário e os trancando lá.

– Kaoru... Você nem dormiu como pode trabalhar? – disse ele
– Pode ir embora, não há muito que fazer aqui...

– Tudo bem, mas tarde eu volto... – disse me dando por
vencido

Saí pelas ruas observando todos os cantos quando fui
surpreendido por Kyo que saia correndo de um beco. Ele sorria como um
psicopata, isso realmente me assustou.

– Kyo-san... – disse vendo ele se aproximando

– Não enche... – gritou passando por mim.

Bom, não devia ter o chamado, continuei andando e parei em
frente ao beco, ao ver um garoto jogado lá no chão.

Fui até ele e percebi que ele tinha levado um soco certeiro
no rosto.

– Você está bem? – perguntei

– Sim... Eu só perdi o equilíbrio com o soco.

– O que aconteceu aqui? – perguntei.

– Estava devendo para o Kyo... E ele me bateu por ter pago
só agora... – disse se levantando.

– Tome mais cuidado da próxima vez...- disse o soltando.

– tá...

O garoto saiu correndo, e eu fiquei imaginando o porquê ele
devia para Kyo, continuei meu caminho até minha casa.

Realmente Kyo era uma pessoa ruim, mas se limitava apenas em
ser mal educado comigo.

Cheguei em casa e fiquei pensando em que nome daria para meu
preparo...

Seria um divisor de almas, do corpo e da mente.... Teria que
se chamar Wakeru...

Isso Wakeru, o divisor de almas....

Agora, teria que esperar a noite para testar o Wakeru mais
uma vez... E ver se ele daria um resultado melhor ou simplesmente falharia.

“Transformar um demônio em um anjo.... Seria possível?”