Psicose escrita por KaulitzT


Capítulo 3
E no fim, eles nada sabem.


Notas iniciais do capítulo

Oi liebes, quero agradecer pelos reviews *-*
Obrigada ;D
O nome dos capítulos, são citações de shakespeare, só to falando por falar. kkkk.
Aproveitem o capítulo, beijos



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Meu pai parou o carro em frente a uma casa grande, de paredes brancas e um belo jardim. 

- É provisório. Podemos escolher outra caso você não goste dessa. – disse meu pai abrindo o porta-malas do carro e colocando minha bagagem no chão.

 - Pai, está ótima. É linda. – tentei parecer o mais contente possível.

O problema não era a casa, o problema era comigo, pois em todas as minhas lembranças de ‘casa’, minha mãe estava sempre ali, presente esperando-me com um sorriso feliz, e de repente minha concepção de casa, teria de ser reinventada. Seguimos em direção a porta. 

- Você quer abrir? – meu pai perguntou.

- Tudo bem. – girei a chave e abri a porta que dava em direção a sala. Era uma casa grande, grande demais eu diria. - É linda pai. – caminhei explorando aquela enorme sala. Tudo era novo inclusive os moveis, mas uma coisa chamou-me atenção. Uma coisa incomodou-me.

 - Pai, onde estão?

 - Onde estão o que Ana? – me pai perguntava sem entender.

- Todas as fotos da minha mãe, onde estão? – perguntei apontando para a estante. 

- Bom filha, eu achei que você pudesse querer esquece-la, começar do zero sabe. – ele coçava a cabeça. 

- Esquecer a minha própria mãe? Começar do zero sem ela? – pausei e respirei fundo. – trate para que as fotos estejam aqui amanhã.

 - Tudo bem, você tem razão, desculpe. – meu pai disse cabisbaixo.

 - Onde é meu quarto? – perguntei levantando-me do sofá. 

- É lá em cima, a porta no final do corredor. – ele apontou para cima. 

- Ok. – disse subindo as escadas. Respirei fundo e abri a porta, como o esperado a cor do meu quarto era rosa. Eu ri. Quantos anos meu pai pensava que eu tinha? 18 ou 5? Todas as minhas roupas que eu não levei para a clinica, estavam lá, tudo em seu devido lugar. Minha mochila estava sobre a cama, senti um aperto em meu coração. 

- Espera. – sussurrei para mim mesma. Corri em direção a minha mochila e abri o menor bolso da parte da frente. Lagrimas escorreram em meu rosto.  A nota de 10 dólares que minha mãe tinha me dado ainda estava ali, dentro do bolso da mochila. O meu coração ficou apertado, e as lagrimas caiam com  intensidade.

Peguei a nota com cuidado, e encostei-a em meu coração. 

- Eu vou descobrir quem fez isso com você Angel, eu prometo. – minha voz saia com dificuldade em meio aos soluços provocados pelo choro.

- Tá tudo bem Ana? – meu pai batia na porta. 

- Tudo bem pai. Eu vou tomar um banho e já vou descer. – disse secando as lágrimas.

 - Ok, tem bolo de carne para o jantar. – bolo de carne? Eu sorri. – é Angel, parece que tem alguém tentando copiar suas receitas. 

Guardei a nota de 10 dólares que minha mãe tinha me dado numa caixinha e coloquei-a em cima da cômoda. Aquela era a única coisa que restara de minha mãe, desde o dia em que ela morreu. Aquela nota foi a ultima coisa que eu a vi tocar, então ficaria ali, guardada como minha ultima lembrança.

Fui para o banheiro, e olhei-me no espelho. Você pode achar que isso é normal, mas eu te desafio a ficar dois meses sem se olhar se quer uma vez. Pode parecer mentira, mas eu poderia dizer que até me esqueci de como eu era. Antes, meus cabelos eram lisos, brilhantes e cheios de vida, louros e batiam nos ombros. Agora? Agora eles estão opacos, feios e batem na minha cintura. Meu rosto antes era perfeito. Agora? Agora ele está áspero, e cheio de olheiras. As roupas que eu costumava usar eram coloridas e delicadas. Agora? Eu opto por roupas negras, pois é assim que a minha vida ficou depois daquele dia. Pode parecer clichê, mas o buraco que se abriu em meu peito, segou-me e eu não via mais a cor.

O céu para mim sempre era negro, até mesmo a luz era negra. Eu não vi mais a cor, a alegria, a vida desde que vi o sangue de minha mãe escorrendo entre meus dedos.

Eu me sentia feia, suja, mas de alguma forma, eu sentia-me bem.

O que antes era um sorriso, hoje é uma lágrima. 

Tomei um banho demorado, e bem demorado. Um banho quente e silencioso, eu mal ouvia a agua cair sob meu corpo, eu só ouvia os meus pensamentos vazios e murchos dentro da minha cabeça. 

Coloquei uma blusa preta, calças escuras e um tênis preto.  Antes de morrer, minha mãe cantava para mim todas as noites, a mesma canção. Angel de Sarah Mclachlan, ela sempre sorria ao cantar o refrão, que dizia: ‘Nos braços de um anjo,Voe para longe daqui,Deste escuro e frio quarto de hotel E da imensidão que você teme.’

Hoje, eu não tenho mais coragem de ouvir essa mesma música.

Meu gosto musical mudou, graças a David, um garoto que perdeu seu irmão gêmeo, que também estava na clinica. Diziam que ele precisava do acompanhamento médico, pois poderia ficar agressivo, aquele mesmo papinho que vocês já conhecem. Nós conversávamos muito, mas nunca fomos amigos. Ele me apresentou uma banda de rock chamada Sepultura, eu não conhecia. Ele mostrou uma música dessa banda, que na verdade, combinava muito com o que estávamos vivendo, o refrão dizia: ‘O sonho de viver bem, Uma fantasia comum. É só uma ilusão Que você viu na TV. Eles acham que sabem tudo sobre a gente, Mas não vão nunca saber.’ Realmente combinava. Eu não queria mais ouvir aquelas musiquinhas patéticas, que falam sobre amor, e alegria, por que no final é tudo ilusão. Isso não existe, não na vida real. 

Desci as escadas, ouvindo essa mesma música na qual citei anteriormente. Passei pelo meu pai, e sentei-me á mesa. 

- Ana, por que você não coloca uma roupa mais confortável? Um vestido mais fresco talvez? Está um lindo dia lá fora, o sol está brilhando, você pode sentir calor. – disse meu pai olhando-me confuso. 

- Não se preocupe pai, eu não pretendo sair no sol. – respondi mordiscando um pedaço de cookies de chocolate que estavam sobre a mesa. 

- Mas querida, eu gostaria que você conhecesse a vizinhança. Aqui tem várias meninas da sua idade, que você pode tentar fazer amizade. 

- Eu não quero. Eu não preciso de amigos.- disse olhando-o fixamente. 

- Mas eu acho que seria bom para você, vocês são adolescentes, e tem coisas para conversar, momentos para compartilhar. – ele sorria.

 - Elas não iriam gostar de saber sobre o momento que eu passei. 

- Ana... Eu... – ele gaguejava, mas por que? – Eu acho, que você deveria tentar esquecer um pouco a morte de sua mãe. Você está se prendendo ao passado, e esquecendo de viver a sua vida, se lamentar ou não querer mais viver não vai trazer a sua mãe de volta. – meu pai dizia num tom frio e sério. 

- Pai, por favor. Não venha tentar fazer com que eu me sinta bem, por que eu não me sinto. Se eu não estou vivendo o problema é meu, a vida é minha, não se mete. Se você já superou assim tão rápido a morte dela, parabéns, você tem sorte. Agora me deixa. – disse gritando e indo em direção a sala. 

- Mas Ana, você não pode se prender eternamente ao passado. – ele disse caminhando atrás de mim. 

- Pai - respirei fundo. - me deixa por favor tá? Eu não quero mais falar sobre isso.

- Tudo bem. - ele disse abaixando a cabeça. 

Voltei para o meu quarto, eu não queria brigar com meu pai, afinal, eu sabia que ele estava dando o maximo de si para tornar tudo melhor. Ele comprou uma casa nova sem ter condições, isso tudo pra me ver feliz. Isso eu entendia, só que eu precisava do meu espaço, e ele não podia controlar os meus sentimentos. 


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Notas finais do capítulo

Eai, o que acharam?