A velha vesga escrita por John Vendetta


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Acreditem, isso aconteceu comigo e mais um amigo. Certas coisas como nomes foram mudadas para preservar a identidade dos envolvidos.



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Meu nome é Bruno e eu tenho 15 anos. Eu sempre gostei de ler mangás. Mas onde eu morava, nunca encontrava. Eu lia apenas pela internet. Mas sempre quis ter um mangá de Bleach, segurá-lo e ter a história em minhas mãos. Em particular, o volume 15, pois era o meu preferido.

Eu morava em uma cidadezinha do interior de São Paulo, Nova Fernandópolis. Minha mãe conheceu um cara e eles se casaram. Meu pai já havia morrido há muito tempo. Quando o meu padrasto foi transferido para a capital, São Paulo, eu vi que meu sonho estava sendo realizado. Havia um bairro em São Paulo, a Liberdade, que tinha uma grande variadade de coisas japonesas, como mangás.

Após algumas semanas, fiz amizade com um colega na minha nova escola. O nome dele era Gabriel e ele tinha a mesma idade que eu. Ele também compartilhava os mesmos gostos por mangás. Então, combinei de ir com ele em um sábado na famosa Liberdade. Após alguns imprevistos, nós subimos as escadas do metrô e finalmente chegamos lá.

~

- Ei, Biel. Vamos aonde agora? - Eu perguntei. Afinal, eu estava perdido. Nunca havia ido ali, em um lugar com tanta gente e tanto oriental, todos andando calmamente, fazendo compras ou não.

- Tem uma loja de mangás muito boa ali na rua de baixo. Vamos lá. - O meu sonho estava se realizando.

Poucos minutinhos depois, chegamos lá na loja. Eu fui logo para a seção de mangás nacionais, procurar por Bleach. Achei o meu amado volume 15 e fui logo comprar. Finalmente eu podia segurar Bleach com as próprias mãos. Foi muito emocionante.

Logo depois, fomos comer algo. Comemos rapidamente e decidimos andar sem rumo, olhando as lojas. Estávamos passando por uma ponte, quando eu notei que meu cadarço estava desamarrado. Entreguei a sacolinha com meu Bleach para o meu amigo e me abaixei para amarrar o cadarço.

- Bruno, vou atirar seu Bleach lá em baixo. - Eu olhei pra ele com ódio. Ele não era nem louco de atirar meu Bleach lá na avenida logo abaixo, onde carros passavam. Ele fez que ia jogar, mas não jogou. Eu me levantei e peguei meu Bleach de volta.

Andamos mais um pouco pela ponte e entramos logo depois em um mini-shopping apertado, com um longo corredor cheio de gente. Notei que uma senhora idosa, com idade entre 50 e 60 anos, loira e com olhos vesgos, ficou me encarando enquanto nós entrávamos no mini-shopping. Mas não liguei.

Nós fomos até o outro lado do shopping, saindo em outra rua.

- Cara, por que viemos até aqui? Vamos no andar de cima do shopping, tem uma loja de chaveiros muito boa. - Disse Biel.

- Claro, vamos.

Eu nem percebi, mas estávamos sendo seguidos. Foi quando caminhávamos pelo corredor cheio de gente, indo na direção da escada rolante para os andares superiores, mais discretos.

- O que vocês fizeram lá na ponte? - Chamou uma voz nas minhas costas.

Nós nos viramos e nos deparamos com a velhinha loira, que tinha nos seguido desde a ponte.

- Desculpe, senhora? - Eu não sabia o que falar. Eu não tinha feito nada.

Mas a velha me encarava com os olhos vesgos, aparentemente louca.

- Vocês jogaram alguma coisa lá nos carros. Vocês são suspeitos! - A velha falou, completamente biruta. Naquela hora, meu coração já estava batucando à mil, pois todo mundo tinha se virado para olhar o que estava acontecendo. - O que vocês tem aí na sacola? - Ela perguntou.

Eu ergui a sacola e Biel disse:

- É só nosso mangá, nos deixa em paz.

Então, nos viramos e deixamos a velha para trás. Afinal, eu não tinha que dar satisfações para velha nenhuma.

- Velha louca, né Biel?

- Ela tá seguindo a gente. - Disse ele. Eu me virei. Andando à passos lentos, vinha a velhinha logo atrás. - O que vamos fazer?

- Ignora. A gente nem fez nada de errado. Vamos subir logo.

E então subimos pela escada rolante. Eu olhei para trás. A velha tinha parado ali em baixo e estava falando coisas como: “Prendam eles!”, “Eles tem uma bomba!” e “Segurança!”.

- Essa velha maldita vai chamar o segurança. Vamos sair daqui, Biel.

Assim que chegamos ao andar de cima, fomos correndo para o elevador. Eles estava se fechando. E eu não consegui apertar o botão à tempo.

- Droga, chama logo o elevador. - Disse Biel, nervoso. - Vamos sair daqui logo.

Literalmente do nada, surge um japonês magrinho, vendedor de uma das lojas.

- Cara, uma velha vai chamar a polícia pra prender vocês. - Disse ele. Eu fiquei nervoso.

- Nós não fizemos nada! Por que ela vai chamar? - Perguntou Biel.

- Ela disse que vocês estavam incomodando ela.

- Ela que incomodou a gente! - Eu retruquei. Mas o japa balançou os ombros e saiu.

- Ah não. - Gemeu Biel.

Andando na nossa direção vinha a velha, completamente louca.

- Prendam eles! - Ela gritou.

Todo mundo se virou para olhar. Eu fiquei ainda mais nervoso. Sorte que o elevador chegou bem na hora. Nós entramos nele.

- Aperta logo o botão que a situação ficou séria! - Gritou meu amigo, bem nervoso.

A porta do elevador estava se fechando... Mas a velha não desistiu. Ela apareceu na porta e apontou o dedo enrugado e cheio de anéis para nós.

- São suspeitos! - Mas a porta fechou.

- Ufa, escapamos. - Eu falei, mas Biel parecia nervoso.

- Idiota, estamos subindo! - Ele falou. Eu olhei para o painel de botões. Eu tinha apertado para subir sem querer. E agora não podíamos usar o elevador, pois a velha tinha apertado o botão com certeza.

- Calma, tá? Vamos subir e descer pelas escadas mesmo, não fizemos nada de errado. Ignora aquela velha. - Eu tentei acalmá-lo. Mas o meu próprio coração batia com força de tanto nervosismo.

- Certo.

Assim que o elevador se abriu, nós saímos correndo, descendo as escadas. Finalmente, íamos chegar no andar da velha.

- Calma, tá? Vamos descer e... - Mas eu me calei assim que vi o grupinho que estava parado na frente dos elevadores.

A velha estava no meio do grupo. Gesticulava e discutia enérgicamente, seu lábio formando palavras como: “Bomba”, “Suspeitos” e “Mangá”. Um segurança, negro, alto e forte, ouvia a velha, com cara de sério. O japonês de antes também estava dando seu testemunho para o segurança. Outras mulheres ouviam com interesse, logo ao redor da velha.

- Vamos descer de fininho, Biel...

Nós tentamos passar despercebidos ao descermos as escadas, mas o japonês gritou:

-SÃO ELES!

“Maldito japa”, eu pensei. O segurança veio andando.

- Vocês dois venham aqui! Parados aí!

Veio o segurança e a velha na nossa direção. Todas as pessoas do shopping pararam para olhar.

- Essa senhora tem uma reclamação pra vocês. - Disse o segurança. A velha entendeu a deixa para falar.

- Eu vi eles na ponte, eles jogaram algo no carro! Depois saíram pra cá com essa sacola aí com um tal “mangá”, só pode ser alguma bomba ou sei lá. Mas eles fizeram alguma coisa, são muito suspeitos.

Eu olhei para o rosto da velha. Eu estava com muita raiva. Uma velha maldita me acusando disso? Mas senti pena e estava nervoso, senão teria feito um xilique ali mesmo.

- O que tem na sacola? - Disse o segurança.

- É um mangá, cara! - Eu retruquei aborrecido, mostrando o meu volume de Bleach. Enquanto isso, Gabriel explicava pro segurança o que nós tinhamos feito realmente. A velha continuava balbuciando, irritada.

- Tudo bem, senhora. Não há nenhum problema, pode ir. - Disse o segurança pra ela.

- Mas o que é um mangá? - Ela perguntou. Biel cochichou baixinho:

- Ela vem na Liberdade e não sabe o que é um mangá?

- É uma revista, senhora. - Disse o segurança.

A velha saiu andando, balbuciando. Perto da escada, ela se virou e disse:

- Mas ainda são suspeitos!

E por fim, desceu pela escada. Eu continuava nervoso. Mas o segurança se virou e disse:

- Deixem ela, ela tava birutinha das ideias. - E os curiosos começaram a cochichar.

- Vamos sair daqui, Biel.

Alguns minutos depois, fomos pegar o metrô lotado para voltar para a casa. Entramos em um vagão cheio. Biel só comentava a situação:

- Que velha louca. Desde quando mangá é bomba? - E riu.

- Biel, não chame atenção... - Tarde demais.

A mesma velha de antes vinha caminhando pelo vagão, gritando:

- ELES TEM UMA BOMBA! VÃO EXPLODIR O METRÔ! ELES SÃO SUSPEITOS!


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Notas finais do capítulo

Qualquer comentário seria muito gratificante.