Together Again escrita por violateforever


Capítulo 2
I'm here, just waiting




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Corri o mais rápido que pude até meu quarto. Hayden não poderia me pegar lá, eu acho. Tinha que pensar em alguma solução, e rápido. Por que Hayden não simplesmente pegava o bebê sem dar explicações? Talvez ela tivesse medo, ou não sei. E também, como iria esconder isso de minha mãe, se elas moram na mesma casa para sempre? Não haviam explicações plausíveis.

                Ah não ser que ela quisesse Michael. Mas isso não era possível, era? Até porque ela sabia que nem eu nem Tate conseguiríamos tirá-lo de Constance. Aliás, não poderíamos nem tentar, afinal, como sairíamos da casa? Hayden não estava em boas condições. Ela tinha que entender que de um jeito ou outro, ela não poderia gerar ou criar filhos. Meu Deus! Ela havia de entender que seu tempo já se esgotara há meses. E eu a faria entender.

                Por outro lado, eu sentia dó dela. Morrera grávida de meu pai. Pelo menos morreu junto ao seu sonho, ser mãe. Ela era traumatizada ou sei lá, algo assim. Aí me lembrei que eu também havia morrido sem ser mãe ou sem ir para a faculdade, ao menos. Ninguém havia me contado como ela morrera, mas pelo jeito, fora enterrada depois. No quintal. Ah, óbvio, o coreto era para disfarçar. “Não poderia fazer algo mais criativo, Ben?” murmurei para mim mesma e me deitei de bruços.

                Eu precisava falar com alguém. Parece que quando ditos, os problemas se tornam mais fáceis, mais organizados. E era exatamente o que eu precisava, de organizar as minhas ideias. Estava muito confusa apenas. Não poder conversar era algo terrivelmente ruim.

                Tentei organizar as coisas. Ok, bem, Hayden quer um bebê, mas não um bebê qualquer. Ela quer meu irmão, mas qual irmão? O mais óbvio seria Jeffrey, claro. Hum, voltando, ela me disse que quer a criança, se não... Bem, não quero pensar nisso. Não de novo.

                O jeito é conversar com ela. Mas, e se ela me ameaçar mais? Não, não quero, não posso. “Ah, claro que pode, Violet! Você não tem medo, tem menina?’’ murmurei de novo, e em um pulo, me levantei. Caminhei hesitante até a porta, com passos silenciosos, mas pesados, como alguém que esperasse levar um susto. Toquei na maçaneta, mais hesitante ainda, e a girei. Abri a porta, que rangeu insuportavelmente. Coloquei o rosto para fora.

                -Te assustei?! - Hayden gritou, rindo alto.

                Meu coração disparou por alguns segundos, e fiquei mais fria do que já estava. Ela quase me matou de novo.

                -Você me mata de susto, sua vadia! - gritei, com raiva.

                Ela me olhou, como se estivesse ofendida com o xingamento. Apenas me puxou pelo vestido, se abaixou, e sussurrou em meu ouvido:

                -Se eu fosse você, Vi, tomava muito cuidado com as palavras. Elas machucam, sabia? Na vida, você morre um pouco mais a cada erro. As pessoas não sabem perdoar, são amargas. E você acaba em um buraco sem fim, sem ninguém, no escuro. O suicídio começa por dentro, Violet. - Hayden me soltou e passou a mão no meu cabelo, acariciando-me. Finalmente, me soltou, e foi andando, sem olhar para trás.

                -Hayden, espere. - Eu disse alto o suficiente para ela ouvir.

                -Sim, querida?- ela respondeu, como se nada tivesse acontecido.

                -O que você quis dizer com “seu irmão”? Digo, Jeffrey, óbvio, não é? - eu perguntei, impaciente.

                -Não seja tola, Violet, logicamente não. E eu lá vou querer uma criança congelada por dentro, que não cresce e vai ficar em estado crítico para sempre? Vi, Vi. Sempre me surpreendendo com perguntas idiotas. - ela disse como se fosse uma coisa óbvia.

                -Mas o que?! Como?! Eu não posso sair daqui, monga. Sua vez de pensar grande. - eu disse, mais brava ainda.

                -Violet, o que eu te disse sobre as palavras machucarem? Vou te dar uma chance, mocinha, mas só dessa vez. Ah, eu realmente não me importo com Constance ou com a maneira que você tirará essa criança dela. O problema é seu. - ela disse e sorriu maliciosamente.

                Esperei ela descer as escadas, para não correr o perigo de nos esbarrarmos, e caminhei até as escadas. Chequei bem, não queria correr riscos. Desci cuidadosamente as escadas, e assim que cheguei ao piso de baixo, corri como uma retardada até a cozinha. Sentei-me em uma das cadeiras e comecei a falar:

                -Tate, por favor, por mim, apareça. Preciso muito da sua ajuda. Por favor, Tate. Sou eu, ainda se lembre de mim?

                Não escutei nada. Aquilo me desconcertou. Eu pensava que ele estaria lá, esperando por mim, para sempre. Mas não. Ele nem sequer respondeu. E se Hayden tivesse exorcizado, ou sei lá como se fala, Tate? Seria minha culpa. Talvez fosse porque eu a chamei de vadia. Eu não suportaria. Comecei a chorar alto.

                -Tate! Por favor! Apareça, por favor! - eu disse, chorando - Tate! Tate! -comecei a gritar, e a cada vez que seu nome saía de minha boca, eu chorava mais. - Por favor, só agora Tate.

                Comecei a correr e chamá-lo por todo o espaço que a casa me permitia usar, mas ele não me respondia. Eu chorava muito, lágrimas pesadas e sofridas. E se ele estivesse lá, me vendo sofrer, mas simplesmente não me quisesse mais? Eu não sabia.

                Fui correndo até meu quarto, e desabei na cama. Eu estava toda vermelha por causa do choro. Pretendia chorar o resto da noite, se fosse possível, já que não precisava dormir.

                Chorei intensamente por duas longas horas. E se ele também estivesse assistindo a aquilo tudo? Por que me deixaria tão infeliz?

                Fechei os olhos por alguns minutos, na tentativa frágil de, talvez, dormir um pouco. Não deu. Nem se eu estivesse viva, conseguiria dormir com tantos pensamentos rondando minha cabeça. Era tarde da noite, mas tempo não era problema para mim.

                “Vamos, Violet. Levante-se.” repeti comigo mesma, apesar de não obedecer. “Levante-se”, repeti. Respirei fundo, soltei o ar. Abri os olhos e me virei para a parede. Não aguentava mais. Precisava fazer algo para me sentir menos culpada.

                Levantei-me lentamente, e com passos arrastados fui até o banheiro. Abri o armário e peguei a bolsinha preta da qual eu havia me despedido há algum tempo atrás. Abri o zíper e peguei um pacotinho pequenininho. Toquei nas lâminas. Afiadas, como sempre, e geladas.

                -Bem, não posso morrer, - disse alto para mim mesma - mas posso sangrar.

                Levei a lâmina ao punho, e cortei com força. Um corte enorme, muito sangue, mas eu não estava com medo. Nada poderia acontecer, infelizmente.

                -Está fazendo isso errado. Corte na vertical, se quiser se matar.

                Aquilo era familiar. Olhei para a porta. Tate. Senti o sangue pulsar com força em minhas veias, aquilo era bom.

                -Tate. - disse, feliz, e corri ao seu encontro.

                -Violet. - ele respondeu e me abraçou com força. Retribui o aperto, carinhosamente.

                Nos olhamos por alguns segundos, e aquilo bastava. Ele estava ali, comigo, e eu não pretendia soltá-lo tão rapidamente. Ele pegou meu punho cortado, colocou em seu ombro, e me beijou.  Eu cedi, claro. Era bom sentir sua boca gelada na minha. Era confortante, familiar. 

                -Eu tenho muitas coisas para te contar. - eu sussurrei em seu ouvido.

                -Percebi isso mais cedo. - ele respondeu e riu comigo.


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