Depois de tanto tempo, ele já havia se esquecido de como era se mover. Fora um sacrifício para se sentar, mas ele conseguiu. Sozinho, óbvio. Era madrugada e Hera dormia um sono profundo.

E se sentara na beira da cama, mais inclinado para trás do que para frente, para não cair. Observava o vazio, perdido em pensamentos. Se sentia tão fraco. Lembrava de pequenos flashs. Ares espantado, um Apolo preocupado. Atena enlouquecida, Jason tentando se manter forte. Até Perséfone passara por ali, com Hades, pelo que Zeus pode notar. Mas o que ele mais se lembrava era de um choro, doloroso e abafado.

Ela.

Desde que ele melhorou, estava recobrando a consciência durante a noite, e todas as noites ele a ouvia chorar baixinho ao seu lado, geralmente abafando as lágrimas com o travesseiro, mas nunca sem soltar a mão de Zeus. Seu coração se rasgara todas as vezes, mas estava fraco demais para conseguir se mover, então esperou.

Ele voltou a se deitar, mas de lado, observando Hera. Ela dormia virada de costas para ele, uma mão para trás. A mão que estava enlaçada com a dele. Ele pegou a mão dela e a abraçou por trás, enterrando sua cabeça nos cabelos dela.

Sentira falta de abraçá-la.

Se acomodou e adormeceu, seus corpos juntos um do outro como se dependessem daquilo.

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Ela andava de um lado para o outro, os olhos fechados. Nunca trabalhara tanto na vida.

Tinha sido tudo muito fácil, e isso que a intrigava. Trabalhar deixava sua mente ocupada, e então ela não podia pensar no resto, mas agora que estava tudo tão calmo, o cérebro de Atena estava à beira de um colapso.

Seu pai. Forte, metido, corajoso, estúpido. Sempre. Ela ia o visitar sempre que podia, mas estava começando a evitar isso. Era horrível vê-lo daquele jeito, praticamente morto. De acordo com Apolo, era apenas sua aparência que estava tão ruim, que na verdade ele estava melhorando cada dia mais, mas Atena não conseguia aceitar aquilo tudo. Era demais.

E ainda tinha ele, que resolvera que era uma ótima ideia passar uma temporada no Olimpo, logo agora. Por mais que ele tivesse se chocado com o estado do irmão, não perdeu a pose de superior. Como se ele fosse realmente grande coisa. Ia sempre reclamar de como era injusto que Atena comandasse o Olimpo, se ela era da "segunda geração". Para ele, ou ele ou Hades, ou ambos, deveriam estar governando o Olimpo. Claro que ele estava cheio de segundas intenções.

E ainda tinha o jeito como ele a olhava... Parecia diferente, mais... profundo. Seus olhos pareciam brilhar quando a viam, e ele tentava fazer de tudo para fazê-la se distrair. Talvez fosse uma tática para ele mesmo esquecer dos problemas.

Oh sim, pois devia ter algum motivo para ele ir para o Olimpo, já que essas "férias" pareciam ter sido bem pensadas... Não que ela se importasse com ele, claro que não, ela só achava muito... curioso.

Zeus mataria Poseidon se soubesse o que o irmão estava pensando e planejando sobre sua querida e preferida filha. Mas estava tudo certo, Zeus estava de cama, tudo daria certo.

E Atena já desconfiava disso.

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Quando acordou, Hera quase teve um ataque.

A princípio, tudo parecia normal, até ela notar que estava nos braços de Zeus. E que não podia estar nos braços de Zeus, pois este estava muito doente. A não ser que...

–Querido? - Ela arriscou, se virando lentamente para encarar o marido. Ele dormia tranquilamente, como se nada tivesse acontecido, mas ela sabia que ele havia acordado. Ele tinha que ter acordado. Ela estava precisando dele. - Querido, por favor, eu sei que você me ouve... - Hera obteve apenas murmúrios em resposta, o que já era bom, dependendo do ponto de vista.

Suspirou, frustada. Talvez fosse apenas os músculos de Zeus que haviam se contraído, mas estava tudo tão confortável, tão... bom. Não podia ser só acaso.

Ela o observava, atenta. Pequenas rugas ameaçavam aparecer no rosto de seu marido. De preocupação, dor e cansaço, talvez, não seria da idade, senão Afrodite deveria ter rugas já, e seu rosto era limpíssimo (N/A: Como bumbum de bebê! KK).

Perdida em seus devaneios, Hera não havia percebido o grande par de olhos azuis que a observavam serenamente.

Ele havia aberto os olhos. Zeus acordara.