Acordei muito cedo naquele dia, estava animada com o fato de que finalmente o feriado do natal chegara, após visitar Lily no hospital o tempo demorou a passar parecia que os minutos se arrastavam. Eu amava algumas determinadas datas do ano, apesar é claro de nunca admitir isto em público. E o natal era uma dessas. Adorava principalmente quando era convidada para passar o natal com a família da Lily, quando a toca se enchia com todos os familiares e as vozes se espalhavam pelos aposentos em meio a risadas calorosas. Eu sentia algo estranho, era meio que uma sensação de pertencer a aquele local, a aquela família.

Nossa, só de pensar que nessa semana estarei na sala aconchegante da toca, provavelmente esparramada com a Lily em frente à lareira ouvindo todos falar ao mesmo tempo, o Alvo e a Rose disputando uma partida épica de xadrez e a vovó Molly entrando na sala com uma travessa de biscoitos de chocolates, que sempre são acirradamente disputados (a ultima vez quase tive de pular em cima do James para que ele deixasse o ultimo para mim), me dava uma vontade louca de fazer o tempo passar mais depressa para que e a noite de natal chegasse logo.

Saindo de meu transe e constatando mais uma vez que realmente família igual aos Weasley não há, olhei para a cama da minha colega de cabelos cor de rosa.

Heloíse dormia tranquila em sua cama, o que me lembrava que eu ainda queria ter uma boa conversa com ela sobre sua relação com Hugo, mas Lily prevendo que eu faria algo me mandou uma carta pedindo sigilo. Ela queria conversar com Lise e tentar entender o que estava acontecendo. Já terminava de arrumar minhas coisas quando Heloíse acordou, diferente de mim ela não parecia nada empolgada com as férias. Para falar a verdade ela estava com uma cara de quem preferiria ir se acomodar antes em um caixão a comemorar o natal em sua casa.

-Vamos Heloíse, temos que tomar café da manhã. - Chamei ao ver que ela se escondia de baixo do cobertor pink.

-Não quero ir pra casa, não quero ver meu pai!- Resmungou ela.

-É tão ruim assim lidar com ele? -Perguntei me lembrando da nossa conversa quando ela falou da relação complicada que tinha com o pai desde a morte da mãe.

-Você não faz ideia. - Respondeu a garota antes de finalmente sair de cama e começar a ajeitar as próprias coisas. Ela parecia realmente péssima tanto que tomei a liberdade de lhe fazer um convite.

-Se ficar muito ruim a Lily sempre pode colocar um colchão a mais no quarto dela. -Lise pareceu se animar um pouquinho com isso e em poucos minutos estávamos no salão principal para tomar café. Avistei Hugo na mesa da Sonserina, parecia haver algo de errado entre ele e a Prescott piranha, percebi o olhar que Heloíse lançou ao casal da mesa oposta.

-Acha que eles estão brigando? - Pedi olhando para onde estavam.

-Quem? - Me perguntou a garota de olhos cinzentos fingindo que não dava importância ao assunto. E não pela primeira vez nos últimos dias fingindo que não estava olhando para o Hugo.

-Você sabe Heloíse. -Rebati enquanto me servia de suco de abóbora, coisa que me lembrava muito Lily já que ela era a viciada número um no liquido alaranjado.

-Hugo e Lana? - Perguntou e sem esperar resposta continuou. -Não sei, talvez só estejam discutindo sobre como será o natal algo assim, honestamente se não afetar Lily, pouco me importa.

Li sinceridade em seu olhar e isso contou pontos pra ela, eu não fazia ideia do que acontecia realmente entre ela e o garoto da macarena, vulgo ruivo galinha. Mas sabia que ela realmente gostava da Lily e se preocupava tanto quanto eu com o bem estar dela. Da mesma forma que já havia percebido que ela sentia algo pelo Hugo, restava apenas saber qual exatamente era este sentimento. Praguejei mentalmente, se a Lily não me conhecesse tão bem e dado um jeito de me fazer prometer não intervir eu provavelmente já saberia exatamente o que se passe na cabecinha rosa da Lise.

-Tem razão, mas não acho que Hugo e Lily terão mais problemas, ele foi visitá-la no hospital. -Contei, Lise não me respondeu, parecia perdida em pensamentos, as vezes eu me perguntava se toda a inocência dela era verdadeira. Quando a olhei fitar discretamente a mesa da sonserina pensando que eu estava distraída tive a certeza de que não. Heloíse com certeza se escondia perante a fachada de que seu mundinho era cor de rosa e ela uma garotinha ingênua. Conhecendo o pouco que conheço de seu passado não era difícil achar um motivo, proteção eu diria. Mas quem sou eu para afirmar algo afinal? Apenas uma mera observadora, é claro.

Quando voltamos para o dormitório pegar nossas coisas minha amiga parecia prestes a começar a chorar, tudo porque teria que passar o feriado com o pai, com ajuda de um feitiço de levitação consegui levar minhas coisas até o saguão de entrada. Nesse meio tempo tive de impedir Lise de ir para a torre de astronomia, da qual ela ameaçava se jogar, convencê-la de que morrer nadando no lago nesta época do ano realmente não era uma boa ideia e por fim ir revisando minha ideia de como fazer o James ficar com a cesta que eu tinha uma dificuldade enorme em segurar.

Berlioz o louco gato de Lílian miava furiosamente em seu cesto, é eu também ficaria furiosa se fosse dopada e depois acordasse presa dentro de uma cesta de vime. Mas entre travar uma luta mortal com o pequeno felino ou misturar poção do sono em sua comida eu preferia a segunda opção, desde que Lily não ficasse sabendo daria tudo certo. Afinal, não seria eu a dizer a ela do meu plano perfeito apenas para ouvi-la reclamar que eu era desumana ao submeter o bichano a tal meio de viagem.

Segui para o saguão de entrada reclamando mentalmente sobre o comportamento do "doce bichinho de estimação"(vulgo ser demoníaco com aptidões a surtos psicóticos) quando Lise pareceu congelar ao meu lado, encarava um homem alto e largo de expressão austera, estava elegantemente vestido com vestes bruxas negras. Quando veio até nós percebi que caminhava de um modo estanho como se uma das pernas fosse meio arrastada, o rastro na neve comprovou minha teoria.

-Heloíse.-Falou quando chegou perto de nós. Sua voz era seca e ele fitava a filha com uma expressão indefinida, um misto entre repreensão e reconhecimento.

Fiz uma rápida leitura de sua expressão, e sim era esta mesma sem enganos. Nada nele me lembrava Lise, absolutamente nada.

-Pai. - Respondeu minha amiga, era como ver uma flor murchando até os cabelos de Heloíse pareceram ficar mais pálidos.

-Sara Hale, é um prazer conhecê-lo Sr.Chase. -Falei estendendo a mão na direção do homem, ele me analisou e eu agradeci mentalmente por ter optado em não usar a luva de dedinhos coloridos naquele dia. Olhando em seus olhos foi que reparei que ele tinha sim algo parecido com a Lise. Não, não foi a cor de sua íris, pois esta diferente das cinzentas de sua filha eram castanhas. Foi o sentimento que elas passavam. Era um não sei o que de dor. Era com certeza os mesmos sentimentos que muitas vezes vira em sua filha. Perda.

-Parece que finalmente fez uma amiga decente Heloíse. -Falou o homem antes de finalmente apertar minha mão. Quer saber? Agora eu entendia totalmente porque minha amiga estava tão desanimada naquela manhã.

-Vamos pai? -Chamou ela me lançando um olhar que dizia claramente, viu eu avisei você Sara!

Abracei Heloíse e sussurrei em seu ouvido:

-Tenho certeza que os Potter não vão se importar se você for pra lá.

-Tudo bem Sara, feliz natal e não se esqueça de ajudar a Srª. Potter em tudo que puder! -Falou ela com um sorriso maroto e piscando pra mim.

-Potter? -Perguntou o pai dela assumindo um ar ainda mais sério, na verdade parecia levemente irritado.

-Vamos logo pai, em casa nós conversamos. - Chamou Lise saindo na frente do pai na direção dos portões. Por que ele se irritara ao ouvir o nome Potter? Teria ele algo contra o Sr. Potter?

-Sara! - Pulei de susto, Hugo apareceu correndo atrás de mim. - Hei calma!-Falou rindo ao ver que tinha me pego de surpresa. Eu e a minha mania e analisar as pessoas ainda vamos nos meter em encrenca. Mas quem disse que eu consigo para? Quando vejo já estou analisando todas as reações a minha volta sem nem perceber.

-O que você quer Hugo? - Perguntei tentando não rir com ele.

-Estou indo pra casa, nos vemos na Toca então?

-Com certeza Macarena boy! - Respondi dando um abraço nele.

-Hei para com isso!Já falei que foi culpa da tequila! Se você tem problemas com whisky e fogo eu também tenho direto de ter os meus! E também não foi minha culpa se além de tudo a Lily resolveu acrescentar a baderna pulguinhas saltitantes!– Ri mais ainda perante a sua indignação.

Logo me vi sozinha, se James não aparecesse logo iria aparatar e deixar o gato pra trás, Berlioz continuava enlouquecido no cesto, precisava me lembrar de garantir que James é quem o segurasse durante a aparatação.

Até que finalmente ele apareceu, ou talvez eu é que estivesse fazendo cena porque o saguão ainda estava cheio, o que posso fazer se odeio esperar?

-Girassol! - Falou com um sorriso brincando em seus lábios.

-Potter quantas vezes já conversamos sobre o apelido? - Ele deu risada e me abraçou, aproveitei para cheirar seu pescoço o máximo possível. Não que eu seja uma aproveitadora ou algo assim, é que ele realmente tem um cheiro maravilho, uma mistura de loção pós barba e James que simplesmente pode te levar a um outro mundo com uma simples fungadinha e...

-Pronta pra casa dos Potter? -Me perguntou. Aí, não falei, fui ao outro mundo. Eu tenho que parar de ir para saralândia toda vez que chego perto de James Potter, isto já esta passando dos limites de normalidade. Porque sim, eu sou muito normal.

-Acho que vamos ter que descobrir Jay. -Respondi, peguei minha bolsa e a mochila de Lily, haha, ocupei minhas mãos agora ele vai ter que pegar o Lioz!

Caminhamos até Hogsmeade conversando sobre Lily.

-Ela está bem melhor, a presença de Victoire fez bem pra Lily, lembra dela? - Como eu poderia esquecer a deslumbrante prima dele? Fiz que sim com a cabeça tentando não direcionar pensamentos malignos para a garota de sangue veela.

-Estou preocupada com ela Jay, não sei como vai ser quando voltarmos pra escola. -Confessei.

-Ela é forte, tem que ser forte, Alvo comentou que agora só depende dela. -Chegamos ao vilarejo para podermos aparatarmos até o terreno dos Potter, fui a primeira e após a típica sensação de desconforto abri os olhos e me vi nos fundos da casa de Lily.

A ruiva já esperava, estava apoiada na parede e parecia uma bolinha de tantas roupas que usava, abriu a boca para me cumprimentar mas então um cesto surge ao meu lado.

Um cesto?

Olhei bem e reconheci o cesto de Berlioz vazio, era como se um leão tivesse rasgado a parte de cima para escapar, segundos depois James e a fera surgiram. O maligno felino tentava atingir o rosto do moreno, pelo visto já havia conseguido algo pois a bochecha de James estava arranhada. O gato se sacudia loucamente rosnando, em um dado momento cheguei a crer que o pequenino iria rugir, James tentava manter o bicho o mais longe possível de si mesmo.

-EU AVISEI!-Gritou Lily. O gato ao ouvir a voz de sua amada dona se acalmou o suficiente para que James o colocasse no chão, imediatamente o bichano correu na direção de Lily que o envolveu em seus braços.

-Eu avisei, eu falei! Não aparate com o Berlioz. - E engrossando a voz fez uma imitação de James. - Mas Lily eu sou o senhor auror todo poderoso imagina se não posso lidar com um gato!

Não aguentei e comecei a rir daquilo.

-Como eu iria adivinhar que seu gato iria surtar? -Perguntou o garoto à irmã.

-Não precisava adivinhar porque eu avisei! - Falou ela enquanto acariciava o gato que ronronava e nem parecia a fera maligna de segundos atrás.

-Crianças o que está acontecendo aqui? Por que a gritaria? -Perguntou Gina Potter aparecendo na grande porta de vidro, identificou minha presença e então olhou para os filhos.

-James o que aconteceu com seu rosto? - Perguntou a ruiva.

NÃO FUI EU! EU JURO QUE FOI O GATO!EU NEM TENHO UNHAS COMPRIDAS!

Contive meu impulso de gritar isso e apontar para o gato, felizmente me contive a tempo e segui Lílian na direção da casa , com um sorriso falei.

-Olá Srª. Potter. - Mas a mulher nem se deu o trabalho de me dizer oi, estava correndo na direção de James empunhando a varinha para tratar de seu rosto.

-Não ligue pra isso Sara, minha esposa anda toda protetora desde que ele falou que vai sair de casa. - Explicou Harry Potter que estava sentado na mesa da cozinha.

-Entendo...

-Vem Sara, depois você puxa o saco dos meus pais! Vamos deixar suas coisas no meu quarto. -Pediu Lily me puxando, ao chegarmos na escada percebi o quão trabalhoso era pra ela chegar ao segundo piso, minha amiga deixou seu gato no chão e apoiada no corrimão muito lentamente vencia os degraus.

Era estranho, ela costumava fazer tudo correndo e saltitando sempre penei para acompanhá-la pelos corredores da escola, agora eu é quem precisava esperar. Tentei tirar esses pensamentos da cabeça, Lily odiaria saber que eu estava com pena dela, quando chegamos no quarto rosa e branco ela me pediu.

-Preciso que me faça um favor.

- O que quiser Lily. - Respondi de imediato, ela então foi até sua mesa de estudos e me entregou um envelope, um pouco confusa abri e tirei de dentro dois ingressos.

-O que é isso? - Perguntei confusa.

-Esse é o meu presente de natal pro James, comprei faz um tempo, vai ter um jogo beneficente de quadribol hoje de tarde, apenas as melhores estrelas da liga inglesa vão jogar. Pensei que podíamos ir assistir ao jogo juntos. - Me explicou ela conseguindo me deixar ainda mais perdida.

-O que quer que eu faça?

-Quero que vá assistir ao jogo com ele. - Pediu ela me olhando com intensidade.

-Não, não vou fazer isso! Você tem que ir com ele. -Falei estendendo o ingresso em sua direção.

-Por favor! Encare isso como um presente pra você também, afinal, estou te dando um encontro com meu irmão mais velho! - Falou segurando o envelope e empurrando-o em minha direção. Não preciso nem dizer que agora sua expressão tinha um sorrisinho matreiro.

-Não Lily, eu nem gosto de quadribol, você tem que ir com ele, é algo que vocês dois amam fazer, vocês sempre vão a jogos juntos. - Lílian se sentou na cadeira e olhando pra mim pediu quase que em desespero.

-Por favor Sara, faça isso por mim? - Seus olhos brilharam me indicando que estava prestes a chorar, só então a ficha caiu, ela não podia assistir a um jogo de quadribol, não suportaria ver todos voando e fazendo aquilo que ela amava. Me ajoelhei na frente dela e segurei sua mão.

-Lily, tem certeza que não quer ir? É só um jogo, você vai se divertir.

-Eu não consigo Sara, eu não posso fazer isso ainda! É torturante pensar nisso eu não consigo. - As lágrimas corriam por sua face e marcavam as poucas sardas que ela tinha. Ela me venceu. Eu sempre disse que odiava lágrimas e naquele momento não foi diferente. Doeu realmente vê-las correr livremente pelo rosto daquela garota que sempre fora tão confiante e disposta a distribuir sorrisos, sem medo de ser feliz. Por isso fiz o que normalmente evitaria a todo o custo fazer, dei um abraço nela e sem poder negar um pedido como aquele anunciei.

-Tudo bem Lily, eu e James vamos sair hoje à tarde. -Ele só precisava saber disso, conclui mentalmente.

Logo após o almoço resolvi falar com James, ele estava na sala assistindo a uma partida de xadrez bruxo entre Harry e Alvo, pelo que pude perceber o Potter mais velho estava levando uma surra no tabuleiro. Aproveitei também o fato de Gina ter ido na Toca ajudar com os preparativos da festa de natal e de Lily estar concentrada em uma lição atrasada.

-Jay. - Chamei parada na porta da cozinha, ele me encarou imediatamente e eu continuei. - Pode vir aqui um momento?

-Por favor não façam nada na mesa da cozinha. -Pediu Alvo em um tom maldoso, corei ao ouvir aquilo mas preferi ignorar só o deixaria satisfeito se eu desse uma resposta.

Sem hesitar James se levantou não sem antes dar um safanão em Alvo que ainda dava risinhos e nos encarava, pobre idiota, enquanto nos provocava nem viu o pai dele mexer no tabuleiro e mudar totalmente a situação da partida.

Chegando na cozinha estendi o envelope branco para ele, intrigado abriu o envelope e analisou um dos ingressos, após alguns segundo perguntou sorrindo.

-Por acaso está me convidando pra sair?- pediu ele com aqueles olhos azuis agora muito brilhantes. Mas não é bom eu me concentrar no James, porque ai eu vou me distrair e perder o foco.

-Não se iluda Potter. Esse era o presente de natal que Lily havia comprado pra vocês. -Falei.

-Certo Sara, você está me confundindo.- afirmou ele agora mais sério.

-Ela não quer ir mais assistir ao jogo, por isso pediu que eu fosse com você. Não pude negar. - Expliquei, James guardou os ingressos no envelope e me devolveu, olhei-o incrédula.

-Você não quer ir? Lily vai ficar chateada.

-Vai ter que me convidar. -Respondeu James me deixando irritada.

-O que quer dizer com isso James?

-Quero dizer que já te convidei milhares de vezes pra sair, sempre ouvi um bonito e sonoro "não"  e agora está me dizendo que vai sair comigo só porque Lily pediu? Sinto muito Hale.

-Qual é James, resolveu se fazer de difícil agora? Você adora quadribol, faça isso por sua irmã! -Falei nervosa.

-Beleza, me dá os dois ingressos e eu vou com o Alvo. -Abri a boca ao ouvir aquilo, como ele ousava? Por que ficar de birra? Será que minha companhia era tão odiosa assim?

-James! - Falei em tom de censura.

-Sara!  - Disse no mesmo tom.

Certo, se James Potter queria me ver irritada ele estava conseguindo, o que queria que eu fizesse? Eu só estava atendendo a um pedido de Lílian, não era pra ser tão complicado!

-Não quer ir ao jogo comigo? - Perguntei brava.

-Quero! - Respondeu ele na hora.

-Então por que estamos brigando? -Pedi pateticamente.

-Eu quero ir ao jogo com você porque você quer ir ao jogo comigo e não porque a Lílian mandou você fazer isso. -Falou o moreno rapidamente, demorei alguns segundos para processar suas palavras e fazê-las ter sentindo em minha cabeça.

Ah, então era isso, se eu queria ir ao jogo com ele? Claro que sim, eu queria ir pra qualquer lugar com James Potter, só não sabia se era saudável fazer isso. Pra que me torturar ainda mais lembrando que eu estava apaixonada por ele sabendo que em Setembro vou embora?

James me encarava esperando que eu dissesse algo, seus olhos azuis pareciam ler cada reação minha, seus lábios teimavam em exibir um meio sorriso que me deixava sem chão...quer saber? Dane-se o saudável!

-James, você quer ir ao jogo comigo? - Perguntei tentando não ficar vermelha.

-Por quê?

-Porque será uma ótima oportunidade de fazer caridade já que o jogo é beneficente.-O moreno ergueu apenas uma sobrancelha não acreditando no que eu falava, sorri antes de completar.

-E também porque eu quero assistir ao jogo do seu lado aproveitando sua companhia. - Foi a vez dele sorrir, aguardei sua resposta que foi melhor que o esperado.

-Passo te pegar as quatro na sala de estar. -Gargalhei ao ouvir aquilo.

-Agente se vê lá então. - Falei enquanto corria na direção das escadas, eu tinha algo mais importante para pensar agora, algo muito, muito mais importante.

QUE ROUPA EU IRIA USAR?

Estava terminando de ler o capítulo de feitiços não verbais quando o furacão Sara entrou no meu quarto, ela estava vermelha e seu olhar parecia perdido.

-Por favor diga que não estava se agarrando com meu irmão. - Pedi em um tom dramático.

-Não, eu estava convidando ele pra ir no jogo. - É pra quem não queria ir Sara até que estava bem animadinha agora.

-Fala sério aposto como ele mal pode esperar pra dizer que sim. - Brinquei sabendo da nada secreta paixão de James por minha melhor amiga.

-Você ficaria surpresa se eu contasse como foi difícil fazer ele ir comigo. -Respondeu a castanha começando a mexer na pequena bolsa que ela havia trazido para passar as férias aqui em casa.

-Me corrija se estou enganada, mas Sara Hale está desesperada planejando a roupa que vai usar, de modo que devo supor que alguém está encarando isso como um encontro.

-Não. -Respondeu ela continuando a mexer nas roupas.

-Sara para com isso! Você vai acabar amassando todas as suas roupas. - Pedi usando meu melhor tom mandão. Ela parecia realmente nervosa, resolvi parar de rir e ajudá-la afinal eu é quem tinha metido ela naquele programa. Até porque era melhor eu fazer algo antes que ela me deixasse maluca com o seus olhos castanhos arregalados como os de um esquilo psicótico.

-O que eu deveria usar para assistir um jogo de quadribol, os únicos que já assisti foram em Hogwarts! - Falou desesperada.

-Relaxa, é um evento esportivo qualquer calça jeans, blusa básica e tênis resolvem seu problema. - Expliquei tentando fazer com que ela não tivesse um ataque.

-Não posso usar isso pra sair com seu irmão Lily!

-Então você admite que é um encontro? -Perguntei e vi um sorriso brincando em seu rosto.

-Nunca saímos juntos, só os dois. -Me respondeu de um modo quase sonhador.

-É eu sei, sou sua melhor amiga lembra? -Falei ironicamente.

-Muito engraçado Lílian...

-Fica calma James vai te achar perfeita de qualquer modo, além disso você não é a miss super produção vai ficar estranho se aparecer toda arrumada.

-Tem razão, eu estou surtando James nunca ligou pra roupas...

-Exato Sara, pode aparecer até sem roupa que ele vai te achar linda, na verdade se aparecer sem roupa aposto que ele vai amar...-Provoquei só pra ver minha amiga corar loucamente.

-Lílian! - Me repreendeu tentando manter a compostura, sem sucesso, logo ela estava rindo comigo, assim que me recuperei do momento piadinhas comecei a analisar as roupas que ela selecionava.

-Essa calça do meio Sara! -Gritei apontando para a calça jeans azul escura, logo me vi escolhendo toda sua roupa.

-Mas e um casaco mais pesado? Está nevando lá fora Lily! - Argumentou Sara após ver minha escolha final.

-O ambiente lá é controlado, como acha que iria ter quadribol com neve? - Expliquei achando graça em sua preocupação.

-Ah, certo...ah merlin! Eu preciso tomar banho já está em cima da hora! -Gritou desesperada correndo para o banheiro, na metade do caminhou voltou e pegou a toalha e seus materiais de higiene.

-É eu acho que você vai precisar disso. -Comentei tentando parar de bolar piadinhas para provocá-la.

Quando finalmente Sara estava pronta, ela estava também prestes a ter um ataque nervoso.

-Respira, é só um jogo e é só o James. - Falei calmamente, estava parada na porta do meu quarto tentando convencê-la a descer logo as escadas e encontrá-lo na sala de estar.

-Eu não posso, eu vou embora Lily, por que fazer isso? Pra que me arrumar, pra que me animar toda? - Ela me perguntava já entrando em pânico, suspirei ao ouvir aquilo e decidi que se não falasse o que pensava de sua situação com James talvez Sara nunca agisse. Fechei a porta e me sentei na cama ao seu lado.

-Eu sei que você vai embora, sei que pode achar que ficar com o James agora só vai dificultar ainda mais a sua partida, e não vou mentir, vai mesmo. Você vai ficar pensando em ficar aqui na Inglaterra mesmo e vai sofrer pra caramba quando tiver que dizer adeus.

A cada nova palavra minha, Sara só arregalava os olhos, ela não esperava que eu fosse tão sincera.

-Mas então, por que é que você vive me jogando pra cima dele?

-Pelo simples motivo que ninguém pode prever o que irá acontecer daqui a um ano, dois, não posso nem prever o que irá acontecer no próximo mês! Olha só pra mim Sara! Quando que eu iria adivinhar que no natal desse ano eu iria precisar de ajuda para abotoar meu casaco! - Respirei profundamente antes de continuar.

-O momento de ficar com ele é agora, você gosta dele, ele gosta de você e não há milhões de quilômetros separando vocês, nem uma escola de auror linha dura. Não há como saber o que vai te acontecer na Rússia, e se você conhecer alguém? E se ele conhecer alguém aqui? Não deixa de viver esse momento com medo de algo que ainda não aconteceu Sara!

Minha amiga me escutava sem esboçar reação alguma, esperei pacientemente até que ela pudesse me dizer algo.

-Eu não sei Lily, preciso pensar.

-Então pensa, você vai ver que dessa vez eu tenho razão.-

-Ele ainda não sabe. - Encarei minha amiga esperando que ela continuasse. - Ele ainda não sabe que eu já tomei minha decisão, eu já mandei meus documentos para a Rússia não há mais como voltar atrás.

-Você vai ter que contar pra ele, mas não precisa ser agora, nem daqui uma semana. Só tente aproveitar o tempo que pode ter com James, faça com que valha a pena. -A morena acenou com a cabeça, percebi a mudança em seu rosto e quando ela se levantou e se dirigiu até a porta parecia mais perigosa do que nunca.

Soube então que Sara Hale, a garota dos olhos de águia e expressão fria havia tomado sua decisão. Torcia fervorosamente pra que tivesse tomado a decisão correta.