Depois de colocar fogo na lata de lixo onde estava minha fantasia, fui resolver o problema pendente. Andei até o chalé 6, e, como de costume, entrei sem que ninguém me recepcionasse.
Já estivera no chalé de Atena incontáveis vezes, porém nunca deixava de me impressionar com as coisas que via. Camas perfeitamente arrumadas, chão lustrado, sapatos polidos... Era tudo milimetricamente planejado.
Avistei Annabeth sentada em sua beliche, arrumando papéis em suas respectivas pastas. Eram desenhos de edificios, esculturas, e ainda alguns projetos de Dédalo. Os documentos eram separados com muitos critérios, desde data, cor, espessura, até valiosidade. Sabia disso graças a uma tarde que decidi perguntar o que era tudo aquilo. Não recomendo.
- Eai, Sabidinha – Disse, apoiando-me.
- Eu amo quando você me chama assim – Ela murmurou, sorrindo e revirando os olhos.
- É claro, diferente de você, eu dou apelidos legais para as pessoas – Sacudi minha cabeça em razão. Ela riu.
- Diferente de você, eu não sou uma Cabeça de Alga – Todos os filhos de Atena seguraram o riso. Senti minhas bochechas enrubescerem.
- Ok, então eu suponho que alguém inteligente como você não queira dar um volta com o idiota aqui. Vou indo. Tchau para vocês! –  Acenei para todos de forma convencida. Dei passos ritimados até a porta, até que escutei um “Espere” baixinho vindo de dentro no chalé.
Fui reduzindo a velocidade, até eu e Annabeth ficamos lado a lado. Demos as mãos, e fomos andando até as montanhas de delimitavam a froteira do Acampamento.
- Sabia que você é um tremendo chatagista? – Ela soltou, depois de um tempo caminhando.
- Sei muito bem disso – Ri – E obrigado!
O dia estava quase se pondo quando sentei em uma pedra, virado para as outras montanhas, enquanto Annabeth deitou no chão rochoso.
Ela cobriu seus olhos com um lenço, para os proteger do sol que ainda restava. Observei alguns pássaros voando por dentre as árvores. Permanecemos daquela maneira por alguns minutos, até que eu reunir coragem para falar.
- Annabeth, eu quero falar com você – Disse. Ela emitiu um “hum” abafado, e eu me estiquei para arrancar uma flor  –  Primeiro gostaria de esclarecer por que estava com aquela menina mais cedo. Então, Travis tirou uma foto constrangedora minha, e, para que ele não colocasse na internet, tive que arranjar alguém para sair com ele. – Riu. Mesmo o som sendo abafado, ele saiu de forma perfeita.
- Depois quero ver a sua “foto constrangedora” – Annabeth falou entre o riso. O silêncio desconfortável voltou. Ele ficou por alguns intantes, até que fui insano o suficiente para quebrá-lo.
- Sabe aquele baile que as filhas de Afrodite estão preparando? – Murmurei a meia voz. Ela tirou o lenço alguns centimetros para que pudesse olhar para mim e balançou a cabeça afirmativamente. Eu fitava e remexia a flor, com medo de seus olhos cor de tempestade. – Então, eu queria que você fosse comigo.
Meu corção estava a mil, e nesse exato momento, o por-do-sol começou. Agradeci Apolo mentalmente.
- Oh, Percy, claro! – Annabeth sentou apoiada no chão, e um de seus dedos me tocava. Não pude deixar de notar como seu toque me acalmava.
Fui chegando mais perto até que nossos lábios se chocaram. No começo, foi um beijo calmo e apaixonado, mas depois, a medida que o sol se punha, ele ia se tornando mais forte e sedutor.
Deitei na grama molhada e puxei Annabeth para cima de mim. Minhas mãos teimavam em passar de sua cintura, mas meu bom senso não as deixava. Não iria destruir nossa juventude com decisões erradas.
Meus lábios ferviam pelo tempo em que ficamos naquela posição, somente curtindo um ao outro.
Mas então, algo inexperado aconteceu. Pelo jeito, nós tinhamos perdido a noção do tempo, por que já passara das 10 horas. O toque de recolher tinha soado mas nós estávamos muito longe do Acampamento, e não escutamos. As Harpias foram soltas. Assim que escutei o grito de umas delas, minha mão voou para meu bolso.
Destampei Contracorrente e me ajoelhei por trás de um arbusto, esperando o momento certo de atacar. Annabeth estava em meu lado, fazendo a mesma coisa. Assim que o primeiro monstro nos viu, chamou seus outros 2 companheiros. Avancei no flanco esquerdo da Harpia, lutando por alguns minutos. Atingi sua pata e a transformei em pó.
Faltavam somente duas, seria moleza. Pelo canto do olho, observei Annabeth lutando contra um monstro, e, distraído, fui pego pela terceira Harpia.
Ela foi esperta, me atingindo nas costas. Senti pressionando suas garras em minha coluna, me deixando a deriva.
Eu havia mergulhado no rio Estige e era indestrutítel agora. Porém, eu me cansava muito nas batalhas. Tonto, investi contra o monstro, porém ele desviou. Outra vez, senti sendo arranhado no braço. Lutei mais alguns minutos, mas o esforço estava me fazendo desmaiar. Que forma heróica de se morrer.
Pude sentir meus sentidos ficarem fracos. Em um momento, escutei uma voz em minha cabeça. “Percy, a água.” ela dizia. Então eu entendi. Poseidon estava me ajudando, apesar de tudo.
Me concentrei em reunir o máximo de meus poderes. Eu havia treinado alguns ataques novos, mas todos me esgotavam completamente. Decidi agir de forma rápida, pois cada vez que a Harpia me atacava, minhas forças iam acabando. Senti o mar se movendo em nossa direção, formando uma onda  gigantesca. Resisti por uns segundos, até que vi a água chegando.
Fiquei decepcionado. Talvez pelo meu estado fisico ou mental, meus poderes estavam fora de controle. Ao invez de uma tsunami, o que eu havia feito não passava de uma onda.
Tiva uma idéia repentina. Fiz com que o filete de água atingisse a mim, fazendo minhas forças aumentarem. Senti meu cansaço se esvaindo, até que fiquei completamente curado.
Com um golpe mortal, fiz a Harpia que estava confusa, se transformar em pó dourado.
Me recompuz e fui até Annabeth para ajudá-la com seus machucados. Nós voltamos para nossos chalés e nos despedimos rapidamente, antes que alguém nos ouvisse.