POV Thalia
- Não... – Sussurei depois de um minuto em silêncio – É impossível.
Liza McCartney, uma das caçadoras mais jovens e inexperientes assentiu, triste. Sua imagem, tremeluzida por causa da água, começava a se apagar.
- Me desculpe – Ela murmurou – Nenhuma de nós estáva preparada. Sarah morreu lutando, Thalia.
Minha garganta se fechou. Minha pernas perderam a força e eu sentei na beliche, escondendo o rosto com as mãos. Pude sentir que a mensagem de Íris não tinha se desfeito, portanto voltei a olhar para ela, enxugando a pesada lágrima que caía de meus olhos.
- E como Jane está? – Perguntei, minha voz saindo rouca.
- Ela fica dentro de sua barraca o dia inteiro, não sai nem para comer – Disse, sem demonstrar muitas emoções – Perder uma irmã nunca é bom.
Bufei, voltando a me concentrar em minha dor. O peso em meu peito era gigante demais para segurar por mais tempo. Eu não conseguiria me conter por nem mais um segundo, tinha que terminar a mensagem. Ninguém podia me ver chorando.
- Mande meus pêsames para Jane, e lhe diga que em dois dias eu estarei de volta a caçada – Sussurei, tentando ao máximo fazer minha voz sair – A pobre garota perdeu a irmã gêmea, deve estar terrível.
Liza assentiu, eu estiquei meu braço e passei ele sobre o vulto, transformando tudo em fumaça colorida.
Lentamente deitei a cabeça em meu travesseiro, embolando-me como um bebê e segurando os joelhos. Lágrimas grossas caiam de meus olhos, manchando a fronha de maquiagem. Eu soluçava aldosiamente, sem nem me importar se alguém podia escutar do lado de fora.
Sarah Krenzie foi minha amiga desde que eu entrei para as caçadoras. Nós éramos inseparáveis, contávamos tudo uma para a outra. Melhores amigas. Irmãs.
Lembranças felizes passavam pela minha mente. Nosso primeiro abraço, nossa primeira encrenca, quando nós ficamos a noite toda acordadas... E agora aquilo estava acabado. Nunca mais poderia olhar em seus olhos verdes planta, sentir seu aroma de jasmin, nem ao menos sorrir ao vê-la sendo atrapalhada.
Agora, tudo o que eu mais queria, era poder estar consolando e chorando junto de Jane, sua irmã. Era poder voltar a minha vida normal, sem Acampamento, sem meninos, sem Nico. Ignorei a dor que senti quando percebi como seria difícil me despedir do filho de Hades.
Eu o amava. Talvez não da mesma maneira em que amei Luke, era mais forte. Um amor de irmãos? Talvez sim, talvez não. Eu não sabia dizer.
E então, o peso em meu peito mudou. De uma dor angustiante, passou para um calor repentino. Imagens e sons que me lembravam Nico preencheram minha mente, e eu me senti em paz.
A dor da perda continuava ali, mas a sensação era diferente. Como se eu pudesse sentir sua presença.
Como se Sarah não tivesse morrido, somente... Não estava ali no momento.
Me levantei rapidamente, balançando a cabeça para afujentar os pensamentos. Cruzei os braços no peito e fui andando lentamente até o banheiro, para me certificar que não tinha desidratado ou algo assim. Olheiras profundas e roxas pregavam em bolsas embaixo de meus olhos, meu cabelo estava totalmente desarrumado e minha maquiagem havia saído completamente.
Lavei o rosto e me troquei, colocando uma calça de moletom e uma blusa do acampamento. Calcei minhas botas e saí para dar uma volta.
Andei por algum tempo, sentindo o vento gelado em meu rosto úmido. Os pelos de meu braço se arrepiavam, mas eu os ignorava. Sentei no piér da praia, observando o pôr-do-sol perfeito que Apolo fazia.
O cheiro de maresia lembrava-me de minha mãe. Apesar de nunca ter adimitido, ela adorava o mar. Eu sentia sua falta, as vezes. Nossa convivência não era fácil, mas eu a amava, muito. Apesar de ter fugido de casa por causa dela, ás vezes eu a ligava e nós trocávamos algumas palavras.
Rolei os olhos, bufando e encostando a cabeça na madeira. Fiquei ali, observando o mar calmo e as gaivotas por um bom tempo. Ninguém parecia sentir minha falta nas atividades, portanto não me incomodei em aparecer por lá.
- Eai, Para-raios – Uma pessoa falou, se sentando ao meu lado.
Pulei de susto e ele riu, colocando os pés para fora do píer, deixando-os balançando.
- Di Ângelo – Murmurei baixinho, sem ter certeza se minha voz sairia normal – O que faz aqui?
- Eu vi uma certa filha de Zeus e decidi deixá-la feliz com minha companhia – Nico sorriu com todos os dentes, olhando em meus olhos. Forçei um sorriso, sem muito sucesso.
- Nada pode me fazer feliz agora, Nico – Suspirei – Nada.
Ignorei como era estranho pronunciar seu nome ao invés de “Di Ângelo”, e ele pareceu perceber também.
O garoto se aproximou de mim, e me abraçou. Apoiou minha cabeça em seu ombro e ficou me segurando por um bom tempo, até que eu não aguentei e deixei uma lágrima molhar sua camiseta.
- O que houve, Thalia? – Ele sussurou em meu ouvido, fazendo uma corrente elétrica passar por minha espinha – Quem te deixou assim?
Segurei sua blusa com força e prensei meu rosto contra seu peitoral, obrigando as lágrimas não saírem. Se fosse qualquer outra pessoa, até mesmo Annabeth, eu não contaria. Mas eu senti que podia confiar nele, afinal ele já havia perdido Bianca. Engoli o choro e me afastei para olhar em seus olhos.
- Sarah, minha amiga caçadora – Murmurei, lutando contra minha voz – Ela morreu.
O filho de Hades pareceu entender tudo, e me abraçou com mais força. Ele sussurava palavras de apoio em meu ouvido, enquanto eu encharcava seu ombro com minhas lágrimas.
- Eu vou sempre estar aqui, ok? – Ele disse – Você pode contar comigo para tudo, Pinheirinho.
Sorri involuntariamente, voltando a olhar em seus olhos. Eles eram misteriosos, urgentes, mas me deixavam completamente calma.
Nós nos aproximamos lentamente. Nico colocou as mãos firmes em minha nuca, e eu me apoiei com os braços no chão do piér. Nossos rostos estávam a centímetros de distância, e eu podia sentir seu hálito quente. Embaralhado a isso, o odor de sua pele era extremamente fresca, como hortelã. Ao mesmo tempo eu podia sentir o cheiro de madeira e baunilha. Era aconchegante.
- Você não vai me dar um choque como da última vez, vai? – Ele perguntou, sorrindo torto.
- Não sei – Murmurei, mordendo o lábio inferior. Ele riu.
Nico revirou os olhos e finalmente cortou a distância entre nós, selando nossos lábios. O beijo, diferentemente do que eu imaginava, era calmo e... Apaixonado. Nós nos movimentávamos em sincronia, cada vez chegando mais perto. Coloquei minha mão em sua nuca, e ele passou as suas para minha cintura.
De repente, nosso beijo ficou mais forte. Era como se, mesmo estando completamente grudados, não fosse o bastante. Nico pressionou mais ainda seus lábios contra os meus, e eu retribui. Aquele momento, eu esqueci de tudo. Esqueci de Sarah, esqueci das caçadoras, esqueci do minha dor... Esqueci quem eu era.
Na verdade, eu cheguei a não perceber quando uma chuva fina começou a cair, nos molhando superficialmente. Eu ri baixinho, nos separando por um segundo para olhar novamente em seus olhos. Ele sorriu, ofegando por ar. Dei um leve choque em sua nuca, que fez seus pelos arrepiarem.
Nico levantou e me puxou para cima, segurando-me em seus braços novamente. Nós retomamos o beijo calmamente, enquanto a chuva ficava cada vez mais forte, e o mar, mais brabo. Joguei meus dois braços em seu pescoço, e ele me girou.
Nos separou lentamente e continuou com os olhos fechados. Havia pingos de chuva por todo o seu rosto, caindo da ponta de seu nariz e queixo.
- Eu acho que sua decisão de ser só minha amiga não deu muito certo – Murmurou, abrindo os olhos e sorrindo de lado.