Possessão escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 9
Capítulo 9




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O assunto naquele colégio era o mesmo: a seqüência de eventos ruins que estava acontecendo em tão poucos dias. Um professor teve a mão ferida pela explosão de um celular, uma garota caiu misteriosamente torcendo o pé e quebrando um braço, outra garota teve o rosto retalhado por estilhaços de vidro vindos de uma janela que quebrara sem nenhum motivo e por último aquele acidente esquisito de carro que quase matou o assistente do técnico do time de futebol do colégio. O que mais faltava acontecer?

Bianca ouvia tudo tentando ocultar a satisfação. Quem diria que assombrar um colégio poderia ser tão divertido? No dia anterior, ela teve a agradável surpresa de descobrir que podia mudar a forma do seu corpo, criando uma ilusão que a fazia parecer como ela era, quando estava viva. Dava para mudar até as roupas. Aquilo foi perfeito para que ela pudesse ir à escola de tarde e falar com Titi sem levantar suspeitas.

O barulho do carro batendo atraiu a atenção de outras pessoas e Titi acabou sendo socorrido rapidamente, para seu desapontamento. Aquilo era para matar. Paciência. Se no futuro for necessário, ela não se importaria em dar um jeito nele depois.

– Rapaz, que cara é essa? Deixa eu adivinhar: é a Mônica, não é?
– Fala sério! Até agora eu tô bolado por causa de ontem!

No dia anterior, antes de receberem a notícia do acidente, Mônica tinha aparecido no treino. Enquanto esperavam pelo Titi, ela conversava com Toni animadamente e ele até tinha dado alguns beijos na mão dela.

O Cascão teve trabalho para segurar o Cebola antes que ele partisse para cima do Toni e iniciasse uma briga. Seu amigo espumava de raiva e foi preciso que ele junto com o Xaveco o tirasse dali para ajudá-lo a se acalmar.

– Poxa... até eu fiquei sem entender nada!
– Pois eu tô entendendo tudo! Parece que ela quer pegar pesado, né? Então eu vou pegar pesado também!
– Ih...

Sentado num canto, sem dizer nada e nem conversar com ninguém, DC ia fazendo algumas anotações em um caderno, tentando encontrar um ponto comum em todos aqueles eventos estranhos. Aparentemente um não tinha nada a ver com o outro. Ou tinha? Pelo que ele se lembrava, a Mônica estava presente em todos. Mesmo no acidente do Titi, ela estava na escola. Tirando isso, ele não viu nenhuma relação. Havia algo ali escondido que ele precisava descobrir rapidamente.

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Naquele dia, apesar da tragédia, as aulas transcorreram como sempre a terceira aula foi de educação artística, para a alegria de Bianca. Finalmente uma aula agradável!

– Hoje vocês estão livres para pintar o que quiserem. – a professora começou. – usem a criatividade e não tenham medo. Não existem trabalhos errados. E divirtam-se!

Imediatamente ela começou a pintar, coisa que não fazia há mais de cem anos e logo ficou totalmente absorvida pelo que estava fazendo. Era um cenário familiar há muito tempo esquecido. Um homem sentado em uma sala luxuosa fumando cachimbo e lendo o pasquim semanal e uma mulher sentada numa cadeira a sua frente fazendo bordados. No chão, uma menina brincava com uma boneca de porcelana. Que saudades!

Todas as noites, depois do jantar seus pais iam para a sala de estar da casa. Seu pai lia algum livro, ou então o pasquim da cidade, às vezes uma revista... sua mãe fazia crochê ou bordados e ela brincava com sua boneca preferida, importada da França. Depois, ela recebia um beijo de boa noite da mãe, tomava a benção do pai e uma criada a levava para dormir. Se fosse tempo de frio, a criada lhe trazia uma caneca de leite queimado, que ela adorava.

Então ela se aconchegava debaixo das cobertas macias e dormia como um anjo, sem nenhum tipo de medo ou preocupação. Sua vida era tão boa!

– Nossa, que lindo Mônica! – Marina elogiou ao ver a bela pintura tomando forma.
– Obrigada.

As outras meninas também ficaram impressionadas. Desde quando Mônica sabia pintar daquele jeito? E os detalhes da pintura, as cores, o jogo de luz e sombra, o estilo... Marina sabia que uma pessoa só aprendia aquilo fazendo um bom curso de pintura, coisa que Mônica nunca fez antes. Que estranho...

“Hum... eu preciso de um amarelo mais claro... onde tem?”

Ela saiu de frente da tela por alguns instantes procurando a cor desejada e Carmen aproveitou esse tempo para olhar sua pintura. Como ela tinha conseguido fazer um quadro como aquele?

– Carmen, cuidado!
– Ai... foi sem querer...

Bianca teve que usar todo o seu auto controle para não explodir naquela hora. Aquela cretina tinha quase estragado seu quadro! Havia poucos respingos de tinta azul e ela sabia que podia consertar aquilo facilmente. Ainda assim, Bianca decidiu que estava na hora de Carmen receber uma lição. Tentar estragar uma pintura dela com sua família era imperdoável.

Sem se alterar, ela continuou pintando até o fim da aula, quando o quadro ficou pronto. Os outros alunos não conseguiam acreditar que Carmen tinha aprontado com a Mônica e saído viva. A professora ficou muito admirada com o trabalho da Mônica e lhe sugeriu deixar o quadro ali por uns dois ou três dias para que a tinta secasse bem, o que a moça aceitou de bom grado. Seria um desastre estragar aquela pintura tão linda.

– Ainda bem que você conseguiu consertar, ficou muito bonito!
– Não foi grande coisa, ainda bem.

DC olhava de longe, observando cada gesto da Mônica. Engraçado... por que ela olhava para aquele quadro com um rosto tão triste? Foi rápido e ela logo se recompôs, mas ele percebeu aquilo. Muito curioso...

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Hora do recreio. A sala de artes estava vazia, embora tivessem deixado a porta destrancada. Nunca tiveram motivo para trancá-la. Carmen tomou muito cuidado para despistar as amigas. Somente Denise sabia onde ela tinha ido e estava lhe dando cobertura. Se alguém perguntasse alguma coisa, as duas estavam na biblioteca procurando um livro.

“Aqui está! Agora eu vou mostrar para essa dentuça quem é que manda!” seu alvo era o quadro que Mônica tinha pintado na aula anterior. A tinta ainda parecia fresca e Carmen pensava em uma forma de estragar aquela pintura. Ninguém ia ofuscá-la naquele colégio!

Não precisou procurar muito para ela achar um tubo de tinta vermelha. Aquilo ia fazer um estrago irreversível no quadro da Mônica! Bastava tomar cuidado para não deixar a tinta cair em sua roupa caríssima que tudo ficaria bem.

Carmen ficou na frente do quadro, abrindo o tubo de tinta e se preparando para seu pequeno ato de vandalismo quando outra sombra surgiu na parede, indicando que havia alguém atrás dela. Seu coração disparou e ela virou-se tentando pensar em uma boa desculpa para estar ali. Uma pancada muito forte atingiu seu rosto, fazendo-a cair no chão.

Antes que ela pudesse pensar no que estava acontecendo, uma mão a segurou pelos cabelos, levantando-a do chão com uma força incrível e fez com que ela batesse o rosto na parede várias vezes.

A pessoa lhe desferiu vários socos nas costas e costelas enquanto forçava seu rosto contra a parede de forma que ela não pudesse enxergar o que estava acontecendo.

O sangue jorrava do seu rosto e no seu nariz e seus olhos já estavam inchados, de forma que ela não conseguia ver mais nada. Ela tentava gritar para pedir socorro, mas sua voz não saia. Era como se algo estrangulasse sua garganta.

Bianca a espancava furiosamente, lhe dando chutes, socos e com suas unhas, ela fez vários arranhões no rosto de Carmen para acabar com aquela beleza que lhe irritava. Ela só parou ao ver que sua rival não se mexia mais. Sua vingança estava quase completa.

“Então você queria destruir meu quadro com tinta? Bem... acho que vou te mostrar o que é destruição!”

Ela pegou uma lata de tinta a óleo e despejou tudo nos cabelos de Carmen, certa de que aquilo não ia sair nunca mais e por isso ela seria forçada a raspar os cabelos. Não podia haver vingança mais perfeita. Terminado tudo, ela saiu dali rapidamente antes que suas amigas dessem pela sua falta.

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– Nossa, Mô, tava tudo bem? Você demorou aí no banheiro!
– Agora estou melhor. Acho que alguma coisa não me caiu bem...
– Melhor tomar cuidado com o que come. Comida é coisa séria!

Magali, Marina e Isabela estavam esperando por ela na saída do banheiro e nenhuma delas reparou direito na moça de cabelos compridos que havia saído e entrado novamente. Aquelas três dariam um álibi perfeito!

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“Que coisa... por que a Carmen tá demorando tanto?” Denise estranhou aquela demora. Sua amiga tinha lhe assegurado que faria tudo rapidamente, por isso ela concordou em lhe esperar na biblioteca. O recreio estava acabando e nada da Carmen aparecer. “Será que ela me esqueceu aqui? Ah, não! Se ela fez isso, eu vou querer aqueles sapatos alem do vestido!”

Carmen tinha lhe prometido um belo vestido de grife que Denise tinha adorado em troca daquela ajuda. Caso contrário, Denise nunca teria concordado. O sinal tocou, indicando o fim do recreio e ela não teve outra escolha a não ser sair dali e ir para a sala. Talvez Carmen já tivesse ido para lá.

Não, não tinha. Ela olhava em volta procurando pela Carmen e não tinha sinal dela em lugar nenhum. “E agora? Ai, que coisa! Aquela Carmen vai me colocar numa encrenca danada!”

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Ela foi apressadamente para a sala de artes para a próxima aula. Era bom ir preparando as coisas antes que os alunos chegassem. Ao abrir a porta, a primeira coisa que ela viu foi alguns respingos vermelhos no chão.

“Bando de bagunceiros!” ela pensou achando que era tinta vermelha. Então seus olhos voltaram para a parede que tinha uma mancha enorme que não parecia tinta. Olhando para baixo, seu corpo tremeu e um grito histérico ecoou pela escola.

A professora saiu correndo e gritando pelos corredores, pedindo socorro e falando frases sem sentido. Os alunos saíram das salas, vários professores apareceram e até o segurança foi chamado por causa da bagunça.
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Alguns policiais tentavam conter a multidão de curiosos enquanto os paramédicos tiravam a moça da sala, de maca. Foi preciso usar um colar cervical em seu pescoço e os ferimentos do seu rosto estavam tão feios que eles resolveram cobri-la com um lençol, o que levou muitos a pensarem que ela estivesse morta.

Deu muito trabalho para fazer com que a professora acalmasse um pouco e pudesse contar o que tinha acontecido e mesmo assim ela não parava de chorar. A cena era chocante demais e ia levar muito tempo até que ela esquecesse daquela visão da moça estirada no chão, com o rosto ensangüentado e retalhado. Alguém tinha jogado tinta a óleo nos seus cabelos e havia muitos hematomas em seu corpo.

As outras meninas também estavam em choque com o que tinha acontecido e algumas até choravam. Carmen era uma pessoa difícil, mas ainda era a amiga delas. Só Bianca estava feliz com aquilo tudo e adorando o impacto que aquilo teve nas outras pessoas. Foi tão engraçado ver o medo e o choque nas pessoas! Talvez aquele tipo de situação as fizesse lembrar de como a vida era frágil.

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D. Morte acompanhava os fatos sentindo-se muito mal por ter permitido que Bianca agisse livremente. Ela sabia que não podia interferir nas escolhas dos outros, mas aquela situação estava ficando perigosa. Em pouco tempo ela tinha ferido várias pessoas, uma delas gravemente.

O problema era que uma vez que ela deixou aquilo começar, não podia mais interferir no curso natural das coisas. Somente os humanos podiam intervir naquela situação, o que era desanimador já que os amigos de Mônica não faziam a menor idéia do que tinha acontecido com sua amiga. Se eles ao menos descobrissem a verdade, talvez ela pudesse dar um jeito de ajudar.

– D. Morte, aquela garota vai morrer?
– Não, Penadinho. Não é a hora dela.
– Mas ela vai ficar com o rosto deformado e um grande trauma, coitada.
– Sei disso. Verei o que eu posso fazer por ela. Por enquanto, é Bianca quem me preocupa. Ela está atacando qualquer pessoa que a contrarie e isso não é bom.

Ela não quis falar para o amigo que a situação era mais grave do que parecia. Bianca tinha sentido prazer em espancar e torturar Carmen e seu medo era de que ela não parasse por aí.


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