Possessão escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Que coisa... acabei pulando um capítulo sem querer. Acabei de arrumar, foi mal o descuido!



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– Mônica, anda logo senão você vai se atrasar.
– Sim senhora, mãe. Eu já estou indo!
– Hã? – Luiza estranhou. Que linguajar era aquele?

Ela voltou a olhar para o armário, tentando escolher algo aceitável para vestir. Aquelas saias eram muito curtas e calça comprida era roupa de homem. Não haveria por ali nada que uma moça de boa família pudesse usar?

Sua mãe, ou melhor, a mãe da antiga proprietária daquele corpo a chamou novamente e Bianca não teve outra escolha a não ser escolher o vestido mais comprido que ela tinha encontrado no armário. Ainda assim, aquilo só chegava até os joelhos. Será que as pessoas perderam o bom senso?

Com a luz do dia ela pode ver melhor seu novo corpo e ainda estava se acostumando com ele. Os dentes a incomodavam e ela tinha medo de acabar mordendo a língua. E aqueles cabelos tão curtos? Não dava para fazer nenhum penteado com eles. Tudo bem. Com o tempo ela os deixaria crescer. E se fosse possível dar um jeito naqueles dentes, seu corpo ia ficar muito bonito e agradável, embora não tão perfeito quanto o seu era.

Ao chegar à cozinha, ela viu a mãe da Mônica preparando o café e o pai dela sentado a mesa, lendo jornal. Eles não tinham nada a ver com seus antigos pais, mas ainda assim sabia que deveria tratá-los como tal para não levantar suspeitas.

– Nossa, filha, que demora! Está tudo bem?
– Sim senhora, está tudo bem. A benção, meu pai.

Souza teve um sobressalto.

– Quê? Você está doente?
– Por quê?

Os dois ficaram olhando para ela, desconsertados. Sua filha nunca foi tão cheia de modos.

– Bom, melhor tomar seu café antes que perca a hora.
– Sim senhora.

Ela sentou-se a mesa delicadamente, conforme tinha sido ensinada nas aulas de etiqueta, pegou um guardanapo e colocou em seu colo. Depois foi se servindo de café com leite e pão. Que pão diferente aquele! E era gostoso! Ela até tinha esquecido de como era a sensação de comer e sentir o sabor da comida. Era muito bom ter um corpo novamente.

Luiza e Souza ficaram olhando para a filha, que parecia outra pessoa.

Após o café, seu pai achou melhor levá-la para a escola de carro para que ela não se atrasasse.

– Chegamos. Juízo, heim?
– Sim, meu pai. Até mais tarde.

“Agora eu fiquei confuso!” ele pensou antes de dar partida no carro. Por acaso algum invasor de corpos teria dominado sua filha?

Bianca andava entre os alunos, fascinada e empolgada com tudo. Ela não era mais uma sombra invisível, chorosa e maltrapilha, nada disso! Agora ela era uma adolescente como qualquer outra. Viva, com um coração pulsante e ansiosa por novas descobertas. Dentro de um corpo vivo, tudo ficava diferente. As cores, os sons, cheiros e várias outras sensações das quais ela nem se lembrava mais. E onde estaria o seu amado? Ela mal podia esperar para encontrá-lo e ouvir seus galanteios.

– Ei, Mô! Tudo bem? Mô? Mônica!

Levou algum tempo até que Bianca entendesse que estavam falando com ela. “Ah, sim... eu esqueci que meu nome agora é Mônica.”

– Me desculpe, eu estava distraída.
– Tranqüilo. Hã... Tá tudo bem com você? – Magali a olhou de cima em baixo e notou que alguma coisa ali não estava se encaixando.
– Não há nada de errado comigo, querida. Eu estou muito bem.
– “Querida”?
– Por acaso você não viu o Toni por aí?
– Heim? O que você quer com ele?
– Um assunto particular. Então, onde ele está?
– Deve ter ido pra sala, eu acho. Melhor a gente ir também.

Enquanto elas andavam, Magali não pode deixar de notar que havia algo errado com a Mônica. Sua postura, o jeito de falar, de andar... aquilo definitivamente não tinha nada a ver com sua amiga. E aquele vestido? Ela sempre pensou que a Mônica não gostasse daquele vestido, que era meio comprido e careta.

Quando entrou na sala, seu coração começou a bater mais rápido ao ver Toni conversando com alguns rapazes. E daquela vez era um coração de verdade, não apenas uma sensação vaga em seu peito. Ele logo notou sua presença, para sua alegria.

– Oi, minha princesa, como vai?
– Olá, meu príncipe.

Ele ficou sem fala e Magali mal pode acreditar no que tinha ouvido.

– Er... nossa, como você está linda!
– Obrigada, querido. Você também está ótimo hoje.

Mais uma vez, ele ficou olhando para ela de boca aberta. Era impressão sua ou a Mônica estava lhe dando bola? Sua alegria durou pouco porque o Cebola tinha aparecido na hora errada, como sempre. E com a cara mais feia do mundo.

– Aê, que presepada é essa aqui?
– Com licença, eu estou conversando com o cavalheiro.
– Cuméquié? Ô Mônica, sou eu, lembra? O Ce-bo-la!
– Ah, sim, eu me lembro. Seu apelido até que é simpático, mas eu estou ocupada agora.
– Peraí, que negócio é esse?

Eles não puderam falar mais porque o professor Licurgo tinha chegado na sala de aula. E para deixar o rapaz ainda mais confuso, ela foi se sentar perto de Toni, cheia de sorrisos para ele.

– Ô Cebola, o que a Mônica tá fazendo perto do Tonhão ali?
– Cara, eu não faço a menor idéia!
– Gente, ela tá muito estranha hoje, nem parece ser a Mônica, credo!
– Silêncio todos vocês! Agora vão fazer uma redação com 500 palavras. O tema é: o que fazer quando o seu corpo é tomado por uma entidade sobrenatural?
– Ai, não...

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– E aí, princesa, que tal um cineminha?
– Ótima idéia!
– Sério? – ele estava tão acostumado a levar uma negativa que mal podia acreditar que ela finalmente tinha aceitado seu convite. – beleza! Nesse sábado a gente pode ir ao shopping, pegar um cinema, comer alguma coisa...
– Perfeito. Mal posso esperar.
– Então eu posso te buscar em casa às quatro da tarde?
– Claro que sim!
– Combinado!

Ele saiu dali quase pulando e alegria e Magali ficou pasma com tudo aquilo. O que tinha dado na Mônica?

– Mô, o que deu em você?
– Por que todo mundo insiste em dizer que há algo de errado comigo?
– Porque há, ora essa! Você tá aí se derretendo toda pro Toni e ignorando o Cebola!
– Talvez eu prefira o Toni. O que há de errado nisso?
– Nada, se não fosse sua história com o Cebola.

Bianca se esforçou para manter a paciência. Ela tinha esquecido de que Mônica tinha amigos e que eles poderiam estranhar sua mudança súbita. E o que mais ela podia fazer? Cebola não era seu amado, então não fazia sentido nenhum ficar com ele.

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– Pô, cara, fica assim não!
– E você quer que eu fique de que jeito? Viu como a Mônica tá dando a maior bola pro Tonhão?
– Fala aí, por acaso você andou aprontando alguma coisa com ela?
– EU?
– É. Sei lá, vai ver você andou dando bolo, pisando na bola ou xavecou outra menina na frente dela...
– Eu não fiz nada, cabeção! Tava tudo tranqüilo entre a gente!
– Então eu não entendo.
– Nem eu. Acho que tá na hora de ter uma conversa com ela!
– Então melhor se apressar. A Magá falou que o Tonhão andou convidando ela para um cinema nesse sábado.
– O QUÊ? E ela aceitou?
– Pois é.
– Eu... eu não acledito, isso é... é... um absuldo!

Cebola começou a andar de um lado para outro, falando sem parar e trocando as letras. O que tinha dado na Mônica assim tão de repente? Após pensar muito, ele só conseguiu encontrar uma explicação lógica.

– Como eu não pensei nisso antes? Agora eu tô sacando qual é a dela.
– E o que é?
– Não tá vendo? A Mônica tá tentando fazer ciúme em mim de novo, que nem da outra vez!
– Ah, fala sério!
– Não tem outra explicação, cara! Vai ver ela tá achando que dar bola pro Tonhão na minha frente vai me fazer pedir ela em namoro outra vez.
– Vixe...
– Ah, só que dessa vez não vai ter pra ela não! Eu tô mais do que vacinado! Se a Mônica pensa que pode ficar me forçando desse jeito, ela tá muito enganada!
– E o que você pretende fazer?
– Entrar no jogo dela. Fingir que não tô nem ligando. Aí ela vai acabar perdendo a graça e correr atrás de mim toda arrependida.

A idéia era perfeita. Talvez ele até resolvesse sair com alguma outra menina, por que não? Naquele jogo, dois podiam brincar.

– Ih, eu acho que isso não vai dar certo.
– Larga de ser agourento! Não tem como dar errado, é muito simples! Quando ela ver que eu não vou ficar correndo atrás e nem armando barraco por causa dela, a Mônica vai largar tudo e vir correndo atrás de mim. Aí o plano dela vai falhar e... e... – um sorriso enorme surgiu na boca dele. – aí eu vou acabar derrotando a Mônica, já pensou?
– ... – Cascão ficou olhando para o amigo com a cara abobada. Ver a Mônica dando bola para outro rapaz pareceu ter mexido com a cabeça dele.
– Pensa comigo: ela fez um plano para me dobrar e fazer com que eu a peça em namoro. Só que esse plano vai falhar e no fim será ela quem vai correr atrás de mim. Então eu terei vencido! Não é demais?
– Aham. Se você diz...
– Vai ser perfeito! Então, depois de um tempo ignorando, virando a cara e me fazendo de difícil, eu finalmente vou facilitar para ela e lhe dar outra chance. Aí eu posso até começar o namoro por cima! Hahahaha! Eu sou um gênio!

Cascão apenas ouvia tudo com o seu ceticismo de sempre. Por quanto tempo o Cebola ia agüentar ver a Mônica com outro rapaz sem arrancar os cabelos e bater com a cabeça na parede? Essa ele pagava para ver.


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