Ironias do Amor escrita por Tortuguita


Capítulo 8
Gotas de Aversão


Notas iniciais do capítulo

Esse foi um dos capítulos que mais me diverti escrevendo, é o primeiro no ponto de vista do Ricardo, espero que agrade vocês. Não se esqueçam de comentar e falando nisso quero agradecer a todos que estão apoiando e dizer que vocês têm me motivado muito a continuar ♥
Boa leitura! :*



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Ricardo Branson

“A juventude é uma fase da vida que passa sem que você note”

Ouvi meu avô repetir essa frase tantas vezes e em nenhuma delas dei a devida importância, porém hoje sei que ele tinha toda a razão, como os avós sempre têm. O tempo passa rápido, as horas correm, os dias terminam sem que a gente sequer note. Parece que foi ontem o primeiro dia de faculdade, quando na verdade já se completaram anos depois disso.

Eu mal conseguia ouvir meus pensamentos visto que Jean e sua mania de falar gritando estavam fazendo minha cabeça latejar. Cansado de tentar ignora-lo, passei a ouvir o que ele gesticulava. Estava descrevendo uma garota irritante da faculdade de direito que ele ficou ontem – e eu no mês passado – para Matheus, Tiago e Bruno que ouviam atentamente. Não, nós não somos o tipo de melhores amigos que fica compartilhando garotas, só que temos o mesmo grupo de amigos e essas coisas as vezes acontecem.

– Por falar em garotas, vocês bem que podiam apresentar aquelas beldades que estavam com vocês hoje de manhã. – Bruno proferiu com uma expressão sugestiva, que me irritou de certa forma.

– Não te quero na minha família e Melanie é gentil demais para você.

– Ah, eu já tentei algo com a Melanie, eu conheci ela no curso de inglês, mas ela não deu ideia para mim. – Em seu rosto não se encontrava nenhuma gota de desapontamento, ele apenas deixou escapar um sorriso canalha. – E a loira?

– É chata e irritante. Você está melhor sem conhecê-la, acredite. – Peguei o telefone para verificar se tinha mensagem, na verdade queria de alguma forma colocar um fim naquela conversa.

– Ela é linda, compensa. – Eu o encarei, ele parecia deliciar-se com algum pensamento obscuro que sinceramente nem quero saber a respeito.

– Então se apresente você mesmo. – Meu tom de voz se alterou e ele certamente percebeu que eu não estava a fim de continuar aquela conversa. Levantei-me sacudindo a roupa para tirar qualquer vestígio da grama.

– Ricardo! – A voz esganiçada de Diana fez meus tímpanos vibrarem – Estava te procurando faz tempo! – Ela disse com a boca marcada com um batom escarlate bem próxima ao meu ouvido, enquanto seus braços contornaram meu pescoço. Será que ela conseguiria ser mais vulgar se tentasse? – A professora não vem – Ela contou. A tentativa de fazer aquilo soar sedutor era evidente, se não fosse uma noticia tão boa eu comentaria esse infortúnio. Não era sedutor, era irritante e vulgar.

Retirei os braços da ruiva do meu pescoço e ela pareceu um pouco ressentida, mas não tentou avançar outra vez. Infelizmente, como ela não toma vergonha na cara, não ia demorar nem dez minutos para começar a me encher o saco de novo. Era certo, hoje eu não estou de bom humor, normalmente conseguia aturar Diana por algumas horas.

Jean comemorou e me arrastou para a minha casa que pelos vistos ele também considerava dele. As Super Poderosas infelizmente estavam lá e minha irmã passou a tarde inteira torrando meu saco para molhar as malditas plantas da mamãe.

– Emily, por favor, dorme aqui – Ouvi Julia pedindo para a insuportável. Torci para que ela dissesse que não e meu desejo foi realizado – A Mel vai ficar Ju, eu venho amanhã, prometo. – Minha irmã parecia decepcionada. Eu não.

– Quero você aqui às sete da manhã – Eu parei de mexer meu café para olha-las. Emily arregalou os olhos ligeiramente em uma de suas feições típicas. Era incrível como ela conseguia continuar bonitinha mesmo com aquela careta de mongoloide. – Tá bom, não precisa ser tão cedo, – Minha irmã é psicopata – mas vem antes do almoço, vamos comer Pizza.

– Almoço à Americanos? – Ela questionou risonha e dessa vez eu não resisti.

– Lá no seu planeta não comiam Pizza? – Ela me encarou com os olhos banhados pelo ódio costumeiro. Cada vez que eu dirijo à palavra a garota eu sinto que ela me odiava um pouquinho mais. Pode parecer estranho, mas irrita-la me agradava de uma maneira indescritível.

– Eu nem vou perder tempo formulando uma resposta para você.

– Já pensou em pintar o cabelo? – Ela ficou vermelha e me lançou mais um de seus olhares de ódio.

– Você já foi perguntar se alguém quer comprar ele ali naquela loja de animais? – Ela disse para Julia. Eu ia retrucar, mas Melanie me interrompeu.

– Meninas, olha aqui, recebi uma pergunta anônima naquele site idiota. Eu estava achando que dessa vez seria algo legal e a merda da pergunta foi: “Se você visse um macaco correndo em sua direção, o que você faria?” – A morena verbalizou em tom divertido, ela estava sentada ao lado de Jean com o computador no colo enquanto o garoto se divertia jogando na minha Playstation. – Esse site realmente não presta para nada.

– Diz que você ia gritar: “Ricardo volta para a jaula!” – A loira idiota proferiu olhando diretamente para mim, os lábios rosados torcidos num meio sorriso que pela primeira vez me deu vontade de arranca-lo dali a força. Não era só eu que conseguia irrita-la, ela também fazia tal proeza, as vezes me tirava totalmente do serio.

Varias risadas se propagaram e eu até admito que tenha sido uma boa afronta, não foi propriamente engraçado, mas foi genuíno. Limitei-me a dar a ela um dos meus melhores sorrisos, se respondesse brigaríamos para sempre, então era melhor parar por ali, era fácil sair por cima na situação, de qualquer forma.

Aproximei-me perigosamente e a loira se alarmou como já era de se esperar, eu sorri ainda mais por isso e fiz questão de manter o olhar determinado, focado nos belos olhos verdes, era tão fácil intimida-la. Passei por ela fazendo questão de esbarrar meu corpo contra o seu. Emily apenas desviou ligeiramente, fingindo não se importar.

Fechei a porta atrás de mim ainda com um sorriso, tinha que molhar todas as plantas antes que Julia desse outro de seus pitis.

(...)

Acabei por me distrair com a música alta e me surpreendi quando notei a presença de Emily ali fora, ela estava parada ao meu lado e batia o pé incansavelmente no chão. Retirei os fones do ouvido enquanto observava a garota por alguns segundos até notar que ela queria sair e eu estava em frente ao portão. Era notória sua impaciência, devia estar ali há algum tempo, mas eu não me movi um milímetro sequer.

– Eu sei que eu sou lindo, mas fica meio constrangedor se você não disfarçar sua admiração. – Eu tinha certeza que faltava pouco para ela me atacar.

– Escuta aqui seu projeto de ameba... – Avançou.

– Seu o que? – Não deixei que terminasse a frase. Interrompi com um tom categoricamente ameaçador, me virando completamente para ela.

Emily se calou e recuou um passo, seus olhos ficaram confusos. Grande erro, um erro que só me deu confiança. Mantive meu olhar perigoso sobre ela. – Se eu fosse você não voltaria a repetir isso.

– Por que não? Você vai fazer o que? – Ela empinou o nariz me provocando novamente. – Vai me bater?

– É muito inteligente de sua parte desafiar alguém com uma mangueira nas mãos. – Depois de expor minha nobre ameaça a primeira coisa que ouvi foi uma risada abafada.

– Você não é louco – murmurou se aproximando e atravessou pelo meu lado esquerdo – Se você me der licença, eu tenho mais o que fazer.

Eu não sei se ela ia dizer mais alguma coisa, não esperei para saber, apenas levantei a mangueira em sua direção e o jato atingiu as costas da loira. Ela deu um grito abafado com o susto e se virou para mim, acabando por se molhar ainda mais.

No fundo me deu pena.

Claro, a quem eu quero enganar? Eu não estava com pena nenhuma, na verdade estava muito satisfeito com a cara de assassina, os cabelos dourados escorrendo água e a roupa ensopada grudada no corpo revelando curvas perfeitas que eu ainda não tinha notado. Por um instante o desejo de que aquela blusa fosse branca passou pela minha mente. Infelizmente ela escolheu a cor errada naquele dia, blusas vermelhas não ficam transparentes com a água.

– Eu não acredito que você fez isso. – Aquele sussurro foi mais para ela do que para mim.

Ela estremeceu e acabei tendo um pouco de compaixão. Fechei a mangueira e a joguei sob o gramado. Emily decidiu não me enfrentar mais por hoje, atravessou o portão de ferro em silencio, abraçada ao seu próprio corpo na tentativa inútil de se aquecer.

Apressei-me para acompanha-la, e fiz com que parasse segurando-a pelo braço. Inexplicavelmente ela não tentou lutar para se soltar, mas seu olhar demonstrava seu descontentamento.

Tirei a minha camisa e indiquei a peça de roupa a ela, que ignorou tentando seguir seu caminho, mas eu a impedi novamente. Os lábios rosados tremiam, assim como seu corpo. Ela tentou inutilmente ignorar o fato de me ver sem camisa, mas era evidente que a afetava. Seus olhos perdidos, o desconforto, além de poder jurar que ela permaneceu alguns segundos prendendo a respiração, me provavam isso. Ela estava atordoada e nem conseguia me olhar nos olhos.

– Coloca isso logo. – Virei o rosto dela para mim e ela desviou o olhar novamente. Não pude conter meu sorriso de deboche.

– Eu não quero essa porcaria. – Murmurou aborrecida.

Prendi a risada que subia pela minha garganta e me posicionei atrás dela. Passei a camisa por sua cabeça, escondendo dessa forma os braços, que permaneceram envoltos ao seu próprio corpo, com o pano. Emily murmurou algum tipo de reclamação, que eu ignorei.

Mesmo sem conseguir analisar o rosto da garota naquela posição, eu não me movi. Transpus uma das minhas mãos por entre os fios finos e dourados segurando a lateral de seu pescoço delicadamente. Eu tinha plena consciência de que estava sendo maldoso, mas ela merecia. Encostei meu queixo em sua temporã deslizando-o em seguida sobre seu rosto frio até seu pescoço, encontrando algumas gotas da água gelada pelo caminho. Ela permaneceu imóvel, mas sua respiração aparentava ter se alterado.

Por um segundo cogitei a hipótese de estar hipnotizada... Ela não reclamou, gritou ou tentou me bater, na verdade nem se mexeu.

Acho que já tinha feito o suficiente para que ela entendesse que no final, eu posso sim, ter tudo o que eu quero. Tortuosamente aproximei meus lábios ao ouvido da minha arqui-inimiga antes de soltá-la.

– Devolve depois – Sussurrei e ela estremeceu se encolhendo ligeiramente. Eu sorri com isso e fiz questão de deixa-la ver esse sorriso. Empurrei levemente seu corpo para que seguisse seu caminho e entrei fechando o portão atrás de mim, que rangeu antes do clic do trinco.


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Notas finais do capítulo

Não se esqueçam de comentar, a mão não vai cair!

Pergunta do Capitulo: O que acharam da capa nova da fanfic?