Tale As Old As Time. escrita por Jajabarnes


Capítulo 57
A Night of Happiness


Notas iniciais do capítulo

Oláaa! Tale voltou :-D Com um cap bem grandinho hehe
Espero que aproveitem ♥
Narração do Caspian.



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Já era véspera de ano novo quando levei Susana até Pedro. Ela passara a manhã com as emoções à flor da pele, mas usou todas as suas ferramentas para não demonstrar. Edmundo e Dash foram até a casa de Lillian e Corin pela manhã, logo após a refeição. Não demorou para que boa partr dos que estavam lá chegassem carregados de preocupação sobre o estado de Pedro. Para evitar que todos quisessem adentrar o quarto para vê-lo, enfatizamos que ele ainda estava desacordado, de forma que não seria útil ir até ele. Com o passar das horas, perceberam que não havia nada a ser feito mas resistiram em ir embora, pela educação que possuíam. Até que tornou-se apropriado que fossem.

Ficou decidido que Susana ficaria em sua casa para providenciar tudo o que fosse preciso, naturalmente. Dash, Edmundo, Rilian e eu ficaríamos para ajudar no que fosse preciso e Lúcia permaneceu conosco porque recusou-se a ir.

Por sorte, eles já haviam ido fazia uma hora quando Polly, Harold e meu pai chegaram pela hora do almoço, apreensivos, com a ansiedade transparecendo em seus rostos.

—O que está acontecendo? - o Duque foi o primeiro a perguntar.

Foi uma conversa longa e cheia de percauços. Susana e eu havíamos conversado um pouco a respeito desse momento e não vimos razão para esconder qualquer coisa ou poupar qualquer palavra.

Na biblioteca, com o Duque, Polly e Harold olhando-nos como se pudessem ver nossas almas, Susana contou sobre o irmão desaparecido e que não desistiria de procurá-lo, até que chegou à parte da corrida e do acidente com Pedro. Durante todo o relato, o olhar de meu pai fugia de Susana e cravava-se em mim. Não haviam dúvidas de que eu estava metido nisso até o pescoço, ele sabia disso mais do que todos, não havia como nem porquê esconder.

—Deixe-me entender, Su. - disse Harold, terno. - Nos chamaram aqui por causa do rapaz?

Susana respirou fundo, os olhos marejaram.

—Hoje pela manhã estive no quarto para vê-lo. Cedo, quando trocavam os curativos. Pedro tem uma marca de nascença nas costas, idêntica à minha.

Silêncio. Harold empertigou-se na cadeira sem saber o que dizer, meu pai olhou-me em ânsia por uma confirmação, e eu a dei num movimento de cabeça.

—Céus...! - gemeu Polly, com lágrimas no rosto.

Harold explodiu numa gargalhada levantando-se da cadeira.

—Depois de tanto tempo! Que maravilha!

—Oh, Su - Polly caminhou até ela, segurando-lhe as mãos. - Seus pais esperaram tanto por esse dia.

Susana assentiu, uma lágrima rolou por seu rosto e as duas se abraçaram. Meu pai reagiu do jeito dele, mas antes que ele falasse, por um momento, pude vislumbrar um brilho diferente em seu olhar, uma emoção diferente, úmida. Ninguém notou antes de ele escondê-la.

—Eles conseguiram ser mais cruéis do que eu podia imaginar - disse ele, mais para si mesmo. - O mantiveram tão perto. Chega a ser doentio.

—Não vamos poder mudar o que aconteceu. - disse Polly. - Devemos pensar agora em como contaremos a ele.

—Será um susto muito grande. - disse Harold.

—Talvez não. - falei, lembrando da conversa antes da corrida. - Pedro desconfia que há algo errado em sua história.

Alguém bateu à porta.

—Entre. - Susana permitiu.

—Ele acordou. - disse Edmundo. Tinha uma expressão diferente, estava sério, parecia cansado. Ele já sabia de tudo. Sempre soubera de todo o resto e foi a primeira pessoa a quem contamos sobre Pedro. - Pedi que lhe levassem algo para comer.

—Fez bem, Ed, obrigada. Já estamos indo. - Susana agradeceu.

—O que quer dizer? - perguntou meu pai depois que Edmundo saiu.

—Ele me procurou para conversar. Algo o está incomodando, mas ele não chegou a me dizer o quê. - respondi.

—Quero falar com ele primeiro. - disse Susana. - À sós.

Todos concordamos mutuamente.

[...]

Susana

Usei toda a força e cuidado em meu ser para organizar os pensamentos ao caminho do quarto de Pedro. De pé, em frente as portas e com os joelhos fraquejando, segurei em meus dedos o colar de mamãe pendurado em meu pescoço. Sequer posso imaginar o quanto sofreram e ansiaram por este momento. Eu daria meu melhor. Fechei os olhos fazendo uma promessa silenciosa.

Com borboletas voando em meu interior, bati à porta. A voz abafada de Pedro veio lá de dentro, autorizando minha entrada. Fechei a porta devagar atrás de mim, deixando o eco dos sapatos no corredor vazio.

—Como está, Pedro? - ofereci-lhe um sorriso. Olhou-me da mesa onde terminava sua refeição, sentado conforme suas costas lhe permitiam. Atrás dele, as janelas anunciavam que voltara a nevar. - Ficamos muito preocupados.

—Parece que fui atropelado por um trem. - disse ele, descontraído. - Mas vou ficar bem. - uma pausa. - Agradeço muito por sua hospitalidade e peço desculpas por tantos transtornos.

—Não se desculpe. - aproximei-me. - Eu não poderia agir diferente com um estranho, quanto mais a um amigo.

—Está sendo gentil. - disse ele, com o mesmo tom descontraído, porém educado. - Mas há de convir que não somos tão próximos assim.

—Na verdade, de todos nós que presenciamos o trem que lhe atropelou, a minha casa era a mais próxima. - respondi com um meio sorriso. Pedro riu.

—É verdade. - dispensou com um gesto e as palavras cessaram. Realmente, eu desejava ser uma amiga mais próxima para aquele momento.

—Precisava ver se estava bem. - falei quebrando o silêncio. Pedro examinou-me com o olhar por rápidos segundos.

—Estou, Susana. Acredite. - disse gentil, com um leve sorriso.

Silêncio. Baixei meus olhos para minhas mãos, mas senti que ele ainda me examinava com o olhar, captando outras motivações que não estavam nem um pouco claras.

—Su - ele chamou, fazendo-me olhá-lo. - Está tudo bem? Está pálida.

—Estou. Estou, sim. - falei rápido, aproximando-me da mesa. - Desculpe-me, Pedro, mas há algo que quero dizer. - minhas mãos suavam.

—Por favor. - ele indicou a cadeira vaga. Sentei-me de frente para ele antes que o tremor em minhas pernas levassem-me ao chão.

—Estive aqui mais cedo. - comecei, olhando-o nos olhos, que observavam-me atentos. - Quando trocavam seus curativos.

—De certo eu estava desacordado.

—Sim, e desculpe-me a intromissão, mas... - fechei os olhos, frustrada por não conseguir articular direito. - Perdão, não consigo fazer rodeios...

—Você parece nervosa, respire. - disse ele. Uma risada curta escapou de meus lábios como um arfar e meus olhos arderam. Engoli e respirei.

—É um pouco difícil para mim com tudo o que vem acontecendo. - confessei.

—Eu vejo - me lançou um meio sorriso, compreensível. - Vá no seu tempo.

—Já faz alguma tempo que tenho descoberto muitas coisas que meus pais esconderam de mim - comecei, Pedro pareceu alertar-se em desconfiança. - Coisas inacreditáveis na maioria delas e que me fizeram ver o quanto eu estava alheia à minha própria vida. - engoli. Ele aguardou. - Uma das maiores surpresas para mim foi saber que meus pais tiveram um filho antes de mim, um irmão mais velho que eu não conheci. - senti a ardência em meus olhos mais uma vez. - Hoje, quando vim vê-lo, estavam trocando seus curativos e desculpe-me pela indiscrição, mas não pude deixar de notar uma marca de nascença em suas costas... Idêntica à minha.

As lágrimas rolaram livres por meu rosto.

[...]

Respirei fundo ao escorar as costas contra as portas fechadas do meu quarto, apertando o diário contra meu peito com força. Cobri o rosto com a mão permitindo um soluçar livre, cheio de lágrimas e alívio. Limpei as lágrimas de meu rosto. Não conseguirei jamais ser exata em descrever o que senti. Andei pelo quarto várias vezes relembrando tudo o que ocorrera com Pedro.

—Está dizendo que...

Apenas assenti, sem conseguir emitir palavra. Ele andou de um lado para outro passando as mãos no rosto. Sua respiração estava irregular e sua expressão demonstrava tanta incredulidade quanto ansiedade e esperança.

—É muito difícil ter certeza. - disse ele, gesticulando.

—Eu sei - respondi. - Mas Polly cuidou de mim desde que nasci, da mesma forma que cuidou de você enquanto estava em casa. - o som embargado da minha voz estava longe de incomodar. - Ela pode garantir que sua marca é igual a minha, a mesma de nosso pai.

Pedro sentou-se à minha frente, inquieto.

—Eu gostaria de falar com ela.

—Ela está aqui. - funguei. - Pedi para que viesse assim que o vi pela manhã. Digory e Harold também estão com ela, eles poderão lhe contar muitas coisas.

—Por favor, não quero aguardar mais um segundo para esclarecer isto.

Assenti rapidamente, pondo-me de pé com as poucas forças que restavam em minhas pernas, mas não ousei soltar a cadeira.

—Eles estão ansiosos para lhe falar. - sorri brevemente. - Eu queria muito que nossos pais estivessem aqui nesse momento. - silêncio, funguei antes de falar. - Entendo que está sendo muito inesperado para você, Pedro, mas quero que saiba o quanto estou feliz por finalmente ter realizado o desejo deles encontrando você. Temos tantas coisas para conversar...! Mas por hora, tudo precisa ser esclarecido para você. Se quiser, os chamarei agora mesmo.

—Por favor. - foi a única coisa que ele disse, que mal passou de um sussurro.

Apenas assenti e saí.

Digory, Harold, Polly e eu conversamos com Pedro por longas horas em seu quarto. Eles contaram tudo. Tudo sobre o nascimento, até o momento que desaparecera por obra de inimigos da família, sem mencionar a maldição e a herança. Havia uma comoção no quarto muito difícil de descrever. Eu estava em êxtase e, enquanto ouvia a conversa, segurava o relicário pendurado em meu pescoço, desejando fervorosamente que meus pais tivessem podido viver esse momento.

Pedro ouvia a tudo emocionado, abalado e em silêncio. Por diversas vezes abaixou a cabeça nas mãos e lágrimas rolaram por seu rosto. Polly contou sobre o pouco da infância de Pedro que ela participara, muito emocionada. Harold e Digory contaram de todas as tentativas frustradas de encontrá-lo e como todos sofreram por conta disso. Pela primeira vez desde que meus pais se foram pude sentir o peso do mundo saindo de minhas costas e meu único lamento era não poder compartilhar esta felicidade com eles.

Pedro compreendera e concordara que tudo indicava para a veracidade das conclusões. Desde o que Polly, Digory e Harold relataram, as cartas que ele havia descoberto nas coisas de sua mãe de criação, até a prova cabal: a marca de nascença. Já eram informações demais para um único dia e sabiamente deixamos o mais grave para um futuro próximo. Eu entregaria o diário a ele mais tarde.

Era véspera de Ano Novo e Lillian aguardava todos nós para celebrar. Não pude evitar um sorriso enquanto despia-me. De fato, pela primeira vez em muito tempo, havia algo que merecia ser comemorado. Juntei o diário com as luvas e o casaco, parando em frente ao espelho para secar o rosto e recompor a feição.

Encarei-me no reflexo por alguns segundos, havia muito tempo desde a última vez que fizera isto. Encarei uma Susana diferente, que na aparência não envelhecera sequer um traço, porém de forma alguma ainda era aquela moça que vislumbrou Caspian pela janelinha da carruagem antes mesmo de conhecê-lo, ou a que foi ao aniversário de Lúcia. Certamente não.

Estava refletida ali no espelho uma pessoa jovem, que exibia alguns traços de, ouso dizer, maturidade. Havia um ar diferente. Gostei do que vi. Algo dentro de mim havia acendido desde a conversa com Pedro: um gosto diferente, um ânimo, uma força nova que trazia cor de volta ao meu redor. Meu peito se encheu de esperança, de que tudo de ruim passaria e que, mesmo que esse tudo me cercasse e quisesse me engolir, haviam coisas boas e esperança fora da minha redoma.

Ri. Que momento mais conveniente para um sentimento desses. Alguém bateu a porta.

—Sim? - respondi, garantindo que não havia mais nenhuma lágrima.

—Estamos prontos. - disse Edmundo, do lado de fora. Saí do quarto.

—Eu também. - sorri de leve.

O convite de Lilliandil foi em especial para o ano novo, então seria uma desfeita enorme não estarmos lá, apesar de qualquer coisa. Pedro estava bem e poderia ir conosco. Harold e Polly escolheram ficar em Lantern e Digory decidiu o mesmo, para nossa surpresa. Retornamos à casa de Lillian antes do pôr-do-sol. Ela, Corin e os demais nos receberam bem, porém todas as atenções estavam voltadas para Pedro.

Sem alternativas, Pedro relatou todos os últimos fatos e surpresas aos amigos presentes e estive ao seu lado em tudo isso. Naturalmente, a surpresa com a revelação de um irmão estampou o rosto de todos enquanto Pedro lhes narrava. Lilliandil, contudo, quando ele terminou e um silêncio se seguiu, resumiu tudo o que me ocorria naquele momento.

—Temos um motivo extraordinário para comemorar esta noite!

Todos, de fato, concordaram com ela. Não demorou muito para que eu conseguisse uma brecha e me recolhesse quando Lilliandil o fez, e foi só um gancho para que as outras saíssem também, deixando os homens conversando com Pedro sobre o acontecido.

Descansei um pouco. Já eram quase sete horas da noite quando despertei e solicitei um banho. Uma moça, muito nova, trouxe-me uma pequena refeição enquanto o banho era preparado. Ela voltou mais tarde para me ajudar com as roupas. Era uma moça doce e gentil, cheia de respeito de assuntos, pelo pouco tempo que conversamos.

Quando terminamos, eu usava um vestido rosa, sem rendas ou bordados, as mangas agarravam-se a meus ombros fazendo com que o decote revelasse pescoço e colo; a saia era densa volumosa, e ocupava um notável espaço à minha volta ao mesmo tempo que parecia leve como pluma. Deixei a maior parte dos cabelos soltos, prendendo uma pequena parte com presilhas cheias de flores. A única jóia era o colar de minha mãe.

[...]

Havia alegria naquela noite. Música, conversas, risadas, danças e comidas cuidadosamente escolhidas por Lillian à perfeição. Havia alegria ali, e esperança para o ano novo que chegaria em algumas horas.

Vislumbrei Pedro por um momento raro em que ele, cheio de sorriso e com uma bebida na mão, desvencilhou-se de quem lhe cercava e caminhou até uma janela afastada, que dava para a frenteda casa. Respirei fundo, pedi licença à Lúcia, Jill e Gael, e caminhei até ele, segurando firme o livro que levava em mãos.

—Atrapalho? - perguntei quando o alcancei. Pedro virou-se, dando-me um espaço à janela.

—De forma alguma. - ele sorriu. - Está linda, Su.

Sorri de volta, agradecendo com um aceno.

—Escute - comecei. - Nossa novidade está muito recente. - pisquei para ele, seus olhos brilharam e ele concordou com um gesto. Hesitei. - Mas ainda há muito que você precisa saber. Coisas que, se eu pudesse, lhe pouparia. Só que lhe poupar não seria justo com você. - respirei fundo para evitar atropelar as palavras. - Diante do olhar intrigado de Pedro. - Eu fui poupada de tudo isso por toda a minha vida e posso lhe garantir que não serviu de nada. Por issi quero que você saiba e compreenda tudo que nos envolve. E se você quiser distância depois de saber, eu jamais o culparia.

—Tudo? Do que está falando? - o tom gentil de Pedro me deu um aperto no peito. Segurei o diário com as duas mãos, para que ele visse.

—Há muito sobre nossa família que você precisa saber. Eu não sou a melhor pessoa para para contar, por isso quero que fique com isto pelo tempo que precisar. - estendi o diário para ele. O olhar de Pedro passou do diário para mim. - É o diário de nosso pai. Eu o encontrei há pouco tempo em Lantern.

Os olhos de Pedro brilharam e rapidamente se desfez de sua bebida, tomou o diário em suas mãos com uma solenidade que fez meus olhos arderem. Pedro o encarou por alguns segundos, engolindo em seco. Quando me olhou novamente, seus olhos brilhavam gratidão.

—É muita generosidade sua. - disse ele. Sorri.

—Espero que não nos afaste. - confessei, logo respondendo para a dúvida em seu rosto. - Você entenderá tudo.

Pedro assentiu. Do outro lado do salão, vi Caspian chegar. Ele ainda não havia aparecido na festa até então. Pedi licença à Pedro e abri caminho até ele. Caspian viu, e permaneceu no mesmo lugar aguardando-me.

—Você está bem? - perguntei, notando a palidez de seu rosto. Caspian sinalizou com a cabeça para que eu o acompanhasse. Seguimos para um local mais afastado do salão, um canto com algumas esculturas.

—Não tenho estado muito bem desde o pôr-do-sol.

—O que houve?

—Estivemos muito ocupados nos últimos tempos e o céu sempre nublado não ajudou. - disse ele, baixo e o mais casual possível. - A lua cheia está chegando.

As palavras travaram em minha boca, só depois de erguer as sobrancelhas consegui balbuciar: -E o que fazemos?

—Você, nada. - lamçou-me um sorriso de canto. - Não se preocupe. Seu pai tinha um abrigo em sua casa, qualquer coisa.

—Ele tinha? Como você sabe? - perguntei. Caspian tomou um gole de sua bebida. -Ora, Su, ele era como eu. Com certeza evitaria imprevistos preparando suas casa. - deu de ombros.

—E não seria melhor ir logo para lá?

—Está tudo bem, Su. - sorriu ele. - Nunca é tão rápido assim e mesmo que fosse, tenho minha cura bem aqui. - piscou para mim. - Além disso, seria uma desfeita enorme com Lilliandil, levantando desconfianças que não precisamos.

Assenti. De fato, já haviam boatos circulando a nosso respeito.

—Venham, venham! - chegou Lúcia. - A contagem já vai começar! - e disparou de volta para a multidão e nós a seguimos, rumo à imensa parede de vidro que dava para a frente da propriedade. Corin estava de costas para a noite lá fora, segurando o relógio e bolso.

—Dez! - anunciou ele, e todos em volta entoaram em coro. - Nove!

Oito!

—Tenho esperanças para esse novo ano. - confessei à Caspian.

Sete!

—Se for possível que eu esteja ao seu lado, já valerá tudo para mim. - ele respondeu com sinceridade em sua voz. Sorri para ele.

Seis!

Caspian segurou minha mão, entrelaçando seus dedos aos meus sem desviar o olhar. A escuridão de seus olhos me envolveram como sempre faziam, como se eu pudesse ver sua alma, tudo o que ele era.

Cinco!

E eu amava cada pedaço. Cada pedaço de Caspian, e daria a ele cada pedaço de mim até que fôssemos um só. Seus dedos fecharam-se em volta de minha mão.

Quatro!

—Faço minhas suas palavras. - disse ele.

Três!

—Eu prometo, Su. - disse ele, chegando ainda mais perto. - Prometo que tudo ficará bem.

Dois!

Olhamos para o lado de fora.

Um!

E todos explodiram em vivas e brindes. O colorido dos fogos refletiram em todos dentro da sala. Caspian voltou a me olhar ao mesmo tempo que sorri para ele, que me abraçou forte depois de beijar-me a testa.

—Feliz Ano Novo, Su. - disse em meu ouvido, por cima do som ao nosso redor.

—Feliz Ano Novo, Cas. - desejei com a mais profunda sinceridade.

Quando começamos a desfazer o abraço, outros quatro braços nos envolveram. Lúcia estava animadíssima, trazendo um sorriso de pura felicidade ao nos abraçar e nos desejar um animado feliz ano novo, ao mesmo tempo que Edmundo.

Todos os abraços levaram algum tempo para serem dados. Jill segurava minhas mãos, animada, contando-me como estava ansiosa para seu casamento naquele ano; quando parou, olhando para trás de mim. Ao acompanhar seu olhar, encontrei Dash.

—Com licença. - disse Jill, um pouco acanhada, e se afastou. Tornei-me para Dash e sorri, mas ele falou antes que eu pudesse, adiantando-se.

—Su. - e pegou minha mão livre com delicadeza, levando-a até seus lábios para deixar um beijo no dorso. Dash manteve os olhos nos meus. Engraçado como aquela claridade em seus olhos sempre era como a mais profunda escuridão para mim. Nunca era simples e fácil compreender o que eles diziam. Haviam sempre as nuances expressivas de paz e caos, amor e ódio, deseji e desprezo, carinho e mágoa, sempre com aquele brilho voraz que tornava o que ele sentia indescifrável. Um mistério que não me transmitia segurança.

—Queria lhe desejar um feliz ano novo. - disse ele, com tranquilidade, prolongando-se em soltar minha mão. Retribuí com uma mesura e um sorriso.

—Feliz Ano Novo, Dash.

Ele sorriu de leve, hesitou como se fosse falar mais alguma coisa, mas apenas assentiu uma vez e saiu. Eu ainda olhava para onde Dash desapareceu no salão quando senti o toque de Caspian em minhas costas. Ao olhar para o lado, ele estava ali, distraidamente observando o salão, mas algumas gotas de suor lhe escorriam na lateral do pescoço e seus lábios estavam mais pálidos, o que ele tentava disfarçar com o calor da bebida.

—Caspian.

—Estou bem. - garantiu ele. - Só acredito que devo ficar ao seu lado enquanto não estivermos em algum lugar seguro. - disse, olhando-me antes de sorrir de lado e dar de ombros. - O que, claro, não seria nenhum sacrifício.

Sorri de volta.

—Acho que vou apreciar a companhia, senhor Kirke, mas creio que seria de bom tom pedir permissão ao meu irmão mais velho para me cortejar.

Caspian gargalhou alto, leve, e por um instante o temor sumira de seus olhos. A noite seguiu daquela forma: leve e alta. Apesar de saber que a atenção deveria ser redobrada com Caspian, tudo correu maravilhosamente bem. A comida estava excelente e dançamos a noite toda. Sequer me lembri de como a noite terminou, mas lembro de como a noite terminou, mas posso afirmar com toda a certeza que as primeiras horas de 1817 foram muito celebradas.


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Notas finais do capítulo

Espero que você tenha chegado até aqui :-) Obrigada pela sua atenção, viu! Até a próxima.
Beijokas!!



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