Capítulo 21 – Por Caius

Logo assim que os primeiros raios começaram a aparecer, acordei Zac para me substituir na vigília

Deitei no saco de dormir, mas até adormecer demorei um pouco, minha mente trabalhava a mil por hora. Aquela fantasma veio para me confundir, a noite nunca foi segura e agora me mandavam algo desse gênero. Será que isso só aconteceu comigo? Ou os outros tributos também vêem fantasmas? Ou é apenas um pesadelo que tive enquanto cochilava na hora de guarda?

Parecia real demais para ser um sonho. Adormeci e tive pesadelos com Isis, ela nunca iria sair da minha cabeça? Deve ter alguma coisa nessa arena que nos faz despertar memórias antigas, no meu sonho, eu conseguia ver Isis com 9 anos de idade sendo atacada por teleguiadas.

Acordei com Lime me chamando

-Bom dia Caius – ela falou enquanto eu me sentava esfregando os olhos - Estávamos esperando você acordar para decidirmos o que iremos fazer – ela falou abrindo um sorriso – Agora levante e coma alguma coisa.

Com os olhos localizei uma toalha com um pão, Luke estava sentado ali e dividiu o pão ao meio.

-Toma – ele falou me entregando a outra metade assim que me aproximei - Todos os outros já comeram, só faltam nós dois.

Aceitei o pão, mas de alguma maneira eu me sentia irritado perto daquele garoto. Na primeira mordida, minha irritação passou, aquele pão era do Distrito 3 e tinha gosto de casa, de qualquer modo, eu não confiava em Luke.

- E então, o que faremos? – perguntou Isabel enquanto analisava seu reflexo em uma faca recém-amolada

-Os Idealizadores devem estar armando alguma coisa, não ouvimos mais mortes há algum tempo – falou Zac sério

-Então isso quer dizer...? – perguntou Lime

-Está na hora de irmos atrás dos outros, os Idealizadores já devem ter feito alguma coisa para eles se aproximarem – falou Bruce

-Bem pensado, Bruce – falou Zac o elogiando – Então, quem ficará aqui de guarda?

-Eu fico – falou Bruce – Não fiquei de vigia hoje, então vocês podem ir.

-Ótimo – falou nosso “líder” – Estava pensando em nos separarmos em dois grupos. Lime, você se importaria de ir com Caius?

-Não – respondeu a garota loira

-Então, Isabel e Luke seguirão comigo, retornaremos quando o Sol estiver se pondo – e assim os três separam suas armas e foram floresta adentro

-Vamos? – perguntou Lime enquanto segurava uma lança e me entregando um arco e flecha

-Vamos – respondi e antes de entrarmos completamente ela se virou para Bruce e disse

-Até mais tarde – ele acenou e nós dois seguimos a direção

Fui à frente abrindo caminho, tentando não fazer muito barulho e procurando pistas sobre alguma coisa. Andar com Lime era bom, ao contrário do que se pensa, ela é uma boa tributo, andava com cuidado e era extremamente silenciosa. Ficamos andando daquele jeito por algum tempo, até eu parar e fazer sinal para que ela parasse. Apontei para o que eu tinha visto, pegadas, e ela me lançou um olhar de cúmplice me dizendo silenciosamente que era para nós seguirmos.

Nós seguimos a trilha por algum tempo até nos depararmos com uma árvore. Olhei para cima, mas não vi ninguém.

-Sabe escalar? – Lime me perguntou aos sussurros, ambos sabíamos que o tributo das pegadas poderia estar por ali e que aquilo tudo poderia ser uma armadilha. Fiz um sinal que significava mais ou menos - Então eu tentarei, apenas me ajude – ela falou e eu entendi que era para ajudá-la na subida. Juntei minhas duas mãos e deixei que ela apoiasse o pé ali e as mãos em meu ombro para que conseguisse alcançar com o outro pé uma concavidade que tinha na árvore, depois disso ela escalou o restou com facilidade.

Dez minutos depois Lime começou a descer falando

-Alguém realmente esteve no topo da árvore, dá para ver algumas marcas, mas seja quem for já foi embora saindo pela árvore do lado

-Você quer ir ver se por lá tem mais pegadas? – perguntei estendendo minha mão para ajudá-la a descer

-Podemos parar um pouco? – Lime perguntou segurando minha mão enquanto dava um pulo para descer – Estou um pouco cansada.

E então resolvemos descansar, estávamos em uma pequena clareira e a grama ali era macia, perfeita para um descanso. “Mantenha-se em alerta” meu cérebro avisou, era bem provável que tenha algum tributo por perto, talvez possa ser até o dono das pegadas.

-Olhe só – falou Lime se levantando, apontando para cima e me tirando dos meus pensamentos. Olhei na direção que ela apontara, e lá estava uma borboleta com um forte tom de rosa - Você já tinha visto alguma borboleta Caius? – ela perguntou enquanto não desgrudava os olhos do inseto

-Já – respondi e abri um leve sorriso ao me lembrar da histeria de Isis no dia em que uma entrou em nossa sala de aula

-Elas são lindas – falou Lime ainda observando a borboleta - Vou pegá-la.

-Lime, não! – exclamei enquanto ela já andava em direção a criatura

-Qual o problema? Elas são inofensivas, no Distrito 1 existem várias e desde que eu era pequena caçava elas com meu avô apenas para observá-las. No Distrito 11 dizem que elas podem te cegar, mas isso é pura mentira – ela deu essa explicação e voltou a andar na direção da borboleta, mas Lime se esqueceu de um pequeno detalhe, estamos nos Jogos Vorazes e até mesmo uma simples borboleta pode ser uma bestante mortífera

-Eu não arriscaria – falei, mas nada a pararia

-Deixe de ser paranóico, Caius, é apenas uma borboleta – e então a borboleta voou por cima de Lime deixando um pouco de pó cair nos olhos da garota –Está vendo? Continuo enxergando e... ATCHIM! – eu a olhei preocupado e a borboleta pousou em um de seus dedos - ATCHIM! Foi apenas um espirro nada de... ATCHIM – e então Lime começou a espirrar sem parar, após 5 minutos essa crise de espirro passou e então ela desmaiou. Eu estava a ponto de correr em sua direção quando ouvi o tiro de canhão.

Seria Lime? Ela teria morrido na minha frente nesse exato minuto? Não, isso não era possível. Aproximei-me enxotando a borboleta dali e chequei a pulsação de Lime, a qual não existia. Tentei algumas manobras que eu conhecia de ressuscitação, mas eu sabia que não adiantaria, o canhão já havia soado isso significava que não havia esperança.

Espero que Juliet se mantenha afastada dessas borboletas, que ela tem o bom senso de imaginar que elas são mortíferas, morrer da maneira que Lime não me parece certo, nem mesmo para os Jogos.

Não existia mais sentido eu caçar tributos sozinho, eu não mataria ninguém pelo prazer da coisa. Resolvi voltar ao acampamento, trocaria de lugar com Bruce que tenho certeza que odiou ficar sozinho de guarda. Peguei a lança de Lime e procurei se havia alguma coisa útil em seus bolsos, olhei para seu corpo mais uma vez, ninguém poderia dizer que ela estava morta, sua expressão calma e alegre era mais parecida com a de alguém que estava dormindo.

Ao retornar ao acampamento, encontrei Bruce afiando um pedaço de madeira com a faca, me aproximei devagar para que ele não pensasse que eu fosse outro tributo, porem no meio do caminho pisei em uma folha seca a qual fez um estalo e só tive tempo de me agachar.

-Aah, era só você Caius – ele falou me encarando perplexo, olhei para trás e vi que ele havia atirado a faca que estava na mão e agora ela estava presa na árvore atrás de mim – Sabe, Lime matou um tributo que tentou nos roubar, achei que fosse outro – ele falou agora retirando sua arma - Foi por culpa de vocês o tiro de canhão? Onde está Lime? – ele perguntou distraído

-Lime foi o tiro de canhão – eu respondi e ele me encarou segurando a faca com mais força na mão, e então eu entendi, ele achou que eu havia quebrado a aliança - Borboletas bestantes, tome cuidado, o pó dá alergia e parece que elas possuem veneno se pousarem em você – a mão de Bruce relaxou um pouco na faca – Voltei ao acampamento porque pensei que talvez você pudesse gostar de ir caçar enquanto eu fico de guarda

Bruce me olhou meio indeciso por alguns segundos, como se analisasse caso eu estivesse com alguma mancha de sangue pelo corpo, mas seu instinto de ir caçar tributos era maior e ele apenas respondeu:

-Tudo bem, volto na hora como foi combinada – e ele saiu correndo

Um tributo a menos, agora já éramos doze. Fantasmas tentando te convencer a cometer o suicídio, borboletas que te matam apenas pousando em você e sei que ainda vai vir coisa pior pela frente. Será que Juliet já recebeu a visita da fantasma da tia Nina? Será que ela já encontrou com as borboletas ou o objetivo deles é tentar apenas diminuir o número de Carreiristas?

Meus pensamentos estavam a mil quando ouvi o barulho de folhas sendo empurradas, virei-me na direção segurando minha lança e dois segundos depois Zac e Isabel apareceram.

-Onde está Bruce? – perguntou Isabel curiosa

-Foi caçar, substitui o posto dele já tem um tempo – respondi

-E quanto a Lime? – a garota me perguntou

-Está morta – ambos me olharam com um olhar questionador –Borboletas bestantes, parecem com as normais, porem seu pó causa alergia e se ela pousar em você te envenena fazendo a vitima morrer em segundos. Lime quis pegar uma e não tive tempo nem de salva-la – Isabel parecia horrorizada e até mesmo Zac ficara um pouco abalado

-No Distrito 1 existem muitas borboletas e Lime sempre gostou de persegui-las. Temos que tomar cuidado até com as coisas mais inocentes – o Carreirista falou e assim que terminou a frase ouviu-se um tiro de canhão

-Onde está Luke? – perguntei, não que eu me importasse, mas achei que os três estivessem juntos

-Ele não está aqui? – Isabel perguntou olhando para os lados com os olhos arregalados - Será que...?

-Não – Zac cortou a frase – Tenho certeza de que Luke não morreria por causa das borboletas, talvez tenha sido ele quem tenha matado esse tributo.

Bruce voltou 5 minutos depois perguntando se sabíamos quem havia sido morto. Mais dez minutos se passaram e nada de Luke aparecer.

-Vamos procurá-lo? – perguntou Isabel preocupada

-Não, ele conhece o caminho, ele mesmo garantiu isso – Zac afirmou

-Pensei que vocês três tivessem ido caçar juntos – Bruce comentou

-Tínhamos, mas depois de um tempo achamos que três eram demais e Luke então decidiu se separar – Isabel explicou

-Ele vai voltar, tenho certeza disso – falou Zac

Isso eu também poderia afirmar, eu não gostava de admitir, mas Luke era um bom tributo, tenho certeza que não morreria pelas borboletas como Lime e ainda não era noite para algum fantasma tentar convencê-lo a se suicidar, porem algo me dizia que seria melhor se ele estivesse aqui no acampamento