Capítulo 15

Juliet estava no seu círculo, demorou um tempo para visualizar Caius e lhe apontar a direção, mas após fazer isso ela estava se concentrando em outra coisa: como ela sobreviveria sozinha na floresta sem nada? Alguma coisa ela teria que carregar da Cornucópia. Fixou os olhos em uma corda e uma mochila que estavam a uma pequena distancia entre si e não muito distantes dela e para sua surpresa não estavam tão perto das armas que ali eram mais almejadas. "É aquilo que pegarei" pensou a garota "É isso que precisarei até encontrar Caius caso ele sobreviva" Um arrepio lhe passou na espinha ao imaginar que o irmão em algumas horas poderia estar morto "Não pense nisso, concentre-se em seu objetivo, Caius consegue sobreviver sozinho" Juliet se preparou para correr, pelos seus cálculos faltaria pouco para o gongo soar.

BOOOM. O gongo soou e os tributos iniciaram uma corrida, os Carreiristas em questão de segundos já estavam ao centro se apoderando das armas mais mortíferas e muitos já guerreavam pelos itens para sua possível sobrevivência. Juliet não ficaria para trás, ela correu imediatamente para direção da corda e da mochila, por instinto ela olhou na direção de Caius, ele estava bem, era tão rápido quanto um Carreirista, ela logo desviou o olhar para continuar correndo e quando se aproximava do que desejava se impressionou ao ver que a tributo do 8 mal corria, como se estivesse caminhando num tranquilo campo florido. "Qual é a dessa garota? Já estamos na arena, ela pode deixar de fazer esse papel de fraca" a essa altura a tributo do 3 já estava cometendo o grande erro de correr olhando para trás e quando se aproximou da mochila, o tributo do 5 apareceu querendo disputá-la

–Desista garotinha, isso daqui é meu, nem que eu tenha que te matar - falou enquanto se aproximava, Juliet pegou a mochila, mas antes que alcançasse a corda o garoto partira para cima dela prendendo seu pescoço com um braço - Você é fraca demais para sobreviver a Cornucópia, mas aposto que já pensou sobre isso, certo? Seu irmão não está mais aqui para te proteger, então pode falar suas ultimas palavras, serei bonzinho com você. - a voz daquele garoto já a estava irritando e o que ele dizia só piorava a situação.

–Minhas últimas palavras? - ela perguntou com um tom sarcástico - Nunca subestime alguém - com isso ela esticou uma de suas pernas empurrando a dobra atrás do joelho do garoto, fazendo-o desequilibrar e cair no chão, a menina agora estava livre porem não tinha nenhuma arma para finalizar o serviço. Ela arrumou a mochila no ombro e foi em direção a corda. Ela pode ouvir o Distrito 5 se levantar no chão e suas mãos começaram a tremer por não saber o que fazer. Agarrou a corda, talvez conseguisse enforcá-lo, e ouviu os passos se aproximando. "É agora" ela fechou os olhos por um segundo, respirou fundo procurando as pontas da corda para tentar fazer um nó e enquanto se virava ouviu o som de uma flecha contra um corpo, ao se virar se deparou com o corpo do garoto no chão coberto por sangue, ele havia sido atingido pelas costas e parecia que a flecha havia perfurado um se seus pulmões, pois ele apresentava dificuldades ao respirar e tossiu sangue.

Juliet levantou o olhar para ver de onde vinha a flecha, provavelmente a atacariam também, porem ela se deparou com Luke segurando um arco

–Juliet! - ele gritou se aproximando - O que ainda faz aqui? - o garoto do 5 parou de respirar, estava morto - Corra! Corra o mais rápido que puder! - ele não precisou repetir de novo, a tributo pegou suas coisas e saiu correndo o mais rápido que conseguia com o cheiro de sangue em suas narinas, por um momento teve que pular por cima do cadáver da garota que reconheceu ser do 9.

Ela correu até sua respiração começar falhar e sentir uma dor na lateral esquerda do corpo, parou um pouco para tomar ar e pela primeira vez analisou as arvores ao seu redor, possuíam troncos e galhos grossos, eram boas de escalar. Depois de recuperar o fôlego, a garota decidiu escalar uma para verificar o que tinha de suprimento. Em questão de minutos, ela estava na copa sentada em um galho resistente enquanto segurava o que havia pegado.

Ao abrir a mochila se sentiu feliz por ter conseguido sobreviver, lá descobriu frutas secas, um saco de dormir, uma garrafa de água vazia, iodo para purificar a água, alguns curativos e uma coisa metálica que não conseguiu reconhecer, nada mal para uma mochila da Cornucópia, mais tarde poderia tentar identificar aquele objeto e com sua corda conseguiria caçar algo para comer, se conseguisse ficar longe dos Carreiristas seria ótimo.

Juliet se encostou um pouco mais para descansar, havia aprendido assistindo aos Jogos anteriores que sempre se deve aproveitar quando tivesse uma oportunidade e começou a pensar em uma coisa: Qual teria sido o motivo de Luke para salvá-la? Ele poderia ter matado ela naquela hora, em vez disso ele a mandou correr para se salvar. Ela ainda poderia confiar nele? Ou Caius estaria certo? “Melhor não arriscar” ela pensou e logo ouviu um barulho de árvore balançando como se alguém tivesse pulado em uma arvore próxima, seria um tributo ou um animal? Ou até pior, poderia ser uma bestante. Outro barulho agora vindo de uma árvore mais próxima, minutos depois outro e mais outro, e se aproximava cada vez mais. “Pelo som não é muito leve” ela pensou, pegou o objeto de metal mesmo não sabendo para o que servia. Questão de minutos um vulto pulou em sua árvore.

Juliet desceu o mais rápido que podia e correu. Novamente correu como se sua vida dependesse daquilo, como não, sua vida dependia daquilo, e praguejou ter faltado tantas aulas de educação física na sua vida. Ela corria, corria e corria e o vulto ia atrás dela. “É um Carreirista” a menina pensou “E veio me matar, afinal, eles sempre procuram os mais fracos primeiro” e cada vez mais o vulto se aproximava até Juliet tropeçar em uma raiz de uma arvore. “Maldita árvore, nunca esperava morrer tão rápido”

O vulto se aproximou revelando seu rosto, Juliet se virou rapidamente para saber quem seria seu assassino.

–Ah, então é só você – a pessoa falou antes que a menina pudesse se virar, sua voz era conhecida pela tributo do 3

Os sessenta segundos haviam se passado, o gongo havia soado e o filho mais velho de um antigo vitorioso corria na maior velocidade que podia, o que não era pouca coisa. Ele havia visualizado o arco e flecha porem quando se aproximava o garoto do Distrito 4 já havia se apoderado dele. “Maldito seja esse garoto” Caius pensou com ódio enquanto corria para uma das lanças que havia por ali. Ele conseguiu alcançá-la, não era a melhor que havia por ali, mas já era alguma arma, seu trabalho estava feito e se quisesse uma melhor só conseguiria lutando contra Zac, porem esses não eram seus planos naquele momento.

Ele estava correndo em direção a floresta quando a menina sardenta do distrito 5 apareceu em sua frente.

–Onde pensa que vai, bonitinho? – ela falou com uma voz sedutora dando uma piscadela com um olho, mas Caius não ligou, desde que saíra do Distrito 3 só tinha olhos para uma garota. Ele se lembrou que essa menina do 5 havia feito o papel de sexy nas entrevistas e reconhecia essa estratégia dela, era a mesma que Luke usaria com sua irmã

–Nenhum lugar que te interesse – ele respondeu frio, ele só queria seguir seu caminho e encontrar sua irmã caso ela ainda estivesse viva, a ultima vez que ele a vira foi enquanto ela estava no circulo, e Caius não era frio o suficiente para matar aquela garota que bloqueava seu caminho sem nenhuma arma.

–Repense sobre isso – a garota falou enquanto pegava uma faca e ia pro combate corpo a corpo contra ele. Ela avançou e tentou atacá-lo, mas apenas com um movimento rápido com a lança ele já havia machucado uma das pernas da garota, que agora sangrava absurdamente, porem isso não a deteve, ela foi para cima do tributo do distrito 3 novamente e com outro movimento de defesa com a lança, ele abriu o supercílio dela. Agora ela sangrava mais do que nunca espirrando sangue para todos os lados o que a fez cair de joelhos no chão.

–Eu avisei que não te interessava – ele falou cinicamente para a garota e saiu correndo dali retomando o caminho, os Carreiristas terminariam o trabalho dele.

Mas a sorte nunca esteve ao lado de Caius, enquanto corria, novamente outro tributo surgira querendo brigar por sua lança, dessa vez era o tributo do 8. Distrito 3 não estava afim de brigas, porem o 8 avançou o derrubando no chão e antes que pudesse perceber a lança de Caius já havia penetrado no coração do outro tributo. Agora Caius havia se transformado em um assassino e o tributo do distrito 8 foi apenas sua primeira vítima, ele havia decidido, Juliet seria a vitoriosa dessa edição, nem que ele tivesse que matar tributo por tributo para ela.

Ele retirou a lança do corpo sem vida do outro garoto e correu novamente para floresta, depois de correr uma boa distancia resolveu para descansar. Sua garganta parecia estar pegando fogo como se a garrafa d’água que tomara há poucas horas nunca houvesse existido. “água, é disso que eu preciso” porem ao analisar a região, não encontrou sinal de água. Andou mais um pouco, sempre com os ouvidos atentos e encontrou um pequeno arbusto com folhas de menta. Colheu algumas folhas e pôs três na boca, isso melhoraria a sensação de garganta seca.

Porem não resolveria o problema, ele precisaria achar água para não morrer de desidratação, contudo sabia que só receberia uma dádiva se demorasse muito para encontrar, seu pai só enviaria alguma coisa se fosse extremamente necessária e ele não estava a fim de utilizar o dinheiro dos patrocinadores com isso. Caius resolveu olhar para si mesmo, estava sujo de sangue e se sentia enojado com isso, mas o que estava fazendo-o se sentir mal era o fato de ter matado aquele garoto do 8. "Você está nos Jogos Vorazes, Caius." repreendeu a si mesmo por se sentir culpado "Ou você mata, ou você morre e se você morrer é mais complicado para Juliet ganhar" Seus pensamentos foram interrompidos por um barulho de arbusto se mexendo, ele foi se aproximando com a lança em mãos, assim como poderia ser Juliet, poderia ser qualquer um, valeria correr o risco? Para ele sim.

Aproximou-se e pode ouvir a pessoa tropeçando e caiu no chão, ao chegar mais próximo conseguiu reconhecer os olhos verdes.

–Ah, então é só você – ele falou porem antes que pudessem trocar qualquer palavra, vieram os tiros de canhão, havia acabado o banho de sangue na Cornucópia.

Um. Dois. Cinco. Sete. Silêncio. Sete mortes ao todo, quase um terço dos competidores já estavam fora. Sete é um número pequeno para o banho de sangue. "Parece que meus concorrentes são os mais espertos" o garoto do 3 pensou enquanto via o outro se levantar.