O local era mais do que ela poderia imaginar. Rústico e meio empoeirado, parecia uma biblioteca antiga inexplorada. Mesas de madeira estavam espalhadas pelo local e, sobre elas, estavam candelabros sem velas. Cadeiras de madeira trabalhada estavam juntas as mesas, e pareciam não ser usadas a muito tempo. Enormes prateleiras repletas de livros e objetos misteriosos estavam sobre o local. Gabrielle deu alguns passos a frente, curiosa. Havia uma “escada” que ia mais abaixo, mas para o subterrâneo. No teto, jazia um enorme lustre de cristais, que, pensou Gabrielle, deveriam fazer arco íris ao entrar em contato com a luz do sol, se ela entrasse lá.

Mais a frente, algumas portas estavam abertas, outras, fechadas e uma, trancada. Em uma delas, havia algo que parecia-se com uma lanchonete: Mesas e bancos longos, uma geladeira velha e quebrada e uma maquina de refrigerantes e salgadinhos completamente vazia.

— Isso é fantástico! – Ela falou alto o suficiente para que as garotas a ouvissem. Seus olhos brilharam de alegria. Ela poderia transformar aquele lugar um refúgio para... Todos, se desejassem. Um lugar o qual pudessem descançar e colocar a cabeça em ordem. Poderia atualizar os livros das prateleiras e descobrir o que havia nas caixas. Retirar toda aquela poeira e substituir aquelas caixas por fotos, mensagens e até mesmo doces. Reencher a tal máquina de refrigerantes e salgadinhos e arrumar a galadeira. Colocar um computador lá dentro, deixar tudo aconchegante. Dar um jeito para a luz do sol entrar e deixar a biblioteca com raios de arco-íris espalhados por todos os cantos dos cômodos. Um cristal por sala, um cristal...

E com esse pensamento ela ficou apavorada. Como, ela perguntou para si mesma, como ela faria tudo isso? E, se alguns de seus “inimigos” – lê-se Isabel – a dedurasse? Ela e suas amigas estariam... Expulsas? Advertidas? Suspensas? Ela não queria pensar. Se era pra acontecer algo, que acontecesse. Ela não se importava mais com nada. Entrar naquele lugar a mudou de uma forma... Descontrolável, como se seus valores ouvessem mudado de uma hora para a outra e ela tivesse que levantar do chão, arregaçar as mangas e começar a trabalhar, e é isso que ela iria fazer.
— Garotas. – Ela falou, aproximando-se das amigas. – Nós temos muito o que fazer aqui. Nós precisamos de ajuda, não conseguiremos tudo sozinha. Chamem apenas pessoas de confiança. Eu chamarei Lucas e minha prima. Vocês chamem quem quiserem, mas, repito, apenas pessoas de confiança. – Ela parou para respirar, gesticulando para que as garotas sentassem. – Eu tenho ideias, boas ideias, creio eu. Podemos transformar isso em um lugar único e maravilhoso, basta colaboração e união. Podemos desativar aquelas drogas de detectores de movimento ou criar uma passagem subterrânea, podemos deixar isso aqui um lugar calmo para reflexão e tudo mais. Não vamos distribuir a informação para todos da escola, podem nos descubrir e estaríamos fritas. Mas, isso é um ótimo lugar para começar o que eu sempre quis.
— Nós não sabemos mexer com mecânica e nada disso, Gabi. – Isabella falou, animada e preocupada. – Muito menos conheço alguém que saiba. – Acrescentou. Era verdade, ela não conhecia ninguém. As pessoas da summerside mal sabiam concertar seus próprios computadores sozinhos quando um fio escapava.
— Mas, eu conheço e ele é meu melhor amigo. Eu também entendo algumas coisas de utilidade. Eu só quero saber se estão comigo, se querem me ajudar a transformar isso aqui num refúgio, um refúgio nosso e de nossos amigos, que só será descoberto um dia se mais algum aluno quebrar a regra de se aproximar daqui. Este lugar será fechado quando sairmos, mas, nós podemos fazer esses últimos dois anos aqui especiais, não acham? Ajudaram-me? – Ela colocou sua mão no centro da mesa, próxima ao candelabro negro. Annabelle colocou, delicadamente, a sua mão sobre a de Gabrielle, e Isabella logo a seguiu. Fez o mesmo e sorriu. Sim, elas iriam. Iriam ajudá-la. Ah, o dia não poderia ser mais... perfeito.