Night Watchers - Primeira Temporada escrita por MS Productions


Capítulo 54
Perigo Constante (Vol. 5) - Capítulo 8




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1988, Vila Estige:

   O grande dia tinha chegado… Esperou tanto por aquele momento que pensava que quando este chegasse, iria sentir-se diferente, mudada… Mas nada disso aconteceu. A jovem Érica completava agora os dezoito anos de idade e tudo parecia igual. Sentiu-se um pouco desanimada pois nada foi como estava à espera… Até a sua ida à Ordem Secreta para ser nomeada Night Watcher fora adiada. O que valia era que, apenas tinha sido adiada três dias. Se fosse mais tempo, Érica tinha ficado a pensar que talvez eles não tivessem achado que ela estivesse pronta.

   Para a animar naquele dia, os seus pais tinham feito um bolo gigante para comemorar aquela data tão importante, mas nem isso fizera a jovem sentir-se melhor. Passou o tempo todo no seu quarto, o que não era muito vulgar. Nos fins de tarde a jovem gostava de ir até ao enorme jardim que possuía no exterior da casa e desta vez, não respeitou a sua rotina. Preferiu ficar à janela a observar o céu. Enquanto o sol se punha, a cor do deste fora variando e agora, estava meio dourado. Aquela cor assemelhava-se às paredes da Ordem Secreta que tanto a fascinara. Érica sorriu. Subitamente, uma luz forte e brilhante atraiu a atenção da jovem. E vinha do seu próprio quarto. Quando olhou, identificou imediatamente de onde provinha… De uma estátua que tinha na prateleira. Ao sair da Ordem, ela e os seus pais voltaram a passar na loja de antiguidades. E como o Sr. James tinhas prometido, deixou a jovem escolher um objecto a seu gosto. Sem saber o porquê, escolhera aquela estátua que tinha agora no seu quarto. O Sr. James havia explicado que aquela representação humana era na verdade, um dos originais fundadores da Ordem Secreta. Érica ficara entusiasmada e teve ainda mais vontade de ficar com ela. O detalhe mais curioso daquela peça era o minúsculo diamante que tinha cravado na sua testa. Dava-lhe uma beleza especial. Assim que a jovem pegou na estátua, percebe que a luz que estava a ser emitida era a dos últimos raios de sol a incidirem no diamante. Fazia um efeito espectacular, mas para seu desalento, não passava disso… De um efeito.

   Érica deitou-se… Queria que aquele dia passasse rápido. Até o momento tinha sido a hora que a jovem mais desejava ver chegar… No entanto, nada de especial acontecera.

   Na sala de estar, Bernardo e Olívia Fernandes pareciam estar desanimados. O que era compreensível, tendo em conta que era o aniversário da sua filha e esta não mostrou um sorriso o dia inteiro…

Olívia - Quem me dera poder fazer algo…

Lamentava.

Bernardo - Acho que não podemos fazer nada! Ela ficará animada por si mesma!

Tentou explicar Bernardo.

Olívia - Eu sei Bernardo! Mas este pode vir a ser o último aniversário que passamos com ela! Queria que fizéssemos algo especial!

Exclamou, com as lágrimas nos olhos.

Bernardo - Não penses assim amor! Vai correr tudo bem!

Tentou acalmar a mulher, mas esta estava muito em baixo…

Olívia - Não ouviste o que o Sr. Charters disse? Isto será uma guerra… Algo fora do controlo! Nunca passamos por nada assim…

Bernardo - Já te disse! Tudo irá correr bem! Não confias em mim?

Insistiu Bernardo.

Olívia - Não sei… A Érica, Bernardo….

E desatou a chorar nos braços do marido.

Bernardo - Ficaremos todos bem… Vais ver! Amanhã ela estará bem-disposta e faremos algo juntos!

Bernardo tentava manter a postura… Mas estava a custar-lhe muito. Todo aquele optimismo estava a corroê-lo por dentro. Olívia levantou a cabeça e olhou para o marido…

Olívia - Espero que sim! Se ao menos ela soubesse porque é que a sua ida à Ordem fora adiada…

Passados 3 dias:

   A jovem Érica acordou baralhada…

   Na noite anterior, estava muito ansiosa e teve dificuldades em adormecer. Finalmente estava a chegar o grande momento em que ia ser nomeada e os pais tinham proporcionado um dia fantástico, em família, para comemorarem. Na verdade, Érica tinha percebido que tudo aquilo que eles tinham preparado era pra compensar o seu dia de anos. De qualquer dos modos, tinha dado resultado… Divertiu-se muito com eles e admirava-os pela capacidade de conseguirem criar algo que a tirasse do desconforto que sentia. Estes tinham sido os seus pensamentos antes de ir para a cama. Ao acordar o cenário foi outro…

   Um enorme estrondo e gritos ensurdecedores interromperam o sono da jovem. Sentou-se na cama, assustada e olhou à sua volta. Tudo pareceu normal e nos primeiros segundos, pensou que tinha sonhado. Até voltar a haver outro estrondo e mais gritos serem escutados. Apressada, Érica levantou-se e foi até à sua janela… Algo estava errado. Ao longe, uma parte da selva estava em chamas. Uma das grandes casas existentes na vila, perto da sua, cuspia fumo por todos os cantos, aparentemente tinha explodido. Para acréscimo, algumas pessoas pareciam estar a fugir, apavoradas. Érica não conseguiu perceber o porquê, mas tudo aquilo estava a deixá-la muito assustada. Num instante, vestiu umas calças e uma t-shirt bem simples e saiu do quarto para procurar os seus pais. Assim que chegou à sala, no andar de baixo, ficou uns segundos parada… A sala que tanto conhecia nem parecia a mesma. Todas as cadeiras, sofás e mesa estavam atulhadas de armas, numa desorganização nunca antes vista. Bernardo e Olívia Fernandes corriam de um lado para o outro, bastante atarefados. Érica percebeu de imediato que os seus pais já estavam a par da situação.

Érica - Pai? Mãe? O que é que está a acontecer?

Perguntou, avançando na direcção dos mesmos.

Olívia - Érica…

Disse a mãe, a conter a vontade que tinha de chorar. Bernardo viu o estado da mulher e interveio.

Bernardo - Érica, filha… Não há tempo para explicações! Precisas de ficar aqui…

Érica ficou confusa com aquela resposta.

Érica - Estão a assustar-me! O que é que se passa?

Bernardo - ÉRICA!

Gritou o pai, autoritário. Érica calou-se e ficou surpreendida com a atitude do pai que, em 18 anos, nunca gritara com ela.

Bernardo - Promete-me que aconteça o que acontecer, não irás sair daqui!

Érica - Mas pai… O que é que se passa?

Olívia - Ouve o que o teu pai está a dizer Érica!

Érica - Eu quero ir com vocês!

Pediu a jovem

Bernardo - Não podes! Por favor, faz apenas o que te peço! Precisas de ficar aqui dentro!

Exclamou enquanto pegava numa arma. Érica assentiu, não queria enervar mais os seus pais. Olívia abraçou-a…

Bernardo - Vamos Olívia, está na hora!

A mulher recompôs-se e Érica olhou para o pai.

Bernardo - Já nos voltamos a ver querida… Não te preocupes!

Ao acabar de falar, Bernardo saiu de casa acompanhado pela mulher, Olívia.

Érica ficou parada por uns segundos… A vila estava a ser atacada por algo e os seus pais tinham de fazer qualquer coisa, era a única explicação plausível… A jovem estava perdida em pensamentos… Mas sabia que não ia ficar de braços cruzados se assim fosse. Tinha de fazer algo, mas para isso tinha de desrespeitar as ordens dos pais. O que na verdade, pouco importava pois estava disposta a tudo.

Depois de um longo minuto cheio de incertezas, a jovem pegou numa espada que havia sob a mesa e saiu de casa. Lá fora o cenário estava pior… Metros à sua frente, os seus pais encontravam-se num confronto. Érica reparou que existiam mais meia dúzia de indivíduos a ajudá-los e rapidamente entendeu que eram mais Night Watchers. Demorou algum tempo até perceber quem eram os seus oponentes… Todas elas eram idênticas. Mulheres lindíssimas e elegantes, de cabelo loiro e com duas serpentes grandes e assustadoras a substituírem os braços, Fúrias. Lembrava-se do seu pai ter falado delas alguns meses atrás. Ao olhar para a direita, ficou boquiaberta… Um batalhão de Fúrias avançava em direcção a eles. Na realidade, pareciam estar por todo o lado. Decidida, avançou… Tinha de fazer algo e estava na hora de ser uma Night Watcher, em vez de esconder-se como uma miúda vulgar.

Enquanto corria na direcção deles, o seu pai viu-a e assustado, começou a gesticular e a dizer algo para ela. Érica parou… Não estava a compreender o que ele estava a dizer.

Bernardo - ÉRICA, SAI DAÍ! OLHA PARA TRÁS! ÉRICA…

A jovem continuava a não conseguir ouvir, no meio de tanto barulho. Só quando o seu pai começou a correr na sua direcção é que entendeu… Ele estava a tentar avisá-la de algo. Érica não tinha a certeza, então, o seu primeiro impulso foi virar-se e rodar a espada consigo. Sentiu algo forte enquanto o fez e recuou… Havia uma Fúria atras de si e estava prestes a atacar. No entanto, o golpe que Érica deu, decapitou a criatura instantaneamente. Ao acaso, a jovem teve sorte e salvara-se a si própria. Voltou a olhar para o pai e este tinha parado, claramente aliviado. Érica sorriu, com triunfo, e no momento em que ia avançar, alguém agarrou-a por trás e colocou-lhe um pano a tapar o nariz e a boca. Não teve tempo de fazer nada… Apenas sentiu-se tonta e rapidamente perdeu os sentidos…

Passadas algumas horas:

   Uma luz forte encadeou-a assim que abriu os olhos. Sentia tudo à roda e a sua cabeça doía. Ao sentar-se conseguiu concentrar-se para identificar o sítio onde estava. Parecia um quarto de hospital. Tudo era branco e Érica encontrava-se numa cama. Num segundo tudo veio à memória… Estige a ser atacada, vários Night Watchers a tentarem defendê-la, inclusive os seus pais, o pânico dos habitantes, os fortes estrondos escutados ao longo da vila, as Fúrias… Sentiu-se confusa e ao olhar para o lado apanhou um susto enorme… Estava alguém a observá-la.

Sr. Charters - Calma Érica… Sou apenas eu!

Era o Sr. Charters que ali estava, um dos membros chefe da Ordem Secreta.

Érica - O que é que aconteceu? Onde é que eu estou?

Perguntou enquanto tentava sair da cama. No entanto, o Sr. Charters impediu-a.

Sr. Charters - Volta a deitar-te… E está descansada que estás segura! Estamos na Ordem! Na parte hospitalar…

Tranquilizou-a.

Érica - Não sabia que a Ordem possuía hospital!

Exclamou admirada.

Sr. Charters - Oh, a Ordem tem muitas coisas que ainda desconheces!

Érica estava tão cansada que nem teve curiosidade em perguntar ao que o Sr. Charters referia-se. Em vez disso, deu consigo a observar o quarto onde estava.

Érica - Este sítio… Parece tão normal!

Sr. Charters - Sim, preferimos deixar um ambiente mais natural!

Érica não continuou a conversa e foi direita ao que era realmente importante.

Érica - Como é que eu vim aqui parar Sr. Charters? Pode dizer-me o que é que aconteceu?

Sr. Charters - Como sabes, hoje é o dia em que serás nomeada…

Érica interrompeu-o.

Érica - Eu sei! Mas não estou a referir-me a isso… O que é que aconteceu em Estige?

O Sr. Charters suspirou e preparou-se… Tinha de contar à jovem o que havia acontecido.

Sr. Charters - Lamento informar que Estige foi severamente atacada… Dois demónios tiveram a ideia de destruir a barreira mais importante entre o nosso mundo e o dos que já partiram! E levaram com eles um batalhão de Fúrias, para se certificarem que eram bem-sucedidos.

Érica ficou mais atenta… Conhecia a história da sua vila.

Érica - Como é isso possível? Conseguiram?

Sr. Charters - A tua mãe fez a mesma pergunta… Através de Magia! Quase tudo é possível!

Ao falar da mãe, Érica sobressaltou-se…

Érica - Os meus pais? Onde é que estão? Eles já sabiam?

Sr. Charters - Eles pediram-me pra retirar-te da vila antes que algo acontecesse. Eles já sabiam… E eu garanti-lhes a tua segurança, a todo o custo! E quase que fomos tarde, se não tivesses destruído uma Fúria por ti mesma!

Érica já tinha percebido que alguém da Ordem tinha-a retirado da vila. E agora soube que tinha sido a pedido dos seus pais… Mas a questão principal permanecia.

Érica - Sr. Charters, onde é que estão os meus pais?

O homem abanou a cabeça e baixou-a… As palavras iam custar-lhe a sair.

Sr. Charters - Lamento Érica… Eles conseguiram impedir os demónios. Mas não sobreviveram ao fazê-lo! Lamento ser eu a dar-te esta triste noticia. Estamos todos muito abalados…

Disse o homem cheio de tristeza… Érica ficou perdida à medida que o homem falava e explicara que os seus pais não haviam sobrevivido… Os seus olhos encheram-se de lágrimas, levou as mãos à boca em desespero e finalmente, deu um grito enfurecido. Logo a seguir desatou a chorar. Apenas não queria acreditar que aquele tinha sido o fim dos seus pais., que sempre a acompanharam e com quem passou toda a sua vida.

Devagar e muito comovido com aquela cena, o Sr. Charters aproximou-se da jovem e abraçou-a carinhosamente. Esta cedeu de imediato… Precisava de alguém.

Num tom agoniante, o choro de Érica era escutado nos corredores do hospital…

No dia seguinte:

   Érica não dormira toda a noite… A sua mente vagueou por muitos sítios e levou-a até questões que teve de responder por si mesma. O seu corpo estava recuperado, mas o seu coração não. A perda dos pais ainda era inacreditável. No entanto, teve de se recompor… Tinha um destino a cumprir e os seus pais não iam gostar de a ver assim. Sabia que a partir do momento em que se tornasse Night Watcher, iria afastar-se deles. Mas nunca pensou perdê-los tão cedo. Então, depois de uma noite a mentalizar-se que estava sozinha e por conta própria, chegou à conclusão que chegara o momento certo. Estava preparada. A sua vida já se encontrava em desenvolvimento… Era hora de ser uma Night Watcher. A melhor parte era que, logo bem cedo, propôs esta ideia ao Sr. Charters e sem pensar duas vezes, o homem aceitou o pedido.

   Assim que saiu do quarto do hospital, não sabia onde se dirigir e decidiu perguntar a uma enfermeira que estava no corredor. A mulher indicou-lhe que tinha de se dirigir até ao elevador e então, subir dois andares até ao piso principal, o grande hall de entrada da Ordem Secreta. Érica agradeceu-lhe e quando se ia a afastar da enfermeira, poderia jurar que tinha visto os olhos da mulher a alterarem-se… Momentaneamente, os seus olhos pareciam os de um felino. A jovem questionou-se se aquela simpática mulher não seria uma metamorfo, uma vez que a Ordem tinha a trabalhar para si, uma grande variedade de seres.

   Quando entrou no elevador, fez exactamente o a mulher que tinha indicado e em poucos segundos encontrava-se no hall da Ordem. Como no outro dia, aquele espaço estava cheio de vida e encontrava-se bastante movimentado. Érica não sabia onde se dirigir, nem com quem havia de falar para encontrar o Sr. Charters.

Bella - Érica?

Chamava a Fada enquanto ia ao encontro da jovem. Mais uma vez, mesmo desanimada, a jovem ficara espantada com a sua beleza.

Érica - Olá Bella!

Cumprimentou-a.

Bella - O Sr. Charters pediu-me para vir buscar-te! Pronta para a nomeação?

Perguntou sorridente.

Érica - Mais do que pronta!

Afirmou com firmeza. A Fada observava a jovem com atenção… Conseguia ler muito bem os sentimentos das pessoas. Bella reparou que por de trás de toda aquela bravura, estava um coração partido.

Bella - Lamento pelo que aconteceu aos teus pais… Gostava muito deles!

Exclamou a fada, de uma forma carinhosa que de algum modo confortou Érica.

Érica - Obrigado Bella!

Bella aproximou-se de Érica e abraçou-lhe o braço. Era o máximo que podia. A jovem ficou tocada por aquele gesto e pela primeira vez em algumas horas, sorriu. Depois daquele terno momento, a Fada seguiu caminho, novamente, até ao elevador. Érica seguiu-a. Desta vez subiram vários andares, tantos que a jovem perdeu a noção. Durante o caminho nenhuma das duas conversou… A Fada permanecia imóvel, à espera de chegar. Por outro lado, Érica estava bastante ansiosa e não via hora do elevador parar.

Bella - Não te preocupes, estamos quase a chegar!

Avisou a Fada, para acalmar a jovem. E assim foi, uns segundos e o elevador parara ecoando um género de campainha. As portas abriram-se, tudo estava escuro… Parecia um vazio, infinito… Érica olhou para Bella, um pouco assustada.

Bella - Está à vontade. Não há problema! Eu tenho de regressar, vim apenas acompanhar-te!

Érica - De certeza que não podes vir?

Perguntou, numa tentativa de a convencer.

Bella - Tenho muito trabalho, mas adorava passar algum tempo contigo! Mas já estás entregue, agora só tens de avançar!

Érica percebeu que tinha de ir sozinha. Então, assentiu para a Fada e saiu do elevador. Parecia estar a pisar um solo normal, mas não era visível. Sentia-se no escuro, no meio do nada. Não sabia para onde ir... Olhou para trás, ia perguntar a Bella o que fazer. No entanto, já as portas do elevador estavam a fechar e Érica apenas teve tempo de ver a Fada a acenar. Assim que se fechou, o elevador desapareceu e a jovem sentiu-se ainda mais às escuras. – Bem-vinda Érica! – Ecoou uma voz profunda. A jovem olhou à sua volta e reparou que existia uma luz muito ténue alguns metros à sua frente. – Vem até nós! – Voltou a expressar-se aquela grave voz. Érica avançou até ao destino e assim que chegou avistou logo o Sr. Charters, acompanhado por mais duas pessoas. Naquele curioso espaço apenas existia uma mesa de madeira, comprida, com várias cadeiras dispostas ao seu redor. A pouca luz provinha de algumas velas que se encontravam suspensas no ar, sem qualquer tipo de suporte… Pareciam flutuar. Claramente, obra de Magia.

Sr. Charters - Érica… Presumo que a Bella acompanhou-te, como lhe pedi! É uma honra ter-te aqui nesta sala tão cedo, tendo em conta tudo o que estás a passar neste momento!

Érica - Bem, a decisão foi minha… Não é verdade?

Respondeu calmamente, ainda a observar aquele espaço vazio tão misterioso.

Sr. Charters - Pois claro… E devo dizer mais uma vez, foi uma decisão inteligente!

Érica concordou com a cabeça e olhou para os outros dois membros… Tinha a certeza que aqueles eram os outros elementos que faziam parte da chefia da Ordem Secreta.

Érica - Que sítio é este?

Sr. Charters - Esta é uma das nossas principais salas… É onde nos juntamos para reuniões e para resolver os assuntos Night Watcher. A compreensão deste espaço vai muito além do que serias capaz neste momento! Deixaremos isso para outra oportunidade…

Indicou brevemente o Sr. Charters.

Sr. Charters - Apresento-te os outros dois membros chefes… O Sr. Behzad e a Miss Dabrowski!

Confirmando as suspeitas da jovem.

Sr. Behzad - Então esta é a talentosa Érica! Devo dizer que estava ansioso conhecer-te minha jovem!

Exclamou para Érica, com uma voz muito grave. A jovem reconheceu de imediato aquela sonoridade… Fora ele quem a chamara até ali. O Sr. Behzad aparentava ter a mesma idade que o Sr. Charters. Era um homem alto, forte e pelo seu tom de pele, certamente tinha raízes africanas. O mais curioso era que, ao contrário do visual simples do Sr. Charters, este era mais rigoroso… Possuía um grande manto, em tons de amarelo, que lhe cobria todo o corpo.

Érica - Não sou assim tão talentosa…

Respondeu com a máxima honestidade que pôde. Era óbvio que Érica não era uma simples rapariga, mas a sua auto-estima não estava nos melhores dias.

Sr. Behzad - Claro que és… Tens de ser! Tenho a certeza que sais aos teus pais… Eram grandes Night Watchers! Assim como tu virás a ser!

Érica sentiu-se tocada pelas palavras do Sr. Behzad, mas não se cedeu… Continuou firme. Tinha prometido a si mesma que não ia deixar-se ir abaixo.

Miss Dabrowski - Eu consigo ver, tu és uma jovem forte! E tu sabes o valor que tens! Por favor, não te castigues a ti mesma pelo que aconteceu aos teus pais!

Explicou a Miss Dabrowski com muita calma. A mulher tinha uma aparência vulgar… Era baixinha, de cabelos e olhos escuros, parecia ser um pouco pesada e a sua saia e camisa preta davam-lhe um ar de professora. No entanto, a sua voz e escolha de palavras era muito acolhedora. E o mais impressionante foi o facto de ter atingido a jovem no ponto certo… Era aquilo que Érica pensava. A Miss Dabrowski era muito inteligente, ou então possuía algum dom, pensava a jovem.

Sr. Charters - Devo reforçar… És muito talentosa! São raros os Night Watchers que enfrentam algum ser antes de serem nomeados. E tu fizeste-o! Com a maior das facilidades!

Sr. Behzad - Sim… Ouvi dizer que eliminaste uma Fúria sem qualquer tipo de problema!

A jovem sentia-se lisonjeada pelas palavras que estava a ouvir. Mas na verdade, o que acontecera com a Fúria fora apenas um golpe de sorte. Mesmo assim, sentira-se muito bem ao fazê-lo.

Sr. Charters - E é por isso que vamos nomear-te Night Watcher sem teres de passar qualquer tipo de teste!

Rapidamente esquecera-se do que estava a pensar… Érica tinha conhecimento de que eram realizados testes para serem certificados que os jovens estavam prontos a tornarem-se Night Watchers. Também sabia que estes não eram fáceis… E tinha à sua frente uma porta aberta, uma possibilidade de se tornar no que tanto queria, sem ter de passar por testes. A jovem apenas pensou: “Porquê não aproveitar?”.

Érica - Estão a falar a sério? Vão simplesmente nomear-me?

Sr. Charters - Claro! Já passaste no teu teste…

Érica percebeu que o Sr. Charters referia-se ao confronto que esta tivera com a Fúria.

Érica - Compreendo… Então, estou pronta!

Afirmou, decidida. Devagar, o Sr. Behzad aproximou-se dela e passou-lhe algo para a mão. Érica não viu de imediato o que era, mas conseguiu decifrar pela textura… Era um cristal, igual ao que os seus pais tinham. De seguida, nada aconteceu… Os três membros apenas ficaram a olhar para ela.

Érica - E agora?

Perguntou confusa, enquanto observava os membros. A Miss Dabrowski fez sinal para a jovem olhar para o cristal. E assim foi… Quando o fez, Érica ficou impressionada. O cristal azul começou a emitir uma luz forte que rapidamente transformou-se num clarão. Assim que voltou ao normal, várias imagens eram reflectidas na parte plana do cristal. Érica observava cada uma delas… Paisagens lindíssimas, pessoas, animais, Magia brilhante… Até o cenário piorar e em vez de coisas agradáveis, o cristal mostrou seres hediondos, criaturas tenebrosas, sofrimento, desespero, morte… A jovem abanou a cabeça e instantaneamente, as imagens desapareceram e o cristal voltara ao normal.

Sr. Charters - Parabéns! Acabaste de te tornar numa Night Watcher!

Érica não sorriu, nem teve qualquer reacção de espanto perante o que tinha acontecido… As imagens que acabara de presenciar tinham sido perturbadoras.

Érica - Que sítio era este?

Perguntou um pouco incomodada.

Sr. Charters - A tua nova casa… A vila para onde serás enviada! Vila Cila!

Érica respirou fundo… Estava prestes a ir para uma zona bela, mas ao mesmo tempo perigosamente mortal. Esperava estar realmente preparada, pois teria muito trabalho pela frente, se tudo o que o cristal lhe mostrara, fora realmente verdade.

1989, Vila Cila:

   Quase um ano havia passado desde que a jovem Érica chegara a Cila. A Ordem tinha proporcionado tudo o que ela precisasse para se adaptar na vila. Casa, estabilidade e dinheiro. Agora dependia dela inserir-se na sociedade. No início, foi complicado viver sozinha e ter de fazer tudo por si mesma. Muitas vezes o Sr. Charters deslocou-se até lá para a ajudar. A relação entre ambos foi ficando forte, uma vez que tinha perdido os pais, a dedicação do Sr. Charters era muito importante para a jovem. Érica já o considerava família… Era incrível como ele continuava a manter a promessa que tinha feito a Bernardo e Olívia Fernandes, certificar-se da segurança e bem-estar de Érica.

   Durante este tempo, a jovem já enfrentara algumas ameaças e saiu-se bem-sucedida de todas. Havia muito mais perigo e ocorrências em Cila do que na sua vila natal, Estige. No entanto, não com tanta frequência como viria a ser anos mais tarde…

   Maioria dos dias que passavam, Érica dedicava-se a tempo inteiro ao estudo e aos trabalhos que tinha a realizar como Night Watcher. Todos os dias treinava novas técnicas e fazia exercício. À noite fazia as suas rondas pela vila. O restante tempo que tinha livre, lia todo o tipo de livros que fossem úteis ao bom desempenho das suas tarefas. O Sr. Charters aconselhava-a com frequência a não dedicar todo o seu tempo à Ordem. Era importante também ter uma vida… Ter amigos, dedicar-se a si mesma, ter momentos de lazer… Mas a jovem sempre fora muito solitária. Em Estige teve muitos poucos amigos, passava maior parte do seu tempo com os pais. E desses sim, tinha saudades.

   Por incrível que pudesse parecer, a sua vida estava encaminhada… Independentemente de ter perdido os pais, tudo o resto estava como era suposto. Érica sabia que o seu destino estava a ser cumprido. No entanto, o tempo passou… E inexplicavelmente, a jovem sentia-se insatisfeita, como se algo faltasse na sua vida…


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