Chegar até a casa de Ryan não demorou muito, e logo que desci do taxi um pouco de insegurança bateu em meu peito, me fazendo questionar se batia ou não no interfone.

Já ia virar as costas, ligar para Ryan e arranjar uma desculpa sobre não poder ir, quando ele chegou na janela e me gritou.

– achei que não fosse chegar nunca! – disse com um sorriso em seu rosto e em poucos segundos a portaria fez um barulhinho e a porta se abriu.

Respirei fundo três vezes e entrei, subindo devagar, tentando adiar aquilo o máximo possível.

– boa noite, senhorita – me deu um selinho e eu sorri torto.

– olá. Desculpa a demora – dei de ombros enquanto entrava no apartamento.

– não tem problema – fechou a porta e me pegou pela cintura, me encostando na parede – a gente pode tirar seu atraso... – deu um sorrio torto e chegou mais perto para me beijar.

Virei, inconscientemente, meu rosto no ultimo segundo, fazendo com que beijasse minha bochecha.

– o que foi? – perguntou juntando as sobrancelha.

– ah, é que... – limpei a garganta – é que eu não escovei os dentes antes de sair – dei de ombros e ele soltou uma risadinha.

– eu não me importo se você não se importar – disse chegando perto mais uma vez e saí por debaixo de seu braço.

– na verdade, eu me importo sim – disse sorrindo e ele colocou as mãos na cintura, me olhando de forma engraçada.

– o que você tem, Sam?

– fome – disse sentindo cheiro de macarrão e me agarrando à minha mais nova desculpa – fome e cansaço...

– tudo bem, vamos comer então? – pegou em minha mãe e me levou até a cozinha.

Seu apartamento era bem grande comparado a apartamentos de universitários, mas eu sabia que o motivo disso era o fato de , assim como Liam dizia, seus pais nadarem na grana.

Me senti enjoada assim que me lembrei de Liam e quase me engasguei com o gole de coca que tinha colocado na boca.

Ryan riu.

– você está muito estranha hoje...

– eu sei, eu sei... é só que eu estou tão cansada e os meninos me irritaram o dia inteiro e... – balancei a cabeça negativamente – eu não devia ter vindo, me desculpe.

– ei – pegou minha mão em cima da mesa – não estou falando que não devia ter vindo. Fez muito bem de vir, me deu o maior trabalhão fazer esse macarrão! – olhamos juntos para o miojo em cima da mesa e rimos – vamos assistir alguma coisa na TV e ver se você melhora, ok? – perguntou e concordei com a cabeça.

Tiramos os pratos da mesa, mas como Ry me proibiu de lavá-los, fomos direto para o sofá logo depois.

Me aconcheguei em seu peito e ele passou o braço em volta de mim. Ligou a TV e ficou passando pelos canais até achar alguma coisa interessante.

Parou na Disney e contemplei Woody na minha frente.

– não, não, esse não! – disse dando um pulo e tirando o controle de suas mãos.

– porque não? – perguntou com uma cara confusa – toy story é seu filme favorito...

– eu sei... mas é que eu sempre choro assistindo e não estou querendo isso hoje... – dei de ombros e comecei a mudar os canais.

– achei que você chorasse no 3 e não no 1 – senti seu olhar sobre mim e escutei sua pergunta baixinha, mas fingi não ter ouvido e continuei apertando o controle até parar em America’s Next Top Model.

Encostei-me mais uma vez no sofá e Ryan passou o braço por meus ombros. Não demorou muito e senti seus lábios em meu pescoço, traçando caminhos para cima e para baixo. Tentava desviar dele discretamente, mas não conseguia, e tudo aquilo só me lembrava de Liam mais cedo.

Mas como diabos eu me entreguei para ele daquela forma? Tão facilmente? E depois ainda fiquei nervosa e, pior (!!), em dúvida se a minha raiva era por causa do fato de ele não ter terminado o que tinha começado?

Qual era o meu problema?

Eu tinha Ryan, que era um cara ótimo, engraçado, gentil, que fazia tudo por mim. e tudo que eu conseguia ficar pensando enquanto esse cara quase perfeito beijava meu pescoço era em Liam. Em como ele era cavalheiro, em como me entendia, em como conseguíamos nos comunicar apenas com um olhar, e na quantidade de coisas boas que tinha passado com ele.

Era para eu ser uma namorada normal e estar, no mínimo, me arrepiando com respiração de meu namorado loiro dos olhos azuis tão próxima de meu pescoço. Mas acho que eu não era uma namorada normal, no fim das contas. Afinal, ali estava eu, pensando em meu ex-namorado, pensando em como eu tinha quase me entregado totalmente para ele mais ou menos duas horas antes.

Eu ia mata-lo quando chegasse em casa!

Ryan continuou a me beijar e logo já estava abaixando a alça de minha camiseta, beijando também meus ombros.

– para, Liam! – disse empurrando de leve seu ombro e ele parou na mesma hora.

Prendi a respiração e apertei os olhos, percebendo a merda que tinha acabado de falar.

– Ryan eu... – disse vendo- o se afastar de mim e se jogar de encontro ao sofá, passando as mãos no cabelo – Ryan me desculpa, eu só...

– você tinha razão, Samantha – disse sem tirar os olhos da televisão, sua mandíbula se contraindo – você não devia ter vindo...

– me desculpa... – tive coragem para falar, baixinho, depois de alguns segundos, mas sua expressão não mudou.

Senti minha garganta fechar e decidi sair de lá antes que as lágrimas começassem a cair.

Levantei-me e fui em direção à porta, dando uma última olhada no garoto sentado no sofá, que parecia ter congelado naquela posição.

LIAM’S P.O.V.

Peguei meu copo de água e andei até a pia, imaginando quem seria o louco de decidir lavar tudo que estava lá dentro.

Senti um empurrão nas minhas costas e, além de quase enfiar o copo na minha garganta, engasguei devido a grande quantidade de água que entrou em minha boca de uma vez só.

– você é um babaca! – escutei Sam atrás de mim e esperei acabar de tossir a água para fora para me virar para ela.

– mas o que foi que eu fiz agora? – olhei para ela na cozinha escura e me deu um tapa no peito.

– ridículo! – disse mais alto e me deu outro tapa – idiota, idiota, idiota! – disse enquanto continuava a me bater.

– do que é que você está falando? – disse segurando seus braços.

– você não consegue me ver tocando a minha vida, me ver um pouco feliz e me deixar assim, não é? – disse e fungou, me fazendo perceber, pela primeira vez, seu tom choroso – não! – arrastou o ‘a’ – você tem que vir com seus joguinhos idiotas e acabar com tudo, Liam! Você tinha que estragar tudo não é? – virou de costas e colocou um das mãos na cintura, usando a outra para tapar a boca.

No silêncio da cozinha, pude escutá-la chorar de um modo assustadoramente alto.

– Sammy... – disse chegando perto lentamente – o que aconteceu? O que o Ryan fez?

– por favor, Liam, só... só me deixa em paz de agora em diante, ok? – disse mais calma e saiu da cozinha me deixando sozinho.

Pelo jeito eu tinha a capacidade de irritar ela até mesmo estando longe, muito bom Sr. Payne, muito bom!