Depois que eu vi aquela cena, me tranquei no quarto até ter certeza que poderia sair sem quebrar a cara do tio de vocês. John bateu na porta e me chamou para o almoço e respirando fundo, desci.

Filhos, eu sei agora o quanto fui imaturo, imbecil e inconsequente, mas ao ver os dois rindo ali na frente de todos, eu não aguentei. Obs.: O pai de vocês não é tão idiota como tem parecido até agora... Ei, eu tô falando sério!

Eu peguei Lucy pelo braço e tasquei um beijo nela, daquele de desentupir pia mesmo. Ela ficou toda mole nos meus braços e tudo ao nosso redor ficou em um silêncio mortal. Olhei para Anna e ela estava paralisada apenas olhando para nós dois, pasma. O silêncio só foi quebrado quando você, Kathy, entrou furiosa:

-Mãe, os homens são uns idiotas! – Esbravejou indo em direção à Anna.

-Bem vinda ao meu mundo... – Murmurou olhando pra mim, mas com uma voz doce perguntou: - Por que filha?

-O-O Andy estava brigando com o Tinho. – Não sei se você ainda chama seu irmão assim, mas era desse jeito que você o chamava nessa idade. –O Andy bateu no Tinho e o Tinho caiu, então... –Fez uma cara de constrangida e culpada ao mesmo tempo. –Eu bati no Andy e ele chorou muito. Só que invés do Andy ficar bravo comigo, foi o Tinho me chamou de idiota!

-Filha, você não pode fazer isso!

-Nem pensar, lindinha. – Melanie concordou.

-Por quê? – Seus olhos cresceram e seu bico também.

-Você vai ter que ir pedir desculpas a ele.  –Anna explicou.  – Se não ele vai ficar chateado com você.

-Eu não vou pedir desculpa ao Andy! – Cruzou os bracinhos e empinou o nariz.

-Pro Andy não, meu amor... Pro seu irmão.

- Ah, por quê? – Ela estava indignada e confusa, até eu não intendi essa.

-Vem cá, filha... –E a puxou para seu colo. – Uma coisa que você tem que aprender desde pequena é... – Suspirou. – Que os garotos gostam de nos proteger e achar que é mais forte que nós. – Katharina bufou. –Eles se sentem mais garotos quando se acham bem fortes e capazes de nos proteger de tudo e de todos... Quando se acham fracos, ficam bolados. Então, a gente se faz de fraquinhas  só pra fazê-los acreditar nisso, ok?

-AHHH! – Sua boca ficou se abriu num grande “O”. – Tá, vou lá agora falar com ele.

E saiu correndo. Gritando “TINHOOOO”!

-Nossa, Anna, como você foi... – Comecei.

-Na mosca. – Bianca falou me interrompendo. – Amor, abre essa lata aqui. – Richard prontamente abriu e notei que ela deu uma piscadela pra Anna.

-Eu ia falar feminista. – Comentei sentando-me de frente pra ela, com Lucy no meu colo.

Anna estava sentada entre Richard e Melanie, enquanto John e Bianca estavam sentados na ponta. Anna se levantou e deu a volta na mesa, acho que para ir até o banheiro, quando repentinamente Lucy levanta também e derrama sua bebida toda na sua roupa.

-Oh, me desculpe! – Pediu com um sorriso inocente.

-Não, tudo bem... – A garantiu com um sorriso tão grande quanto o de satisfação que Lucy tentava esconder.

O sorriso da minha noiva se esmoreceu assim que Anna tirou a saída de praia e ficou apenas de biquíni, pedindo a um dos empregados que buscasse uma nova roupa pra ela. Invés de ir ao banheiro, ela foi até a cozinha e trouxe uma travessa de macarronada e “acidentalmente” tropeçou no tapete e derrubou toda a comida na cabeça de Lucy.

-Oh, mil perdões! – Falou não se preocupando em esconder o sorriso de escárnio. – Quero ver você tirar seu cabelo! –Gritou enquanto ela corria toda melecada  gritando “Meu cabelooo!”. – Desculpe, não resisti.

- E agora, a gente vai comer o quê? – John perguntou, irritado.

-Já que fui eu,  a culpada, eu cozinho... – Anna se prontificou indo para trás do balcão.

-Anna, você não cozinha. – Acusei enquanto ela amarrava um avental  na cintura.

-Não cozinhava, no passado. – Disse sorrindo provavelmente se lembrando das suas tentativas fracassadas de cozinhar quando estava gravida de vocês. – Depois de seis anos morando sozinha, tive que aprender, né?

-E por que não me contou? –Perguntei achando muito pouco provável que ela tenha aprendido a cozinhar  durante esse tempo.

-Você come meus bolos, almoça na minha casa... Quem você acha que faz tudo?

-Os chefes de cozinha do hotel?

-Nan... Sou mesma que faço tudo. – Contou-me sem modéstia nenhuma. – Os garotos são cheios de alergia e eu não gosto muito de arriscar.

Eu dei de ombros e fiquei a observando cozinhar, ela realmente estava com mais destreza que antigamente... De repente ela começou a tossir, tossir, tossir muito mesmo até que teve que parar um pouco em busca de ar.

-Licença. – Jogou o avental no balcão e saiu correndo para o andar de cima.

-Anna! – Richard gritou indo atrás dela.

Percebi o olhar inquisidor de Bianca e o de terror de John e Alexia, eu esperei o tio de vocês voltar, mas como nem sinal dele nem de Anna, fui atrás.

Assim que entrei no quarto, ouvi o som de alguém vomitando e corri para o banheiro pra ver quem estava passando mal e dei de cara com a mãe de vocês com a cabeça na privada enquanto Richard segurava seu cabelo.

-O que diabos está acontecendo aqui? – Eu logo pensei na pior hipótese: Anna tá gravida de Richard.

-Ma... – Nem esperei ele me responder para encher a cara dele de porrada.

-Matt, para com isso! –Anna me pediu desesperada.

-Você traiu a Bianca, seu desgraçado! –Acusei, vendo tudo à minha frente virar vermelho e socando seu rosto insanamente. – Transou com a Anna!

-COMO É QUE É?! –Anna me perguntou gritando. – Matt, para! – Pediu tentando me puxar, mas eu a empurrei para ela se afastar e acabou caindo no chão.

-Tá vendo o que você fez?! – Richard me perguntou olhando para ela enquanto me empurrava com violência, mas não foi tão difícil já que eu fiquei . – Anna, você tá bem?

-Tô e você? – Falou aceitando a ajuda dele para se levantar. – Caramba, vai botar um gelo no seu olho, sua boca tá sagrando... – Avisou-lhe e ele aceitou seu concelho já saindo. –Matt, você fica.

Ela encostou-se na porta e acenou com a cabeça para sairmos o banheiro e ir para o quarto. Assim que sentei na cama, ela ordenou:

-Explique-se.

-Explique-se?! –Perguntei irônico. – Quem tem que se explicar é você! Você que está gravida do meu irmão!

-Grávida. Do seu irmão? –Perguntou confusa e depois de um tempo apenas me olhando  intensamente começou a rir.

-O que é tão engraçado? –Perguntei enfezado.

 -Você. Você é tão ciumento que tirou conclusões precipitadas de algo que não tem nada a vê! – Riu mais até começar a tossir novamente.

-Então você não está gravida? – Perguntei desconfiado.

-Não, seu besta! E se estivesse o filho seria seu e não do Rick, eu jamais transei com ele! – Contou-me entre gargalhadas.

-Então vi vocês dois cheios de segredinhos e agora eu te vejo passando mal... O que você queria que eu pensasse o quê?

De repente, sua risada cessou e ela ficou calada e séria.

-Que eu estou doente.

Filhos, depois que  eu finalmente almoçar eu conto o resto, ok?