11 De Janeiro escrita por Blue Dammerung


Capítulo 1
Ser rude é mais fácil do que ser gentil.


Notas iniciais do capítulo

"Amigo, toma para ti o que quiseres, 
passeia o teu olhar pelos meus recantos, 
e se assim o desejas, dou-te a alma inteira, 
com suas brancas avenidas e canções. 
Amigo - faz com que na tarde se desvaneça 
este inútil e velho desejo de vencer. 
Bebe do meu cântaro se tens sede. 
Amigo - faz com que na tarde se desvaneça 
este desejo de que todas as roseiras 
me pertençam." 



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Aquele podia ser apenas um dia qualquer, apenas mais um dentre os outros 365 do ano, mas não era. Você poderia pensar “seria pelo clima quente quase insuportável?” ou então “seria por causa da paisagem de uma antiga Jerusalém mostrada agora?”.

Jerusalém, século XII, clima quente, ventos quentes, sol quente, poeira em todo lugar, pessoas caminhando sem parar, cada uma fazendo o que tinha que fazer, cuidando da própria vida.

Mas não ele.

Não, ele estava pulando de telhado em telhado naquele momento, a respiração naturalmente acelerada enquanto alguns homens (mais desajeitados) corriam atrás de si, porém não ousando pular distâncias longas demais que para o assassino eram tão terrivelmente simples.

Meteu-se num beco e se agachou detrás de algumas caixas de madeira, os ratos correndo assustados com o som de suas passadas mas logo o silêncio se estabelecendo por completo, exceto então por gritos frustrados dos soldados que, novamente, tinham perdido seu alvo.

Suspirou e se pôs de pé, minutos depois deixando o beco para se misturar na multidão, tomando o caminho para o Bureau não muito distante. Estava exausto. Tinha acabado de finalizar seu alvo, e dentro da algibeira presa ao cinto de couro, uma pena manchada com sangue estava guardada como o mais precioso tesouro.

Provavelmente, quando chegasse ao Bureau, Malik diria alguma coisa, alguma coisa não tão agradável, e então, Altaïr lhe entregaria a pena e iria dormir, sem nunca prolongar as conversas.

Embora eles tivessem conversado tanto quando mais jovens.

Voltou a suspirar, um hábito seu, uma espécie de reclamação bastante discreta a medida que adentrava o Bureau pelo teto, pousando silenciosamente no chão, a fonte logo atrás de si, almofadas sobre tapetes pelos cantos, algumas plantas, e mais adiante, uma entrada para a parte mais interna do Bureau, onde Malik escrevia alguma coisa em papeis.

Altaïr adentrou a pequena sala, abarrotada com documentos, e mostrou a pena a Malik, pousando-a sobre o balcão e atraindo o olhar do líder do Bureau.

-Hmph.-Malik resmungou, pegando a pena e a guardando sob o balcão, voltando a escrever sem sequer erguer o olhar para Altaïr.

-Safety and peace, Malik.

-Tá, tá, tá, agora vá embora. Eu tenho mais o que fazer. Vá dormir e parta amanhã de manhã, vou avisar Al Mualim em breve, apenas me deixe em paz.

É, quem sabe, aquele fosse um dia como tantos outros e ele apenas se enganara. Estivera, de certo modo, feliz até aquele momento, não podia negar. Tinha emoções e as sentia, apenas não demonstrava, mas ele estava sim feliz.

Tão feliz que ver a indiferença do outro lhe entristecia profundamente.

Se Malik tivesse dito aquelas mesmas palavras em qualquer outro dia, ser ignorante ou mal-educado em qualquer outro dia, lhe xingado e lhe ofendido de todas as maneiras possíveis em qualquer outro dia, Altaïr não teria ligado, mas acabaria rebatendo para não perder o costume de discutir com o amigo (porque eles eram amigos, mesmo uma das partes odiando profundamente o outro).

Mas naquele dia, não.

Altaïr não conseguira evitar, fantasiara. Imaginara. Vira-se pensando no que o outro diria quando o visse naquele dia.

Ele esperou no fundo do coração que Malik, apenas naquele dia, olhasse para ele e quem sabe sorrisse, dissesse algo bom ou talvez até não dissesse nada, apenas sorrisse, transmitisse algo que não fosse seu desprezo profundo pelo então novice.

-O que você está olhando? Vá embora daqui, seu novice maldito, sua presença me enoja.-Malik disse, realmente erguendo o olhar, as sobrancelhas franzidas numa expressão de irritação.

-Você sabe que dia é hoje?-Altaïr perguntou, bastante casual.

Será que era por que Malik não se lembrara? Ou por que se lembrara, mas não quisera dizer nada? Afinal, Malik odiava Altaïr, então por que diabos ele iria ficar feliz com aquela data? E por que diabos Altaïr, mesmo sabendo de tudo aquilo, realmente esperou algo de bom do líder do Bureau?

Porque Malik era a última pessoa ali de pé por ele. Al Mualim apenas o usava, os demais assassinos, seus irmãos, não nutriam sentimentos que não fossem indiferença ou até raiva por si. Não havia nenhuma mulher ou parente vivo, havia apenas Malik.

Seu amigo de infância, o amigo a quem todas as noites sonhava em pedir todos os perdões do mundo pelos erros que cometera, por Kadar, pelo braço que tinha perdido, a manga do robe pendendo no ar e balançando quando o vento batia, e tudo isso por causa de Altaïr.

Por sua causa.

Como, então, Altaïr poderia sequer pensar que Malik ficaria feliz com aquele maldito dia? Era logicamente inaceitável.

-Hmph, eu lá tenho cara de calendário?-Malik rebateu, começando a realmente se irritar.

-Você sabe que dia é hoje.

-Sim, eu sei, e daí? Não significa que eu vá dizer a você. Caia fora daqui antes que eu mesmo tenha que lhe tirar.

Malik sabia que dia era aquele, e provavelmente, sabia seu significado, porém, não queria comemorá-lo. Queria deixá-lo passar como se fosse qualquer outro dia, o sol quente, a poeira no ar, o vento no rosto. Ou era isso que Altaïr pensou naquele instante, e aquela felicidade tão escondida debaixo dos olhos sempre frios se foi. Sumiu, como se jamais estivesse ali, sumiu, tão escondida que ninguém daria por falta exceto seu próprio dono.

-11 de Janeiro.-Altaïr disse então, virando-se para a porta, uma das mãos pousadas sobre o arco da mesma, a voz firme e indiferente.-Hoje é 11 de Janeiro.

-E daí? O que há, você tirou o dia para tomar meu tempo hoje?!-Malik exclamou, estreitando o olhar, fitando o assassino a alguns metros de si.

-Hoje é meu aniversário.

Malik não rebateu de imediato, ficando calado por alguns momentos e chegando a desviar o olhar. Seria possível que ele realmente não se lembrasse? Altaïr, bem lá no fundo, chegou até a ter esperanças de que o outro diria um casto “parabéns”, o que seria o bastante.

Na verdade, seria a melhor coisa que Altaïr poderia ouvir.

Mas é claro que Malik não diria aquilo.

-Novamente, e daí?-Disse o líder do Bureau, voltando a olhar para os papeis com descaso para com o assassino que lhe observava.-Você está mais velho, e mais idiota também, aposto. Vá embora daqui.

Porque Malik nunca fora bom com palavras, nem sentimentos, e a única coisa que sabia fazer em relação ao assassino que agora deixava o cômodo para se deitar nas almofadas era brigar, xingar e desprezar, porque Altaïr era o único que conseguia lhe tirar do sério quase sem fazer nada. O único que precisava ser tratado de forma rude, porque se não fosse dessa forma, como seria? De forma amorosa? Não, era complicado demais. Malik nunca tivera sucesso com essas coisas de amor, ou sequer ódio. Mas Altaïr não sabia disso, e portanto, foi dormir apenas se sentindo mais velho, literalmente velho, os olhos logos se fechando num sono leve.

Não é que Malik o odiasse tão profundamente, é que Altaïr apenas o deixava sem reação, então ele agia de forma rude para se proteger. Não é que Malik não tivesse se lembrado do aniversário do outro, na verdade, ele tinha, apenas tinha deixado o assunto de lado porque pessoas que odeiam pessoas não comemoram seus aniversários. Não é que Malik estivesse se culpando naquele exato momento, cada vez mais irritado.

Ser rude era sempre mais fácil do que ser gentil, e aquela forma de agir tinha lhe servido bem até aquele momento, não tinha? Então seria bem melhor continuar com assim, sim, sim, continuar daquela forma, sempre xingando e desprezando porque era a única forma que tinha de agir perto de Altaïr, porque qualquer outra forma seria constrangedora demais.

Mas no dia seguinte, quando o sol tinha quase acabado de nascer, Altaïr acordou e se sentou com os olhos dourados perdidos em algum sentimento que variava entre a surpresa e uma alegria tão grande que seu lábio superior se repuxou para cima, num tímido sorriso.

A sua frente, sobre um prato de barro comum e pouco chamativo, havia uma iguaria de sabor doce, muito comum em aniversários, embora aquela fosse especialmente simples, e ao lado, um bilhete amassado e suado, com palavras apagadas de que escreveu e apagou várias vezes até encontrar o que escrever.

“Feliz aniversário, novice.”


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso, tanto que a fanfic foi classificada como livre (COMO ASSIM???? NADA DE PORN DESSA VEZ???) Sim, nada de porn. Acho que é porque o Kallein não esteve comigo hoje, mas enfiem, eu espero que vocês tenham gostado ♥
Reviews?
(ps -> acreditam que eu realmente gastay os 5 reais que tinha, minhas maiores economias, pra comprar uma velinha e um daqueles mini bolos numa padaria aqui perto? minha mãe me chamou de louca quando soube que eu estava cantando parabéns - sozinha - pra um personagem de videogame)
(ps2 -> eu sei que essa fanfic foi descrita como shounen-ai mas que no começo eu colocay um textim bunitim de amizade, certo? é que na fanfic, a relação do altaïr com o malik está na transição de amigos -> possíveis amantes, sacaram? oyeh)