O Corvo E A Borboleta escrita por bitterends


Capítulo 1
ONE AND ONLY


Notas iniciais do capítulo

Dedicado aos corações apaixonados, que perderam seus amores para o câncer; a lista é grande, eu sei.
Dedico aos fãs que se encontram nesta situação e que talvez nunca tenham a chance de encontrar com seus ídolos, saibam que até nós mesmos, em perfeita saúde podemos nunca chegar até eles também!
Dedico ao Zach Myers, por ser de grande inspiração muitas vezes para minha minha imaginação! (sei lá, vai que eu tenha o privilégio dele ler algum dia? =P)



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Zach estava tão feliz nos últimos seis meses; a carreira deslanchou, ele conhecia o mundo a fora e tinha ao seu lado a garota mais maravilhosa, cujo nome não importa. Não mais, agora.

Nunca pensou que fora de Memphis, encontraria um refúgio maior que os braços dela. Ela que era a mulher mais bonita do mundo perante seus olhos, que era a mais doce, a única rosa vermelha de um jardim em que apenas floresciam rosas brancas... “Porque de um lugar onde todas são iguais, você nasceu para fazer a diferença”. Ele disse a ela uma vez, e ela riu. Riu porque jamais imaginaria que Zach Myers diria isto a ela antes que partisse. Riu porque nunca imaginou sequer que estaria junto dele, apaixonando-o a cada dia.

Era notável paixão entre os dois, desde o momento em que seus olhos se encontraram naquele backstage, cheio de tietes, “porque de um lugar onde todas são iguais, você nasceu para fazer a diferença.”

Numa madrugada, após o amor avassalador caloroso ao qual rendiam-se, ainda suados, abraçados na cama, ela tocou num assunto aterrorizante para ele, que na época era incapaz de entender o que significava.

- Zach, se algum dia eu partir... Você irá me procurar?

- Até o infinito, minha 'borboleta'.

- Mas se eu partir, como uma borboleta que costuma me chamar... Nunca mais vou voltar...

- Você não precisará voltar, eu posso ficar onde você quiser estar!

- Mas você nunca irá me encontrar...

- Como o corvo seguindo a borboleta?

- Quase isso.

E adormeceram.

Após esta noite passaram-se quatro meses, nunca voltaram a falar sobre aquilo.

Era maravilhoso, quando ao chegar exausto e irritadiço dos shows, ter uma mulher paciente e cheia de carinho a sua espera. Ao abrir a porta e ver seu sorriso, o que se passou durante suas horas de ausência, passou. Aquela era a razão de acordar e estar certo que todos os dias seriam mágicos, seriam únicos, um melhor que o outro, porque ele tinha sua própria Borboleta.

Aquele dia era especial, faziam-se sete meses que ele e sua Borboleta estavam juntos. Saindo do estúdio, comprou rosas brancas, mas colocou no meio do buquê, ao invés de uma rosa vermelha, uma tulipa roxa. Ela adorava tulipas. Borboletas costumam gostar delas.

Comprou um colar de ouro com um pingente bonito em forma de estrela, pois ela era sua 'estrela guia' e um anel, pelo qual a pediria em casamento.

Adentrou a suíte grande do hotel, o cheiro de seu perfume irradiava e tudo estava em perfeita ordem. Ela era extremamente organizada.

O silêncio era tamanho, além do comum. E ele foi tomado por desespero.

Em cima da cama, onde fizeram amor na noite anterior agora tinha um bilhete, simples com uma única palavra... Mas tão poderosa, capaz de fazer uma pessoa desmoronar-se.

Naquele pedaço de papel ela disse apenas “Adeus.”

Agora, onde estavam os sentimentos? As coisas e as juras de amor de Zach Myers foram para ela um nada?

Ele não poderia deixar aquela Borboleta bater suas asas!

Procurou-a, três meses agonizantes, sem respostas.

Recebeu uma carta. Nada usual. Com a internet, e-mail, quem mandaria carta? Alguém que gostaria de ser encontrado! Alguém único, no meio de tantos iguais.

Continha apenas um endereço na tal carta, finalizada com um simples “Caso ainda queira me encontrar”.

Era ela! Claro que ainda queria encontrá-la.

Ele chegou ao tal endereço, cujo este não importa.

Tocou a campainha, sendo atendido logo em seguida... Aquele rosto, aqueles traços, simples e inconfundíveis... Mas não eram os dela. Era o rosto de seu pai diante de Zach, cujo nome também não importa.

- Sei quem você é garoto, não precisa se apresentar... - disse o homem em tom gentil e ameno, de olhar triste – Sou o pai dela, como é possível ver pelo meu rosto.

- Ela está? - Perguntou Zach.

- Por que não entra? Temos muito o que conversar.

Zach entrou, receoso e depois desejou nunca ter ido lá.

- Este foi seu quarto, há coisas bem interessantes que talvez você gostaria de ver... E é o melhor lugar pra gente conversar sobre isso.

Havia um mural bem grande em uma das paredes, contendo fotos e mais fotos, apenas dos dois, algumas tiradas depois dos momentos mais íntimos, outras de pura loucura, como dois adolescentes bobos. Ele sorriu ao vê-las. Acima da cama, uma prateleira com os livros que ele deu a ela e mais alguns outros. O mesmo perfume de três meses atrás no hotel, irradiava ainda aquele quarto.

O computador ligado, passava as imagens de todos os bons momentos dos dois, da banda (Shinedown), e outras dela, que ele nunca tinha visto antes. Acima dele, fixado na parede, um quadro de vidro, com borboletas, cada uma com seu nome científico, formas e tamanhos diferentes.

Aquele quarto, de algum modo, abrigava cada pedaço da felicidade de Zach Myers.

- Ela era fascinada por borboletas... Era boa pesquisadora delas antes de decidir ir embora para conhecer você. - Começou o homem.

- Ela é minha Borboleta...

- Sente-se aqui, não posso mais adiar isso.

Zach sentiu-se gelar e estava começando a temer ao que homem tinha a dizer.

- Bem... - tornou o homem a dizer -... Um ano atrás, ela sentia coisas que não eram normais na cabeça. Dores pra ser exato, vomitava pela manhã, tinha perda de equilíbrio... Não sei se chegou a notar quando estavam juntos. - Zach balançou negativamente – … foi o que imaginei. Ela estava com câncer no sistema nervoso central, já estava bastante avançado e era maligno. O médico deu a ela oito meses de vida, com o tratamento não tinha um tempo certo, tudo dependia de como o organismo dela reagiria. Nós conversamos muito aqui em casa, Zach. Estávamos todos dispostos a morar na rua se fosse necessário, apenas para pagar seu tratamento. Eu ia vender os dois carros, vender a casa e hipotecar minha mercearia. Mas ela... ela recusou-se... ela recusou-se à quimioterapia e a radioterapia... recusou-se! Nós não pudemos fazer nada... ela era maior de idade, respondia por seus atos. Ela disse que iria morrer de toda forma, e que o tratamento só retardaria isso... Ela disse que ia fazer coisas que nunca fez e que iria morrer feliz. Não estava tão nervosa quanto eu e sua mãe... entende? - Zach tinha lágrimas nos olhos, não respondeu, mas olhou para o homem em menção que continuasse. - Ela estava calma, sabe... Fez uma lista das coisas que iria fazer antes de morrer... eu li e consegui rir... No mês seguinte, ela aproveitou a oportunidade de a Shinedown estar aqui para realizar a primeira opção e graças a você, ela realizou bem mais que uma... Quando o “prazo” dela terminou, ela retornou. - o homem retirou uma pequena caixa de baixo da cama e colocou-a em seu lado. - Ela retornou tão feliz, tão cheia de vida que por aquele dia, nós esquecemos que estávamos prestes a perder nossa filha. Sabe, Myers... no dia seguinte ela queria uma festa... uma festa com todos os amigos e família, nós atendemos. Foi a festa mais bonita que ela teve! Bebeu, dançou e cantou o dia inteiro! No dia seguinte, fomos à praia... Ela nunca gostou muito de lá, mas insistiu pra irmos... parecia uma criança molhando os pés na água salgada pela primeira vez. Depois nos sentamos enquanto a mãe e a irmã preparavam sanduíches pra gente comer... E ela me contou tudo sobre vocês... Como foram felizes felizes juntos... E quando chegamos em casa, ela me entregou a carta que eu enviei a você. Pediu-me para esperar pelo menos um mês depois que ela... fosse embora … Bebemos um pouco de vinho, daí ela me trouxe até aqui e me mostrou esta caixa. Disse que se por acaso algum dia você viesse procurá-la, que eu te entregasse isso. Eu não sei o que tem aqui, não tive coragem de abrir. - ele pegou a caixa e colocou nos braços de Zach. - Se não quiser ver agora, tudo bem... Caso queira levar, bem também, afinal ela deixou para você. Eu... disse tudo o que poderia dizer, garoto. Quer um tempo sozinho aqui, com as coisas dela?

- Sim, eu... se o senhor... se o senhor me permite... - Zach respondeu, tentando enxugar as lágrimas, encontrando a voz.

- Fique o quanto quiser, estarei na sala caso precise de algo.

O homem saiu e fechou a porta. Zach acalmou-se e foi abrindo a caixa.

Havia um diário, algumas cartas, autógrafos do Shinedown, fotos deles dois, dela com os rapazes da banda e com suas mulheres que haviam se tornado amigas (principalmente de Teresa, eram inseparáveis), os pequenos mimos que Zach havia lhe dado. Coisas pequenas, mas com um incrível e imenso sentido.

Em cima de todos os itens, a lista que seu pai havia falado.

Oito; meu novo número! Então...

Oito coisas para fazer antes de morrer

Conhecer a banda Shinedown.

Olhar nos olhos de Zach Myers e saber qual é a cor deles, tipo, de verdade!

Tomar uma cerveja com Brent Smith.

Puxar um dread do Barry.

Dizer ao Eric que ele me lembra o Mionzinho do Legendários, um programa brasileiro.

Andar de carrinho de rolimã.

Pular de um helicóptero, com paraquedas, é claro!

Amar alguém verdadeiramente e ser amada por ele também, caso dê tempo. ”

Logo abaixo, uma carta, no envelope azul, escrito “Para Z. Myers”

Zach, amor...

Se estiver lendo isso é porque eu não tive tempo para contar pessoalmente. Droga, e eu nem gostei de começar assim!

Eu vivi um conto de fadas durante estes meses com você... Não, fadas não: um conto de borboletas.

Quando você dizia o quanto eu era única, eu ria e você ficava bravo, me chamava de rude, insensível sem nem saber o porquê... Eu estive analisando... por que nunca me perguntou por que eu ria? Por que tirava suas conclusões sem entender? Por acaso achava que eu duvidava que era única pra você?

Bem, mesmo que não tenha perguntado, eu vou responder; eu ria porque jamais esperei que pudesse ouvir aquilo em minha vida, menos ainda vindo de você, que era meu ídolo, minha inspiração além de minha única e verdadeira história de amor. Eu ria por amar você e pensar o mesmo, eu ria por ser a diferença!

Sabe... eu fiz uma lista das coisas que gostaria de realizar antes de morrer... A partir do item dois, tudo o que consegui foi junto com você, e o último item, o oitavo... Foi o mais belo e importante para mim.

Você trouxe sensações, sentimentos, prazeres, que eu não havia sentido ao longo de toda minha vida. Me fez realmente sentir-me viva e que as pessoas morrem antes do corpo se não sentem o que NÓS dois sentimos JUNTOS.

Nenhum outro homem antes tinha me feito contar as estrelas no céu como você fez... Haviam 1.054 aquela noite... Você se lembra? Porque eu me lembro todos os dias.

Nenhum outro homem acendeu um isqueiro, passou a chama no meu dedo e me perguntou se eu queria experimentar se o seu corpo era mais quente que aquilo.

Nenhum outro homem escrevia mensagens de texto com coisas que eu nunca consegui ler... Cara, você deu uma fugidinha da escola ou era preguiça o bastante de digitar? Bem, fique calmo, eu disse isso só para descontrair! Não que seja mentira... mas eu queria deixar isso mais a minha cara, entende?

Você realmente é único Michael Zachery Myers. Incrível e eu te amo tanto, mas tanto, que esta noite eu contei as estrelas de novo pensando em você. E o céu é tão vazio sem você ao meu lado... haviam apenas 700... Acho que esse número está duplicado ainda, sabe, eu estava meio bêbada e você sabe que as imagens costumam duplicar quando estou assim.

Com você, eu vi que poderia voar, literalmente, quando você me empurrou do helicóptero enquanto eu queria desistir, por medo... Medo... você me ensinou que não existe e é por isso que hoje, ao meu prazo chegando no fim, estou tão tranquila. Eu só não queria te perder, mas nós sabemos bem que a vida não é justa, não é verdade?

Você pode estar me odiando agora, mas não te contei porque eu queria que sua última lembrança minha fosse ao seu lado, suada depois de ter sido alugada a madrugada inteira por você, na hora, no momento que você mais gostava de me dar trabalho! Puxa, era um trabalho estupidamente bom, Zach! Posso voltar da outra vida, feito fantasma na madrugada pra gente continuar sempre? Bem, voltando, porque perdi o foco... Então, eu queria que sua última lembrança fosse boa, não me vendo estirada num caixão, dura, pálida e mais feia que já sou! Aproveitei enquanto estava viva para fugir, porque todos os dias dos meses que passamos juntos eu temia. Temia dormir ao seu lado e nunca mais acordar. A questão dava medo mesmo, mais por você me ver morta do que propriamente morrer!

E depois, não seria justo com a minha família, não ter a chance de me verem feliz e bem como estava.

Obrigada por ter me dado asas, me ensinado a voar.

Obrigada por ter me feito uma mulher de verdade, por ter me feito a sua mulher!

Obrigada principalmente, por ter me ensinado a amar... e me perdoe se a sua Borboleta precisou voar.

Zach Myers, eu te amo além da vida e eu quero que saiba disso.

Ainda vamos nos encontrar em um lugar além do sol. ”

Ele conseguiu rir durante a carta inteira, mesmo sabendo que a ausência dela seria para o resto de sua vida, a não ser que ela cumprisse vir em forma de fantasma, para aquecer as madrugadas que seriam tão frias e solitárias sem ela.

Resolveu ir embora, não conseguiria ler tudo o que ela havia deixado na caixa naquele dia mesmo, dirigiria horas e horas para voltar pra casa.

Pediu ao pai dela para que apenas deixasse ele levar, além das coisas que haviam na caixa, o quadro com as borboletas fixadas.

A mãe, o pai e a imã da amada pensaram alguns minutos até deixá-lo levar algo daquele quarto.

Zach colocou as coisas no banco traseiro do carro e foi embora.

No caminho, passou por um milharal, onde o lavrador tentava afastar os corvos com um pedaço de vassoura, admirou um pouco a cena, diminuindo a velocidade.

Ao lado do milharal, um campo de tulipas roxas, com várias borboletas brancas e pequenas sobrevoando. Olhou um pouco e quando retomou a direção havia uma borboleta pousada em sua mão direita no volante.

Era linda; grande, azul com uns desenhos abstratos e indecifráveis em preto. Ele parou o carro naquela estradinha de terra apenas para admirar a borboleta.

Ele disse que a procuraria até o infinito, a estava levando para casa agora... Levando a sua felicidade de volta com as lembranças dela.

Depois de alguns minutos a borboleta resolveu voar.

- Serei forte, querida, nós vamos nos encontrar além do sol... exatamente porque você é a única entre tantas iguais! - Disse para si mesmo.

Um corvo seguiu a borboleta azul até os olhos de Zach não os alcançarem. Ele olhou para o quadro com as borboletas no banco de trás; havia uma igualzinha àquela azul! Até os desenhos! Olhou para frente e o corvo e a borboleta não estavam lá.

Ele então sorriu para si mesmo, passou a mão no quadro e disse:

- É como o corvo seguindo a borboleta.


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Notas finais do capítulo

A todos os corvos que continuam a seguir suas borboletas e que ainda as encontrarão além do sol.
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Musicas citadas: The Crow and the Butterfly
Beyound The Sun
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Por que escolhi o câncer?
Devido a grandes pessoas ao longo de minha vida, que marcaram algum período desta e têm lutado contra a doença. Graças a Deus, muitas delas têm muito a dizer, porque VENCERAM, LUTARAM, FORAM FORTES!!
Outras... não preciso dizer.
O câncer no sistema nervoso central tem tomado muitas crianças, sua operação é uma das mais arriscadas e passível de falha, que de toda forma, lutam lindamente contra ele e geralmente vencem! O Mat*, com 5 aninhos, não o venceu, mas foi lindo e forte na luta e os médicos fizeram tudo, TUDO o que poderiam por ele, mas certas vezes as escolhas e as vidas não estão em nossas mãos.