– Marie Joseph Claire. - ele parou. - Você não tem o sobrenome dela. - ele observou.

– Então eu sou adotada. - conclui.

– Então sua parte com os deuses não é necessariamente do seu pai.

– Ótimo. - falei. - Chegamos ao nada.

– Espera. Aqui tem o endereço dela... Madison Corn Street,
7238 Cider City - Nebraska.– ele olhou para mim.

– Esse trem tem uma parada em Nebraska, não é?

– É. Mas não devemos ir atrás disso agora. - ele falou recostando a cabeça no banco.

– Mas já vamos passar por lá... - estava falando quando Percy me cortou.

– Desculpa Alice, mas não é a hora... Nossa missão é te levar segura ao acampamento. Primeiro temos que chegar ao Acampamento Meio-Sangue e depois Quiron nos indicará o que fazer.

– Tudo bem... - falei meio triste. Nunca tinha chegado tão perto de descobrir algo sobre mim mesma.

– Eu sinto muito. - ele abaixou o banco e virou para mim. - Mas ainda vamos descobrir isso. - ele sorriu.

– Só não é a hora. - completei a frase dele, sorri meio torto e abaixei o banco.

Dormimos por um longo tempo, e quando acordei já tínhamos passado por Nebraska. A paisagem já estava até mudando, deixando de ser deserto e virando mais verde conforme nos aproximávamos do mar. Até Percy parecia mais cheio de energia. Talvez ele tivesse algum tipo de conexão marinha.

– Onde estamos? - perguntei a ele.

– Bom, pelos cálculos de Annabeth estamos em algum lugar no estado de Indiana. - ele falou. - Mais umas quatro ou cinco horas e estaremos em Nova York.

– Como chegaremos no acampamento? - perguntei.

– Damos um jeito. - ele respondeu piscando um dos olhos verdes, que por sinal estavam ficando azulados. Talvez fosse porque estávamos chegando mais perto do mar e a historia da “conexão marinha”.

– Gente, vamos para o vagão-restaurante comer alguma coisa? - Grover virou-se pra trás e perguntou.

– Claro, vamos.

Fomos até o vagão e pegamos uma mesa para nós cinco. Grover pareceu que desistiu da loira, um pensamento que me fez rir sozinha. Pedimos alguns lanches e umas bebidas, demos nossas batatas-fritas para Grover e fingimos não perceber o olhar das pessoas de "que adolescente preblemático" quando ele começou a comer a lata dos refrigerantes. Conversamos por um longo tempo. Eles me contaram o que havia acontecido no Olimpo, a guerra contra o Titã Cronos, Annabeth encarregada de reconstruir o Olimpo e diversas coisas. O tempo até passou rápido, e quando vimos já estávamos entrando no estado de Nova York. Voltamos para os nossos assentos nos outros vagões e esperamos alguns minutos até a Ferroviária entrar em nosso campo de visão.

Quando o trem parou, cada um pegou suas mochilas, inclusive eu, e Percy me ajudou com a minha mala. O que gerou um comentário sarcástico vindo de ninguém menos que Annabeth Chase.

– Olha, agora o Cabeça de Alga está sendo um cavalheiro.

Percy só riu e eu ri junto, envergonhada.

– Parem com isso, vamos logo antes que algum monstro estúpido nos ache. - falou Clarisse.

Grover passou entre nós e comentou com ritmo:

– Mal amaaadaaa.

Nós rimos e os seguimos.

Passamos pela estação olhando para todos os lados caso algo escroto aparecesse novamente, mas tivemos sorte pois nada nos perturbou. Tirando Clarisse e Annabeth discutindo sobre força ou estratégia, o que seria interminável se nós não tivéssemos terminado o
assunto. Quando estávamos quase saindo Percy achou melhor ligar para o acampamento para falar com Quiron, então os meninos entraram num banheiro masculino no oeste da ferroviária -um banheiro pouco usado- viram que não tinha ninguém lá dentro, então nos chamaram.

Grover abriu a torneira esperando um arco-íris, mas nada aconteceu.

– Tem que ter luz do sol, não é? - perguntei.

Annabeth suspirou, abriu sua mochila e pegou uma pedra transparente lapidada de uns cinco centímetros.

– Um prisma. - ela disse jogando a mochila de lado. Então ela começou a mexer o prisma até achar o ponto onde formava o arco-íris.

– Onde você conseguiu isso? - perguntou Clarisse.

– Minha mãe me deu de presente ano passado. - ela respondeu.

Clarisse só mexeu a cabeça e suspirou.

Annabeth mexeu a pedra mais um pouco até que uma faixa de cada cor começou a se formar no ar, saindo do prisma.

Grover tirou uma moeda do bolso, se virou para o arco-íris e levantou a moeda fazendo uma prece.

– Oh deusa do arco-íris, nos mostre Quiron no Acampamento Meio-Sangue. - quando terminou de falar ele jogou a moeda no arco-íris e ela desapareceu entre as cores. Aos poucos o arco-íris foi tremeluzindo e a imagem do tal Quiron apareceu.

Ele estava em uma mesa jogando cartas com um velho meio bicho-grilo e tomando refrigerante de lata. Aos fundos eu vi o tal Acampamento, e realmente é muito lindo. Quiron finalmente nos percebeu e se assustou na sua cadeira de rodas.

– Ah! Graças aos deuses, vocês estão bem! - ele falou jogando as cartas na mesa. O velho que estava jogando olhou as cartas na mesa e praguejou, depois nos viu e fez uma cara feia.

– Vocês de novo? Torcia pra que já tivessem morrido. - ele falou.

– É um prazer te conhecer também! - falei e ele me olhou com desdém. Os quatro inclusive Quiron riram.

– Muito bom, vocês acharam Alice Aniston. - falou Quiron. Ele se apresentou e apresentou o velho rabugento -Dionísio!- e deu uma breve explicação sobre o que ele estava fazendo no acampamento.

– Vocês estão exatamente aonde? - perguntou Quiron.

– Estamos na Estação de Trem de NYC.

– Já tem alguma idéia de como vão chegar aqui?

– Daremos um jeito. - respondeu Percy. - Não se preocupe.

– Tudo bem. Grover, você conseguiu a ficha dela? - perguntou Quiron.

– Consegui Senhor.

– Ótimo. Então vocês estão chegando aqui pela noite?

– Se não tivermos problemas, antes. - Percy sorriu.

– Tudo bem. Eu espero vocês aqui para o jantar. - falou Quiron sorrindo.

“Encerramos a chamada” e saímos do banheiro. Fui ao lado de Grover para conversarmos.

– Então Grover. Iris aceita dólares?

– Não. - ele riu. - Eram Dracmas de ouro. A moeda dos deuses.

– Nossa, tá bom. - eu ri.

Andamos durante algumas horas, fugimos de velhas com cachorros pequenos que por um motivo não explicado Percy e Annabeth morriam de medo, mas nada de anormal apareceu. E dessa vez eu estava certa. Corremos até um beco em Manhattan e Percy assoviou cinco vezes.

Em alguns minutos, uma meia hora pra falar verdade, cinco cavalos apareceram no céu bem encima de nós. Cavalos com asas.

Eles “pousaram” a alguns metros na frente de nós e Percy correu para fazer cafuné em um preto.

– Oi Blackjack! - ele pareceia um maluco, conversando com o cavalo como se ele o entendesse.

– Gosta de cavalos, Alice? - ele perguntou.

– Sim, bastante. - não menti. Adoro cavalos. Corri para fazer carinho no blackjack também. Percy me apresentou todos os cinco cavalos alados, blackjack, porkpie, etc. E me explicou que por causa de ser filho de Poseidon consegue se comunicar com animais eqüinos já que eles foram feitos com a espuma do mar. Vivendo e aprendendo – pensei.

Clarisse começou a reclamar e nós resolvemos subir logo nos pégasos. Então “caiu a ficha” em mim que eu ia ter que subir em um daqueles cavalos voadores. E voar sozinha. Annabeth deve ter percebido a minha cara e entendido:

– A Alice ainda não sabe voar em um pégaso, gente. - eu olhei para ela agradecida.

– Tudo bem, sobe aqui no blackjack Alice. - subi no pégaso de Percy e Clarisse começou a reclamar. Annabeth só olhou e riu. Percy olhou para o Porkpie e deve ter falado algo para ele pela tal da “conexão marinha”, o que me fez rir.

A vista lá de cima de Nova York era simplesmente linda, o sol estava brilhando forte no céu, o que acabada deixando tudo mais magnífico. Percy foi o caminho inteiro me contando sobre o acampamento, sobre quando ele chegou lá, suas aventuras com Annabeth e Grover até que eu acabei adormecendo -juro que foi sem querer- no ombro dele. O
que não faz sentido algum, pois eu já tinha dormido mais que o suficiente na viagem de trem.