Eu ainda estava com pensamentos nela e nem preocupei de entrar no carro, apesar de ser perigoso pelo horário e lugar.

- Vamos? O que está esperando? – Ela perguntou ao se aproximar de mim.

- Estava te esperando. Para o meu apartamento? – Perguntei.

- Sim, você se importa? Quero tirar essa maquiagem e tomar banho.

- Outra rodada de filmes? Mas, eu tenho que dormir mais cedo que ontem. Tenho que estar de pé amanhã às oito.

- Apesar de eu ter dormido mais que você, também estou cansada.

Chegamos ao meu apartamento, e enquanto o elevador subia, ela me olhava fixamente. E eu correspondia, queria sentir os seus lábios mais uma vez.

Entramos e enquanto eu ia para a cozinha preparar alguma coisa para comermos, ela foi para o banheiro tomar o seu banho.

Preparei a mesma coisa da noite passada, sanduíches e suco. Fiquei esperando-a, não por muito tempo.

Comemos em silêncio tínhamos muitas coisas para dizer, mas não conseguíamos.

- Não quer tomar banho? Eu lavo as louças, não me importo.

Assenti e fui para o meu quarto.

Ele estava arrumado, provavelmente fora ela que havia feito. Tirei a minha roupa e joguei no canto que eu sempre jogava as outras. Canto que já não tinha as antigas peças.

O meu banho foi rápido, eu não costumava demorar. Vesti uma bermuda e uma camiseta, algo confortável para uma noite de filmes. Cheguei e ela me esperava na sala.

- Demorei? – Perguntei, sentando-me ao seu lado.

- De jeito nenhum, escolhi outro romance. Tem problema? – Questionou.

Assenti negativamente.

Logo o filme se iniciou.

Não demorou muito para encostar-se a meu ombro, passei o meu braço em sua volta e ela entrelaçou nossos dedos.

Eu não fiquei prestando tanta atenção no filme, assim que ele terminou senti que ela estava sonolenta.

- Vamos dormir? – Perguntei.

Olhei no relógio e já eram duas da manhã.

Ela assentiu.

Após desligar os aparelhos fui para o meu quarto, no qual, ela já me esperava.

Deitei-me na cama, e ela se aninhou a mim. Não criei objeções, e depositei um beijo em seus cabelos.

                                                          ~~~~~~~~~~

Acordei com o som do meu despertador. Ela ainda estava deitada em meu peito, tentei fazer o mínimo de barulho. Tomei um banho rápido e preparei o café. Havia algumas torradas, e deixei-as separadas na mesa com um bilhete:

‘’Fui trabalhar e te ligo mais tarde.

                           Tyler. ‘’

Peguei o paletó do terno e depositei um beijo em sua testa. Eu tinha 15 minutos para chegar à empresa, que eu gastaria 5 minutos. Mas, preferi sair antes.

Quando cheguei, meu pai também estava entrando.

- Bom dia pai. – Murmurei.

- Bom dia filho, pode ir até a minha sala? – Perguntou.

- Claro que sim. – Respondi e seguimos.

O caminho até a sua sala foi em silêncio, ele parecia preocupado. Talvez tivesse acontecido alguma coisa.

Sentei em uma das cadeiras a frente de sua mesa e esperei.

- Tyler, eu estou precisando viajar para Londres e resolver algumas pendências, você tomaria conta da direção da empresa por alguns dias? No máximo duas semanas.

- Pai, não temos o vice-diretor? Seria mais adequado... – Comecei, eu não sabia o que fazer ou dizer.

- Temos, mas eu confio mais em você. Saberá tomar as decisões corretas. Poderá me ligar a qualquer momento, e a Jenine sabe de tudo também.

- Tudo bem. O senhor vai quando?

- Daqui no máximo duas semanas. Está bem?

- Certo, vou indo para a minha sala. Preciso terminar de fazer algumas negociações, e hoje tenho um almoço com a Alisson, tudo bem? – Perguntei.

Eu nem havia marcado ainda, mas era mais seguro.

- Tenho uma reunião, talvez eu coma qualquer coisa. Bom almoço. – Ele disse.

Agradeci e voltei para a minha sala.

Continuei o meu trabalho, nem era tão chato assim. Mas, ela não saia momento algum da minha mente. Eu queria ouvir a sua voz, mas ainda era cedo.

Resolvi ligar às 11 horas, era o seu horário habitual.

- Alô? – Ela respondeu.

- Sou eu, o Tyler. Tudo bem? Já tomou o seu café?

- Estou bem, acabei de lavar as louças, comecei a preparar o almoço. Tem algum pedido especial? – Perguntou.

- Não, está livre para qualquer coisa. Chego alguns minutos depois do meio-dia, tudo bem? – Indaguei.

- Ah sim, prefere suco ou refrigerante?

- Você decide. Preciso desligar, conversamos depois.

- Tudo bem, beijos. – Murmurou e desligou em seguida.

Voltei à atenção ao meu trabalho e logo estava saindo da minha sala, quando Jenine passou por mim e disse:

- Tyler, está precisando de alguma coisa? Se precisar é só me pedir. Sou também a sua secretária. – Murmurou.

- Ah, obrigada. Estou indo almoçar.

Ela assentiu e seguimos o caminho.

Cheguei ao apartamento e o cheiro de comida estava bastante convidativo. Entrei em silêncio e fui direto para a cozinha, após deixar minha maleta no sofá.

Ela estava de costas, terminando de temperar a salada. Fui até ela e envolvi-a com os meus braços.

- Ai, que susto Tyler! – Murmurou irritada.

- Desculpa-me. Isso parece estar delicioso.

- Acho que é o primeiro a experimentar a minha comida. Mas, eu acostumava assistir programas de TV, então não há riscos.

Assenti e então fomos para a mesa. Ela perguntou como fora o trabalho até agora, e comentei sobre o pedido do meu pai. Ficara bastante orgulhosa, conversamos por um longo tempo até eu dizer:

- Eu tenho uma irmã de 11 anos e costumo levá-la para o colégio. Você quer ir comigo?

- Acho melhor não, você pode me deixar na minha casa? Preciso pegar algumas roupas. – Pediu.

- Claro que sim, você quer voltar para cá depois?

- Se me convidarem. – Respondeu.

- O que você acha de morar comigo? Não gosto do lugar onde você mora, é um lugar pesado. E seria bom morar com alguém.

- Vou pensar, preciso resolver algumas pendências.

- Tudo bem. Vou levar a minha irmã e na volta eu passo aqui e te levo lá. – Murmurei.

Ela assentiu e em seguida pegou os pratos e levou-os até a pia.

Cheguei à casa da minha mãe e ela esperava com a minha irmã, conversei rapidamente com a minha mãe e depois eu e a Caroline já estávamos indo para o colégio.

- Tyler, você parece estar feliz. – Caroline comentou.

- Porque não estaria? – Perguntei. – Estou me dando bem com o papai.

- Só com ele, ou tem alguma garota envolvida? Você só fica assim quando tem uma.

- Talvez seja, mas ainda não é nada certo. Estamos nos conhecendo.

Ela assentiu e me deu um beijo de despedida, saindo em seguida.

Será que a Alisson queria voltar a estudar? Eu teria que ver com ela, em qual série ela estava. Dirigi de volta para o meu apartamento, e ela ainda estava na cozinha terminando de lavar as louças.

Olhei no meu relógio e tínhamos ainda 40 minutos.

- Alisson, você parou de estudar em qual série? – Perguntei.

- Terminei a 8ª, e em seguida parei. Eu estava aparecendo bastante machucada e as pessoas começaram a perguntar.

- E quem era o seu ‘responsável’?

- Uma vizinha, mas depois da 8ª também, ela faleceu. E a partir de então as coisas começaram a piorar.

Saímos pouco tempo depois e ao chegarmos à sua casa eu disse:

- Passo pouco depois das 18 para te buscar, pegue todas as suas coisas, está bem?

- Sim, vou ficar te esperando. – Murmurou.

Eu queria beijá-la, e ao mesmo tempo queria que as coisas acontecessem naturalmente.  Entretanto, ela me surpreendeu com um beijo.

Os seus lábios não eram desesperados, foi um beijo calmo, antes de ela descer do carro, resolvi tomar atitude e beijá-la, encostando nossas cabeças em seguida, respirando com dificuldades. Eu havia intensificado nosso beijo.

- Te vejo mais tarde. – Murmurei, e beijei a sua testa em seguida.

Ela saiu rapidamente e acenou, antes de entrar na casa. Parti em seguida.

Aquele beijo havia significado mais do que eu pensava, mas eu não sabia se ela estava fazendo por ‘obrigação’ ou se sentia algo por mim. Fingir fazia parte do seu trabalho na boate, eu não queria pensar dessa forma, entretanto era algo não impossível.

Cheguei à empresa e fui direto para a minha sala. Não havia muito que fazer agora, muitas negociações haviam chegado ao fim, então resolvi pensar em alguns contratos para melhorar ainda mais a imagem da empresa.

Sai no horário certo e fui direto para o colégio da Caroline, no caminho até a casa da minha mãe ela comentou sobre os desenhos que ela havia feito e sobre algumas coisas que tinha em mente.

Nossa mãe terminava o nosso lanche e ela percebeu o meu nervosismo para encontrar com a Alisson:

- Tyler, você está bem? Parece ansioso.

- Estou bem sim, é que eu tenho algumas coisas a resolver.

- Problemas? Se precisar, sabe que sempre estarei aqui. – Murmurou.

- Não, coisas normais. Nada muito importante.

Estar provavelmente começando a se apaixonar por uma garota e não saber se era correspondido não era tão importante.

Porra, o pior é que era sim. E eu agia como um adolescente com a primeira namorada.

- Seu pai veio aqui ontem. Após o almoço de vocês, passou um bom tempo com a Caroline, até jantou conosco.

- Ela parecia estar mais feliz hoje, acho que ele está se preocupando mais conosco. Não sei o que houve. – Comentei.

- Ele está bastante orgulhoso de você, foi ótimo você ter aceitado o pedido dele, aquela figura de homem frustrado pareceu desaparecer.

Talvez eu houvesse tomado todas as decisões certas, mesmo que pudesse me arrepender depois de alguns anos. Eu não me importava.

Conversamos por algum tempo, até eu olhar no relógio e perceber que já era quase 19 horas.

 - Mãe, preciso mesmo ir. Tenho algumas coisas a resolver ainda hoje. Amanhã conversamos mais. – Murmurei, e despedi de Caroline em seguida.

Sai praticamente voando com o carro, com prudência obviamente, mas com uma velocidade não muito normal. Ela pensaria que eu havia desistido dela?

Quando cheguei à sua casa não havia muitas pessoas na rua, então desci logo do carro e bati na porta.

Ela atendeu pouco tempo depois, parecia que havia chorado.

- Aconteceu alguma coisa? – Perguntei preocupado, enquanto entrava.

- Não, e com você? Eu fiquei preocupada.

- Estava conversando com a minha mãe, desculpa-me.

Ela assentiu, e então pegou apenas a mesma mochila de sempre. Talvez ela não tivesse tantas coisas para levar.

- E as suas outras roupas? – Perguntei, referindo-me as roupas da boate.

- Não quero levá-las, quero esquecer-me de tudo.

Assenti, e saímos em seguida. Ela comentou que havia ido até o dono e pagado os dias que estava devendo. Fomos para o meu apartamento em silêncio. Eu a pegara chorando, será que alguém havia feito algo com ela?

- Vou pizza, está bem? – Perguntei, e ela assentiu antes de ir para o banheiro.

Decidi ligar para o Aidan, havia muito tempo que eu não conversava com ele.

- Alô?

- Sou eu Aidan, o Tyler. – Murmurei.

- Ah se lembrou do velho amigo idiota? Como você está? Acredite se quiser, arrumei uma namorada.

- Parece que não fui só eu que teve progresso na vida. Liguei só para saber se estava bem, qualquer dia combinemos de sair.

Conversamos mais alguns minutos e desligamos em seguida.

Enquanto eu olhava alguns papeis, a Alisson se sentou ao meu lado.

- Como foi o trabalho? – Perguntou. – Parece estar cansado.

- Foi normal, mas é mesmo cansativo. Muito tempo na frente do computador e com o telefone no ouvido não é muito bom. Ainda mais eu, que não gosto nem de um nem de outro.

Ela assentiu e ligou a TV. Deixei o dinheiro da pizza com ela e fui tomar banho.

Quando voltei, ela já havia arrumado a mesa com as coisas e a pizza já havia chegado.

- Alisson, você está mesmo bem? – Perguntei, depois de um grande silêncio.

- Estou apenas pensando em algumas coisas que aconteceram comigo naquele lugar. – Respondeu e sorriu em seguida.

- Ah, se precisar, sabe que pode contar comigo.

Depois então, o clima não ficou como antes, conversamos sobre algumas coisas do dia-a-dia e ela pareceu estar mais relaxada. Assistimos a um filme que passava na TV, e não sei quanto tempo demorou a ela me beijar. A cada beijo ficávamos mais próximos, e logo, ela já estava em cima de mim. Preferi dar um limite de inicio, eu queria transar com ela, mas não agora e não daquele jeito.

- Acho melhor pararmos por aqui, não quero que pense que eu sou um cafajeste.

- Eu sei que não é. – Murmurou e me beijou outra vez.

- Mesmo assim. – Falei após outro beijo intenso.

Em seguida ela se sentou ao meu lado, e eu também voltei a me sentar.

- Alisson, não estou dizendo que eu não quero. Só não quero precipitar, estragar tudo entende?

Ela assentiu e voltou à atenção ao filme. Continuei a observá-la, e ela se deu por derrotada, deitando a cabeça no meu colo.  Depois que o filme terminou, resolvemos dormir. Já era quase 23 horas.