Never Let You Go - Bring me to Life escrita por lovemhatem_
Notas iniciais do capítulo
Boa-leitura!
Fui até a caixa e peguei o diário embaixo da cama, revistei página por página numa rapidez descontrolada, até encontrar uma foto em que estavam as três garotas. A legenda dizia:
Avalon, Louissean e Klaire. 1998.
Voltei a janela e ela ainda estava lá. Joguei o diário em cima da cama e corri escada abaixo. Abri a porta da cozinha e dobrei para o quintal, parei a cerca de 2 metros da árvore. Dois metros da garota.
Ela me olhou, me examinou, e depois voltou a pular para o galho. Sim, ela era a mesma garota. Só que mais velha. Dava pra ver nos olhos dela. A mesma expressão de todas as fotos, doce ao mesmo tempo provocadora, como se fosse partir pra uma briga a qualquer momento. Eu dei dois passos na sua direção, mas ela nem sequer me olhou.
- Louissean? - sussurrei e ela parou no mesmo instante. Olhou pra mim com um olhar assustado e incrédulo ao mesmo tempo. Ela moveu os lábios, mas eu não ouvi nenhum som.
Aproximei-me novamente, e vi o que ela tanto tentava alcançar. A foto que havia sumido do baú. Ela ficou petrificada quando eu fui até a árvore e puxei o galho para baixo, retirando a foto. Depois voltei a olhar pra ela e perguntei, lhe estendendo a foto:
- É isso que você quer?
Ela abriu a boca novamente. Um sussurro que dessa vez eu escutei:
- Como?
- Como o que? - perguntei.
Ela arfou e deu um passo para trás, os olhos ainda alarmados.
- Seu nome é Louissean, não é? - perguntei.
- Louissean. - ela corrigiu. - Como você pode falar comigo? Você.. Vê-me?
- Claro. Porque não veria?
- Eu.. Não. - ela deu outro passo para trás. - Isso é impossível. Não pode.
- Porque não? - perguntei, dando um passo a frente.
- Ninguém pode me ver.
- Eu estou vendo - a cada passo em falso dela, eu partia mais para frente. Estendi a foto para ela. - Tome. Você a queria não é?
-Você sabe o que eu sou? - ela perguntou dessa vez mais alto.
- Uma garota. Mas.. O que você está fazendo aqui?
- Eu moro aqui - ela respondeu como se fosse óbvio.
-Você não se mudou em 1999?
-Olhe para mim. Se naquele ano eu tinha 15 anos. Com quantos anos acha que eu deveria estar agora? - ela deu um sorriso malvado.
E então tudo começou a se encaixar. Lembrei-me do diário de Avalon Gianetti, as palavras soavam na minha mente como se fossem ditas pela própria: ''Ela se foi. Tão jovem.", "[...] ter sido de modo natural [...]”, "1999". Olhei para a garota, atônito, e ela sorriu triunfante. As últimas palavras me vieram em mente: "Pobre L.”.
L de Louissean. Como fui burro! Então, eu estava falando com.. Com..
- Não é possível - sussurrei.
- Foi o que eu disse! - ela mantinha uma expressão congelante.
- E então, porque você está aqui?
- Você não vai embora? Você está vendo um espírito.
- Então era você o tempo todo! - gritei. - Você no meu quarto, você no espelho, você destruiu as minhas coisas, me assustou no banheiro. AAH!
- Aquele é o meu quarto e você o roubou. Você e essa sua família idiota - ela falou alto.
- VOCÊ MORREU! - gritei mais alto ainda.
- Jesse, você está bem? - era a voz da minha mãe, no mesmo instante, Louissean desapareceu. Eu me virei para mamãe, ela estava parada na porta e Kendra me olhava, assustada.
- Sim. Claro.
- Estava falando com alguém?
- Sim - falei, mas completei assim que vi a expressão dela. - Eu estava falando com a menina que morava aqui e morreu. Ela, mãe, a garota do vestido preto. A que eu vejo todos os dias no meu quarto!
- Jesse? - ela franziu as sobrancelhas e Kendra arregalou os olhos.
- Mãe, você sabe, eu já disse a todo mundo! Tem uma garota nessa casa. E agora eu a vi e ela disse que tá morta. Você me entende?
- Ainda bem que na escola tem psicólogo.
- Você tá achando que eu estou louco?
- Não, eu só acho que você ainda não se acostumou com as mudanças, e.. - ela começou, mas eu a interrompi:
- Não! Mas que droga! EU VI! Será que você não entende? - passei por ela e a empurrei, entrando em casa e indo em direção as escadas.
- Jesse!
- EU NÃO QUERO SABER DE MAIS NADA! SE VOCÊS NÃO ACREDITAM, QUE SE FODAM!
- Jesse! - agora era meu pai. - Que modo de falar é esse?
- Porque parece que agora é o único que vocês entendem. Eu vi uma garota sim. E não tô nem aí pra vocês se acreditam ou não. - eu já ia subir as escadas quando ela apareceu atrás da minha mãe. Ela olhava a confusão, rondando os olhos para cada rosto, de cada pessoa. De Kendra para mamãe, de mamãe para papai, de papai para Agatha, de Agatha para Jonah e Jason, que estavam lá e mantinham a mesma expressão assustada de Kendra. - ALI! OLHA ELA LÁ! - apontei para trás de mamãe. Todos olharam:
- Aqui não tem ninguém, filho - mamãe disse.
- Como vocês não podem ver, meu.. - de repente me lembrei do que ela havia me dito no quintal: "Ninguém pode me ver” - É isso, só pode. Vocês não podem ver ela. Eu posso. Vocês não. Mas vocês ainda vão acreditar em mim. Não é?
- Jesse, eu acho melhor te levar para a Dra. Lucy - papai disse.
- Eu. Não. Estou. LOUCO! - subi as escadas correndo.
Não parei para ouvir minha mãe chamar, muito menos os comentários descrentes de todos eles. Corri para o meu quarto e fechei a porta com força. Joguei tudo que eu podia ver no chão. O relógio na escrivaninha, o travesseiro; o lençol, o caderno que eu desenhava; uma luminária azul. Chutei a caixa, puxei os lençóis do colchão; eu estava realmente com raiva. Eu até joguei meu tênis no espelho, tentando quebra-lo. Mas não funcionou. E eu não tinha mais forças para quebrar nada mais. O único que escapou foi o notebook, e milagrosamente. Pulei na cama e peguei o travesseiro no chão ao meu lado, colocando-o em cima da minha cabeça. Eu ainda podia os ouvir falando lá embaixo, então me levantei, saí do meu quarto, fui até a saleta e peguei o aparelho de som com um dos CDS que eu mais odiava; trouxe-o para o meu quarto e o liguei no volume máximo. Era Linkin Park. Pois é, eu não os curto.
Ou pelo ao menos não curtia até esse dia. Tapei meus ouvidos com o travesseiro novamente e fechei os olhos.
Passaram-se cerca de duas horas. O cd já havia terminado e recomeçado duas vezes quando milagrosamente eu ouvi alguém bater na porta diversas vezes. Pelo visto já estavam ali há algum tempo.
- Jesse, jantar! - era meu pai.
Não respondi. Aumentei o volume do CD e fui me sentar na janela, que a propósito, eu havia aberto.
- Jesse! - ele chamou de novo, mas foi como da primeira vez, eu não respondi. Nem sequer olhei para a porta.
Ele bateu com mais força. Parou. Baixei um pouco o volume do som e percebi que ele não estava mais lá. Minutos depois a porta voltou a bater. Dessa vez era a minha mãe:
- Jesse, por favor, abra a porta.
Eu esperei ela chamar três vezes até ir até lá e abri a porta, com o olhar mais mortífero que eu soube fazer:
- O que você quer? - dava para perceber que minha voz estava tentando ser controlada. Eu estava tentando me controlar para não ter outro ataque de fúria.
- Você está bem? - ela ignorou-me por tê-la chamado pelo nome e fez uma pergunta que eu sempre odiei.
- Meu Deus! Quer saber? Eu não estou bem. Era só isso que você queria? Então, passar bem! - fechei a porta com força.
Ela bateu de novo.
- O que você quer? Diga daí - falei.
- Abra.
Abri uma brecha:
- Fale rápido.
- Está na hora de jantar.
- Estou sem fome.
- Jesse, por favor. - ela suplicou.
- Eu não quero comer. Se eu ficar com fome, eu desço. Agora me dê licença porque eu tenho coisas melhores a fazer - fechei a porta novamente.
Ouvi-a suspirar e depois ouvi seus passos se afastando.
Desliguei o som e peguei o notebook. Senti algo gélido atrás de mim, e quando olhei, pulei instintivamente para trás.
A garota riu. Mas eu estava sério, então ela ficou séria também. Resolvi ignora-la. Talvez mamãe e papai tivessem razão. Talvez ela fosse mesmo fruto da minha imaginação fértil.
- Não sou não. - ela suspirou.
- Então agora você lê pensamentos?
- Você falou em voz alta.
- Hein? - arregalei os olhos.
- Você falou em voz alta - repetiu.
Fiquei em silêncio, e voltei ao meu notebook. Ouvi batidas na porta.
- Jesse, telefone - era Agatha.
- Quem é?
- Matthias.
Levantei-me. Eu não queria sair, mas precisava falar com ele. Abri a porta e Agatha me olhou de cima a baixo.
- O que foi? Tá vendo fantasma?
- Você que tá - ela disse baixinho, mas eu escutei. Droga.
Desci as escadas e fui até o corredor em frente à cozinha, onde ficava o telefone.
- Fala Matth.
- Diz aí, parceiro. Como vai?
- De boa. O que você quer? - olhei para cima, pra não ter que ver a família comendo e disfarçando olhares estranhos pra mim. - AAH!
- Que é moleque? Tá pirando? - ele perguntou, e a garota lá em cima riu. Pois é, ela estava nas escadas, me olhando do corrimão.
- Vá embora. - falei baixinho, mas Matthias escutou.
- Hein? Jesse, você tá fumando?
- Não, é só... - me interrompi quando a vi descer as escadas. - Fique aí!
Todo mundo me olhou da mesa. Eu olhei para a garota novamente e falei com Matthias:
- Você pode falar o que você quer logo?
- Tá bom. Mamãe vai aí, e eu queria saber se dá certo eu passar na sua casa com a galera amanhã.
- Tenho escola - falei, observando ela chegar perto de mim.
- Já?
-É.
- Então depois da escola eu passo aí, okay?
- Pode ser. Garota, saia daqui.
- Jesse, tem certeza que você tá bem?
- EU NÃO SOU LOUCO! - todos na mesa me olharam.. - O que é? - falei mal-humorado, e todos voltaram a comer.
- Jesse, cara, você tá precisando sabe de quê? Da Haden.
- Eu não quero ninguém, falou? Tô desligando aqui. Vou comer. Tchau. Até amanhã - falei rápido e desliguei, depois falei baixinho. - Viu o que você fez?
A garota riu e olhou para a mesa, Kendra me olhava assustada. Eu suspirei e voltei para o meu quarto.
- Você vai ficar me seguindo?
- Você se apossou de tudo que já foi meu. Agora atura - ela se deitou na cama, ao meu lado.
- Qual o seu problema? Todo mundo tá pensando que eu sou louco!
- Logo logo você fica. Boa-Noite.
- Sai da minha cama, larga o meu lençol, tira a cabeça do meu travesseiro, me deixa em paz. Você não existe.
Ela não respondeu e apenas fechou os olhos.
- Você dorme? - perguntei.
- Não.
- Então sai.
- Não.
Eu bufei e puxei o lençol dela. Como ela conseguia tocar em tudo? Eu vi no filme que fantasmas atravessam as coisas. Balancei a cabeça e me deitei de costas para ela.
Quando acordei de manhã, milagrosamente cedo mesmo com as cortinas fechadas, olhei ao redor. Ninguém.
- Foi só um sonho - falei para mim mesmo, aliviado.
- Não foi não. Eu ainda estou aqui - virei-me para a porta, ela estava sentada no chão, encostada na porta, com o meu notebook.
- Ah, céus! - caí na cama de novo.
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Devo continuar?