Alguns dias se passaram desde o ocorrido na quadra. Cecília e Murilo já ficavam juntos nos intervalos sem ter que se esconder de ninguém e Mateus apenas os observava ao longe, porém Patrícia não desconfiava de nada.

Em certo dia, a professora das duas últimas aulas faltou, porém os alunos não foram dispensados, ficando assim em aula vaga.

Enquanto a grande maioria dos alunos se dirigia a quadra para jogar alguma coisa, Fabiana, Luis, Cecília e Murilo preferiram ficar sentados em uma escada próxima do pátio, jogando conversa fora.

Em determinado momento o assunto acabou e com isso Fabiana teve uma idéia.

 - Vamos brincar de verdade ou desafio?

 - Ah não Fabi, você sabe que detesto esse tipo de brincadeira! – diz Cecília.

 - Mas é só com a gente Cissa, não pega nada. – insistia a amiga.

 - Por mim tudo bem. – disse Murilo.

 - Por mim também, melhor do que ficar sem fazer nada. – completou Luis.

 - E então Cissa?  - pergunta Fabi.

 - Ta bom vai, pra eu não ser a chata.

 - Posso dar uma sugestão? – pergunta Luis.

 - Claro mozinho. – diz Fabi, o fazendo rir sem jeito.

 - Porque ao invés de ficar nessa de verdade ou desafio, nós já não perguntamos logo o que queremos saber e pronto?

 - Concordo. Somos só nos quatro mesmo, qual o problema? – diz Murilo.

Fabiana olha para Cecília que concorda.

Eles começam fazendo perguntas básicas, apenas para descontrair mesmo, porém Fabiana fica entediada e resolve colocar um pouco mais de pimenta nas perguntas.

 - Ah gente, por favor! Parece que estamos na quinta série!

 - Não começa Fabi, pelo amor de Deus... – diz Cecília envergonhada pela atitude da amiga.

 - Certo você quer perguntas mais adultas então? – diz Murilo – Ok pode começar.

 - Não fala isso Murilo, você não tem noção do que essa doida pode perguntar. – alerta Cecília.

 - De boa gata, não tenho nada pra esconder mesmo. Deixa ela perguntar o que quiser.

 - Estão vendo? O Murilo entendeu o que quis dizer. E nem venham me dizer que a única curiosa aqui sou eu porque sei que não é verdade!

Cecília e os demais sorriem e Fabi então começa a perguntar tudo o que tem vontade. O foco principal passou a ser relacionamentos anteriores. Cecília ficava sem graça, afinal era a mais inexperiente dali.

 - Com quantos anos perderam a virgindade? – perguntou Fabi.

 - Dezesseis – responde Luis

 - Quinze. – responde Murilo.

 - E como foi? Gostaram? – pergunta Fabiana enquanto Cecília sentia seu rosto queimar de vergonha.

 - Bom até foi, mas nada de extraordinário. Foi com uma prima de um vizinho da mesma idade. Ela tinha curiosidade pra saber como era, eu também, então juntamos a fome com a vontade de comer, só isso. – diz Luis.

 - A minha não foi muito diferente, alias a minha foi uma droga. Eu nem da menina gostava. Estava em uma festa com uns amigos que tinha na época, bebemos um pouco além da conta e ela ficou se atirando pra cima de mim. Aí rolou, mas na boa, nem lembro o nome dela, nada.

 - Vocês pelo menos e preveniram? – pergunta Cecília.

 - Claro, tinha bebido, mas não estava bêbado. – diz Murilo.

 - Eu também. – responde Luis.  – Mas e vocês duas? A pergunta vale pra vocês também. A primeira vez de vocês foi como?

Fabi e Cissa se entreolham sem jeito. Murilo olha Cecília e a vê com o rosto todo vermelho.

 - Foi ano passado, quando eu tinha dezesseis anos. - diz Fabiana -  Eu estava de rolo com um carinha já tinha um bom tempo e ele teve que mudar de cidade por causa do serviço do pai dele. Eu gostava muito dele e então...

 - Foi seu presente de despedida? – diz Murilo rindo.

 - É, foi bem por aí mesmo. – diz Fabiana rindo também.

 - E a sua Cecília? – pergunta Luis.

 - A minha? – diz repetindo a pergunta tentando de desvencilhar dela.

 - É, quando foi?

 - Não precisa responder se não quiser. – diz Murilo baixinho pra ela, de uma maneira que Fabiana e Luis não escutassem.

Ela faz um gesto pra ele dizendo que estava tudo bem, apesar de estar vermelha como um pimentão.

 - Na verdade a minha primeira vez ainda não foi entende?!?!

 - Ah sim, entendi. – diz Luis sem graça.

 - Mas quando acontecer vai ser com alguém que valha a pena amiga, bem diferente de como foi com a gente. – brinca Fabi, fazendo a amiga sorrir e ficar menos tensa.

Enquanto conversavam, uma inspetora se aproxima deles e pergunta o porque estarem lá. Eles explicam que estão em aula vaga.

 - Certo, mas porque não foram embora então? – pergunta ela.

 - Não deixaram porque somos menores. Frescura viu! – diz Fabiana fazendo cara de nervosa.

 - Vocês são, eu não. – diz Murilo.

 - Pode ir embora então. – diz a inspetora.

 - Não, vou ficar aqui com eles.

 A inspetora olha para os lados e diz baixo para Murilo.

 - Se responsabiliza por eles e vai todo mundo embora menino, deixa de ser bobo. Vão ficar aqui fazendo o que?

 - Podemos ir então? – pergunta Fabiana.

A inspetora os leva até a diretoria e os dispensa, brincando com Murilo, dizendo que ele é responsável pelos amigos.

Já do lado de fora eles se despedem e Murilo vai embora com Cecília.

 - Quer ir direto pra sua casa? Temos um tempinho antes de eu ir trabalhar. – diz ele.

 - Podemos namorar um pouco na praça então.

 - Como você quiser! Depois te levo pra casa e vou direto pro serviço. – diz lhe dando um beijo no rosto.

Eles vão até a praça e se sentam em um banquinho debaixo de uma árvore, um de frente para o outro. Enquanto segura as mãos de Murilo, Cecília sorri, um sorriso de nervoso que ele já conhecia.

 - Quer me perguntar alguma coisa não quer?

 - Como você sabe?

 - Já conheço muitas coisas sobre você mocinha. Pode perguntar. O que foi?

 - Sobre as perguntas de agora pouco... Você já...

 - Pode perguntar, não precisa ter vergonha de mim.

 - Ta, vou tentar – diz respirando fundo – Você não se envolveu com uma menina só não é? Tipo, você disse que perdeu a virgindade com quinze anos, hoje tem dezoito...

Murilo dá um sorriso de lado, se divertindo com a timidez mostrada por Cecília.

 - Você quer saber com quantas meninas transei ou quantas vezes transei? – pergunta normalmente, enquanto Cecília fica vermelha mais uma vez.

 - Na verdade as duas coisas. – diz sem jeito.

 - Certo... Não foram muitas, algumas.

 - Garotas ou vezes?

 - As duas coisas. Lembra quando te contei minha história? De que tinha umas amizades não muito exemplares?

 - Lembro sim.

 - Foi com algumas dessas meninas aí que rolou. Elas andavam com os caras e tal, só queriam curtir mesmo.

 - E você chegou a ter algo mais sério com alguma delas?

 - Não. Foi só sexo mesmo, coisa de uma ou duas noites. Nunca me envolvi com nenhuma delas além disso, pode confiar.

 - Sério mesmo?

 - Sério gata. Eu queria esquecer dos problemas que estava passando, aí elas se jogavam em mim, eu apenas aproveitava. Mas me aproveitava da situação, não delas, eu nunca me aproveitei de ninguém, elas faziam cientes do que queriam.

 - E teve alguma que você gostou mais?

 - Ah Cissa, não tinha dessa. Era algo tão automático sabe, sem sentimento nenhum. Só foram melhores que a primeira porque eu meio que fui aprendendo o que fazer, mas só isso.

- Ah ta, entendi. – disse ainda sem graça.

 - Ficou com vergonha de mim?

 - Mais ou menos.

 - Está fazendo essas perguntas por quê? Tem a ver com o fato de você ser virgem não é? – perguntou erguendo uma sobrancelha.

 - Tem. É que me senti tão... Sem graça ouvindo você e o pessoal lá falando sabe?

 - Não tem o porquê ficar sem graça, todo mundo nasce virgem e cada um perde na hora que tem que perder.

 - Mesmo assim, me senti tão... Sem assunto sabe?

Murilo sorri e dá um selinho em Cecília.

 - Você ouviu o que a Fabiana disse não ouviu? Que quando acontecesse a sua primeira vez seria muito melhor que foi a da gente. E posso te dizer outra coisa?

 - Claro.

 - Se você achar que a sua primeira vez deve ser comigo, prometo que vou fazer de tudo pra ser a melhor de toda a sua vida.

Cecília sorriu sem graça, ficando vermelha. Murilo sorriu ao ver à namorada daquele jeito. Deu-lhe um beijo apaixonado, levantando do banco em seguida, segurando-a pela mão e fazendo com que ela levantasse também.

 - Vamos minha gata linda?

 - É o jeito né? – diz abraçando Murilo e indo embora com ele.