Durante o almoço Cecília tinha um ar de felicidade no rosto e sua mãe logo percebeu, porém não quis dizer nada. Ela e Cecília não tinham segredos uma com a outra e assim que a filha estivesse certa do que sentia, com certeza contaria a mãe.

Assim que terminou de almoçar lavou e guardou a louça. Ajudou a mãe com os afazeres de casa e ainda arrumou seu quarto.

Enquanto fazia isso, recebeu uma mensagem em seu celular. Era de Murilo.

“Foi um saco ficar a manhã toda longe de você, espero ser recompensado mais tarde. Beijos mocinha linda.”

Ela sorri ao receber o torpedo e só aí se dá conta que sua mãe está parada na porta do quarto a observando.

 - Oi mãe! – diz sem graça.

 - Você está tão feliz hoje...

 - Eu sou feliz mãe!

 - Eu sei que é, mas desde o fim de semana você parece mais alegre que de costume. Posso arriscar um palpite de onde vem essa felicidade toda?

 - Pode vai.

 - Tem a ver com o moço que veio aqui não é? O que você ajuda a estudar.

Cecília sorri e concorda com a cabeça.

 - Sabia! – diz a mãe dela sorrindo também – Vocês estão ficando ou namorando?

 - Ficando, pelo menos até agora.

 - Certo... Vocês vão continuar estudando juntos na casa dele?

 - Sim, mais tarde vou pra lá.

 - Juízo ok?

 - Eu sei mãe, pode ficar sossegada. Ele nunca me faltou com o respeito e não é agora que vai fazer isso.

 - Eu sei, mas é sempre bom ser prudente. Confio em você e pelo o que percebi esse rapaz também é ajuizado, mas sempre é bom ir devagar.

 - Eu sei mãe, pode ficar tranqüila.

A mãe dela sorri e se vira para sair do quarto quando Cecília a chama.

 - Mãe... ?

 - O que é?

 - Não fala nada pro pai não, pelo menos por enquanto.

 - Ele já sabe. Ele viu vocês no sábado. Mas conversei com ele já.

 - Obrigada.

A mãe dela sorri e sai.

Algum tempo depois Cecília vai ao encontro de Murilo na papelaria. Quando chega ele está arrumando uns cadernos em uma prateleira. Para não entrar e atrapalhar o serviço dele manda uma mensagem no celular, dizendo que está esperando por ele do lado de fora. Pela vitrine ela pode ver o momento que ele recebe o torpedo e o lê, sorrindo em seguida.

Ela senta na calçada e o espera sair. Quando ele enfim sai, vai até ela, estendendo a mão para ajudá-la a levantar. Assim que Cecília levanta, ele a puxa contra si e lhe dá um beijo de tirar o fôlego. Ao solta-lá nota que ela está ofegante, mas com um sorriso nos lábios.

 - Estava precisando disso. – diz ele.

 - Eu também. – diz Cecília sorrindo.

Eles seguem até a casa de Murilo como de costume. Chegando lá se sentam no sofá e Murilo torna a beija - lá, porém dessa vez é Cecília que pausa o beijo.

 - Foco Murilo. Primeiro estudar, depois beijar.

 - Eu sei, mas dá um desconto vai! Fiquei a manhã toda agindo como se não tivesse acontecido nada entre a gente. Só mais um, por favor!

Cecília sorri e coloca a mão no rosto dele.

 - Só mais um. Não posso demorar, meu pai pode implicar.

 - Implicar por quê? Sempre te levo em casa não levo?

 - leva, mas até então meu pai não tinha visto você agarrar no portão de casa. – diz rindo.

 - Eu te agarrei? Foi você que fez isso comigo!

 - E vai dizer que não gostou?

 - Não disse isso...

 - Bobo! Vem cá, mas depois vamos estudar e só entendeu? – diz puxando Murilo pra si.

 - Como você quiser!  - diz beijando Cecília.

Ele segura seu rosto com uma mão e deixa a outra em sua cintura. Ela por sua vez coloca as mãos por baixo das mangas da camiseta dele, segurando seus braços, se dando conta de como são fortes. Ela arranha os braços dele levemente, fazendo com que ele mordesse seus lábios, coisa que ele sabia que ela gostava.

Ela o afasta ofegante, arrumando seu rabo de cavalo costumeiro.

 - Chega, chega, chega melhor estudarmos agora.

 - Você tem razão, melhor mesmo. – concorda ele se afastando dela e pegando sua mochila que estava no chão, ao lado do sofá.

Eles estudam por um tempo, até Cecília decidir ir embora. Como de costume Murilo a leva, mas dessa vez o faz abraçado com ela.

Chegando ao portão da casa dela, segura suas mão e dá um beijo em cada uma.

 - Pronto mocinha, está entregue sã e salva.

 - Obrigada!

 - Vamos continuar assim amanhã? Fingindo que não temos nada? – pergunta ele.

 - Sim, pelo menos por enquanto.

 - Eu sinceramente não vejo motivos pra isso, mas se você quer assim, eu faço.

 - É só por um tempo, prometo! – diz segurando as mãos dele.

 - Tudo bem, mas depois da aula você não vai fugir de mim.

 - Não mesmo! – diz lhe dando um beijo e se despedindo.

Antes de ir embora, Murilo faz uma pergunta a Cecília.

 - Você notou o retardado do Mateus hoje na aula?

 - Sinceramente não, por quê?

 - Ele não tirava os olhos de você.

 - Nada a ver, você deve ter se confundido, afinal ele nunca me olhou, porque ele faria isso agora?

 - Mocinha, você é tão ingênua...

 - Sério, não vejo motivos pra ele fazer isso.

 - Você via motivos pra ele tentar te agarrar como fez no sábado? Acha que ele fez aquilo à toa?

 - Na verdade não sei o que deu nele, mas confesso que fiquei com medo.

 - Toma cuidado com ele ta? Não volta da escola sozinha, tenta voltar sempre com a Fabiana e o Luis.

 - Para Murilo, está me assustando!

 - Não quero te assustar, mas faz o que to pedindo, por favor. Não posso voltar com você por causa do serviço, então não facilita. Outra coisa, tudo bem se agora eu vier aqui pra gente estudar?

 - Tudo bem, sem problema.  – diz Cecília parecendo estar com medo.

 - Desculpa estar te assustando, mas eu tenho um pouco de experiência de vida pelas companhias que tive. Aquele cara não é de confiança, sempre desconfiei disso, mas depois de ver ele e você no sábado tive certeza.

 - Ta bom, vou fazer o que você pediu. Mas e na escola?

 - Lá tem muita gente, ele não ia ser tão trouxa de tentar alguma coisa lá. E se tentar vai se ver comigo. Agora esquece esse mané. Boa noite - diz dando um selinho demorado nela e saindo em seguida.

A experiência de vida de Murilo não estava errada. Mateus não ficaria quieto apenas observando a felicidade deles. Ele tinha algo que Murilo não gostava algo ruim. Mas Murilo já havia passado por muitas coisas na vida, enfrentar Mateus seria apenas mais um desafio e Murilo adorava desafios.