O que pode ser mais irônico do que um homem que odeia violência, sempre praticá-la?

 Seja correndo pela cidade atrás do informante, seja arremessando máquinas de refrigerante ou fazendo um bom uso das placas de trânsito. Tinha um fundo engraçado, mas o estressado nunca admitiria. Um não sobreviveria sem o outro. Claro, isso é exagero, eles sobreviveriam, mas a vida seria muito mais entediante. Ambos simplesmente amavam o humor negro enfeitando a situação.

 Mas isto não tinha nenhuma graça.

 Não era engraçado Shizuo ficar imobilizado de temor, não era engraçado a expressão congelada de Izaya e nem era engraçado o choque dos dois.

 O loiro segurou o outro nos braços e deslizou até estarem sentados no chão. O corpo magro do moreno estava paralisado, os olhos arregalados, exibindo o horror que sentia, não conseguia se mexer e estava sendo submerso numa espécie de torpor.

 Desesperado, Shizuo tateou para descobrir o que estava errado e gelou ao sentir um líquido quente na nuca do rapaz. E a ironia se fez ainda mais clara quando ele viu a placa semi ensanguentada há alguns metros de distância dos dois, a última que ele jogou antes de perder o informante de vista. Uma brincadeira violenta que acabou mal.

 Num misto de medo e pesar, o loiro pousou os lábios nos de izaya, num beijo calmo e até meio atrapalhado, sabendo que num ferimento como aquele, Izaya tinha apenas mais uns minutos, não havia como salvá-lo. Mas o moreno não correspondeu. Trêmulo, Shizuo verificou o pulso e... Nada.

 Os olhos abertos tinham um calor vazio, a pele já começava a apresentar sinais doentios. Ninguém estava olhando, em vista que estavam num beco, então o loiro deixou as lágrimas caírem sibre o rosto de seu menino - como ele o chamava - e abraçou o corpo sem vida, se culpando e se amaldiçoando de todas as formas possíveis, percebendo a ironia mórbida.

 Aquilo com certeza não tinha mais graça.