-A culpa é toda sua.

-O QUÊ? Foi você que mandou ela pra lá.

-PORQUE FOI PRECISO! E qual é o problema de ela ir mais cedo? Medo que ela pegue você com uma de suas criadas na cama?

-Ãn? Você enlouqueceu, Deméter? Pra começar eu nem tenho criadas, são apenas esqueletos que nos servem, e não tem problema nenhum de ela ir mais cedo, só que eu prefiro arrumar as coisas antes de ela chegar, e a culpa é sua sim. Se não fosse por você ela não teria me visto com a Bianca e distorcido as coisas.

-Ela distorceu as coisas porque está sensível.

Silêncio. Ambos perceberam que não adiantava culpar um ao outro. Estavam agora caminhando pelo jardim de Deméter, em direção ao Palácio para falarem com Zeus, haviam chegado a um acordo silencioso de que era preciso avisar o Rei dos Céus que a sua filha havia desaparecido. De novo.

Hades estava com a mente revirada e seu físico não estava muito diferente. Seus olhos estavam inchados, ele chorara escondido, silenciosamente, discreto para que Deméter não o vesse assim, tão frágil sem sua filha, por mais que fosse bom que ela visse que ele realmente a amava, porque sua irmã sempre achava milhões de desculpas para parecer que Hades nunca amara Perséfone mesmo. Na mente de Hades, milhões de possibilidades de lugares apareciam, onde ela iria quando estava triste, mas nenhuma parecia boa, mas ainda assim eram melhores do que pensar no que poderia ter acontecido a ela nesse meio tempo. A ideia de que ela possa ter se machucado corroía o corpo de Hades por dentro.

Deméter não estava muito diferente de seu irmão. Seus olhos estavam incrivelmente avermelhados e algumas lágrimas ainda podiam ser vistas em suas bochechas, as que ainda não tinham secado. Seus lábios estavam machucados e com pequenos cortes de tanto que Deméter havia os mordido, pensando em onde a filha estava e o que estaria fazendo. “Eu nunca, nunca, nunca deveria ter dito aquelas coisas para ela, era mais seguro que tivesse permanecido esquecido.” Deméter queria se jogar do Olimpo de tanta culpa que sentia. “Ela pode estar se colocando em perigo, e o colocando também, minha menininha.”

Em poucos minutos, os dois já alcançaram o Palácio, e estavam adentrando a sala de tronos, onde avistaram Zeus sozinho, sentado em seu trono, pensativo. Hera e ele estavam em crise novamente, e desta vez parecia sério, ela não o dava bola, ignorava qualquer tentativa dele de se aproximar, era como se ela finalmente tivesse deixado de se importar, como ele sempre quis, com qualquer coisa que ele fizesse¹.

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Era um dia comum para Zeus, ele ainda estava sem sua rainha, mas era um dia normal, atendendo na Sala de Tronos as pessoas que necessitavam dele. Até seu irmão e irmã entrarem na sala.

Hades vestia a mesma coisa de sempre, aquelas suas roupas pretas, naquele dia vestia um terno cinza com uma capa negra caindo por seus ombros, e ele... aquilo eram lágrimas nos olhos dele? “Céus, isso deve ser sério para o Hades chorar na frente da Deméter.”

Ah, a Deméter. Zeus suspirou ao olhar para ela. Ela estava radiante, vestia um vestido leve, de um verde claro e com alças finas, que realçava suas curvas e outras coisas também. Mas Zeus não conseguiu a admirar o quanto queria, logo seu olhar encontrou o dela, e ele só achou tristeza em seus belos olhos. Ela havia chorado muito, ele podia perceber, seus olhos estavam inchados e vermelhos, e lágrimas secas descansavam em suas belas bochechas. Os olhos dela... ele só vira ela assim uma vez em sua eternidade, e fora quando Perséfone fora raptada por Hades... “Céus!” As coisas estavam se encaixando na cabeça de Zeus, e ele estava ficando cada vez mais preocupado. Para Deméter e Hades estarem ali, juntos, era porque algo haviam acontecido com Perséfone, sua filha tão doce...

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Deméter pode ver nos olhos de Zeus, quando seus olhares se encontraram, que ele já havia entendido. E ela estava certa.

-Como? Quem?! - Zeus se levantou, seus olhos cheios de raiva e tristeza.

-Ela fugiu, Zeus - A voz de Deméter saia como um sussurro. Zeus não conseguiu se segurar e quando deu por si Deméter já estava em seus braços, chorando. Zeus olhou acusativamente para Hades, mas este continha um olhar tão triste que Zeus se sentiria culpado se o repreendesse agora, ele sabia como era perder quem você ama, Hera já sumira uma dúzia de vezes sem dar explicação, fazendo com que ele se arrependesse de tê-la traído, mas era mais forte que ele, ele sempre voltava a trair, e ela voltava a chorar.

-Nós vamos achá-la, calma – Zeus consolava sua irmã enquanto ele e Hades mantinham seus olhares nos olhos do outro, os azuis com raiva, os negros com dor.

Hades fungou e limpou uma lágrima que está ameaçando cair, era orgulhoso demais para chorar na frente de Zeus.

-Eu tenho uma ideia de lugares onde podemos procurar.

Zeus e Deméter se afastaram.

-Faremos uma lista e nos dividiremos, então – Hera disse, entrando na área de visão deles, ela estava no canto da sala, observando. Deméter olhou para o chão e corou levemente, e Zeus passou a mão nos cabelos, nervoso. - Eu sinto muito, Hades – Os olhos dela encontraram o do irmão e este balançou a cabeça em um gesto de agradecimento. O modo como ela especificara que estava falando só com Hades fez Deméter se arrepiar.

-Vamos começar antes que seja tarde – Hades murmurou, e todos sairam por uma das portas laterais da Sala de Tronos, que dava para a Sala de Jantar, onde, obviamente, eles faziam suas refeições.