Nós acertamos com Galdom que passaríamos no dia seguinte para apanhar a coroa. Sinceramente, pensei que ele era mal mesmo, mas parecia só fingir ser, para me testar.

      Jade seguia quieta e parecia estar afastada também de Ronan. Calada, ela se mostrava entristecida com algo, que não pude perguntar até nos acomodarmos em mais um amontoado de pedras. Cheguei perto dela, e indecisa, perguntei:

      -O que há?

      Ela apenas me olhou, incrédula. Como se a pergunta fosse óbvia.

      -Não haja assim. Você sabe muito bem o que foi. Acha que aquele Galdom não conhece a todos, por mais que estejam escondidos? Ele é um mago! - Disse, nervosa. - Como... Como que Zeus me escondeu tão bem? E... E por que não escondeu VOCÊ? - Jade se levantou furiosa e se afastou de mim.

      Não conseguia acreditar do que ouvi, ela estava com raiva por não ser reconhecida por um velho gagá que morava em uma caverna? Me aproximei dela mais uma vez.

      -Mas eu também estava escondida. Antes de tudo acon...

      -Mas não foi a droga do seu próprio pai! Foi por sua proteção, e ele lutou para te achar, queria que soubessem que você era uma princesa! - Ela respirou. - Eu não conheço anda além dos portões do palácio de Zeus! Você conhece o palácio de Circe e Euros, os lagos, as florestas... Eu estou feliz com essa missão, nada dessa área era de meu conhecimento! Eu sou... Um ratinho de laboratório que nunca vira ninguém além de seu dono!

      Não sabia o que dizer, eu concordava. Mas queria que ela mudasse de ideia. Zeus realmente fez muito mal a ela. Mas... Só se ele tivesse feito isso para...

      -Olhe... Ele só estava querendo te proteger, assim como nossos avós me esconderam dele, Zeus achou que podiam fazer o mesmo com você... Jade, você teve um pai. Nasceu em plena realeza e teve tudo do bom e do melhor por ser princesa. Eu... Eu tive que fingir não ser ninguém importante, fui para a Terra como qualquer guardião  e nunca me ofereceram luxo... Só me reconheceram como princesa quando meu entrou furioso pela porta do palácio e parecia me querer morta! - Ela parecia prestes a falar algo, mas eu a interrompi. - Não, deixa... Não é como se eu também não tivesse sofrido, eu entendo. Só... Não jogue a culpa em outras pessoas, procure conversar com... ele.

      Nossa conversa se encerrou em um silêncio perturbador.

      Já estava anoitecendo quando Ronan nos chamou para a "Missão: Engana trouxa". Ótimo nome se você quer trapacear um mago que cospe fogo e tem o poder estimado de Zeus voltado ao mal.

      -Escutem bem... Iremos amanhã a noite, neste mesmo horário. Quando Júpiter se alinhar com vênus. Vocês vão subir a montanha do mesmo jeito que fizeram da ultima vez, sem, os mesmos deslizes, por favor... - Olhou fixamente para Jade, que corou.

      Ele continuou explicando, e nós treinamos feitiços a noite inteira, sem esperar nada da próxima noite.

      Quando o sol surgiu, me lembrei de algo importante. Olhei meus braços, e apenas vi, que os dois já estavam com uma cor sólida. O desespero estava me domando, mas eu acreditava ainda ter uns quatro dias para a transformação se concretizar.

      - Bem... Temos que voltar para Galdom. - Anunciou Jade, um tanto tímida, dirigindo-se a mim.

      Levantei-me e coloquei a mochila nas costas. Nos reunimos com Ronan e caminhamos em direção ao "fim do mundo".

      -Não lembro da ultima vez que me arrisquei tanto! - Disse feliz, Ronan. - Sei que corremos um grande perigo, mas... É emocionante, e talvez... Eu possa assumir novamente meu lugar como Espírito Chefe Lider!

      Vendo toda a alegria que Ronan radiava, deixei minha conversa com Jade para trás e me senti disposta para enfrentar Wallaf. Não havia mais medo, eu seria reconhecida como "A princesa que salvou Prismodeux"... Era um sonho proibido, meio egocêntrico. Bem... Todos tinham os seus pecados.

      Percebendo que a cada vez que andávamos, as florestas iam ficando mais escuras, notei a cabana de Galdom logo a frente. Corremos em sua direção.

      A porta já estava aberta a nossa espera. Entramos e nos deparamos com o ferreiro, feliz, terminando de colocar os últimos diamantes na coroa, tão perfeita, que brilhava cegando a todos.

      Quando terminou, nos entregou dizendo:

      -Faz um tempo que não faço algo tão bonito, tão cheio de vida! Percebo, só agora, que... Com meu dom, era ruim até para mim não fazer muitos trabalhos que gostaria de ter feito... Tudo por um resposta errada... - Nos olhou cheio de gratidão, e parecia um velhinho muito simpático agora, realmente bonito para a sua idade. - Obrigado.

      -Você nos ajudou muito! Nós que devemos agradecer... Bem, com certeza, se quiser, todos do reino ficarão sabendo de sua principal ajuda contra Wallaf! - Saudou-o Ronan.

      -Ah, há algo mais importante que gostaria que fizessem por mim. - E olhou especialmente para Jade, que ficou um tanto apreensiva. - Sei que fica triste por poucos a conhecerem, mas acredito que com essa missão, o reino adorará saber quem é a outra filha de Zeus que os salvou... E soube que você têm dons artísticos muito bons! - Jade corou levemente. -  Gostaria que ficasse encarregada de fazer um cartaz anunciando que "O feiticeiro mau Galdom, abre sua cabana para qualquer um que precise de seus serviços! Sem sua estúpida pergunta!"

      Todos riram alegremente. Nós nos despedimos carinhosamente de Galdom. Jade ficou um tempo conversando com o mago, sobre os detalhes de seu anúncio e ele entregou á ela a coroa pronta, em uma almofada de ouro muito bem trabalhada e sussurrou algo em sue ouvido. Jade se alegrou espontaneamente e nós saímos da cabana pela segunda vez, sem nos preocuparmos com o que viria a seguir.

      -O que ele cochichou com você, JD? - perguntei, enquanto seguíamos para as montanhas.

      Ela sorriu levemente.

      -Que não há pedra mais bonita que a Jade. Ela não é transparente, não se quebra facilmente, mantém seu interior muito bem guardado e é forte para aguentar qualquer pressão.

      E era verdade. Jade era um cofre guardado ás sete chaves, não gostava de mostrar sua face meiga, mas ao longo da missão, não se comportou como uma pessoa isolada das outras, apenas forte, e não deixava os outros a magoarem facilmente.