Pov. Piper.

– Olha aqui seu miserável. – A negra chegou perto daquele que tinha feito sua melhor amiga chorar, como ela nunca tinha visto. – Espero que esteja muito satisfeito com o que fez ontem.

– Do que você está falando? – Ele se levantou da cadeira e me olhou como se eu fosse louca.

– Estou falando da minha amiga chorando ontem por sua causa! – Ela trincou os dentes ao vê-lo sorrir.

– Ah, ela chorou? Que ótimo! – Ele exclamou.

– Ótimo? Ótimo? Você vai ver o ótimo quando eu enfiar a mão na sua cara. – Ela chegou mais perto dele com os olhos cerrados.

– Porque eu deveria ter medo de você? Ela mereceu aquilo! – Ele continuava calmo, tinha até voltado a se sentar. O que fez com que Piper ficasse com mais raiva ainda.

– Ela mereceu? Mereceu ficar a noite inteira soluçando por um garoto que não é nem namorado dela? – A negra se aproximava cada vez mais, provavelmente vendo a hora perfeita para lhe dar um murro certeiro no nariz.

– Sim, ela mereceu. – Ele estreitou os olhos. – Ela mereceu cada lágrima! E não venha você me dizer se estou errado ou não, porque você sabe muito bem o porquê de eu a tratar daquele jeito!

– Meu Deus Amani! Ainda aquilo?

– Ainda! – Ele respondeu com frieza.

– Você precisa realmente esquecer isso. Você sabe que ela nunca vai te ver como algo mais. Bota a mão na consciência, branquelo! Você é um amigo pra ela, sempre foi e sempre vai ser!

– O problema é que ela não se dá nem ao trabalho, de... – Ele ia falar alguma coisa, mas Piper o cortou:

– De o que? De perceber seus amores por ela? – Ela sorriu com escárnio. – Você tem que aprender a lidar com o temperamento da Jennifer e aceitar pelo menos ser amigo dela. Você não sabe o quanto ela chorou ontem! Você não sabe o quanto ela chorou a madrugada inteira! Você não sabe que ela não veio para escola, porque não queria que você a humilhasse ainda mais! – Ela tinha explodido, mas o que poderia fazer? Aquele garoto precisava saber de algumas verdades. E a verdade nunca é tão doce.

– Já disse que nada disso é culpa minha! – Ele levantou da cadeira e bateu com força na mesa. A sorte é que só estavam os dois na sala de aula. Faltavam alguns minutos para a aula começar.

– Não é sua culpa? – Ela fixou seus olhos verdes nele. – É TUDO SUA CULPA! Se você não tivesse sido tão idiota, arrogante, insensível e grosso, ela teria levado uma boa o fato de você gostar dela! Mas não! O senhor tinha que falar daquele jeito com ela!

– Era o único jeito de ela perceber que eu a amo! – Ele bateu novamente na mesa, ainda mais frustrado.

– E você acha que deixá-la naquele estado é prova de amor?

Aquele comentário fez ele se calar. Não tinha pensado nisso.

– Pois é Amani! – Ela sorriu, finalmente tinha atingido-o. – Seu idiota! Você achou mesmo que ela ficaria bem depois de todas as coisas horríveis que você falou?

– Eu... – Ele tentou balbuciar alguma coisa, mas foi novamente interrompido pela negra.

– E você acredita realmente que ela não te ama? Você acha que ela estaria toda ferrada se não te amasse? Você acha que ela já chorou assim por mais algum amigo?

– Piper... – Ele se sentou novamente. – Eu... Eu não sabia... Eu... Diz a ela que eu sinto muito.

– Pois devia sentir mesmo, só eu sei o jeito que ela ficou. Você devia sentir mais do que isso depois de tudo o que falou. – Então ela saiu e deixou o garoto sozinho, enquanto a sala se enchia de alunos.

*

Piper, estou bem melhor.

Tem como descolar o endereço do garanhão?

Enviada por: Jennifer Connor.

*

Vou fazer o que puder.

Não vou nem perguntar pra que você quer o endereço.

Enviada por: Piper Nielsen.

*

–... Romeu e Julieta, Hamlet, Sonho de uma Noite de Verão, Otelo, O Mouro de Veneza, dentre outros. – Uma garota de cabelos castanhos dizia as maiores criação de Shakespeare enquanto Piper se esforçava para não dormir. Por sorte, o sinal bateu e todos começaram a arrumar suas coisas enquanto o professor dizia:

– Muito bem Srta. Arden. Não se esqueçam da redação sobre Romeu e Julieta, a entrega é para quarta feira.

Piper esperou todos saírem da sala – o que não demorou muito – e foi falar com o professor Turner.

– Ah, olá Srta. Nielsen. Algum problema?

– Hnn... Sim. – Ela teria que inventar alguma história convincente se quisesse que o professor desse o próprio endereço. – É que meu pai está interessado em uma... Ah, feira cultural que vai terno trabalho dele e... Eu falei que o senhor é muito bom com dramaturgias e essas coisas.

– Sim? – Ele estreitou o olhar e Piper corou.

– Então, ele pediu para eu perguntar-lhe seu endereço, porque a empresa precisa de... Alguém como o senhor, entende?

– Alguém como eu? – Ele não parecia estar muito convencido.

– É... Alguém que conhece sobre esses assuntos. Ele ia te mandar cartas, para você ensiná-lo alguma coisa e ele não passar por... Ignorante, nessa feira... Cultural.

O professor a olhou com um ponto de interrogação estampado no rosto, Piper tinha certeza que ele iria recusar. Mas então ela ficou boquiaberta.

O senhor Turner tinha pegado um papel e escrevia alguma coisa nele.

– Tome. – Ele entregou a ela. – Mas como que eu não estou sabendo dessa feira cultural?

– É um evento fechado. Sabe? Particular. – Ela sorriu e saiu de pressa da sala.

*

– Jenny, você está me devendo duas.

– Conseguiu?

– Sim.

– Piper, te amo! Sabia?

– Sabia. – A negra sorriu.

– Espera aí, porque duas?

– Porque eu também fui falar com o idiota do Amani.

– Piper... – Jennifer hesitou. – Você... O que você fez?

– Nada. Fica tranquila. A única coisa, é que o Amani vai pensar duas vezes antes de falar merda pra você.