O menino olhou para o papel a sua frente e fez uma careta ao se dar conta do quão sem graça e não belo estavam ficando os seus rascunhos ali. Seu objetivo era tentar copiar um dos desenhos de um dos livros que seu pai havia trazido de Londres para ele, mas a única coisa que ele parecia ter conseguido era um amontoado de rabiscos sem forma definida.

Afastou o lápis do papel e ergueu os olhos para ver, pela janela, a figura de sua mãe parada na varanda, ocupando-se em pintar mais uma de suas telas... A vontade de ir mostrar o seu desenho para ela era enorme, como a vontade de toda criança de mostrar algum feito novo para os pais, mas, até aquele momento, Tom decidira que seus desenhos eram uma coisa apenas sua. Seu pai não se interessaria por eles, afinal, Thomas normalmente só se preocupava com outros tipos de coisas – números e livros, na maioria das vezes – e sua mãe... A verdade era que o menino sentia uma enorme vergonha de mostrar qualquer coisa relacionada a arte à ela. Mary conseguia dominar qualquer tipo de material para fazê-los trabalhar ao seu favor, criando as mais belas imagens possíveis. Seria humilhante ter que mostrar algo tão simples e estranho para alguém tão boa naquela atividade.

Olhou novamente para o desenho no papel. Talvez não estivesse tão ruim, afinal, ele ainda conseguia reconhecer a forma de um coelho de casaco ali... Suspirou, descendo da cadeira onde estava sentado e pegando o papel, antes de se adiantar para a varanda, tentando dar um jeito de esconder o papel, caso desistisse daquilo.

Mary estava, como sempre, concentrada demais na pintura para perceber qualquer outra coisa. Tom sabia que logo ele mesmo estaria naquele mesmo estado de concentração enquanto a via pintar... Era sempre daquele jeito, como se a imagem da mãe misturando as tintas e as aplicando na tela conseguisse prender toda a sua atenção a ponto de deixá-lo alheio ao que acontecia a sua volta. Era bom, de certa forma... Uma ótima maneira de passar o tempo, em sua opinião.

“Tom?” O menino sacudiu a cabeça, finalmente olhando para longe da tela e vendo a mãe sorrindo para ele. “O que foi, querido?”

O pequeno Riddle mordeu o lábio inferior – hábito o qual havia herdado do pai – e estendeu à outra o papel já meio amassado. A mulher o encarou, antes de se agachar para ficar da altura do outro e pegar a folha. Tom sentiu um frio na barriga enquanto observava a mãe analisar o desenho com os olhos azuis profundos, volte e meia correndo os dedos finos pelo papel, até, finalmente, deixar um sorriso aparecer em seus lábios.

“Isso é lindo, querido,” ela falou, olhando para o filho e sorrindo. “Venha aqui.”

O garoto aproximou-se dela e, assim que estava perto o suficiente, foi envolvido por um dos braços da mãe, que não hesitou em beijar-lhe os cabelos escuros e sorrir.

“Eu sabia que estava certa,” Mary murmurou, colocando a folha sobre os joelhos e segurando as mãozinhas do filho. “Olhe.” Tom encarou as próprias mãos. Ele nunca achara nada de mais nelas, apenas já havia percebido que eram magras demais, com dedos finos e longos demais. “Eu sempre disse ao seu pai que você tinha as mãos de um artista, meu amor.”