Acordei com a cabeça latejando, parecia uma eternidade eu ter dormido ate tarde, a cama vazia mostrava que Noel tivera que sair antes do amanhecer, e que provavelmente nos encontraríamos novamente hoje como planejado, mas teria que ir ver Sarah antes, a surpresa de sua gravidez pegou a todos de surpresa, principalmente a ela que não sabia do seu estado, a noticia tirou de sua mente o atentado de ontem algo extremamente bom para não dizer que ela ficaria em trauma se pensasse no que aconteceu, agora o mais importante era essa criança e o casamento que se aproximava.

O fato deu ter quebrado minha mão neste confronto dificultou o termino de seu vestido, o que estava me deixando com mais dor de cabeça do que já acordara, precisava contratar uma costureira digna de tocar na obra de arte que criei para a futura senhora Dark, o que eu lastimava não poder fazer eu mesma.

Levantando a caminho do banheiro procurei um analgésico para passar a dor, tomando um banho frio pra completar, coloquei uma saia de crochê em cor laranja bordados em flores, uma blusa branca de poliéster, com decote em V profundo, com detalhes drapeados no busto e fecho dianteiro de botões, um sapato de salto nude, uma bolsa vintage lagarto Chanel, penteei meus cabelos e coloquei um headband branco com duas grandes flores, brincos pequenos de flores e um colar de borboleta pra completar. Peguei as chaves do carro e adicionei minhas pílulas de ferro à bolsa preparada pra mais uma crise anêmica que há um ano não tinha, desci as escadas lentamente, tive que me segurar no corrimão pra não gemer de dor quando uma forte fisgada na minha cabeça me fez cambalear pra frente, vai passar, pensei isso era só stress, preocupação de mais que agora viria em dobro com minha mão fraturada.

Não olhei pra Dorian quando me sentei à mesa, abaixando a cabeça em dor, isso já estava começando a incomodar, talvez precisasse ir ao médico, saber se a enxaqueca que tinha estava voltando. Peguei uma torada passando geleia de damasco, tomando um pouco de café com chantilly, precisava de energia pro que viria a seguir.

– Você esta bem Eva? – perguntou a rainha olhando-me especulativa.

– Estou vó, só um pouco de dor de cabeça, nada de mais. – disse tomando meu café – Vou ver como Sarah esta.

– Dirigir? – questionou mamãe preocupada – Um chofer levara você de carro.

– Mãe, eu quebrei a mão, não os dedos, posso muito bem dirigir até a casa deles, qualquer coisa pego um taxi de lá. – comentei tocando as têmporas doloridas – De qualquer modo nós já estamos voltando pra Londres, amanha ou depois estarei em casa.

– Aqui é sua casa. – afirmou Charlotte fazendo-me revirar os olhos.

– Sei disso minha rainha, mas eu gosto de Londres, me faz sentir em casa, aqui tudo se torna diferente, todos me tratam como se eu fosse...

– Uma princesa? Isto que você é Eva. – contestou como sempre.

– Olha vó não estou disposta a começar uma discussão ao qual sei o resultado final, isto só iria piorar minha dor de cabeça e não desejo isso. – informe levantando-me decidida – Estou a caminho da casa dos Dark, caso queria me procurar, até mais ver família.

Não esperei resposta, apenas segui meu caminho até a porta da frente onde minha maravilhosa Mercedes Benz SLR McLaren estava com Ackel abrindo a porta do motorista pra mim, agradeci fechando a porta com a mão boa colocando o sinto e ajustando a marcha, quando fiz isso outra fisgada me fez encostar a cabeça no volante sentindo a dor passar lentamente, eu precisava ir ao medico antes de voltar pra Londres, isso é fato.

Dirigi calmamente até entrar na principal, não estava muito movimentada, mas por sorte a casa de Dark não ficava longe do castelo, ainda era difícil viver ali, em um reino de verdade, não somente um lindo Chateau em Londres, esta era o País de Gales, eu não podia andar na rua sem ser reconhecida e cumprimentada com uma reverência e um beijo nas mãos, algo que o povo daqui fazia para a rainha e a condessa, minha avó e mãe, não era necessária toda essa formalidade para comigo, mas como minha própria vó Charlotte dizia, devemos agradecer a devoção de nossos súditos, somos a lei aqui, e precisamos agir com veemência e firmeza. Quando voltei pra pensar nisso outra dor me atingiu, dessa vez forte o suficiente para me fazer arfar contra o volante o segurando firmemente para não perder o controle, tudo estava ficando pesado de mais, e minha cabeça doía ao ponto de explodir, sentia a pressão apertar meu crânio cada vez mais, a cada lufada de ar que dava a dor aumentava, e quando não aguentei mais minhas barreiras desabaram e com ela a escuridão me tomou...

Em um instante o carro deslizou na pista partindo pra cima do outro que vinha no sentido contrario, a princesa inconsciente não pode se proteger quando os dois colidiram causando um impacto enorme fazendo a Mercedes virar para um lado da estrada capotando, o som dos vidros sendo estilhaçados e da lataria do carro sendo esmagada pelo asfalto foi extremamente estrondoso ao ponto de tudo explodir ao mesmo instante, o corpo de Eva foi jogado para o lado fazendo seus cabelos voarem para frente conforme o sinto de segurança prendia seu corpo para não sair voando do carro, era como se tudo fosse à câmera lenta, o carro rodou três vezes causando mais impacto a cada volta, machucando a princesa cada vez mais, quando finalmente o veiculo parou seu percurso em um poste de cabeça pra baixo o corpo da princesa pendeu pra baixo coberto de sangue, cortes e estilhaços de vidro, a mão machucada estava caída sobre o capô do carro enquanto a outra pendia solta entre o sinto e a cabeça, sua blusa rasgada e manchada de sangue que escorria da sua perna completamente machucada com um corte profundo que deixava todo seu corpo coberto pela camada de liquido rubro, seus cabelos manchados com sangue estavam caídos pra baixo, cheios de cacos de vidro, onde um pequeno corte foi feito na base do seu couro cabeludo, seus lábios estavam cortados escorrendo sangue como seu nariz, mas a inconsciência a deixou como a visão da morte, pois naquele momento Eva estava morrendo.

A condessa Claudia deixou sua xícara cair quando seu peito se apertou em dor e a única palavra que pronunciou foi um lamento dolorido e uma visão da morte se aproximando daquela que ela mais ama nesta vista.

– Eva.

O carro da rainha chegou minutos depois quando a condessa gritou o nome da filha pendido para que fossem atrás da jovem, quando chegaram a principal, o mundo havia virado um caos, todos os carros estavam congestionados e uma fumaça ao longe mostrava que um acidente havia acontecido ali, descendo desesperada a condessa correu pelo meio dos carros seguida da rainha e de Dorian que acompanhava as duas, quando Claudia de Ashforth chegou ao centro do caos seu corpo desabou no chão de joelhos, vendo o carro de Eva estraçalhado e totalmente irreconhecível a não ser pela placa com suas iniciais, Charlotte parou em choque vendo o corpo da neta preso no meio das ferrugens com o braço antes bom pendendo pra fora da janela do motorista, ajoelhando-se ao lado de Claudia, a rainha a puxou para junto a ti chorando e gritando o nome da filha, quando Dorian parou um segundo para assimilar o choque da realidade, a princesa Evangeline havia sofrido um acidente de carro.

Correndo para socorrê-la, este se ajoelhou na frente da porta do motorista não se importando com os vidro que cortavam seus joelhos, pegando o pulso da princesa sentiu seus batimentos fracos, mas ainda existentes, seu rosto estava sereno apesar de tamanho dano em seu corpo, ela parecia um anjo marcado em vermelho, manchada de sangue. A ambulância chamada pelos motoristas que rodearam o acidente chegou quando Dorian conseguiu tirar a porta das ferragens, os paramédicos entraram em ação afastando-o o suficiente para poder sentir o pulso da princesa novamente e soltar com todo o cuidado o cinto de segurança, trazendo seu corpo ao chão, puxando o corpo pra fora do carro, os paramédicos fizeram respiração cardiovascular tentando aumentar seus batimentos, algo em vão, já que se ela não fosse levada ao hospital imediatamente não resistiria, colocando o cordão cervical amarrando-a na maca, os paramédicos ergueram-na carregando-a para a ambulância quando a rainha e a condessa se aproximaram entre lagrimas e gemidos de desespero, não foi necessário falar nada, podia-se ver que a garota estava à espera da morte, e seu corpo tão perfeito e angelical parecia ter entrado em um inferno de vermelho, as duas senhoras entraram chorando na ambulância conforme Dorian subia junto ligando para a corte avisando do ocorrido, Claudia chorava segurando a mão da filha, ali imóvel sendo atendida por paramédicos treinados na arte de trazer a vida, instalando os aparelhos em seu busto e mãos, o mais experiente virou-se para Dorian informando o dano do caso, com duas costelas quebradas, uma fratura no joelho e um corte profundo na panturrilha a princesa estava tendo um ataque respiratório, pois a circulação de oxigênio estava congestionada com a pressão das costelas em seus pulmões, o dano cerebral ainda não podia ser examinado, mas o outro passageiro do carro colidido disse que a princesa já estava inconsciente quando os veículos bateram, e dando-se conta que a forte dor que ela sentiu antes de sair do castelo fez com que pensasse que tivera uma concussão do dia anterior, quando o atacante a golpeou três vezes contra o chão, agora os impactos em seu cérebro foram ainda maiores dificultando um exame até a chegada ao hospital.

O percurso foi extremamente rigoroso, em um momento a princesa teve uma parada cardíaca sendo intubada parar melhor respiração, Dorian não sabia como agir, não tinha noção do que fazer para socorrê-la, agora a única coisa a se fazer era rezar, o que a rinha e a condessa faziam neste percurso de vida ou morte, mas a questão que fica é será que Eva sobrevive? Pois sua vida esta por um fio, e Dorian não pode salvar a ela, estando tão distante do final feliz.