A brisa gelada fazia seus cabelos negros balançarem. Observava o céu repleto de estrelas enquanto caminhava pela praça vazia, cujas árvores estavam enfeitadas com luzes que piscavam em diversas cores.

As casas próximas à praça possuíam enfeites semelhantes. Se olhasse pela janela de qualquer uma delas, encontraria pessoas confraternizando aquele dia. Vinho, peru, refrigerantes e diversos outros alimentos faziam parte da comemoração.

Sentou no banco mais próximo. Seria ali que ele ficaria até dar meia noite, seria daquela forma que comemoraria aquele dia. Simplesmente odiava o Natal.

Seus pais e seu irmão morreram quando tinha cerca de quatro anos de idade, em um acidente de carro do qual foi sobrevivente. Depois disso foi morar com o parente mais próximo, no caso seu tio. Madara era casado e possuía dois filhos. E a sensação que teve depois de se mudar para lá foi de que era invisível.

Participava da ceia, porém ninguém sequer dirigia-lhe a palavra. Ganhava sempre uma camiseta de presente, nada de brinquedos. E os anos foram se passando, tornando a data apenas um lembrete para si do quanto era um estorvo para aquela família.

Hoje, aos 17 anos, não conseguia ver graça naquela confraternização. Alias, há três anos, ele não mais ficava em casa nessa data.

Estava tão distraído, imerso em suas lembranças, que se assustou com o som de seu celular avisando-o que uma mensagem havia chego.

From: Naruto

Temeee! Feliz Natal!

Sei que você não gosta, mas vem aqui pra casa comemorar.

Meu pai e minha mãe só chegarão perto da 00:00. Só meus avós estão aqui.

Vem!

Naruto era seu melhor amigo, mas ele sinceramente não gostava de confraternizar algo que para si não tinha significado algum. Mesmo que a perspectiva de ver o loiro lhe animasse.

Porém, antes que pudesse enviar uma resposta, outra mensagem havia chego.

From: Naruto

Teme, sei que deve estar pensando em não vir.

Se você fizer isso irei ficar te infernizando por mensagem o resto da noite!

Revirou os olhos. Maldito garoto que o conhecia tão bem. Levantou-se e passou a caminhar em direção à casa do amigo. Ostentava um ar de impaciência e quem não o conhecesse poderia jurar que ele estava tremendamente irritado. Mas, mesmo que não quisesse admitir, no fundo ele estava feliz por poder ver o outro.

–--

Apertou a campainha e foi prontamente atendido pelo amigo, que o recebera com um abraço caloroso.

– Feliz Natal Sasuke!

Após hesitar um pouco, retribuiu o cumprimento. A proximidade fez com que sentisse o perfume que ele usava e a respiração deste batendo contra o seu pescoço causou-lhe arrepios. Ao se separarem, ele perguntou:

– Tá com frio Sasuke? Seus pelos estão arrepiados.

Se Naruto soubesse que causava mais que arrepios nele...

Decidiu ignorar a pergunta e após cumprimentar os avós dele, ambos foram para o quarto e sentaram-se na cama de solteiro que lá havia. Apesar da fome que sentia, o loiro queria esperar os pais para iniciar a ceia.

– Tudo bem, não vejo problemas em esperar. Mas porque eles não estão aqui?

Tanto Minato, quanto Kushina, eram formados em medicina e trabalhavam no mesmo hospital. E pelo que Sasuke sabia ambos tinham pego folga naquele dia.

– Eles deram uma passada lá e uma vítima de assalto, em estado grave, deu entrada no hospital. E bom, você sabe como eles são... Quiseram logo cuidar do paciente.

– Sim, eu sei.

Após isso ambos permaneceram em silêncio e ele pode perceber que o loiro estava levemente magoado pela ausência dos pais.

Ele era frio, mas quando se tratava de Naruto, algo mudava. Por alguma razão, ver o amigo triste em sua data preferida não era agradável. Colocou a mão por cima da dele e a apertou, tentando conforta-lo.

O loiro entrelaçou seus dedos e o ato, não esperado por Sasuke, fez com que com tez pálida de seu rosto ganhasse um leve tom avermelhado. Isso não passou despercebido para Naruto, que não deixou que o moreno solta-se suas mãos.

Antes que o outro pudesse dizer algo, ele quebrou o silêncio.

– Er, Sasuke... Posso perguntar-lhe algo?

Apesar do nervosismo pela situação, assentiu levemente.

– Sei que não gosta de comemorar o Natal, mas será que eu posso te dar um presente?

Acho que o que mais odiava era a troca de presentes que ocorria naquele dia. Seus tios só falavam estritamente o necessário consigo o ano todo e no Natal entregavam o embrulho. Aquela era um data que transbordava falsidade, repleta de tradições que colaboravam com aquilo.

– Não Naruto. Presentes tendem a vir acompanhados com uma boa dose de falsidade. Eu odeio isso e...

Porém o final da frase nunca fora proferido, pois os lábios do loiro colaram-se aos seus. Estacou, sem saber o que fazer, e só esboçou reação quando sentiu o outro a pedir-lhe passagem para adentrar a cavidade úmida, que foi concedida.

As línguas enroscavam-se em perfeita sincronia. Sasuke levou as mãos até os fios loiros, acariciando-os, enquanto Naruto agarrou-lhe pela cintura e colou seus corpos.

O beijo encerrou-se pela falta de oxigênio e ambos encararam-se, ofegantes e com as bochechas avermelhadas.

O dono dos olhos azuis sugou levemente o lábio inferior do moreno, que sorriu, puxando-o para outro beijo. O loiro impulsionou seu corpo sobre o do Uchiha, caindo por cima deste na cama. Direcionou sua boca para o pescoço alvo, distribuindo mordidas e chupões e arrancando gemidos baixos do amigo.

Porém, antes que ele pudesse descer as carícias, o moreno inverteu as posições, ficando por cima do outro. Levantou a camisa laranja que este usava e passou a morder o abdômen definido, marcando a pele bronzeada.

– NARUTO, SASUKE! ELES CHEGARAM!

Levaram um susto com a voz forte da avó do amigo e separaram-se, sobressaltados, além de ofegantes.

Encararam-se levemente envergonhados, porém o dono da casa tratou de quebrar a tensão.

– Gostou do meu presente? Eu juro que não havia falsidade alguma nele.

Um sorriso surgiu nos lábios do moreno.

– Foi o melhor presente que já recebi. Mas eu ainda não dei o meu.

O sorriso feliz que o loiro ostentava foi trocado por um malicioso.

– Pode dar mais tarde, é só dormir aqui.

E aproximou-se, dando um selinho demorado nos lábios de Sasuke, para depois ir em direção da cozinha à procura dos pais, deixando o Uchiha com cara de bobo no quarto.

É. Talvez o Natal não fosse assim tão ruim.

E ele descobriu que de fato não o era, depois de passar vários Natais na presença do loiro. Alias, não só os Natais, mas também todos os outros dias do ano.