POV Hermione Granger

Eu não sabia o que fazer. Saí praticamente correndo do Salão Principal, fugindo do loiro que me seguia pra onde eu fosse.

- Hermione, por favor, me escuta – ele estava só a alguns passos de distância. Me chamava mas eu seguia andando, estava decidida a ignorá-lo – Saiba que eu não desisto fácil – ele avisou e pra minha surpresa, Draco ficou na minha frente e me obrigou a parar. Me virei para o outro lado, mas ele segurou umas de minhas mãos e me fez encarar aqueles olhos azuis acinzentados, assim como a tempestade que caía lá fora. Fechei meus olhos e virei o rosto. Ele chegou mais perto e levantou-o com seus dedos em meu queixo. Aproximou seus lábios do meu ouvido e de leve, começou a cantar baixinho, para que somente eu ouvisse, mesmo que só houvesse nós dois naquele corredor.

I'm not a perfect person
Não sou uma pessoa perfeita

There's many things I wish I didn't do
Há muitas coisas que eu gostaria de não ter feito

But I continue learning
Mas eu continuo aprendendo

I never meant to do those things to you
Eu nunca quis fazer aquelas coisas a você

And so I have to say before I go
E então tenho de dizer, antes de partir

That I just want you to know
Só quero que você saiba

I've found a reason for me
Encontrei uma razão pra mim

To change who I used to be
Para mudar quem eu costumava ser

A reason to start over new
Uma razão pra começar tudo de novo

And the reason is you
E a razão é você

Nessa hora meus olhos já estavam embaçados, meu coração acelerado e minha respiração alterada. A cada verso pronunciado como um sussurro em meu ouvido, eu sentia um calafrio percorrer meu corpo. A voz rouca de Draco me fazia arrepiar e eu me segurava para não chorar. Nunca ninguém fez algo nem parecido para mim. Essa música era de uma banda trouxa, mas então como ele conhecia?

Ele afastou o rosto do meu pescoço e colou nossas testas. Fitava meus olhos enquanto permanecia aquele silêncio harmônico. Nossas mãos estavam entrelaçadas, nossos corpos encostados e meu coração batia tão rápido, que por um momento pensei que fosse sair pela boca.

- Me perdoa? – sua voz saiu baixa, mas entendi exatamente o que ele falara.

Tudo o que eu conseguir fazer foi assentir com a cabeça e abraça-lo o mais forte que eu podia. Ele respirou fundo e eu senti seu peito subir e descer encostado em mim. Perdi a noção do tempo e espaço. Erámos só nós e mais nada. Draco se afastou apenas o necessário para buscar meus lábios. Como eu senti falta daquilo. De tê-lo perto de mim, daqueles lábios e daquele beijo que só ele sabia dar. Um beijo que me fazia sentir leve, como se eu flutuasse enquanto estivéssemos ligados. Como se a gravidade acabasse e tudo saísse voando por aí. As borboletas em meu estômago foram se acalmando e eu fui perdendo o ar. Nos separamos ofegantes e quando abri meus olhos, vi seu sorriso. Como era bom tê-lo de volta.

POV Pansy Parkinson

Nem fui jantar. Fiquei aqui no Salão Comunal fazendo os deveres de várias aulas. Fui deixando para última hora e acabou acumulando tudo. Astória entrou pelo retrato e parecia aérea. Nem notou quando pisou em uma parte dobrada do tapete que havia no centro do salão. Ela acabou tropeçando e caiu com um baque estrondoso no chão.

- Astória – gritei assustada – O que houve com você garota?

- Nada - ela respondeu rápido - Nada que importe – ela sentou-se no chão e notei suas feições mudarem de avoada para triste – Boa noite, Pan – ela se levantou ligeiramente e subiu as escadas para o dormitório.

O que aconteceu? Ela nunca foi desse jeito. Astória não era de esconder as emoções na frente dos outros, ela agia exatamente como se sentia. Deixei minhas coisas em cima da mesinha de centro e fui atrás dela. Cheguei ao dormitório, mas ela não estava lá. Fui até o banheiro e a vi encolhida em um canto. Tinha o rosto escondido entre as mãos e soluçava forte.

- Astória – falei baixinho e ela se sobressaltou. Obviamente não esperava me ver ali – O que aconteceu? – me aproximei lentamente da garota.

Ela nada disse. Lágrimas escorriam de seus olhos e percorriam seu rosto. Seu rosto estava vermelho, assim como seus olhos, e sua maquiagem estava borrada.

Me ajoelhei na sua frente e tentei transmitir um olhar calmo para tranquiliza-la. Ela mordeu seu lábio inferior e me olhou assustada.

- Tá tudo bem. Não precisa me contar. Só fica calma, ok? – vi que ela tentou, sem sucesso, se acalmar. Fechou os olhos e sacudiu a cabeça. Parecia tentar se livrar de lembranças ou algo assim.

- P-Pan, me desculpe – ele disse com a voz chorosa.

- Não precisa se desculpar. Afinal, você não fez nada de errado.

- E-Eu fiz Pan. Eu fiz – ela disse e eu fiquei confusa. Ela não falava nada com nada, estava triste sem um motivo aparente e se desculpava por... Chorar?

- Todos fazem coisas erradas – me sentei no piso frio e a olhei. Ela estava ficando melhor – Eu mesma já fiz muitas.

- Mesmo? – ela parecia uma criança espantada.

- Mesmo – eu sorri e ela deu um fraco sorriso em troca. Ela veio até mim e me abraçou. Eu não entendi nada no momento, mas a abracei de volta. Limpei suas lágrimas quando nos separamos e ela me pareceu mais calma.

- Vou descer para terminar minhas tarefas, tudo bem?

- Certo, eu vou tomar um banho e vou dormir – ela respondeu se colocando de pé.

- Você vai ficar bem? – perguntei me levantando e ela sorriu.

- Vou, não se preocupe.

- Então eu vou lá. Qualquer coisa me chama ok?

- Ok – ela disse já pegando uma toalha na prateleira ao nosso lado e se dirigindo a um dos boxes do banheiro – Obrigado, Pansy – ela disse se virando para mim antes de entrar de baixo do chuveiro.

- Sem problemas – sorri e saí do banheiro. Voltei ao Salão Comunal e avistei Blaise lendo um de meus cadernos – Hey, o que você está fazendo? – perguntei ao moreno e ele me olhou.

- Nada. Só estou comparando suas respostas com as que eu vou escrever – ele disse e eu ri.

- Que bonito hein.

- Sim, maravilhoso na verdade.

- Agora chega pra lá, e me devolve meu caderno – disse o empurrando pro lado e pegando meu caderno de volta.

- Poxa, você nem pra me ajudar né? – ele reclamou.

- Eu posso te ajudar, mas não vou te dar as respostas. Tá pensando o que homem?

- Chata.

- Eu sei que sou. Mas agora me fala, por que tá com essa cara de quem comeu e não gostou?

- Só uma ruiva que me deixa confuso.

- Gina?

- Conhece mais alguma ruiva?

- Na verdade sim, mas isso não importa. O que aconteceu?

- Eu esclareci as coisas com ela, e ela não ficou triste. Nem chateada ela ficou.

- E é por isso que você tá assim? – perguntei desconfiada.

- Não. Eu fiquei surpreso dela não ter se importado, sabe. E agora que ela não tá nem aí para mim, eu não paro de pensar nela.

- Apaixonado Blaise? – perguntei sorrindo.

- Eu não me apaixono, Pansy. Credo, até parece que não me conhece.

- Ah é, acredito – Até parece que ele não gosta da Gina. Me engana que eu gosto, meu bem.

- É, talvez eu esteja. Mas só um pouquinho tá legal?

- Você é quem sabe – ergui minhas mãos para o alto e voltei a fazer meus deveres. Não se passou nem cinco minutos e o Blaise voltou a reclamar.

- Revolta dos Duendes é a minha avó de cueca. Por que eu preciso saber o que aconteceu com esses pigmeus no século passado? Vai servir pra minha vida ou no meu trabalho? Como se eu parasse uma pessoa e perguntasse quem foi Burdock Muldoon.

- E quem é Burdock Muldoon? – eu perguntei confusa.

- E eu é que sei? – Blaise respondeu e eu ri.

Voltei a escrever, e ao longo da noite, Blaise roubou meu caderno mais de umas três vezes sem eu perceber. O garoto era um ninja ou sei lá o que. Pelo amor de Merlin. Voltei minha atenção à História da Magia. Meus olhos estavam passando pelas linhas do grosso livro, mas eu pensava no que havia acontecido no banheiro a uns momentos atrás. O que será que tinha de errado com a Astória?