Não era para ser daquele jeito. Mas precisava ser. Quando Ludwig recebeu a notícia de que Feliciano assinara um armistício com os Aliados, não quis acreditar. Queria que aquilo fosse mentira. Pois, se fosse verdade, sabia o quê teria que fazer.

Mas não era mentira. E agora Ludwig segurava Feliciano pela gola de seu uniforme. O exército alemão corria pelas ruas de Roma com suas pesadas armas em mãos. E Ludwig não podia fazer nada além de olhar nos olhos daquele que segurava.

Feliciano também não dizia nada. Estava com os olhos cheio de pavor e parecia tremer.

Finalmente o alemão quebrou aquele silêncio entre eles.

Por quê?

D-Desculpe, Doitsu foi a única resposta do italiano.

Ludwig soltou-o, fazendo-o cair no chão de joelhos. E por lá permaneceu. Parecia estar prestes a chorar. Mas Ludwig deu-lhe as costas e andou em direção ao seu exército. Sem olhar para trás. Porque, era isso que precisava fazer com os traidores.

Afinal, a relação deles estava em chamas e queimava lentamente.

Então acabou

Dessa vez eu sei que se foi

Água salgada

Você provou-a por tempo demais

Eu apenas sei que estou errado

Agora eu sei que se foi

Em chamas

Em chamas

Em chamas

Lentamente nós acabamos

E, sentado à sua mesa de trabalho, Ludwig não conseguia achar uma resposta para a pergunta que martelava em sua mente: "Por que Itália o havia traído daquela forma?".

Isso não importa agora! urrou colocando-se de pé repentinamente. Os soldados que estavam por perto assustaram-se. Virou-se para eles. Vamos nos concentrar nessa guerra.

Eles responderam um "Sim, senhor!" em uníssono.

Estava decidido, Ludwig não poderia mais ficar parada pensando nas razão que levaram o italiano à traí-lo. Era hora de esquecer.

Afinal, a relação deles estava em chamas e queimava lentamente.

Então acabou

Este tempo está voando agora

Dessa vez eu não conheço nenhuma música

Não dá para impedir, queima lentamente

Não dá para impedir, queima lentamente

Dessa vez ele era a vítima. Os soldados de Ivan tomaram Berlim no dia primeiro do mês de maio. Cansado de tudo aquilo, ainda mais depois de precisar lidar com a morte de seu principal líder, Ludwig rendeu-se. Alguns meses depois foi a vez de Kiku.

E então a guerra estava acabada.

Ele perdera. Mas teria sido melhor perder com Feliciano ali em seu lado. Mas não era possível, claro.

Afinal, a relação deles estava em chamas e queimava lentamente.

Em chamas

Em chamas

Em chamas

Nós fomos mais devagar

Francamente o alemão resmungou. Tentava caminhar o mais longe possível daquela sala de reuniões.

Toda aquela questão de ser dividido entre os Aliados o dava dor de cabeça. Como se não bastasse toda a destruição de Berlim e os machucados que conseguira que agora estavam devidamente enfaixados, mas ainda doíam um pouco . Era esse seu castigo, no final das contas.

Ao horizonte, pensou ter visto algo. Estava muito longe, então apenas avistava um borrado de cores. Começou a caminhar mais rápido, logo começando uma corrida moderada. O borrado de cores aos poucos tomava forma. Uma forma magra, não muito alta, que parecia encolhida no chão.

Percebeu então que era uma pessoa. Mas, assim que esta pessoa levantou o rosto que escondia entre as mãos, Ludwig percebeu que não era qualquer pessoa. Era Feliciano. E agora não sabia o que fazer. Dar meia volta e fingir que não haviam se encontrado? Falar algo? Perguntar o que levava o outro a encolher-se daquela forma?

Antes que pudesse se decidir, o italiano levantou-se abruptadamente e o abraçou com força, como se esperasse por aquilo durante muito tempo. Afundou a cabeça no peito do outro e deixou as lágrimas escorrerem de seus olhos. Ludwig não sabia dizer se ele estava chorando por emoção, tristeza, ou qualquer outra coisa.

Sem jeito, pousou a mão na cabeça do italiano e afagou-a. Tentava encontrar palavras para dizê-las em voz alta, mas simplesmente não conseguia. Por sorte foi Feliciano quem falou primeiro.

Doitsu, eu sinto muito, muito mesmo. E-Eu não quis, mas tive que fazer... Meu povo, meu chefe... Era isso que eles queriam...

Ludwig suspirou e levantou o queixo do italiano para olhá-lo nos olhos já inchados por tanto chorar. Pensou por quanto tempo ele estaria assim. Mas não quis perguntar, teria outra oportunidade depois. Agora outras coisas importavam.

Tudo bem, Itália. Isso já passou.

E então se inclinou para que assim seus lábios pudessem se unir. Um beijo salgado devido às lágrimas de Feliciano. Mas nenhum dos dois se importou com aquilo. Toda aquela tensão finalmente havia acabado.

Assim que seus lábios se separaram, Feliciano sorriu fracamente e colocou-se na ponta dos pés para depositar um beijo na bochecha do alemão. Em seguida voltou a abraçá-lo. Ludwig não podia esconder que estava feliz.

Finalmente a relação deles não estava mais em chamas.

Em chamas

Em chamas

Em chamas

Lentamente nós acabamos

Oh, lentamente nós acabamos

Podemos colocar um pouco de água?