Sirius Black

Eu, simplesmente, NÃO CONSEGUIA ACREDITAR!

– Evans eu juro por Merlin, que se você não estivesse no meu corpo neste momento, eu te mataria! – disse sentindo a fúria histérica em minha voz. Ou melhor, na voz de Evans. Voz que seria minha por mais duas semanas. D-U-A-S-S-E-M-A-N-A-S! DUAS SEMANAS naquela droga de corpo, com toda a escola pensando que eu sou gay e morrendo de saudades do meu siriustick.

– Se eu não estivesse no seu corpo neste momento, não haveria motivos para você querer me matar – ela disse naquela sua mania irritante de sempre ter razão.

– Mas você está e eu quero! – eu resmunguei infantilmente, sentindo meus olhos encherem de lágrimas. – Ah, que merda! Como se eu precisasse de mais uma ataque de gayzisse! – disse e senti meus olhos transbordarem.

– Ei, não chora – Lily disse e se aproximou, colocando uma mão em meus ombros na tentativa de me reconfortar.

Mas não ajudou nenhum pouco, porque a mão que ela estendia em minha direção era MINHA e eu não estava podendo usá-la no momento.

E nem poderia por duas semanas.

– Te odeio, Evans – eu disse e me afastei, sentindo um soluço reverberar por minhas costelas.

Ela estava prestes a responder, sua expressão ficando furiosa de repente, mas Mckinnon interrompeu.

– Hey, vocês dois, parem com isso. Não vai levar a lugar nenhum – ela disse e colocou-se entre nós dois.

– Mckinnon, por acaso você tem ouvidos? – perguntei grosseiramente, sua calma me irritando mais do que eu poderia aguentar. Além daquelas lágrimas insistentes que desciam por meu rosto. A garota me encarou surpresa. – Você ouviu alguma parte do que a gente acabou de dizer? Duas semanas! DUAS MALDITAS SEMANAS QUE EU VOU TER QUE FICAR NA MERDA DO CORPO DA EVANS!

– MEU CORPO NÃO É UMA MERDA, ME RESPEITE SEU CACHORRO! – Lily disse, aproximando-se. Eu me encolhi ao ver todo o meu tamanho com aquela expressão furiosa.

– Parem com isso! PAREM COM ISSO, SEUS IDIOTAS! – Mckinnon berrou, fazendo com que nós dois nos assustássemos. – Eu vou ter que aguentar este traste por duas semanas, então não posso dizer que estou satisfeita também, mas não adianta NADA vocês continuarem com essas brigas de maricas...

– EI...

– Cale a boca, Black – ela disse e me encarou furiosamente. Suspirou. – Talvez seja melhor se nós apenas falarmos com o professor Dumbledore...

– NÃO! – eu e Lily dissemos ao mesmo tempo, fazendo-a calar-se.

– Esse tipo de feitiço é proibido, não podemos correr o risco de sermos expulsos...

– Sem falar que todo mundo, ai sim, vai pensar que sou gay, sabendo que essa dai estava em meu corpo...

– E nunca na minha vida vou admitir que acordei algum dia com uma barraca no meio das pernas...

– ... estou expelindo sangue pelas partes baixas...

– Um asno...

– Chorando o tempo inteiro...

– ... dormindo no mesmo dormitório que o Potter...

– ... James vai me MATAR se souber que...

– ... olhando para a bunda dele...

– ... fazendo xixi sentado...

– ... ter que estar em contato com um... Um... Pênis!

– ... uma vagina, sem ser para fazer otras cositas mas!

– Nem pensar! – concluímos de forma convicta.

Mckinnon ergueu as mãos em rendição.

– Tudo bem, era só uma sugestão. Dumbledore com certeza conseguiria arrumar isso para vocês – ela disse de forma razoável.

Eu e Lily nos encaramos, os dois com aquele olhar orgulhoso de não dar o braço a torcer.

– Não. – falamos.

– Bom, então não reclamem depois – a morena disse e saiu da sala a passos firmes. Bateu a porta ao passar.

Evans se abaixou para pegar o livro que havia caído de sua mão, sua expressão uma mescla de fúria e tristeza.

– Tire este livro da minha frente! – eu disse e puxei-o das mãos dela, abrindo a mochila e atirando-o dentro. – Nunca mais quero vê-lo!

Lily suspirou, caindo de forma pesada sobre uma mesa.

– O que nós vamos fazer? – ela perguntou desolada.

Fiquei alguns segundos em silêncio, pensando. Realmente, o quê, por Merlin, nós iríamos fazer? Quero dizer, não era como se tivéssemos alguma saída agora, a não ser esperar. E, já que estávamos tão obstinados a não pedir a ajuda de ninguém, precisávamos nos unir. Ou nós dois sairíamos perdendo.

– Tudo bem – eu disse, sentando-me em outra mesa logo a sua frente. – Vamos parar com esse chororô...

– Quem está chorando aqui é você, não eu – ela disse e ergueu uma sobrancelha.

– Você precisa sempre ser tão espertinha? São esses seus hormônios de chorona que causam isso em mim. Sirius Black nunca chora!

– Que machista...

– Você está perdendo o foco, Evans – disse e ela suspirou.

– Tudo bem, qual seu plano?

– Bem, não é como se tivéssemos alguma outra saída a não ser encarnarmos os personagens, certo? – ela confirmou com a cabeça. – O que significa que eu preciso agir como uma ruiva estressada e neurótica e você como o ser maravilhoso que eu sou – ela revirou os olhos, mas parecia cansada demais para retrucar.

– Isso seria muito mais fácil se tivéssemos trocado a personalidade também – bufou.

– É, concordo, mas não foi assim, então nós dois precisamos cooperar um com o outro...

– O que significa que você vai desmarcar o encontro com o Potter, isso seria uma ótima cooperação – ela sinalizou.

– Acho que já deixamos claro que não vamos voltar atrás sobre este assunto, nem com seu suposto namoro com a Dorcas. Sério, isso é muito, muito, muito estranho. Se bem que levando em consideração o fato de que você é uma menina e está namorando com outra menina... – encarei-a de forma sonhadora. – Vocês já se beijaram?

– Ah, Black, eca! Você é nojento – ela disse e fez careta. – Ela sabe quem eu sou!

– Você está me dizendo que...

– Dorcas pode ajudar, só isso – Lily disse de forma evasiva.

– Você não vai me contar o porquê dessa sua insistência em continuar com esse namoro fajuto com a Meadowes, usando o MEU corpo?

– Você vai me contar o porquê dessa sua insistência em dar continuidade a esse encontro ridículo com o Potter?

Encaramo-nos de forma furiosa. Suspirei.

– Eu só queria que, pelo menos uma vez, você fosse legal com ele. Ele adora você, Evans, e você nunca deu uma chance pra ele mostrar o quanto é legal. Se, no meio dessa merda toda, eu puder fazer alguma coisa boa por alguém, isso vai ser este encontro com James. Mesmo que não seja você de verdade.

Evans me encarou parecendo zonza por alguns instantes.

– Ele não é tão ruim assim – eu disse e ela balançou a cabeça em negativa.

– Sirius... Você parou para pensar em como o J... Potter vai se sentir quando descobrir que ele só conseguiu sair comigo porque você estava no meu corpo e não porque eu quis? – foi a minha vez de ficar sem palavras. Eu não tinha pensado nisso.

– Nós não vamos contar e, de qualquer forma, agora já é tarde demais. Faltam menos de vinte e quatro horas para o encontro e eu não posso desmarcar. Vai magoá-lo tanto quanto se ele descobrisse – conclui, sabendo que não conseguiria magoar James daquela forma. Então a encarei. – Agora porque você não me conta o porquê dessa história com a Meadowes?

– Bem, eu pensei que talvez, já que estou no seu corpo, eu pudesse fazer, pelo menos uma vez na vida, alguma coisa para ajudar os outros e não em benefício próprio...

– O que...?

– Qual é Sirius, nesses anos todos você já deve ter ficado com mais garotas em Hogwarts do que todos os garotos juntos. Você já destruiu mais corações do que infartos pelo mundo inteiro!

– Que exagero – resmunguei, começando a me sentir um asno.

– De qualquer forma, Dorcas é uma garota legal e eu, sinceramente, acho que é bom para seu caráter ficar com uma pessoa decente pelo menos uma vez na vida – ela concluiu convicta.

– Mas ela sabe que não sou eu! – comentei ainda um pouco confuso do porquê de ela insistir naquele assunto.

– Eu sei, mas... – então se calou, fazendo aquela expressão que eu sabia que fazia quando estava tentando esconder alguma coisa.

– Mas...? – instiguei. Evans deu de ombros.

– Nada, Black. Só estou fazendo as pessoas prestarem atenção nela. Talvez consigam ver o quão legal ela é.

– Você está mentindo! E descaradamente por sinal! – disse e me ergui, ficando em sua frente.

Evans corou, fazendo meu rosto parecer um grande pimentão. Eu não me lembrava de jamais ter atingido aquela tonalidade, o que me levou a pensar que talvez, mesmo com os corpos trocados, Evans tenha conseguido transportar seu superpoder de corar incrivelmente até meu corpo.

Dei de ombros mentalmente, afastando as divagações.

– Fale.

Ela suspirou.

– Remus gosta dela – murmurou e eu arregalei os olhos sem conseguir acreditar.

– Não acredito! NÃO ACREDITO QUE VOCÊ FEZ ISSO! VOCÊ ESTÁ NAMORANDO A GAROTA PELA QUAL O MEU MELHOR AMIGO É APAIXONADO E ACHA QUE ISSO É AJUDAR? MERLIN, EVANS, MINHA VONTADE DE TE MATAR APENAS TRIPLICOU!

– Talvez você deva gritar um pouco mais alto Black, acho que o Dumbledore ainda não ouviu – ela comentou revirando os olhos. Então foi até a porta, abriu-a, olhou para os dois lados e fechou-a novamente.

Ouvi um murmúrio de um feitiço antes de ela se virar.

– Pronto, agora você pode gritar o quanto quiser – disse e sorriu ironicamente.

– Você não está entendendo... Nós, Marotos, não ficamos com as garotas dos nossos amigos – eu disse com raiva, sentindo-me uma grande merda.

– Tecnicamente você não ficou – ela disse. – E eu juro que não sabia Sirius e, pela sua reação, você não sabia também. Eu só percebi quando ele veio defendê-la. Mas deixe comigo, eu vou arrumar as coisas, okay?

Perscrutei seus olhos com os meus alguns instantes antes de concordar. Eu tinha alguns problemas maiores com os quais me preocupar. Infelizmente.

– Só... Não estrague ainda mais as coisas, okay? – disse a ela e sai da sala, sentindo-me imensamente triste por, além de estar numa merda, também não poder fazer nada pelos meus amigos no momento.

X—X

Marlene Mckinnon

– Mckinnon, como é que... – a voz abafada de Sirius/Lily veio do banheiro e eu suspirei.

– Descola o adesivo do meio, coloca as abas para baixo, tira os adesivos também e cole-as bem firme – falei, agradecendo por não haver mais ninguém no dormitório.

– Obrigada – ele resmungou e após alguns minutos saiu do banheiro vestindo o habitual pijama verde de Lily.

Eu não pude evitar um sorrisinho em meu rosto. Era realmente MUITO engraçado pensar em Sirius Black menstruando. E era ainda mais divertido vê-lo sofrer com isso.

– É normal demorar tanto? – ele perguntou e corou fortemente quando eu arqueei as sobrancelhas indagativamente. – Isso... – e apontou para o meio de suas pernas. – Já faz uma semana desde que começou e eu ainda estou todo asqueroso!

– Normalmente é mais rápido, mas suponho que, devido ao fato de você estar muito irritado ultimamente, esteja demorando mais – eu disse e sorri mais um pouco.

Sirius me encarou por alguns instantes, abrindo e fechando a boca como se não soubesse o que dizer.

– Vocês são nojentas – disse por fim e atirou-se na cama ao lado da minha.

– Poderia dizer o mesmo de você – acrescentei.

Pude senti-lo revirar os olhos.

– Quando você vai parar de ser odiosa comigo e finalmente aceitar que me ama, Mckinnon? – Black perguntou com diversão na voz.

– Nunca, Black – resmunguei irritada.

Era realmente um saco ter Sirius Black ali. Quero dizer, eu sentia falta da minha amiga, poxa! E aquele idiota era um insuportável com todas as suas brincadeirinhas estúpidas e sua arrogância.

Tudo bem que eu sentia um pouco de pena quando o via sem saber o que fazer com toda a carga do mundo feminino, mas, bem, talvez fosse bom para seu caráter.

– Lene – ele me chamou e eu senti um arrepio perpassar por minha pele ao ouvi-lo dizer meu nome.

O que era completamente estúpido levando em consideração que ele estava no corpo de Lily com a voz de Lily! Não havia nada demais em ouvi-la me chamar pelo nome.

Senti-me uma idiota. Ignorei.

– Que é? – perguntei e virei para encará-lo, só para encontra-lo me encarando com uma expressão bastante... Vulnerável?

Sirius Black vulnerável. Okay, essa era nova.

– Obrigada – ele disse e me encarou mais alguns segundos antes de virar para o outro lado indicando o fim da conversa.

Bem, então talvez aquele tempo no corpo de Lily estivesse finalmente fazendo alguma coisa boa pelo garoto.

Virei para o lado oposto, um sorriso ainda brincando em meus lábios.

E no próximo capítulo:

"– Ah, meu Merlin - ouvi Lene dizer por baixo da respiração. Quando a encarei, ela estava de olhos arregalados encarando fixamente um ponto à minha esquerda.

Virei-me na direção de seu olhar e me arrependi quase instantaneamente quando meus olhos pousaram na mesa em que Sirius estava sentado com Potter.

A expressão de Sirius seria absolutamente hilária se: a) ele não estivesse no meu corpo; b) ele não estivesse sentado em uma das mesas mais afastadas do café Madame Puddifoot com James Potter; c) James Potter não estivesse tentando beijá-lo, o que era quase o mesmo que ME BEIJAR naquelas circunstâncias.

– Merlin - ecoei o pensamento de Marlene, pensando desesperadamente no que fazer.

Mas então, já era tarde demais."