Degustando-se de Água escrita por Bee Maciel Braz


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

O outro capítulo ficou pequeno, eu sei. Aquilo era mais uma introdução, um Prefácio. Mas esse é maior!! Espero que gostem!



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Quando me dou conta, estou quase me afogando na piscina. Nada disso foi real, eu devaneei tudo. Saio da piscina assustada, e penso em fazer uma visita à Meg, que na posição de melhor amiga, me entenderia e ajudaria. Me banho e ando pelas ruas quentes do Distrito. Aqui e lá estão alguns lagos artificiais, que todos os moradores tem prazer em visitar. Talvez essa adoração por água seja devido ao calor do Distrito. Quase todos têm uma piscina em casa, apenas os mais pobres são disprovidos disso.

Quando me dou conta, estou à frente da casa de Meg, observando sua porta adornada. Meg não é do tipo que gosta de trabalhos manuais, ao contrário de quase todos aqui, ao contrário de mim. Ajudo sempre meu pai na peixaria que ele tem, um negócio comum no Distrito, mas que rende bastante. Pescar não tem custo, e contando que a carne seja de boa qualidade, ganha-se muito dinheiro. Todas as sextas nós vamos pescar, o que é muito bom para ele e para mim. Ficamos a tarde inteita pescando, no silêncio. Acho que esse é o melhor diálogo que se pode ter com meu pai, o silêncio. Ele naturalmente não fala muito, e não é a pessoa mais simpática do mundo, o que não me assusta. Eu não vejo como uma pessoa má, ou rabugenta. Eu o vejo apenas como uma pessoa que é um pouco abalado com o destino que seus pais tiveram. Nada menos surpreendente, já que ele é filho de Finnick e Annie. Ele sente orgulho de seu pai, mas sente falta de um. Talvez por isso ele não seja o pai normal, porque não teve um em quem se basear. Mas, na verdade, não acho que ele seja um pai ruim. Eu o adoro. Não precisamos de diálogo para nos comunicarmos, simplesmente adivinhamos o que o outro está pensando. Talvez por isso eu não o veja como todos o vêem, e sim como alguém que simplesmente não é comodado.

Antes que eu possa apertar a campainha, uma Meg sorridente abre a porta para mim. Vendo meu olhar confuso, ela aponta para a solução, que está no canto esquerdo superior da parede. Uma câmera.

Adentro sua sala, grande, com móveis imponentes e enfeitados. A família Grack não poupa dinheiro. Sentamos em sua mesa, que é quase um aquário, a não ser pelo fato de os peixes não serem reais. Então vejo que Meg está olhando para mim, esperando que eu comece a falar. O sorriso ainda estampado em seu rosto, mas a tristeza e preocupação obviamente refulgindo em seus olhos verdes, por baixo de seus cabelos negros. Então, para não piorar as coisas, ou atrasá-las, digo:

-Meg, eu estou preocupada; com os Jogos Vorazes. Eu tive um tipo de sonho, será que ele não significa algo?- Agora ela me olha com os olhos estreitados, prestando atenção -Quero dizer, e se eu for escolhida? Não acho que eu conseguiria sair de lá vitoriosa, não tenho força bruta, e minhas habilidades incluem uma vara de pescar, o que eu não acho que vai estar na arena.

-Eu também estou assustada, Cat- Começa ela, que me chama por esse apelido "meigo" que àz vezes me deixa enjoada desde que nos conhecemos -Acho que seria uma surpresa para qualquer um ser escolhido. Depois de 40 anos, ninguém está se preparando como antes, apenas uma década é preciso para desestabilizar toda essa força que era excercitada por conta dos Jogos.

Meg, apesar de pensar em alguns assuntos fúteis, é realmente muito inteligente e filosofa muito bem.

-Acho que você conseguiria ganhar, com seu cérebro. Às vezes a força mental ganha da física- Eu digo, fazendo-a enrubecer.

Concluo que nenhum diálogo vai nos levar a algum lugar, duas pessoas assustadas, que não sabem o que fazer? Aonde essa conversa nos levaria? A pensamentos não acabados? A mais desespero? Isso não é o que quero.

Pelo resto da tarde assistimos a filmes, almoçamos (o peixe frito da Sra. Grack é realmente bom) comemos mais porcarias, mas não tocamos no assunto dos Jogos Vorazes, nem da Colheita, nem nada desse tipo.

Assim que estou saindo, Meg segura minha mão, olha bem fundo em meus olhos e diz:

-Se você for escolhida, eu me voluntario a  tomar seu lugar.- Faço um gesto de concordância com a cabeça e me dirijo à rua. Passo em frente à Praça, onde estão montando o palco para amanhã, quando será realizada a Colheita. A Real. Agora os Jogos Vorazes estão na minha cabeça de novo. Mas posso ficar tranquila agora, com a promessa de Meg. Será que eu sou tão boa amiga? Será que eu correria o risco de participar dos Jogos Vorazes por minha melhor amiga? Sou muito egoísta para isso. Mas acho que quando se trata dos Jogos todos são egoísta. Na verdade, eu não sei o que eu faria. Apenas a adrenalina de ter seu melhor amigo escolhido para ser Tributo responda isso.

Chego em casa, e o cheiro do caldo de tilápias que minha mãe faz impregna minhas narinas. Meu pai saiu, segundo minha mãe, foi pescar. Isso me atinge como uma bala de frustração. Eu sei que é o trabalho dele, e que nada disso foi com a intenção de me magoar, mas, isso é como uma tradição, sair para pescar, eu e ele. Deito em minha cama com o propósito de chorar, mas as lágrimas não saem. Talvez eu esteja me tornando mais forte, uma vez que não choro por qualquer coisa, como fazia antes. Mas talvez eu esteja só guardando tudo, para depois chorar todas as minhas mágoas de uma vez. A Primeira opção é a que mais me agrada, mas a Segunda a que mais se aplica.

Caio no sono, e tenho o mesmo sonho que devaneei na piscina. Dessa vez, meu nome é chamado, e eu olho fixamente par Meg, que prometeu. Sim, ela prometeu. Meu nome é chamado, eu procuro refúgio em seus olhos, e quando tudo está prestes à acontecer, eu caio da cama. Talvez fosse melhor assim, sem saber o que acontece no final. Sem saber se Meg cumpriu a promessa, porque se não o fizesse, duas pessoas teriam me magoado hoje, mesmo que uma delas fosse apenas em sonho. Olho para meu relógio, 2 da manhã. Eles não me acordaram para o jantar. Desço as escadas e como uma tigela de caldo. Ainda estou assustada, talvez mais ainda, ou talvez o mesmo tanto. Subo para o quarto de meus pais, e me acomodo entre eles. Minha mãe nada faz, mas meu pai me dá um beijo na testa e me abraça. Ele entende o que estou sentindo, o medo que aumenta na penumbra da noite. E é nos braços fortes e protetores de meu pai que adormeço.

No dia seguinte, as pessoas gritam e espalham folhetos anunciando a volta dos Jogos Vorazes, extasiadas. Tomo meu café da manhã em silêncio, até que meu pai aparece com duas varas de pescar na mão, algumas redes e uma caixa de iscas.

-Que tal pescar, peixinha?- Um sorriso toma conta de meu rosto, e eu pulo da cadeira, para ir ao meu quarto, me trocar.

A minha euforia é grande, e quase não ouço quando minha mãe diz:

-Não demorem, a Colheita é hoje à tarde.

Por um momento sinto meus joelhos com a consistência de uma gelatina, mas logo me recomponho e vejo meu pai olhando com uma cara de poucos amigos para minha mãe. Ela se desculpa com o olhar, e quando saímos, consigo ouvir seu choro.

Depois de mais ou menos cinco peixes, meu pai insiste que voltemos, porque minha mãe deve estar preocupada, e já é quase hora da Colheita. Percebo o pesar refletido em seus olhos, e obedeço. Isso deve estar sendo horrível para ele. Sua mãe em estado de quase loucura por causa da arena, seu pai, o único que conseguia acalmá-la, morto. Os dois foram vitoriosos, e tiveram consequências, e se eu for escolhida, provavelmente as sequelas também vão aparecer em mim. Isso se eu vencer, porque, se eu for escolhida, provavelmente morrerei logo no Banho de Sangue. Voltamos para casa, e me arrumo com a mesmo roupa a qual havia sonhado que vestia, no meu sonho sobre a Colheita. Penteio meus cabelos, cada vez mais ansiosa e apavorada.

Logo depois do almoço saio de casa, acompanhada por meus pais, e os abandono quando tenho de me dirigir ao espaço destinado às pessoas de 14 anos de idade. Avisto Meg, e aceno para que se junte a mim. Nos damos as mãos, sem dizer nada, as duas tremendo, mas tentando passar confiança com as mãos e com o olhar, tentando proteger a nós mesmas. Leevy Complat sobre ao palco.

–Bem-Vindos, caros moradores do Distrito 4. É com muito prazes, que anuncio os tributos desse Distrito para a septuagézima sexta edição dos Jogos Vorazes, que acabaram de recomeçar. Primeiros as damas.- Ela se dá ao luxo de escolher.

Meu sangue gela, aperto a mão de Meg com mais força, olho em seus olhos por alguns segundos, e depois volto meu olhar para o palco de novo.

–O Tributo Feminino do Distrito 4: Anna Gaslaiel

O alívio percorre meu corpo, até eu percebeu quem é Anna Gaslaiel. Ela é doente. Mental. Ela não pode ir. Leevy aperta o fone em seu ouvido.

–Parece que Anna não pode ser o tributo, portanto, tiremos outro nome- Meu coração para por um milésimo d,e segundo, e depois volta a bater com muita rapidez. – O Tributo Feminino do Distrito 4: Cathrea Field.

Meu coração vai para a boca. Olho para Meg assustada, desesperada. Ela nada faz. Então, me dirijo ao palco, sozinha. Ela mentiu.


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Notas finais do capítulo

Eu escrevi esse capítulo, perdi ele inteiro e tive de reescrever! GOSTEM!



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