O momento estava sendo constrangedor. Mal conhecia Ali e já estava por ai, abraçando-a. Nos separamos rápido e sem ressentimentos.

      -Preciso ir para a escola. - Respondi secamente.

      -Ah, certo... Você ainda vive nesse mundo... - Tentou fazer piada, mas sua voz soou triste.

      -Para onde você vai agora? - Perguntei, ao mesmo tempo que pegava a minha mochila e calçava meus tênis.

      -Ahn... Provavelmente vou voltar para casa e tentar pensar em alguma pista que nos leve ao criminoso. - E fungou, tristemente. - A polícia de Coventry se esforçou ao máximo no caso, reuniram todas as delegacias... Tudo! Se eles não acharam, como que dois adolescentes vão achar?!

      -Não perca a esperança, ok? - Falei, destrancando a porta. - Tenho que ir, vejo você depois. - E minha ultima visão da casa foi ela. Me observando com olhos marejados e a boca crispada.

      Chegando na Gottherly School, a escola do bairro, - Pequena, uma sala para cada série, até o terceiro ano do ensino médio. Pintura descascada e apenas um playground que servia para qualquer tipo de esporte que o professor passasse. É claro, improvisado. - Vi Lizzy e os outros me esperando do lado de fora, perto do portão.

      -E ai, cara? Tentamos te ligar ontem á noite e hoje cedo, mas você não atendia. - Me cumprimentou Jonathan. Me lembrei de ter deixado meu celular no balcão do meu quarto quando sai para ir á mansão. Devia ser esse o motivo para não conseguirmos nos comunicar.

      -Ah, desculpe. Eu fui dormir cedo e acho que desliguei meu celular.

      -Vamos entrar, garotos. - Avisou-nos Karine, que tinha essa coisa de "mãe", sempre nos tratando como crianças desajeitadas.

      -E garotas! - Falou Elizabeth, brava.

      -Argh, desculpa! - Disse, ao mesmo tempo que ria sem parar. Kari se dava muito bem com Lizzy, era todo aquele complô de garotas chato.

      Foi difícil me concentrar nas aulas, ainda pensava no que eu tinha me metido. Eu já até via meu funeral daqui a 2 anos. Mas tudo passou muito rápido, as aulas acabaram e lá estava nós de novo no portão da escola.

      -Queríamos te avisar antes, mas não deu. Nós vamos agora pro balcão atrás da escola, precisamos conversar. - Comentou Sean, enquanto jogava os cabelos para trás, com sua mania idiota.

      -Tanto faz, minha mãe sabe que ás vezes vamos pra algum lugar depois da aula. - Respondi. Todos assentiram e nós fomos calmamente para trás da Gottherly School.

      O balcão era perto dali, era preciso apenas atravessar duas quadras. Chegamos e fizemos nosso esquema secreto para destravar a porta, que envolvia pregos, clipes, fita adesiva e, claro, uma vassoura.

      Puxei um caixote de madeira e arrumei-o, tirando a poeira para que Elizabeth pudesse sentar. Ela deu uma risada meiga e agradeceu, eu sorri triunfante. Sean me olhou e revirou os olhos, tentando conter o riso.

      -Hm, quer se sentar Kari? - Perguntou Jon, tentando ser gentil também. Mas Karine não gostava das pessoas fazendo coisas para ela.

      -Deixa que eu pego. - E ela levantou uma caixa e se sentou, jogando sua bolsa de lado e nos olhando curiosa. Depois que todos estavam sentados, perguntei:

      -Então, o que querem me falar? - E lembrei que talvez devesse contar a eles sobre a noite anterior.

      -Está bem, fizemos algumas pesquisas e descobrimos muito! - Falou alegre como sempre Lizzy. - Olha... - Ela me estendeu várias folhas de papel impressas com algumas noticias da época do assassinato. - Essa é a foto de Alison Montgomery, realmente, e... assustadoramente, é a mesma garota que estava lá. - Elizabeth apontou para a foto preto e branco de uma garota de cabelos ondulados e presos por uma tiara preta vestida com um uniforme de uma escola que muitos conheciam. Ela usava um blazer azul marinho e camisa de botões com uma saia. O emblema bordado na roupa dizia claramente: "Colégio SantEvans". Conhecíamos só como uma enorme lenda, era caro demais e grande demais. Parecia um hotel de luxo, muito diferente da nossa pequena escola.

      -Mas os jornais locais disseram que a policia encontrou o corpo de todos na casa. Alison, seus pais e todos os empregados. E eles definitivamente estavam mortos das maneiras mais horríveis que alguém pode morrer. - Afirmou Karine, estremecendo. - E-eu não sei o que a gente viu, mas não era normal. - Todos ficaram em silencio e eu até havia me esquecido de contar sobre os eventos da madrugada... Provavelmente eram de extrema importância, mas eu os esquecera  completamente. - Talvez devêssemos ir até a escola e investigar a história dessa Alison.

      -Ok, a escola SantEvans fica na outra parte de Coventry. Mais ao norte, acho que vamos ter que pegar um metrô. - Respondeu Sean. Caraca, eles estavam mesmo pensando em descobrir mais sobre aquela garota!

      -A próxima sessão do metrô... - Lizzy conferiu no relógio de pulso. Ela era a que mais morava longe da escola, por isso sabia todos os horários da estação Diamond. - Ah, droga! É daqui a 10 minutos! A estação fica a uns 7 minutos daqui! Rápido, rápido!

      Não pude nem dizer nada sobre Alison, nem pensamos se deviamos mesmo ir até a SantEvans. Só catamos nossas mochilas e corremos para o portão do balcão, rapidamente armando de novo o nosso sistema de tranca.

      Corremos como loucos para pegar o ônibus que acabara de parar no ponto e estava quase partindo. Entramos apressados, ainda bem que não estava tão cheio. Nos sentamos nas cadeiras do fundo e esperamos ele desembarcar na Estação.

      -Droga, faltam 2 minutos! - Exclamei, e nós ainda precisávamos comprar as passagens. Enquanto corríamos para a bilheteria, perguntei a Lizzy: - Se perdemos esses, quando teremos outra chance?

      -Hm... daqui a duas horas, e a escola já vai estar fechada e teremos que resolver isso amanhã. Pela minha intuição, quanto mais rápido acabarmos com esse caso, melhor vai ser.

      Elizabeth comprou as nossas passagens e corremos para a escada rolante, quando chegamos ao andar certo, o metrô já estava parado e as ultimas pessoas entravam. Corri, vendo que os outros não tomavam a iniciativa e segurei a porta, eles entraram e não tivemos tanta sorte dessa vez. Estava lotado e tivemos que ficar em pé durante a primeira viagem. Quando paramos em outra estação, muitas pessoas desceram e pudemos nos acomodar. Lizzy sentou, para o meu azar, com Sean. Jonathan e Karine sentaram juntos e eu fiquei sozinho num canto.

      Pelo menos por alguns minutos.

      -Consegui! - Exclamou Alison, que aparecera do nada ao meu lado. Nenhum de meus amigos notou ela, graças a Deus. Ia ser estranho, um pânico total no metrô.

      -O-o que você faz aqui? - Sussurrei discretamente, tentando fazer ninguém notar que eu estava falando com o vento.

      -Esqueci de te avisar uma coisa!

      -Fale logo!

      -Não conte a ninguém só fatos que só eu saiba. Eles podem investigar sozinhos, sem a minha ajuda e nem a sua. - E tentando pensar como explicar melhor, ela completou: - Os fatos da noite do assassinato que eu te contei, não podem ser contados para mais ninguém.

      -Ah, mas por que? - E exclamei dessa vez mais alto, e os cinco me olharam.

      -O que disse? - Perguntou-me Karine.

      -Ahn, nada. Só estava vendo pensando numa notícia que vi hoje de manhã. - Menti. Mas nenhum dos meus amigos parecia ter caído naquela conversa. Mesmo assim, todos voltaram a ler suas revistas ou conversar.

      -Entenda, qualquer pessoa que eu ajudar a desvendar meu caso vai acabar como você, Nick. Tendo 2 anos de vida para resolvê-lo ou a morte. - Respondeu. - Sei que gosta deles e não os colocaria nesse jogo idiota da morte. Não conte nada, não diga que me viu aquela noite, não fale de nada que eu te contei. Nada, ok? Eles podem ajudar, mas sem ter contato com informações de pessoas que... já morreram.

      Suspirei e pensei na grande bobeira que teria feito minutos atrás. Teria envolvido meus amigos nisso, graças a Deus Alison me avisou.

      -Estação SantEvans Ville. - Anunciou um auto-falante, e vi meus amigos pegarem suas mochilas e se prepararem para sair.

      -Tenho que ir, vai junto? - Perguntei a Ali. Ela olhou além da construção da estação as montanhas e as casas de luxo. De tão grande, a escola de Alison dava para se ver de lá mesmo. Uma construção futurística, parecia mais um shopping.

      -Seria muito legal rever o pessoal... Será que eles ainda estão lá? Os professores... a diretora... Clementine?! - Ela exclamou, e se animou completamente. - Vou sim, com certeza!

      E mais rápido do que qualquer um, ela disparou para fora do metrô, com cuidado para não encostar nas pessoas. Afinal, ela ainda não estava sumindo e nós estávamos desvendando o mistério de seu assassinato.

      Eu estava com mais esperanças agora.