O segundo desafio era uma espécie de jogo onde cada concorrente tinha que encontrar o maior número possível de pequenos discos que tinham a insígnia do reino. Toda a arena tinha sido reformulada rapidamente e adaptada a aquele desafio em particular. Os discos foram escondidos em diversos lugares e o tempo cronometrado. Quando o tempo terminasse, o vencedor seria o que tivesse encontrado um maior numero de discos. E o campeão de Teigr estava levando a melhor.

– Hahaha! Você não vai ter nenhuma chance dessa vez, Fidélius! Meu campeão é o melhor rastreador que existe!

O rei não falou nada, apenas acompanhava apreensivo seu concorrente se esforçando ao máximo.

***

Em seus postos de observação, a equipe de apoio providenciada por Fidélius tentava dar instruções ao seu campeão, mas seus esforços eram inúteis. Se eles ao menos aceitassem usar o equipamento do Franja, tudo teria sido um pouco mais fácil. Não, eles se recusavam a aceitar ajuda humana. Cabia a eles vencerem sozinhos.

– Franja, por acaso não teria nenhum padrão nesses esconderijos? Sei lá, parece que não foram escolhidos de forma aleatória!

Ele analisou rapidamente os esconderijos que foram descobertos e viu que ali tinha mesmo um padrão.

– É isso, Marina! Você está certa! Existe um padrão fixo e bem definido que permite até dizer onde está escondido o próximo disco! Ei, vocês! A gente já matou a charada! Fala para ele que o próximo disco está...
– Nós sabemos o que estamos fazendo, humano! Cuide dos seus concorrentes que cuidamos dos nossos! – um deles falou de forma arrogante. Era o cumulo da humilhação contar com a ajuda de um humano para vencer aquele desafio.
– Ai, seus teimosos! O concorrente de vocês tá perdendo feio e vocês ficam aí com esse monte de frescuras? Eu devia era dar uma bifa em vocês agora mesmo!
– Calma, Mônica, não podemos fazer isso! – Marina tentava acalmar a amiga antes que ela saísse do controle.

De qualquer forma, não adiantava fazer mais nada. As trombetas soaram indicando que o tempo tinha terminado e o concorrente de Teigr havia acumulado um numero maior de discos, deixando a todos frustrados.

– Vitória! E pode esperar porque meus campeões vencerão todos os outros desafios! Você só teve sorte no primeiro!
– Não cante vitoria antes do tempo, Teigr. Ainda faltam quatro desafios!
– Blé, mal perdedor! Lackey, quero uma bebida agora!

Magali ficou preocupada com aquilo. Será que seus amigos não fizeram nada para ajudar? Não, o mais provável era que os gatos tivessem recusado a ajuda, aqueles orgulhosos!

– Majestade, será que eu posso ir falar um pouco com meus amigos durante o intervalo?
– Durante o intervalo não há problemas. Você só não poderá estar com eles durante os desafios. Volte logo ou teremos problemas.
– Obrigada.

Ela saiu dali correndo e ao entrar na grande sala onde os campeões de Fidélius e sua equipe de apoio acompanhavam os desafios, Magali encontrou todos discutindo freneticamente, Felicius tentando apartar uma briga entre Cebola e um gato e a Mônica estrangulando outro. E tudo sendo filmado pela Denise que assistia a confusão de camarote.

– Gente? Que é isso? Vocês ficaram loucos?
– É esse gatolino aqui, teimoso que nem uma mula! A gente quis ajudar e ele não aceitou!
– E precisa torcer o pescoço dele, Mô? Solta ele agora!
– Mas...
– Por favor, coloca ele no chão!
– Hoje é o seu dia de sorte, mané! – ela falou deixando-o cair no chão.
– O que aconteceu? Por que essa confusão toda?
– Porque eles não quiseram deixar a gente ajudar! – Cebola falou, irritado.
– Nós podemos nos virar muito bem sem a ajuda de humanos!
– Ah, tô vendo! Imagine se não pudesse!

A discussão iniciou de novo e foi preciso que Felicius desse um rosnado bem alto para que todos se calassem.

– Silêncio agora mesmo! Não estamos chegando a lugar nenhum desse jeito!

A situação era preocupante. Um desafio tinha sido perdido e ela sabia que eles não podiam continuar perdendo daquela forma. Era preciso ganhar os desafios. Nem um empate seria aceitável.

– Pessoal, pára com isso, que coisa! Isso aqui não é uma competição entre gatos e humanos. A gente tá do mesmo lado, esqueceram? É para um ajudar o outro, não para tentar matar! – ela falou olhando diretamente para a Mônica, que torceu o nariz e virou a cara para outro lado. Ela não ia matar ninguém, só dar uns cascudos e nada mais.
– Magali está certa. Se quisermos uma chance, teremos que trabalhar juntos. Isso não é brincadeira, se perdermos, meu tio subirá ao trono e vocês não querem que isso aconteça, querem?

Os assistentes felinos balançaram a cabeça, assustados. Se Teigr subisse ao trono sua primeira providencia seria eliminar todos aqueles que apoiaram Fidélius.

– Ótimo. Está chegando à hora do meu desafio e dessa vez eu quero que vocês deixem os amigos da Magali ajudarem, entenderam? E por favor, sem brigas!

Finalmente todos concordaram e prometeram trabalhar juntos. Havia um bem maior que devia ficar acima das rivalidades e picuinhas.

– Ai, que alivio... agora eu tenho que ir, seu pai falou que eu só posso vir aqui no intervalo.
– Está bem. Eu te acompanho até o corredor, vamos.

Ela procurou ignorar os risinhos maldosos dos amigos e foi junto com Felicius até o fim do corredor que levava a sala deles.

– Obrigado por ter vindo, as coisas estavam ficando feias.
– Imagina! Acho que agora tudo vai ficar bem. O próximo desafio vai ser o seu, né?
– Vai sim e confesso que estou com um pouco de medo.
– Eu sei... é normal ter medo. Mas eu sei que você vai conseguir. Também confio na sua capacidade.
– Hum... então vem cá... – ele a abraçou bem forte e lhe deu um beijo, fazendo-a derreter toda. – Eu estava precisando muito disso para poder encarar o desafio...
– Er... eu também...

Ele lhe deu mais um beijo suave na boca antes de eles se despedirem e ela voltar sorridente para o seu lugar no camarote do rei. Daquela vez as coisas iam ser diferentes com certeza.