Amor De Gato escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 23
Sob as estrelas




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– Veja só, querida! – ele pegou o Mingau e deu uma boa fungada em seu pelo, respirando fundo várias vezes. – viu só? Nenhum espirro! Estou curado! Hahaha!
– Sério? Como? Você fez algum tratamento, tomou algum remédio?
– Aí é que está! Eu não fiz nada! Foi de repente. Num dia, eu estava espirrando feito louco. No outro, não espirrava mais!

Magali acompanhava tudo, sentindo-se feliz. E não é que tinha funcionado usar magia felina para curar a alergia do pai? Nem ela esperava que fosse dar certo. O único que não parecia feliz era o Mingau, que não estava gostando muito daquele humano lhe apalpando e cheirando seu pelo toda hora.

– Ô Magali, pede pro seu pai parar de ficar fungando no meu cangote! Eu heim!
– Que bom, pai! Finalmente o senhor vai poder respirar de novo! – ela falou pegando o gato e colocando no chão.
– Maravilha! Ah, e quando aquele seu amigo vai chegar? Qual é o nome dele... Felício?
– Ele deve chegar dentro de uma hora, eu acho. Melhor eu ir me arrumar!
– Hum... quem será esse rapaz e o que ele quer com ela? – ele perguntou depois que a filha saiu da sala.
– Ah, deixa a menina! Foi até bom ela ter conhecido o Felício. Ela estava tão triste por causa do Quim, coitada!
– Nem me fale daquele gorducho! Como ele teve coragem de tratar nossa filha daquele jeito?
– Pois é. Ainda bem que acabou. Espero que esse rapaz saiba tratar nossa filha como ela merece.

***

Felicius ia dando os últimos retoques em tudo antes de ir buscar Magali em sua casa. Estava quase escurecendo e ele não queria que ela andasse por aí sozinha. Será que ela ia gostar da surpresa? Tudo foi preparado com muito cuidado.

***

– Você vai mesmo jantar com o Felicius?
– Vou sim. Eu nunca pude realmente admirar o Reino dos Gatos à noite. Ele disse que é muito bonito e eu quero ver.
– Aham. – ele piscou maliciosamente para Aveia, que também deu um sorriso maroto à moda dos gatos. Aquele rapaz não tinha preparado tudo só para mostrar as estrelas para ela.

Magali ia provando as roupas, tentando escolher uma que fosse boa para aquela noite. Saia ou vestido quase nunca era boa idéia, já que ele sempre a levava e trazia nas costas. Se bem que não havia nenhum problema se eles fossem andando. Que mal havia? O local de entrada para o reino não era tão longe assim, dava para ir a pé. E aquele vestido amarelo parecia ser perfeito para aquela noite. Era a sua cor preferida.

Era um vestido de duas camadas. A de cima era da cor amarela, com as mangas caídas que mostravam seu colo e ombros. Essa camada tinha uma abertura que começava na cintura e ia até o fim da saia, mostrando a camada de baixo que era branca. Por isso ela acabou escolhendo aquele.

– Filha, o Felício chegou.
– Já? Fala para ele que eu já vou, mãe.
– Nossa, como você está bonita!
– Ah, mãe!

***

Carlito olhava diretamente para o rapaz que estava sentado no sofá a sua frente.

– Quanto tempo você conhece a Magali?
– Há alguns meses, senhor.
– Vocês estudam na mesma escola?
– Não senhor. Eu estudo em outra escola.
– Olha, acho que não precisa me chamar de senhor. Não sou tão velho assim.
– Sim se... hã... certo.

Ele estava um pouco nervoso. Claro, era de se esperar que o pai da Magali fosse protetor.

Para sua sorte, Magali tinha entrado na sala, deixando-o de boca aberta. Como ela estava linda! Não! Ele tinha que tomar cuidado para não perder a compostura justo na frente do seu futuro sogro. O que ele ia pensar a seu respeito?

– Oi, Magali... er... você está pronta?
– Estou sim. Vamos?
– Claro, quando você quiser!
– Juízo vocês dois, quero você de volta antes das oito horas!
– Pode deixar, pai.
– Não se preocupe, sen... não se preocupe. Eu irei trazê-la em segurança no horário marcado. Foi um prazer revê-lo!

Ela achou melhor eles saírem rapidamente antes que seu pai começasse a fazer centenas de recomendações.

– Onde será que esse rapaz estuda? Em alguma escola de etiqueta? Quanta educação...
– Também fiquei impressionada. Parece ser um bom rapaz.

***

– Será que seu pai não gostou de mim?
– Não é isso. É que vai levar um tempo até ele se acostumar. – disso ela sabia muito bem. Levou quase cinco anos para ele aceitasse o Quim. – você sabe como os pais são.
– É, disso eu sei muito bem. Agora vamos!

Como ela estava de vestido, ele a pegou em seus braços ao invés de levá-la nas costas e preparou-se para correr. Andar gastaria tempo precioso e ele mal podia esperar para mostrar a ela o que tinha preparado.

– Segure bem firme!
– Acha que assim vai dar?
– Claro! Você não pesa nada. Agora vamos!

***

– Não abra os olhos ainda. Estamos quase chegando.
– Tá bom.

Eles deram mais alguns passos e ele finalmente deu o sinal verde para que ela abrisse os olhos.

– Nossa! Que lindo!
– Gostou? Fui eu mesmo quem cozinhou tudo.
– Sério? Que demais! Ficou incrível!

Aquele era o local para onde ele a tinha levado para observar seus amigos. Era seu local preferido para ver as paisagens do seu reino. O chão estava coberto com um bonito tapete com desenhos de gatos feitos pelos melhores artesãos. Sobre o tapete, várias almofadas macias e confortáveis e bandejas contendo frutas (principalmente melancia, que ela adorava), carne assada especialmente para ela, com uma receita simples que ele tinha conseguido olhando um site humano de culinária, uma macarronada e sucos e vários doces como sobremesa. A macarronada tinha sido idéia do Cebola. Era um prato simples e os homens humanos costumavam preparar isso para agradar as mulheres.

Cozinhar não era o seu forte e antes de conhecer Magali, ele mal sabia misturar ração com leite para tomar no café da manhã. Depois de reencontrá-la e de saber da sua paixão pela comida, ele tentou aprender a cozinhar alguma coisa para agradá-la, mesmo sabendo que não tinha como competir com seu ex-namorado. Ainda assim, não custava tentar.

– Espero que você esteja com fome!
– Com certeza. Tudo parece delicioso!

A comida não estava exatamente um manjar dos deuses, mas ainda assim estava gostosa e ela comeu bem imaginando o trabalhão que Felicius deve ter tido para preparar aquilo tudo.

Ele também comia, satisfeito por ela ter gostado. Todo o seu trabalho tinha valido a pena, apesar do estado deplorável em que a cozinha tinha ficado depois que ele terminou tudo. Os criados devem ter tido muito trabalho para limpar aquela sujeira.

Havia somente a luz da lua cheia para iluminar tudo e ali estava tão tranqüilo, tão silencioso!

– Er... eu tentei fazer algo de sobremesa, mas não deu muito certo. Espero que não se importe de comer esses aqui... – ele falou lhe estendendo uma bandeja contendo brigadeiros, cajuzinhos, beijinhos e outros tipos de doces que ela logo viu que eram da Isa. Parece que a turma andou ajudando também.
– Claro que não, eu adoro esses doces.
– Eu também, são deliciosos.

“Engraçado... achei que os gatos não sentissem o sabor doce...” ela pensou enquanto eles foram comendo. Felicius parecia gostar das guloseimas humanas e ela percebeu que o paladar dele era mais próximo do paladar humano do que dos gatos.

Quando terminaram de comer, ela quis ver as estrelas que estavam muito bonitas naquela noite.

– Eu nunca tinha parado para olhar o céu aqui de noite. É bonito mesmo!
– Também acho. Eu sempre adorei ver as paisagens do meu reino e de noite parece que tudo fica especial.

Eles ficaram em silêncio, contemplando a paisagem. Na verdade, só a Magali estava realmente olhando a paisagem. Ele só conseguia prestar a atenção nela. No que ela estaria pensando? Será que estava gostando da sua companhia? O que ela sentia por ele, de verdade?

Embora tentasse disfarçar, Magali já tinha percebido que ele não tirava os olhos dela e aquilo estava fazendo com que seu coração batesse mais depressa. Certa vez ele havia dito que tinha um sentimento especial por ela. Que sentimento seria aquele? Ela nunca perguntou.

– Oh! Uma estrela cadente! Faça um pedido!
– Um pedido?
– É um costume humano. Sempre que vemos uma estrela cadente, fazemos um pedido. Faça o seu!
– Hum...

Ela fechou os olhos por alguns segundos, desejando ser feliz e conseguir completar sua missão de unir humanos e gatos. O que ele teria pedido?

– Você já fez seu pedido? – ela perguntou ainda com os olhos fechados.

Não houve resposta. Ao invés disso, ela sentiu dois braços lhe abraçando por trás e o corpo quente dele encostando no seu.

– Felicius...
– Sim, eu já fiz o meu pedido... – o rapaz lhe apertou mais um pouco contra seu corpo e afundou o nariz nos cabelos dela, sentindo seu cheiro bom. Parecia uma mistura de frutas com o cheiro natural dela.

Suas pernas ficaram moles e apesar do susto, ela não conseguiu reagir e nem se esquivar. E para falar a verdade, ela nem queria. Naquela noite, ele não usava aquela armadura de costume, somente roupas comuns que tinham um tecido macio. Isso permitia que ela sentisse mais o corpo dele, que parecia estar mais forte do que o dia do ultimo teste, na arena de luta. Ele também ronronava suavemente e aos poucos, ela foi relaxando e se deixando levar. O Quim nunca a tinha abraçado daquela forma antes.

– Magali...
– Hum...
– Lembra quando eu disse certa vez que eu tinha um sentimento especial por você?
– Lembro...
– Eu ainda tenho esse sentimento por você, sempre tive. Acho que comecei a sentir isso no instante em que você me segurou em seus braços, quando eu estava na forma de gato.
– Não sabia...
– Queria muito ter falado isso, mas não pude. Agora sei que posso falar livremente. – ele voltou a cheirar seus cabelos, esfregando o nariz e também beijando calorosamente sua cabeça. – Só queria saber se você tem esse mesmo sentimento por mim...

Ao invés de responder, ela virou-se de frente para ele, olhando em seus olhos. Tão bonitos, tão azuis! Ele ainda a abraçava e olhava esperando ansioso por uma resposta, embora já pudesse adivinhar só de ver dentro dos seus olhos cor de mel.

Ela levou uma das mãos ao seu rosto e começou a afagá-lo suavemente, fazendo-o fechar os olhos e pressionar o rosto contra sua mão, como os gatos faziam ao serem acariciados. Aquela era a resposta que ele queria.

– Ah, minha linda gatinha... – ele a abraçou com mais força e começou a dar vários beijos e lambidas em seu rosto, deixando-a sem fôlego. A língua dele era igual à humana, ao contrário do que ela esperava. E os lábios dele eram bem quentes e também parecidos com lábios humanos. Como eles faziam para beijar na boca? Eles beijavam na boca?

Como que lendo seus pensamentos, ele passou a língua em sua boca, percorrendo seus lábios suavemente. Por quanto tempo suas pernas iam conseguir mantê-la em pé? Por fim ele pressionou seus lábios contra os dela, fazendo-os abrir.

Tão suaves, tão macios! E tão doces! Ele a beijava devagar, saboreando aos poucos e sem nenhuma pressa. Não havia por que correr. Ela colocou os braços ao redor do seu pescoço e isso o encorajou a ser um pouco mais ousado.

Com uma mão, ele segurou sua cabeça contra o rosto dele, para não deixá-la escapar e o outro braço envolveu sua cintura, deixando o corpo dela totalmente colado ao seu. Ela mal teve tempo para pensar quando a língua dele invadiu sua boca, se enroscando na sua apaixonadamente. Céus! Aquilo era simplesmente algo que ele não era capaz de descrever. Muito melhor do que qualquer sonho que ele já tivera antes e o seu desejo era que aquilo não se acabasse nunca mais.

Apesar do medo, ela foi se deixando levar. Então aquilo era beijo de língua? Um pequeno gemido acabou escapando da sua boca, não foi possível controlar. Que sensações eram aquelas? Que calor era aquele que percorria seu corpo? E aquela coisa estranha que ela sentia em sua barriga? Tudo aquilo era novidade para ela.


As estrelas continuaram piscando no céu, testemunhando o encontro daqueles dois corações.


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Notas finais do capítulo

Um pequeno esclarecimento. Para quem conhece o mangá, deve ter visto que o desenho de Felicius na capa é um pouco diferente do desenho na história. Eu estou considerando a aparencia dele como o desenho da capa, que ficou mais legal.
[mode nerd=ON] Se ele tivesse a boca e a língua de gato, não ia poder falar como um ser humano. Nós só conseguimos pronunciar palavras por causa do formato dos nossos lábios e porque nossa lingua é arredondada. Anatomicamente falando, lábios e lingua parecidos com os dos humanos seria o mais adequado para ele. [mode nerd=OFF]



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