Os dias se passaram e tudo o que Isabella via eram tecidos, presentes, hóspedes parentes ou aliados ao rei, bacias cheias de carne e bolo, barrios de vinho e todas as flores possíveis. Sua cabeça doía toda vez que as mulheres do castelo adentravam em seu quarto para assustar-lhe ou lhe dar dicas sobre o casamento.  À noite, Bella escapava até a biblioteca onde se encontrava com Edward que lhe roubava um beijo ou dois em meio a conversas e leituras.

Naquela noite, porém, Bella e Edward não poderiam se encontrar já que era véspera do casamento e Isabella teria de provar o vestido pela ultima vez antes do grande dia.

─ Princesa, por favor, pare de tremer. Se eu lhe espetar poderá manchar o vestido. Disse à costureira que fora trazida ao castelo para dar os últimos ajustes.

─ Me desculpe. Tentarei ficar imóvel.

Muitas coisas passavam pela cabeça de Isabella. Assim que ela e Edward fossem aceitos pelo conselho como rei e rainha, ficariam sozinhos e todas as responsabilidades recairiam sobre seus ombros. Ela possuía instrução, porém não sabia se conseguiria comandar um castelo enorme e ainda ajudar seus súditos. Também não conseguia saber como seria a convivência entre os dois, afinal não tinha conhecimento do que a esposa perfeita deveria fazer. Muitas coisas mudariam em sua vida no dia seguinte e Bella achava que não estava preparada para nenhuma das tarefas que lhe foram impostas: Ser rainha, ser esposa e futuramente também ser mãe.

─ Pronto, querida. Pode se mexer agora. Disse a costureira, dando o ultimo ponto.

Bella levantou os olhos e encontrou muitas emoções estampadas nas mulheres presentes: sua irmã Tainah chorava de emoção, Rainha Esme sorria como uma mãe orgulhosa, Tânia olhava com desdém, Renée estava visivelmente irritada e Charlotte olhava encantada.

─ E então? Perguntou Bella, erguendo os braços e rodando no próprio eixo. ─ Como eu estou? Não é simples demais?

─ Você está linda. Falou Esme.

─ É um pouco simples, mas você não precisa de muito como umas que conhecemos. Disse Tainah lançando um olhar para Tânia sem perder a oportunidade de lhe dar uma alfinetada.

─ Na minha opinião é simples demais para uma futura rainha, mas o que está feito está feito. Falou Renée, dando as costas e saindo do quarto, levando Tânia ao seu enlace.

Apesar de ter abandonado o lugar, a tensão que Renée carregava tomou conta do ambiente.

─ Bom, vamos tirar o vestido e deixá-lo pendurado até amanhã. Falou Esme, mandando todas embora. ─ Vá se deitar, querida. Você precisa descansar e ficar linda para Edward amanhã.

Quando tudo estava no seu devido lugar, Isabella deitou-se sentindo borboletas no estomago que lhe impediram de dormir a noite toda. Provavelmente amanhã iria parecer um cadáver, como sua irmã sempre fala. Porém, Bella só conseguia pensar em criados, mamadeiras, coroas, camisolas, súditos e todas as coisas que teria que fazer a partir do dia seguinte. Queria poder ter nascido em uma família simples e desejado ter Edward como o vizinho que lhe desposaria e então viveriam em um pequeno casebre na floresta ao invés de ter um castelo enorme para cuidar e súditos para atender. Se ao menos soubesse qual é o verdadeiro papel de uma rainha.

Isabella levantou-se rapidamente, retirando um dos lençóis da cama e o estendendo no chão. Foi até o baú e retirou o vestido que usara quando havia saído da abadia juntamente com o par de botas. Colocou mais dois vestidos no lençol enquanto trocava de roupa e o fechou como uma pequena trouxa de roupa. Sem pensar, colocou uma capa com capuz e saiu pelo corredor.

Bella se impressionara com sua destreza em enganar os guardas do castelo, mas quando chegara ao jardim interno, ouvira alguém chamá-la.

─ O que faz fora da cama? Eu dei folga as criadas. Amanhã será um grande dia você não acha. Disse a Rainha Esme se aproximando da pequena criatura. ─ Já que esta acordada venha sentar-se comigo. Estou sem sono também e pra quem quer que seja esta trouxa, pode esperar.

Bella entrou em desespero, porém tentou manter a calma enquanto sua futura sogra a arrastava para sentar ao seu lado na fonte.

─ Eu adoro a Princesa Isabella, não me leve a mal. Ela é tão inteligente, generosa e amorosa, mas Edward é meu pequeno príncipe e tenho tanto medo que esse casamento seja um desastre. Eu lembro muito bem dos meus primeiros meses como rainha e acredite não seriam difíceis se eu não tivesse de conciliar com a vida de esposa. Eu morria de medo de chegar perto da sua graça e tudo o que eu fazia para tentar agradá-lo tornava-se um imenso desastre. Uma vez virei vinho em uns papeis importantes e achei que ele me devolveria e, sim, tenho medo de que Bella possa descuidar-se de Edward ou fazer algo que o desagrade, mas meu maior medo é de que ela desista sem nem ao menos tentar. Porque como minha mãe sempre costumava me dizer: é errando que se aprende.

Esme se levantou e antes de seguir para o castelo, disse:

─ Não vou mais tomar seu tempo, querida. Pode ir onde você deseja ir.

Isabella esperou alguns minutos, com lagrimas nos olhos, até estar segura de que Esme já estaria em seu quarto. Sem pensar mais, Bella voltou para seus aposentos a passos lentos, guardando suas coisas e deitando novamente na cama.

Eu não vou desistir, pensou.

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O dia já amanhecia e Edward mal conseguira dormir a noite inteira. Hoje seria seu casamento, porém mal lembrava seu nome quem dirá os votos. Resolvera levantar e servir-se de vinho enquanto admirava o sol nascer e pensava no que poderia estar acontecendo no quarto ao lado. Será que Isabella sentia a mesma aflição e nervosismo? Será que estaria tão radiante como em todos os outros dias ou mais? Será que ficaria assustada quando visse seu...?

Seus pensamentos foram interrompidos quando seu pai, seguido por Emmett e Charlie, entravam em seu quarto com uma bandeja desorganizada de café da manhã.

─ Trouxemos o café da manhã. Disse Emmett depositando a bandeja em cima da cama.

─ Quem fez essa bandeja?

─ Pra você ver como precisamos das nossas esposas. Disse Charlie sentando em uma poltrona bebericando de seu vinho relaxadamente.

Carlisle seguiu até a cama do filho e depositou um par de roupas na mesma, sentando-se ao lado logo em seguida. Edward sabia que aquelas eram as roupas que deveria usar no casamento e logo pensou no vestido em que Bella estaria usando. Com certeza deveria ser lindo, mas não o suficiente para ofuscar a beleza da mesma até porque ele acreditava que isso seria impossível. Isabella era a mulher mais bonita que já vira e só o pensamento de talvez magoá-la o deixava em pânico. Não queria magoá-la, muito menos que seu casamento fosse infeliz. Edward pensou em abandonar tudo e assim tornar Isabella livre para casar e viver com quem quisesse, mas ele não era altruísta e sim um homem que estava louco para desposar a mulher do quarto ao lado. Não abriria mão disso.

Carlisle, Charlie e Emmett falavam amenidades enquanto Edward apenas comia seu café da manhã em silêncio. Precisava se concentrar e tentar lembrar-se das poucas palavras que precisava dizer como, por exemplo, “aceito”. Definitivamente lembrar-se de dizer aceito já era um grande começo.

─ Vocês poderiam sair para que eu possa me arrumar. Perguntou Edward.

─ Claro! Lhe daremos seu minuto de beleza. Respondeu Emmett, gargalhando, sendo seguido por Charlie, porém Carlisle permaneceu no quarto.

─ Pai, o senhor gostaria de algo?!

─ Sim, queria conversar com você um pouco. Desde que tudo começou não tivemos tempo algum para conversar e acredito que o dia de hoje é perfeito para ter essa conversa.

─ Claro. Respondeu Edward, sentando-se ao lado do pai.

─ Você recebeu instruções de como ser um rei desde que aprendera a andar e a falar ou até talvez antes disso. Acredite, filho, não estou muito preocupado com o futuro do nosso reino porque sei que vai fazer um ótimo trabalho.

“A questão é o casamento e o que ele implica. Você e a princesa Isabella não estão se casando por conta dos seus cortejos, mas sim por um acordo que Charlie e eu fizemos quando ela havia acabado de nascer. Não espero que demonstrem grande amor um pelo outro, mas respeito e entendimento serão de extrema importância nisso tudo. Sei que você puxou essas qualidades da sua mãe, mas Bella não conhece nada da vida ou de como comandar um castelo quem dirá um reino e haverá momentos que ela irá passar dos limites e é neste momento que quero que se lembre dessa conversa.”

“Eu e sua mãe não vamos viver para sempre Edward, mas quero que saiba que somos gratos por termos os melhores filhos que alguém pode querer. Então quando – um dia – chegar a nossa hora, iremos tranqüilos porque você sabe o que fazer e confiamos em você e em Isabella.”

Edward nunca esperou ouvir coisas como aquelas de seu pai. Muitas vezes Carlisle parecia distante, mas ele sabia que era para seu melhor aprendizado. Ao ouvir aquelas palavras, criou coragem e força para enfrentar a maior batalha de todas: seu casamento com a incrível Princesa Isabella.

Sem pestanejar Edward abraçou o pai o mais forte possível, como nunca havia feito antes, para demonstrar o quanto estava feliz e emocionado com as suas palavras.

─ Certo, agora se arrume, pois parece que temos um casamento hoje. Brincou o rei, deixando o quarto.

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Depois de horas enfiada em uma tina com água quente e pétalas de rosa enquanto todas as damas do castelo matracavam a sua volta, Isabella fora arrastada para sua cama enquanto todas pareciam querer mexer em seus cabelos e fazer perguntas inconvenientes.

Todas esparramaram Isabella em sua cama contra sua vontade a deixando bem assustada e envergonhada.

─ O que estão fazendo?

─ Vamos limpa-la, querida. Respondeu Esme.

─ Me limpar?! Mas eu passei quase duas horas em uma tina com água e todas essas coisas.

─ Limpar seus pelos.

─ Por quê? Todos têm pelos e como farão isso?

─ É tradição toda mulher limpar os pelos no dia de seu casamento, criança e não discuta. ─ Respondeu Renée impaciente. ─ O alquimista preparou a substancia para fazê-lo.

Renée agarrou a filha pelas pernas e passou a substancia pegajosa nos pelos pubianos da mesma e sem qualquer cuidado arrancou-os com um retalho. Bella se agarrou nos lençóis e soltou um grito que com certeza acordou todo o vilarejo se já não estivessem de pé se preparando para o evento do século. Para Esme tudo aquilo parecia mais uma vingança do que uma mãe querendo participar dos eventos que envolviam o casamento de sua filha mais nova.

─ Acho que é melhor deixarmos que uma das meninas faça isso Renée.

Renée largou as coisas com desdém, porém com um pequeno sorriso no canto ao ver as lagrimas da filha.

Tainah vendo aquilo se segurou para não voar no pescoço da mãe e logo se dirigiu até a irmã deitada antes que mais alguém resolvesse se vingar.

─ Calma, Bella. Vai ficar tudo bem. Disse Tainah, enquanto passava a substancia novamente em Bella. ─ Olhe pra mim e respire.

Antes que Bella pudesse ter qualquer reação, Tainah arrancou a camada de pelos. Enquanto repetia o processo de tortura, Isabella pensava que nada mais poderia piorar durante o dia. Se tivesse que passar por aquele processo todo mês, iria acabar se atirando da torre leste antes mesmo de proferir votos do casamento.

Quando Tainah finalmente terminou, Bella acreditou que se fosse atropelada por uma carruagem não seria tão ruim quanto ser “limpa”.

─ Prontinho. Viu como não dói tanto? Disse Tainah, se divertindo da cara de pavor da irmã.

Após a sessão tortura, Bella foi deitada de bruços sendo massageada enquanto as damas do reino lhe desejavam um ótimo casamento. Logicamente que Tânia e Renèe deixaram os aposentos novamente, pois na aguentariam ver a felicidade da jovem princesa.

Tudo o que Isabella sempre quisera a vida toda era uma mãe delicada e gentil, porém Renée era exatamente o contrario.

─ Não se esqueça Isabella que quando seu marido disser para ir para o quarto esteja sempre bem  perfumada e pronta.

─ E sempre atenda aos pedidos dele para que não procure uma nova esposa.

─ Nunca contrarie as coisas que seu marido lhe disser.

─ Nunca se meta nos assuntos dos homens quando não for chamada.

─ E hoje a noite esteja pronta. Deixe que ele comande tudo e espere quieta e imóvel até ele acabar.

Bella não conseguia digerir tanta informação que lhe fora passada. Só pensava com pavor na maldita noite de núpcias que estava por vir. Disseram-na que ela não deveria se mexer nem falar nada; que deveria deixar que Edward fizesse tudo e a liberasse para voltar ao quarto. Sua mãe ainda voltara para o quarto apenas para lhe dizer em segredo que iria doer e muito mais do que quando fora depilada, mas não poderia chorar ou fugir se não Edward a trocaria.

Quando a costureira entrou com o vestido de noiva para vestir Isabella, a mesma pensara que deveria ter fugido na noite anterior. Porém agora era tarde demais.