A Estranha Samwoor escrita por Batatisa


Capítulo 3
Capítulo 3 - Vagando por vagões


Notas iniciais do capítulo

Depois de quase dois anos sem postar nada... Aqui está! Menor do que eu queria, mas serviu para o que tinha de servir.
Desculpem pela demora, estava com o maior bloqueio que já tive em vida e ainda por cima com falta de tempo, não vai se repetir (o pior já passou, wee!).
Eu gostei do resultado, mas sou suspeita para falar e não encontrei ninguém para reler a versão final, então vejamos no que dá.

Aviso: Revisei toda a fic dia 17/02//2013, juntando alguns capítulos, corrigindo erros e adicionando alguns trechos que serão importantes para o seu fechamento. Recomendo reler.



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Não, aquilo era demais. Seus olhos arregalaram-se em descrença enquanto o coração falhava. Por que faziam isto a ela? O que havia feito de tão grave para ser arrancada de seu lar para um simples joguinho infantil? Soltou uma gargalhada, essa, entretanto, entremeada aos soluços que acompanhavam seu choro. Não eram, porém, lágrimas de tristeza, mas de raiva, quase ódio. Seu mundo de repente despencava. Todo o apoio que conseguira desde que acordara pela última vez derreteu tão rápido quanto solidificara, a vertigem tomando-a novamente. Quem eram aquelas pessoas? Por que atuavam desse jeito? As perguntas eram tantas que lhe doía a cabeça, e de repente ela pensou que a inconsciência não era tão ruim assim. Enquanto todos a encaravam com receio e intriga ela aninhou-se em posição fetal, deitando de lado e fechando os olhos na esperança de finalmente acordar.

— O que ela está fazendo? – Perguntou Alegria, ajoelhando-se e a encarando com curiosidade.

— E eu lá vou saber? Pergunte!

— Só deve estar tendo uma má reação, deixem de drama.

— Drama? Não se lembra do que aconteceu com... Desespero? – Todos se calaram, o clima de repente ficando pesado, mas Heloize ignorou o pequeno fio de curiosidade. Por que ela não conseguia dormir? Era pedir demais que caísse na inconsciência?

— Não exagere, garoto, ela não está tão ruim assim. Além do que o Desespero era... O Desespero, não dava para esperar coisa melhor. – A voz de Alegria estremeceu nas últimas palavras.

— Mesmo assim, acho que não é bom deixá-la sozinha nesses primeiros dias, vai que surta também?

— Está bem, e quem vai ser o grande voluntário de nobre coração que vai querer deixar seus afazeres para ficar seguindo uma... Humana – Raiva soltou a palavra com certo medo, hesitação, tentando esconder isso através da ira e do asco. – o dia inteiro como um cachorro sarnento e irritante?

— Suponho que não seja você. – Esse último pronunciamento de Alegria foi a única quebra no silêncio que seguiu.

Lize não gostava do jeito como falavam, pareciam ignorar sua presença completamente. Não percebiam que seus olhos dourados há tempo estavam abertos? A conversa envolvia-os tanto assim? Não acreditava; Afinal, se o fosse, por que continuariam com essa palhaçada? Era hora de sentarem e rirem de sua pequena boba da corte, de tirarem-lhe qualquer dúvida de que aquilo não passava de uma traquinagem. Os segundos passavam-se, e a cada um a vontade de simplesmente levantar-se e ver o que estava acontecendo crescia em velocidade assustadora, entretanto ela estava tão cansada... Seus músculos doíam, o corpo envolto em tamanha letargia que lhe tirava a vontade de lutar (um ônibus poderia acelerar em sua direção neste exato momento que ainda desanimaria a sair do lugar).

Finalmente, após considerável tempo, Coragem não aguentou:

— Tiremos na sorte, então. – Houve uma concordância geral precedida por algum embaraço. – Alguém tem palitos?

Todos riram sem razão, o nervosismo quase tangível. Heloize pôde ouvir o som de algo sendo espatifado.

— Ao menos esse barraco velho vai ter uma última utilidade. – Alguém disse, e o silêncio voltou enquanto cada um escolhia um graveto. – Maior ou menor?

— Maior. – Disseram todos em uníssono, quase como se já tivessem combinado (o que era bem provável).

— Então, abram as mãos e... Ah, mas que merda! – Exclamou Raiva ao ver que o seu, apesar de relativamente médio, superava em tamanho qualquer outro.

— Acordo é acordo. – Sentenciou a mulher mais velha, severa.

Com um riso nervoso, entretanto, Alegria interveio:

— Oras, querem matar a garota antes mesmo de ela chegar? Deixá-la nas mãos de Raiva? É melhor obrigar Preguiça a correr uma maratona, traumatizará menos! Deixa que eu faço isso. – Havia algo de forçado em sua voz, mas tão insignificante que conseguia ser abafado por sua ironia.

— Para de ser estraga-prazeres, eu adoraria ver Raiva tentando ser gentil com alguém. – Coragem não continha as gargalhadas. Eram tantas que Lize se perguntou se ele não teria planejado aquilo.

— E eu enfiar pessoalmente essas palavras de volta na sua goela, deixa-a! Se ela quis se voluntariar passo com prazer o cargo. – E disto seguiu-se uma longa discussão sobre quem seria a babá do dia, entretanto Heloize caiu no sono antes de saber se Raiva realmente partiria o nariz de Coragem. Na verdade ela só foi acordar quando claro, os raios solares mesclando-se aos cachos de mesmo tom que agora tapavam sua visão.

— Acordou! – Gritou Alegria em algo entre um guincho e uma fala, abrindo um sorriso que parecia tomar metade de seu rosto enquanto batia palmas. Algo nisso lembrou-lhe Alice no País das Maravilhas, não tinha um gato com um sorriso igualmente escandaloso? – Acho que devo contar aos outros, mas não posso te deixar sozinha aqui, mas me pediram para falar quando você acordasse, mas também ameaçaram fazer coisas não muito agradáveis se eu desgrudasse por um segundo os olhos de sua cara, só que eles iam me deixar aqui até você despertar, talvez isso mude as...

— Dormiu. – Murmurou, fechando novamente os olhos quando percebeu que ela simplesmente não ia se calar.

— Ah, não! – Exclamou, sacudindo uma Heloize semi-adormecida. – Na-na-nina-não! O sol brilha, os pássaros cantam e eu não vou ficar mais oito horas te assistindo roncar.

— Pode, por favor, me deixar em paz? – Questionou, empurrando-a para longe. – Vá lá avisar seus coleguinhas, então, só cale essa boca.

— Mas você pode fugir, ser sequestrada, ter um ataque epiléptico, surtar, torcer o pé, bater com a cabeça, se suicidar... – Mais uma vez aquela sensação de que Alegria continuaria a falar infinitamente se não fosse interrompida.

— ...e um raio pode cair na minha cabeça enquanto eu tomo banho no telhado usando uma barra de ferro para esfregar as costas.

— Isso também! Se bem que o teto caiu, então não teria como...

— Seja realista! Mesmo que eu tivesse um ataque epiléptico, o que você poderia fazer?

— Uh... Apoio moral? – A emoção mal se intimidou com o olhar assassino que Lize lançou-lhe, apenas revirando os olhos acrescentando: – Se minha presença te incomoda tanto... Vou ficar.

O sorriso gigante mostrou-se mais uma vez, causando ira na humana.

— Mas chega de enrolação, eu tenho tanta coisa para te mostrar... – Um brilho de excitação preencheu seu rosto, já se pondo de pé e tentando arrastar Heloize consigo. – Têm as hortas, o pomar, a pseudovila, os alojamentos, o lago, os sonhos... Por onde quer começar?

— Pela saída.

— Oras, não seja tão embirrada! Tem certeza que não é Pirraça?

— Mostre o que quiser, então, só não espere que eu sorria e aprove.

Um gesto de desprezo e indiferença foi executado por seus dedos, distorcendo a carinha sorridente de Alegria em uma careta de irritação. Esta, porém, só durou alguns segundos, e logo a pequena já arrastava a companheira para fora do abrigo destruído, tagarelando sobre os vários tipos de plantas que iria lhe mostrar. Por mais que tentasse Lize não conseguia tirá-la do sério, ou ao menos assim lhe parecia...

— Este é o pomar! – Guinchou, apanhando uma fruta azulada e estranha. – Não são minhas prediletas, mas... Bem, são as únicas que ela produz.

— Quem?

— A árvore! Quem mais seria?

— Por que não planta outra, se essa não lhe agrada? – Qual era o motivo para estar rendendo conversa, mesmo?

Ela arqueou as sobrancelhas, parecendo confusa.

— Como assim?

— Sabe... Plantar. Pegar uma mudinha, enterrar e cultivar até que vire uma árvore e dê os frutos que você gosta. – Falava como se a interlocutora tivesse algum retardo mental.

— Você é engraçada.

— Não era uma piada!

Franziu o cenho.

— Não? Devia ser. Mas vamos logo, têm muito mais coisas para eu te mostrar!

E assim teve o braço puxado pela segunda vez, agora arrastada para dentro do pomar. Não foi largada até sair dele. Provavelmente ficaria por horas com as marcas dos dedos, mas o aperto era fixinha se comparado à outra tortura que teve de enfrentar: Alegria tagarelando durante todo o percurso.

— É horroroso, não é? Tudo tão igual! Tronco branco, folha prata, tronco branco, folha prata... Deviam pintar tudo de verde, se quer saber. Ninguém aqui usa verde, nem mesmo eu! Hum... O Coragem tem olhos verdes, mas acho que isso não conta, ele nasceu assim. Aliás, onde será que se meteu? Tenho certeza que era ele quem devia catar as folhas hoje. Ou será que era eu?

— Que tal ir catar e me deixar dormir?

— Ah, é! Você pode me ajudar.

— O que você estava indo me mostrar, mesmo? – Remendou rapidamente, nem um pouco afim de trabalhar.

— Ahn... O que era mesmo?

— Você não sabe nem para onde está me levando?!

— É claro que sei! Só... Bem, não lembro.

— Por misericórdia, dá para alguém me matar logo?

A marca desses dedos com certeza ficaria mais que horas estampada em sua cara. Voltou-se descrente para Alegria, levando a mão ao lugar onde acabara de receber um tapa. Tentou devolvê-lo, mas a loira esquivou-se com uma facilidade ultrajante.

— Por que infernos me bateu?!

— Você não vai morrer.

Piscou. Era tão destoante vê-la séria que as palavras morreram em sua boca (e olha que não eram poucas).

— Hum... Onde eu estava mesmo? Ah, é, tentando me lembrar o que eu vou te mostrar. Estamos no pomar, então... Ah, sim! A pseudovila. Devemos estar quase lá.

Parecia uma tentativa de quebrar o mau clima, mas foi bem falha: Apesar de sua expressão estar impecavelmente... Bem, alegre, o que mais dizer? De todo modo, apesar disso o silêncio que se seguiu era estranho o suficiente para fazer Lize estremecer. Alegria calada? Havia algo errado, algo muito errado.


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Notas finais do capítulo

Reler reviews foi a única coisa que me fez continuar. Isso dá uma dica de quanto as aprecio, não é?
Não respondi muitas perguntas (na verdade acho que não respondi nenhuma), mas deu para brincar um pouco. E agora entramos na etapa de ambientação... Estou tentando fazer o menos chato possível, mas descrição é descrição, né?
Agora outra notícia brilhante: Estou de férias, sem crise de inspiração e já planejei o que vou escrever, o que quer dizer que até março já tem capítulo novo.



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